Tormenta De Máquinas escrita por davifmayer


Capítulo 6
Capítulo 6 Céu em Chamas 1° parte


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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"Na vida, ao contrário do xadrez, o jogo continua depois do xeque-mate." Isaac Asimov


Melissandra caminhava obstinada pelo corredor de pedra, gostando de ouvir o som de suas novas botas de couro contra o chão. Trajava sua farda negra de elite dos “ases” do ar. O emblema vermelho de um avião metálico enfiado num crânio humano estava preso no braço e no peito. O símbolo da morte no qual os Caçadores Noturnos anunciavam e traziam para os inimigos da raça humana.


Um sorriso se desenhava levemente sobre seus lábios finos e rosados. Era agora um Caçador Noturno e fizera questão de vestir logo seu uniforme negro e desfilar orgulhosamente diante dos olhares aprovadores e saudosos dos outros soldados.


Parou diante de uma porta de madeira e bateu com as costas dos dedos.


- Quem é? – perguntou uma voz ofegante lá dentro.


- Melissandra. Tenho uma ótima noticia para você.


Ouviu sons sussurrantes de conversa lá dentro. Uma de suas sobrancelhas se levantou, curiosa.


Jabez abriu a porta enrolado no seu cobertor branco. Suado, seu peito definido arfava e seu sorriso era incerto e urgente. Era obvio que tinha atrapalhado alguma coisa.


- Recebi a noticia hoje. – ela deu um sorriso receoso. – está olhando para a nova “Ases” do exercito rebelde.


O jovem de pele escura olhou-a de cima a baixo, admirando o novo uniforme negro da garota. Sorriu orgulhoso para ela.


- Sabia que passaria. Agora não é mais minha aluna. É um irmão do ar.


- Isso... – mas sua voz foi interrompida.


- Querido. À noite nos vemos?


Uma mulher alta e de pele tão branca como a lua usava um uniforme verde com o emblema de uma cruz vermelha no peito e no braço. A ala da enfermaria. Ela saiu do quarto de Jabez, que estava impregnado do cheiro de suor e de sexo. Deu um sorriso furtivo para Melissandra.


- Parabéns garota.


- Obrigada. – respondeu Melissandra estampando incredulidade em sua face.


Jabez e a mulher deram-se um longo e apaixonado beijo. Ela se foi. O homem pareceu ter notado o rosto em incompreensão de Melissandra.


- Espere um pouco até eu me trocar.


Ele fechou a porta e, instantes depois, trajava seu uniforme negro. Ele sorriu enquanto passava a mão nas pregas da roupa. Melissandra estava sem palavras. Na sua concepção não encaixava romance e sexo quando o mundo dependia deles para sobrepujar o Usurpador e seu avanço. Fitou a parede procurando algo para falar, mas sua mente estava confusa demais.


- O que foi cabelo de alga? – perguntou Jabez dando um cocuruto nela.


Melissandra não esboçou reação e continuou a fitar o vazio.


- Ora... Judith? – ele passou dois dedos sobre os lábios carnudos. – ela é minha namorada... Minha amante... E se não fosse essa maldita guerra, minha mulher.


- Mas...


- O fato é, meu doce cabelinho de algas, temos um alvo pintado em nossos corpos, esperando apenas pela primeira vespa sortuda a nos trespassar com seu ataque. Todo momento desperdiçado sem amar verdadeiramente, é dado ao Usurpador. Se ele algum dia foi humano, ele nunca foi capaz de amar.


Ela o encarou como se o visse pela primeira vez. Algo fez borbulhar sua barriga. Lembrou dos olhos azuis de Tony, seu sorriso branco e amistoso, seus braços musculosos... Voltou a encarar Jabez.


Ele sorriu, como que adivinhando os pensamentos dela.


- O que está esperando para correr atrás do seu amorzinho?


- Mas... Eu o tratei tão mal... – ela corou de vergonha por isso.


- É. Você o tratou horrivelmente mal, mas cabe a ele decidir.


Melissandra pareceu sentir sua garganta a sufocando. Lágrimas queriam sair dos olhos. Não foi justa com Tony. Mas que diabos... Eu estava sofrendo muito. Pensou ela com os dentes rangendo de raiva.


- Cabelo de Alga. – Jabez a fitou sério. – sabe de todas as nossas responsabilidades quando estivermos no ar, não sabe?


- Sim. – ela murmurou. – trabalho em equipe, destruir quantas vespas conseguir e completar a missão...


- O mais importante...


- Não voltar para a base enquanto as vespas mecânicas estiverem em nosso encalço.


- Muito bem. – ele riu e a seriedade desapareceu rapidamente do seu semblante.

– Eu vou...


- Tudo bem. Mande lembranças minhas ao Tony. Ele é um cara legal.


Ela sorriu esperançosa.


Desceu pelo elevador a ranger ruídos metálicos abafados de todos os lados, sobre as correntes e roldanas. Com um estrondo, ele parou e as portas se abriram pra cima e para baixo. Sentiu um bafo quente e forte soprar contra seu corpo. Era para eu ter tirado essa roupa preta. Estou sufocando... Ela pensou ao dar os primeiros passos.


Faíscas de fogo, fumaça cinza e labaredas dançando sobre os fossos de fogo, Melissandra observou a tudo isso enquanto o suor escorria de suas têmporas. Nas paredes, as chamas bailavam em manchas amarelas e vermelhas. Viu alguns trabalhadores concentrados, a martelar em metal. E viu outro mais a frente, cabelos pretos e lisos colados de suor na testa. Concentrado, ele martelava como que em fúria contra o metal em estado de vermelho vivo.


Respirou profundamente, sentindo o hálito quente do ambiente entrar em seus pulmões. Deu os primeiros passos incertos em direção àquele homem. Notou o torso nu, tez bronzeada como cobre formando músculos definidos e potentes, as veias pulsavam a cada martelada dada pelas mãos firmes. O pescoço era mais uma barra de ferro grossa, maciça e forte a sustentar uma cabeça quadrada. Tinha deixado um bigode ralo e negro crescer, tornando mais atraente seus lábios angulosos. Quando ela chegou mais perto, ele levantou os olhos azuis, como duas feras cintilantes diante da face obscurecida pelas sombras causadas pelo fogo e pela fuligem. Não esboçou nenhuma reação, mas parou de martelar. Contudo, Melissandra continuou a sentir as marteladas do coração no peito. Seu corpo tremeu, apesar do calor da forja, e em seu sexo a umidade e um desejo súbito de sentir aqueles braços suados e fortes a lhe envolver fortemente.


Voltou a respirar, tentando manter-se calma. Ele tinha mudado. O semblante sério e distante. Ainda lembrava o sorriso alegre e cativante dele. Por que fui tão estúpida?


- Oi... – ela sussurrou.


Ele largou a marreta e deixou os braços suspensos ao lado do corpo.


- Eu sinto muito por tudo. Sinto muito por não ter te compreendido. Não vi que o amor é o que nos diferencia das máquinas a qual lutamos... Estava cega de ódio e vingança... Não percebi.


- Não precisa explicar mais nada, Melissandra. Eu entendo você.


Ela sorriu. Mas foi um sorriso receoso.


- Não percebi que devemos aproveitar cada segundo de vida... Por que amanha... O amanha não pertence a ninguém.


Ela se aproximou dele e tocou na pele quente. Ao simples contato com a pele daquele homem seu corpo já dava sinais de prazer. Mas ele a repeliu, tirando o braço do seu toque.


- Sinto muito...


- O que... ? – ela não conseguiria suportar. Não queria perdê-lo. – você ama outra mulher?


- Não é isso. Não posso mais.


- Por favor... – ela segurou o rosto dele. Lágrimas não convidadas escorriam pela sua face. – me desculpe. Eu preciso tanto de você. Tanto...


Mas Tony tinha seus próprios pesadelos e receios. Segurou as mãos dela e a posicionou longe de sua face. Observou as lágrimas dela, os olhos castanhos e carentes, numa mistura de medo e confusão. Seu coração duro como aço não se comoveu. Estava consciente do peso da responsabilidade que o pai tinha lhe colocado nos ombros.


- Não pertencemos mais a nós mesmos. Pertencemos à rebelião e por ela morreremos.


- Eu também pensava assim... – ela se desesperou. – até compreender que cada minuto longe do que realmente importa nos matará de qualquer forma. Por favor. Vamos ficar juntos. Vamos nos permitir esse amor.


As chamas iluminaram os olhos azuis de Tony. Uma ponta de esperança irradiava de seu ser. Porém digladiavam “dever” e “amor”. Quanto tempo não esperara por aquilo? Era certo jogar tudo fora por orgulho ou receio da verdade da sua historia?


- Melissandra... – sussurrou ele visivelmente em dúvida quanto aos sentimentos que nutria por ela.


Ela não pensou duas vezes, puxou o pescoço dele e o deu um longo e profundo beijo. Sentiu seu hálito quente, a sua língua quente como uma labareda de fogo, suas mãos procuraram sua cintura, depois a nuca. A emoção e o desejo eram fortes demais. Achou que não agüentaria.


Até que um alarme soou alto. Pensou que o som saia de si, vibrando sobre seus poros.


ALERTA NIVEL UM. ALERTA NIVEL UM.


Repetia a voz em gritos, ecoando sobre a forja. Os homens pararam seus trabalhos e se entreolharam com suspeita e um princípio de temor em seus semblantes.


- O que é o alerta de nível um? – perguntou Tony com os lábios úmidos.


- O alerta máximo da cidadela de Éden. – ela respondeu tentando controlar o pânico na voz. – inimigo se aproximando.



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