Tormenta De Máquinas escrita por davifmayer


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Queda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/190800/chapter/1

“Apenas uma guerra é permitida à espécie humana: a guerra contra a extinção.” Isaac Asimov


Joshua e Melissandra caminhavam entre montanhas calcarias e platôs, acompanhados pelo pai, Mormont. A paisagem se descortinava a frente, revelando plantas azuis, arrecifes imensos e cinza, e uma grande variedade de crustáceos a fugir com suas patas articuladas. Um vento seco soprava naquela região, trazendo o uivo da solidão.



- Falta muito pai? – perguntou Joshua, cansado.



- Não. Estamos perto.



- Pare de perguntar se estamos pertos. – ralhou sua irmã. – estar fora de Atlantika nem que seja por algum tempo já é o suficiente para mim.



Melissandra, nas poucas oportunidades que tivera para sair da cidade subterrânea, ficara encantada com o sol, a estranha vegetação azul e as montanhas calcárias de um verde musgo a subir prestes a furar o céu. O pai dizia que ali era o antigo oceano pacífico-norte. Aprendera pouco sobre geografia na escola, e as fotos que vira não evidenciara a maravilhosa beleza da realidade. Ainda assim, era difícil acreditar que o lugar onde punha os pés já fora coberta por uma imensidão de água com animais tão grandes quanto uma montanha, a voar sobre o oceano de um canto a outro do mundo. Sentiu-se pequena e muito só, ao contemplar o céu azul e a vastidão desértica ao seu redor.



Joshua fez um muxoxo, em completo desagrado.



Enquanto isso, a jovem garota de dezessete anos alimentava seus olhos com a exuberante paisagem.



Escutaram ecos de picaretas contra a montanha. Mormont deu um sorriso sobre a espessa barba castanha. Aquele som lhe era familiar. Passara dez anos de sua vida escutando esse som cadenciado a retirar metal e outras importantes pedras das montanhas.



Viram um grupo de dez trabalhadores de grossos macacões cinza e de capacetes. Estes trabalhavam no sopé da montanha. Duas carroças estavam abastecidas de metal, enquanto dois jumentos pastavam comendo a estranha flora azul que florescia ao redor.



Um dos mineradores observou a aproximação do grupo e levantou os braços numa saudação alegre.



- Ora se não é o velho Mormont. – gritou este e desceu a montanha rapidamente.



- Como vai Will. – Mormont deu um forte abraço no amigo. – como anda esses braços?



- Você sabe... Continuam vigorosos, assim como minhas pernas. – brincou Will. E seu olhar voltou para os dois jovens. – E essas são suas crias.



- Isso mesmo. Eles queriam conhecer o meu antigo local de trabalho.



- Queria nada... – sussurrou Joshua emburrado.



Sua irmã deu uma cotovelada no braço dele.



Will se aproximou deles e segurou os ombros do garoto.



- Esse vai puxar a você, Mormont. Braços fortes, ombros largos... Qual o seu nome rapaz?



- Joshua.



- E você garota? Não puxou a feiúra do pai.



- Meu nome é Melissandra.



- Hummm... O nome de sua mãe. Uma pena que ela não esteja mais conosco.



- O capelão falou que ela está no céu agora.



- Certamente que sim. Era uma mulher muito bondosa.



Dois homens se aproximaram e deram um caloroso abraço em Mormont. Um deles era alto e robusto. Cabelos prateados cobriam sua cabeça como um ninho de pássaro. O outro era um jovem não mais que dezoito anos, sorriso fácil e olhos azuis cristalinos.



- Venham conhecer meus filhos.



Mormont levou os dois diante da sua progênie.



- Estes são Joshua e Melissandra.



Melissandra notou os dentes brancos e perfeitos do jovem ao esboçar um sorriso.



- Estes são Boris. – apontou para o grandalhão. – e este é Antônio, o mascote da equipe, também conhecido como Tony.



Eles se apertaram as mãos.



Melissandra já ouvira falar de Tony. Um garoto trazido pelo Solitário da Montanha. Deixara uma cesta na entrada de Atlantika, com uma bebe de poucos meses, uma bíblia e um livro grande e raro de tecnologia robótica. Os grandes sábios passaram a estudar o livro avidamente, mas não obtiveram grandes sucessos. Criaram o garoto no orfanato da cidade, e lá cresceu e se juntou a equipe de mineradores. Vira-o algumas vezes pelas ruas, sempre de sorriso fácil e sincero. Nunca chegou a se interessar por ele de fato.



- E o que o trás de tão longe? – perguntou Boris.



- Nossa equipe de busca trouxe relatórios apontando novas fontes de minério, mais ao norte. Dizem ter uma grande quantidade lá, já pronta para consumo.



- Será que é seguro? Não gosto tanto do norte, é frio e as vespas mecânicas podem estar sondando aquela área.



Ao mencionar as vespas mecânicas Melissandra se arrepiou na nuca.



- Não. Ficaram por duas semanas lá, e nada encontraram de ameaças.



- Droga! Detesto o frio. Venha Mormont, irei te apresentar à equipe. – e Boris passou o braço musculoso sobre o ombro do velho companheiro.



Will acompanhou-os, tagarelando como sempre fazia ao ver seu amigo.



Antônio viu eles se afastarem e deu um sorriso amistoso para Joshua e Melissandra.



- Espero que não tenham encontrado grandes problemas em vir até aqui. – falou ele.



- Não, que é isso... – resmungou Joshua. – andar por duas semanas, atravessando esse deserto de montanha foi uma maravilha. Até mesmo o vento não me deixando dormir foi bem vindo. Sentia falta disso em Atlantika.



Dito isto, foi até seu pai, emburrado.



Melissandra e Tony se entreolharam timidamente e encararam o chão.



- Não ligue para ele. Não é sempre que está de mal humor.



Tony sorriu.



- Que bom saber. Mas a viagem é realmente muito desgastante.



- Mas é adorável. Ver essa paisagem, o céu, o sol... Sempre me encanto quando saio da cidade e me deparo com o mundo além do subsolo.



- Também gosto de sentir o vento, o sol na minha pele...



- Por isso escolheu ser minerador?



- Sim. Gosto do contato com a natureza, dos meus companheiros, de conhecer essas regiões distantes...



- O Solitário da Montanha também era um minerador.



- Sim. Agora está aposentado e vive numa montanha fora da proteção da cidade.



Melissandra tinha muitas perguntas a fazer, mas não se atreveria. Mordeu os lábios e olhou ao redor, fingindo estar distraída.



- Sei que está curiosa sobre a minha origem.



A garota fez cara de espanto, e sorriu delicadamente.



- Todo mundo pergunta isso. – ela admitiu com um sorriso aberto. – quem é você, de onde veio... Sua família... Sobre o solitário da montanha... onde ele o achou... ? Essas coisas.



O solitário da montanha era considerado uma lenda entre o povo de Atlantika. Era ele quem vigiava a aproximação das vespas de metal, dos caranguejos espinhentos e às vezes quem indicava um local onde comida dava em abundância. O vira apenas três vezes. Soturno, andava envergado, e uma manta velha e desbotada sobre os ombros cobrindo seu grande corpo. Parecia rastejar, mas movia-se de forma calculada e hábil. O conselho de Atlantika respeitava-o muito.



- Ele não é de falar muito. Tentei arrancar informações dele, mas ele sempre fugia do assunto. Mandava eu apenas estudar, e estudar, e estudar, sem parar. Que o meu passado não importava, apenas o meu futuro e o que eu queria ser.



- Nossa, que velho birrento.



Antônio a encarou ofendido.



- Desculpe.



- Tudo bem. Ele às vezes é mesmo.



E Antônio voltou a sorrir.



- O que tanto ele te manda estudar? – ela perguntou, mudando de assunto.



- O livro...


Joshua e o pai interromperam a conversa.



- Hora de partirmos, Melissandra. – proferiu o pai.



- Mas já? Acabamos de chegar.



- Sim. Vamos aproveitar o sol para ganharmos mais tempo e encontrar um lugar para dormir. Não gosto de deixar vocês dois fora de Atlantika por muito tempo.



Melissandra olhou desconsolada para Antônio. Estava gostando de conversar com aquele rapaz. Simpático, educado... E até mesmo bonito. Sentiu vergonha de si mesma.



- Foi um prazer conhecê-la, Melissandra. – como sempre, Antônio transformava uma situação chata em algo bom de novo. – espero um dia poder reencontrá-la.



- Também espero. – ela respondeu com um sorriso, sentindo sua face queimar de embaraço.



- Até mais. – despediu-se Mormont, apertando o ombro do rapaz afetuosamente e se retirando.



- Cuidado com minha irmã... – ralhou Joshua. – ela não é para o seu bico.



Antônio sorriu e deixou essa passar. Não era um rapaz de se zangar com facilidade.



Mas os três viajantes pararam, quando escutaram um zunindo alto a percorrer o ambiente. O som parecia se multiplicar, e pequenas pedras despencaram pelas montanhas. Os mineradores desceram e ficaram juntos o mais distante possível das montanhas que o cercavam. Um terror se espalhara entre eles. Mormont gritou alguma coisa para os mineradores, mas Melissandra não entendeu. Olhou para seu irmão que estava apavorado, e para Antônio. Ele parecia confuso e temeroso. Cruzaram os olhos e ele correu até ela.



Um impacto estrondou as pedras, as montanhas, e ribombou no cérebro de Melissandra através dos seus tímpanos. Sentiu a terra tremer e a ceder sobre os seus pés. A rocha calcaria se dividiu em grandes blocos, e a garota despencou aos gritos. Sentiu uma forte mão a segurar seu braço. Desesperada, ela viu os olhos azuis terrificados de Antônio. Os seus cabelos lisos e negros suspensos enquanto a puxava para cima. Trincou os dentes, enquanto sentia o chão ceder sobre o seu peso.



Mais estrondos, que ecoavam de forma assustadora. Escutaram gritos, pedras caindo e a voz de Antônio a gritar.



Então ele não agüentou mais e caiu, com sua mão ainda agarrada a dela.



Eles caíram no vazio e tudo se transformou em trevas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tormenta De Máquinas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.