Eu senti o celular vibrando, e sabia que estava muito cedo para ser o despertador. Pensei em um plano assassino para quem quer que fosse, e quase me arrependi depois de ver de quem era a ligação.

- Por favor, ainda nem são seis horas... - falei arrastada.

- Posso passar pra te pegar hoje? - disse a voz doce do outro lado da linha.

- Yeah... Posso voltar a dormir?

- Preguiçosa! - ela disse rindo, e desligou.

Antes de virar e dormir de novo, mandei uma mensagem para James:

"Emme vai passar pra me pegar aqui hoje. Boa sorte sobrevivendo sem mim!"

Meu celular começou a vibrar novamente. Pensei, é hoje que eu não durmo.

A mensagem era de James e dizia "LILY OLHA QUE HORAS SÃO! E que bom hoje chego no horário na escola!”.

Bufei, como se eu fosse uma pessoa atrasada, merda toda essa vibração toda de celular me fez perder o sono. Emme e James estão na minha lista negra agora.

"Seu amor por mim é tão lindo!"

Escrevi apenas, e na esperança de que pudesse voltar ao meu tão querido amado sono, o filho da mãe respondeu:

"Bom saber que você se ilude dessa forma, ruiva"

Revirei os olhos e taquei o celular longe, só acordando novamente com as batidas na porta.

- Lily, querida, você não vai hoje? - minha mãe perguntou docemente, e eu bocejei, confusa.

DROGA.

DROGA.

- Que horas são?

- Faltam uns vinte e cinco minutos, querida.

- DROGA! - agora eu disse bem alto, e mamãe olhou reprovando.

Emme passaria daqui uns dez minutos, no máximo. Tomei o banho mais rápido da minha vida, peguei uma calça jeans, meu coturno, o uniforme e o gloss. Peguei um pouco de creme para fingir que podia domar meu cabelo naquela situação, e fui correndo pro carro que buzinava lá fora, furtando ainda um pão recheado. Hoje o dia promete!

Lembrei que James tinha comentado que eu sou uma pessoa muito atrasada. Continuo achando isso uma mentira, é um evento que raramente acontece eu estar atrasada. E hoje eu com certeza bati meu recorde de agilidade em me arrumar, claro que vou para escola parecendo um zumbi, mas quem se importa?

- Você acordou que horas? - Emme olhando para mim como se fosse uma maluca.

- Agora? - dei um sorriso amarelo.

- Você não tem jeito, criatura! - a morena respondeu, e eu mantive a expressão inocente.

Emmeline Vance era a mais sonhadora do grupo, e muitas vezes a mais neutra. Seus olhos castanhos contrastavam com os cabelos da mesma tonalidade, que caíam ondulados pelas suas costas. Ao contrário de mim, sua maquiagem estava perfeita, com o olhar bem delineado. Ela vestia uma saia plissada preta, com uma sapatilha delicada e o uniforme impecável.

- Vamos, tente ao menos dar um jeito em si mesma no caminho Lily! - ela disse, perfeccionista como era, e eu bufei colocando o creme em ação.

Fiz o máximo que pude com o carro em movimento, e quando disse que estava pronta, Emme olhou para mim com cara de desaprovação.

- Você precisa começar a aprender a se programar Lily

- Eu sei, eu sei... Mas me diga qual foi o motivo de resolver vir me buscar em casa hoje? - perguntei curiosa.

- Porque eu só acho que você anda me trocando por uns certos garotos aí... - ela apontou, num tom de brincadeira que denunciava o ciúmes.

- Adorável Emme! - ri.

- E Lily? Você e Lene precisam se resolver... - ela tocou no assunto sorrateiramente.

Bufei e revirei os olhos.

- Eu só estava tentando ajuda-la Emme, você bem sabe que a Lene é apaixonada pelo Sirius há tempos e se recusa a admitir. Ele veio me falar que também era apaixonado por ela, eu resolvi ajudar. E agora ela tá irritada comigo - soltei o discurso para a morena, que me encarou compreensiva.

- Lily, acho que a razão da Lene estar assim nem se deve mais tanto ao fato de você ter ajudado Sirius, pelo que eu conversei com ela ontem ela acha que ele está apaixonado por você, e anda pensando um monte de besteira sobre isso.

Sirius apaixonado por mim? A minha melhor amiga tem que estar maluca mesmo para pensar isso. Ok, concordo que as atitudes do maroto tem sido suspeitas ultimamente, mas considerando o fato que ele é maluco não me surpreende.

- Então todos estão malucos, isso sim! - argumentei.

- Talvez... - Emme apenas respondeu, estacionando o carro. Ela começou a brincar com o meu cabelo, modelando alguns cachos, e murmurou:

- Bem melhor. Vamos.

Ao entrar na escola não fiquei surpresa em já encontrar James, Caroline e Sirius conversando, o maldito realmente tinha chegado mais cedo que eu hoje. Morra James!

- Como eu disse, hoje não me atrasei ruiva - James disse ao me ver - Emme faça esse favor por mim mais vezes, o caminho para escola hoje foi tão calmo e pacifico, sem essa anã tagarelando no meu ouvido.

Cruzei os braços e mostrei a língua como uma criança birrenta, enquanto todos ao meu redor riam.

- James, me desculpe, mas não! Até aguento a Lily cedo alguns dias só que todo dia é sua tarefa.

Observei uma ponta de ciúmes do olho de Caroline e me senti mal pela loira.

- Vocês não viveriam sem mim! - entrei na brincadeira.

- Ruiva, o que eu te disse sobre se iludir mais cedo? - James cutucou.

Pensei em sair correndo e dar uns tapas no meu melhor amigo. E eu sabia que ele tinha uma noção bem clara dos meus pensamentos pelo meu olhar sugestivo de CORRE. No entanto, antes que nossa comunicação por telepatia continuasse Dorcas chegou saltitante.

- Oi gente!

- Tão animada logo de manhã, baixinha! - Sirius provocou-a, bagunçando os cabelos castanhos da minha amiga. Dorcas Meadowes era do meu tamanho, então consequentemente levava o apelido de anã comigo. Era irônica, às vezes meio tímida e possuía uma personalidade forte.

- Dorcs você não vai acreditar como a Lily ia vir para escola hoje se eu não tivesse repreendido ela!

Dorcas era apaixonada por tudo que envolvia estilo, logo se pode imaginar a quantidade de broncas que eu levava dela por vir desleixada para escola.

- Hoje é o dia "vamos zuar a Lily" da semana - resmunguei enquanto ria, acabando com toda seriedade da frase.

- Own não fica assim Lilizita - Sirius disse vindo me abraçar.

Eu o abracei fazendo bico, e começando a resmungar que era maltratada, até que pude notar o olhar feio de Emme me lançava e automaticamente soltei o moreno.

Contudo o estrago já estava feito, larguei Sirius, mas ele continuou com a mão na minha cintura e adivinhem só quem estava vindo na nossa direção quando viu essa cena toda?

Um doce para quem disse Marlene!

Digamos que, não foi nada bonito o olhar que a morena me lançou.

- Tira as patas de mim, Black! - disse num tom levemente sério, mas que ainda soava brincando.

James riu, mas parecia um pouco incomodado. Caroline observava tudo confusa, e Emme e Dorcas pareciam entender, e para disfarçar riram. Às vezes, bem às vezes, essas coisas que eu chamo de amigas conseguem dar uma dentro!

- Sabe Lily, você é tão meiga! - Sirius disse irônico, soltando-me, e sabia que seu olhar tinha desviado por alguns segundos em Lene.

Graças a Deus e todos meus santinhos o sinal resolveu bater bem nesse exato momento, você ai que toca o sinal da escola não sabe o quanto te amo nesse momento.

- Vamos para sala cambada - disse Emme, enquanto todos começaram a entrar e se dirigir a mais uma insuportável aula de Química.

Passei o caminho todo pensando sobre como essa situação estava realmente desconfortável, precisava falar em particular com Black urgente, e acertar as coisas com a Lene mais urgentemente ainda.

Sei que gosto de me gabar de atriz, mas minha vida precisa virar uma novela por causa disso?

Sentei no meu lugar e organizei meu material. Mas soube que não iria prestar atenção em uma palavra da professora quando meu celular começou a vibrar.

"Não acredito que você está fazendo isso, Lily"

A mensagem era direta e dura, e cortou o meu coração quando vi que era de Lene.

"Do que você tá falando?", respondi.

"Você sabe muito bem do que eu tô falando, Lily!"

Olhei para trás, e avistei a morena com um olhar duro para mim. Meu rosto se tornou triste, e eu apenas respondi:

"Pra falar a verdade, eu não sei..."

E ela não respondeu mais.

Levantei-me e pedi licença para professora, inventei qualquer história de que estava com dor, para ser sincera nem sei dizer quais foram minhas palavras para ela, mas ela me deixou sair.

Acho que de toda bagunça da minha vida, o que pode magoar mais é que minha melhor amiga está magoada comigo, e por algo que eu não consigo ver um sentido.

Caminhei perdida em pensamentos, conseguindo não chorar, nem sair correndo para o banheiro.

Sim, aparentemente toda aquela confusão estava começando a me deixar doida. Continuei correndo, sem saber exatamente pra onde, e de repente me vi indo para a biblioteca. Algumas lágrimas ameaçaram descer, e mal vi a pessoa que vinha vindo na minha direção, com alguns papéis.

- Desculpa... Eu, er... – falei baixo, olhando para cima o reconhecendo.

O garoto me abraçou, e eu respirei pesadamente, deixando as lágrimas rolarem. Ele me conduziu até um canto mais afastado da biblioteca, e ficou lá, afagando meu cabelo ruivo em um abraço silencioso.

- Obrigada, Matthew. – agradeci, depois de alguns minutos me recompondo.

- Você quer conversar sobre? - ele perguntou calmamente.

Suspirei antes de dizer.

- Não acho que seja o tipo de coisa que conversar vai resolver, preciso sinceramente é pensar em como minha vida está indo e organiza-la.

Pensei que normalmente quem me dá broncas sobre organizar meus sentimentos é Marlene, e ia começar a chorar de novo, mas me contive ou iria assustar o coitado do garoto.

- Você tem certeza que não quer me contar? Pode confiar que eu não vou contar para ninguém, não precisa nem citar nomes se preferir - ele disse sorrindo enquanto puxada duas cadeiras da mesa mais próxima para nos sentarmos.

- Ok... Vamos lá. Eu tentei ajudar duas pessoas que eu gosto muito, mas uma dessas pessoas acabou ficando irritada comigo, e a outra pessoa começou a agir estranho comigo, o que deixou essa pessoa que já estava irritada ainda mais irritada, e agora eu to mal, por que minha vida além disso tem muita bagunça, e eu não consigo arrumar nada - suspirei enquanto desabava minha história no garoto, sabendo que ele não iria entender uma palavra do que eu falava.

- Hm, er... Eu não entendi muita coisa não Lily - ele disse rindo - mas, pelo que eu pude ver você é uma pessoa boa, atrapalhada, mas não deixa de ser uma pessoa boa, e essa tal pessoa que tá irritada com você vai perceber isso.

- Quando você diz atrapalhada, eu sei que quer dizer idiota. - nós rimos.

- Toma. – ele disse me entregando um bombom. – Até onde eu sei, chocolate tem um poder de cura milagroso.

Dei um sorriso bobo, e não pude deixar de notar o quão bonito Matt estava em sua camiseta polo branca. Os cabelos claros estavam meio revoltos, e seus olhos azuis passavam uma calma e encanto. Fiz uma cara de criança feliz com o chocolate, afinal, aquela era minha filosofia de vida!

- Acho melhor eu ir para a próxima aula... - falei mordendo o primeiro pedaço, e me levantando.

- Te vejo por aí, cachinhos ruivos –, ele disse com um tom leve, íntimo e eu apenas devolvi um sorriso, indo para a sala de Literatura com a sensação de estar mais confusa e melhor, ao mesmo tempo.