– Sirius, você precisa ser paciente! – falei baixinho, e olhei novamente no relógio. O ouvi resmungar do outro lado da linha, e antes de cortá-lo ele começou:

– Prazer, meu nome é Sirius Black e essa palavra não existe no meu vocabulário! E se...

– Faltam apenas dois minutos, e elas chegam. Nós assistiremos um filme, ou algo do tipo, e eu falarei com a Lene sobre a sua pessoa, e tentar não te difamar...

– O QUÊ? MAS EU SOU UM SANTO! – ele gritou do outro lado da linha, me cortando.

Ah, para vocês não se perderem, já havia se passado quatro dias desde a minha conversa com meu amigo retardado e galinha. Ou ex-galinha, não sei como funciona para o lado masculino da coisa. Pois bem, agora era minha missão saber o que Lene pensa de Sirius, e nada melhor do que uma festa do pijama, certo? Além do que, eu amo sábados!

As coisas essa semana se tornaram mais calmas depois de um começo louco, mas alou meu nome é Lily Evans e eu posso ter uma bela queda por um bom drama (e reclamações), mas eu adoro bagunça, e essa é na verdade a definição da minha vida: bagunça.

Hoje mesmo depois de dias sendo frequentemente importunada por esse cachorro ingrato que além de pedir minha ajuda ainda me força a pensar em um plano, decidi chamar as meninas para uma festa do pijama, e tentar convencer a Marlene a admitir que ama o Sirius, ou mudar pelo menos colocar ordem em algum dos parafusos dela, a probabilidade de dar certo é mínima, mas a esperança é a última a morrer, e os ruivos serão os últimos a desistir (nem se pergunte, estou num humor meio diferente hoje, frases sem sentidos são meu lema).

– Lily, lembre-se do que me prometeu... - ele disse desesperado.

– Ok, ok, sou uma pessoa do bem e farei isso.

– Wow, não sonhe tão alto assim ruiva – disse ele e eu sabia que um sorriso maroto e divertido estava nos lábios.

Ouvi batidas na porta e gritei um "Já vou!", me xingando mentalmente.

– Vá se ferrar! Preciso ir! – falei rápido e desliguei, sabendo que ele me perturbaria por sms daqui alguns minutos, fazendo então questão de deixar meu lindo celular bem escondido.

Esses garotos são meu carma, tenho absoluta certeza que um dia eu fui uma pessoa muito maligna em outra vida, assassina de criancinhas, cachorrinhos indefesos, ou até velhinhos. Tem que ser algo de padrão muito elevado para ter como carma Sirius Black e James Potter, tem que ser!

Ding Doing.

Soou minha campainha estranha. Desci as escadas correndo, tendo como resultado tropeços nos meus próprios pés, parabéns Lily! Deparei-me com Petúnia na sala de estar sem nenhuma vontade de me fazer de simpática e a ignorei como se fosse um móvel.

Petúnia é minha irmã mais velha, ela quase nunca dá as caras por aqui por que vive ocupada com a sua faculdade, ou com seu namorado (leia-se projeto de porco mal feito), e isso ocupa tempo demais para ela se dar ao trabalho de visitar a irmã e a mãe, mas tanto faz ela só o fato de ela ter conseguido um tempo para estar aqui já me irrita, assim como todo o ar que ela respira.

Mas na verdade, acredito que seja uma grande mágoa que guardo dela. Mas não vou ficar aqui pensando nisso, quando tenho amigas maravilhosas esperando por mim. Abri a porta, Alice, Marlene e Dorcas já foram entrando, como sempre. Emmeline não pode vir, pois está viajando.

– Meu deus Lily, você é uma lesma agora ou o quê? - Lene disse bufando.

– Claro que não! - Alice falou.

– Isso aí, Lice, me defenda! - respondi.

– Você sempre foi uma lesma, Lily. - Alice completou e eu peguei uma almofada, que não chegou nem perto dela.

Retiro o que eu disse, são loucas, isso sim!

– Vocês acabam com a minha filosofia mental, destroem ela em pedacinhos – fiz bico

– E você é a pessoa mais filosofa que conheço, não é Lily? – perguntou Lene

– Vai se ferrar, eu tenho meus pensamentos inspiradores sim ouviu? Um dia as pessoas vão escrever livros sobre mim “Lily Evans – A pensadora”, vocês verão! Cadê a Caroline?

– Não pode vir, estava com muita lição acumulada, e quanto ao livro vou esperar sentada Lils – Alice respondeu. Ótimo, temos um complô agora.

Todas vocês, levem o traseiro pra cozinha para começarmos nosso brigadeirão! - falei caminhando até o cômodo.

– Você ainda não fez? - Lene resmungou.

– Ô Sirius dois, eu tenho cara de quê agora? - falei e todas riram.

– Não me compare a ele. - ela fez bico.

– Claro, claro. - respondi na ironia e peguei a panela.

Após termos nosso doce dos deuses preparado, além de é claro uma boa quantidade de pipoca que é absolutamente tudo que garotas precisam durante um lanche subimos lá para cima. A escolha do filme não foi um dos momentos de mais orgulho da nossa amizade, cheio de puxões de cabelo, colherada na testa, e daí pra pior, mas é o carinho que amigas tem uma pela outra, sabe? O amor tem que ser demonstrado de alguma forma, essa é a nossa.

Por fim, escolhemos um filme qualquer, considerando que mesmo argumentando que sou dona da casa e meu voto vale mais fui completamente ignorada, e meu filme não foi escolhido.

Estávamos em um momento de pura empolgação. O mocinho estava entrando no local onde o vilão se encontrava, e a menina-loira-oi-sou-a-donzela estava prestes a ser morta quando...

Ding Doing!

Soou a maldita campainha fazendo pipoca voar, e as pobres almas saltar para fora do corpo por meros instantes.

– Mas quem diabos é? Você está esperando alguém Lily? – Alice perguntou irritada.

– Eu não... Será Caroline? Vou ir atender, esperem aí.

Desci às escadas correndo, sabendo que sem chances Petúnia se moveria a abrir a porta, então era apenas comigo. Quando abri me deparei com quem?

Um doce para quem disse James Potter.

– O que você ta fazendo aqui?

– Lils ruivinha, você precisa aprender a ser mais educada sabia? Faria muito bem um “Olá James, como vai?”

– Tanto faz, o que você ta fazendo aqui?

– Ordens do Sirius, além de que você nem me avisou que daria uma festinha Lily, assim me magoa, eu sou seu melhor amigo que você tanto ama, e me despreza assim?

– Você é tão engraçadinho! – falei o deixando passar.

James me olhou com uma expressão divertida e ergueu uma das sobrancelhas. Lancei um olhar rápido para as escadas que davam em direção ao quarto onde ouvia risadas e vozes femininas, e ele já foi gritando:

– Pessoal, temos uma decisão séria nas mãos. – ele disse sério. Lene desceu correndo, e olhou feio para o moreno que estava interrompendo a noite das garotas. Eu dei de ombros sinalizando que não era a minha culpa.

Dorcas e Alice vieram logo em seguida e também olharam assustadas. Eu bufei, sabendo da brincadeira.

– Realmente é uma decisão muito difícil, mas temos que fazê-la. Pode decidir o futuro do nosso planeta e...

– E ele quer saber qual o sabor da pizza que iremos pedir – eu disse, o cortando. Caí no riso quando ele veio na minha direção querendo fazer cócegas.

– Ah Lily Evans, volte aqui!

Como sou uma pessoa muito inteligente subi às escadas correndo em direção a minhas amigas, onde era supostamente a área de proteção.

– James se você não namorasse a Caroline eu poderia jurar que você era gay – refletiu Dorcas, olhando para o nada.

– É sempre bom ouvir isso sabia Dorcas? Eleva a masculinidade de um cara, e o ego também – James respondeu sorrindo, enquanto subia para o quarto conosco.

– Claro, como se o seu ego pudesse inflamar ainda mais... - resmunguei e levei um beliscão.

– Ei!

– É pra aprender a amar os defeitos do seu melhor amigo, não sair criticando. - James disse fingindo estar zangado.

– Aí você acorda, né? - perguntei e Dorcas riu.

– Tem certeza que você não é gay? - ela perguntou e nós todas rimos.

– Mas da onde surgiu essa ideia? – resmungou James.

– Da minha mente – Dorcas respondeu simplesmente, de todas nós ela era obviamente a mais avoada e isso é claro sempre rendia muitos divertimentos.

Chegamos finalmente o quarto, e sem demora empurrei James para o telefone, se tem algo que detesto é falar com caras da pizzaria, se puder eu vou à casa do James pedir para ele ligar e pedir para mim, mas sozinha eu não ligo. Após o pedido ser feito todos sentamos cuidadosamente (leia-se se jogamos) em nossos devidos lugares. E olha que legal, James ficou bem do meu lado, seu braço roçando no meu, por que isso tem que me dar tanto nervoso se eu sempre estou em contato com ele? Deus!

E ele conversava com as meninas sem dar a mínima bola pra isso. E eu lá, que nem uma tonta nervosa por causa de um toque. Um simples toque! É, eu preciso me tratar. Fechei os olhos e focalizei em... Ai meu deus, ele pegou a minha mão! James quer me matar, eu aposto que sim! Ele simplesmente pegou a minha mão, assim do nada, e começou a brincar com ela. E sim, Lene lançou um olhar meio incomodado com isso, mas ei! Eu não fiz nada!

Meu coração essa hora saiu pela boca e está voando por algum lugar acima de nós, em que posso ouvir seu batimento tão rápido quanto uma maquina de lavar, cara qual o meu problema hoje? Ah, sim eu sei a resposta. O CARA QUE EU GOSTO ESTÁ BRINCANDO COM A MINHA MÃO, E ELE É MEU MELHOR AMIGO E TEM NAMORADA.

Ok passou o nervosismo! Não, não passou ai meu Deus, o que eu faço?

Para deixar a situação ainda mais linda, a campainha tocou, e James disse no meu ouvido:

– Lils desce comigo, quero te falar uma coisa.

Ai meus santinhos, o que ta acontecendo na minha vida hoje? E o que James quer?

Imaginem a minha cara então, já que não consegui esconder o misto de medo e curiosidade que senti. Claro que isso atraiu a atenção das meninas, que logo depois foram distraídas com campainha tocando novamente. Eu me levantei, e James veio atrás de mim.

– Sem gracinhas, hein. - eu disse e ele riu.

Pegamos a pizza, e nada do James dizer uma palavra, curiosa perguntei logo:

– O que quer falar comigo?

Ainda com a sensação da mão dele brincando com a minha mão na cabeça, eu realmente preciso de um medico.

– Sirius teve uma ideia, mas precisamos começar a colocar em ação logo.

Típico, apenas um plano mirabolante do melhor amigo, nada de declarações apaixonadas, droga. Para melhorar eu tinha esquecido completamente que prometi tentar ajuda o pobre do Sirius.

– É simples ele quer fazer um jantar romântico para a Lene, na verdade ele já está com quase tudo pronto, lá na minha casa, só precisa da Lene, e que você dê uma olhada para ver se ele não fez nenhuma besteira. Poxa Lily, o que aconteceu com meu melhor amigo? Ele tá tão diferente, tão sei lá apaixonado, eu sou assim com a Caroline? Tão estranho e meloso? Se eu sou pode me bater, vou tentar não reclamar muito – James disparou a falar, às vezes eu acho que sou tagarela, porém James consegue a proeza de me superar.

– Na verdade é uma boa ideia, e não você não é meloso, acha que eu já não teria te xingado de todos os nomes se esse fosse o caso? Ah, fique com as meninas, diga que eu vou ao banheiro sei lá, não vou demorar e vou arrumar um jeito de conseguir roubar a Marlene.

Ele subiu novamente para o quarto carregando a pizza, por um momento pensei que é tão injusto ter que deixar meu brigadeirão, pipoca e pizza para ter que ajudar meus amigos com sua vida amorosa, quando na verdade a minha está um fracasso, mas deixei o pensamento ir, não é algo bom de ser cultivado, portanto deve ser eliminado, eu adoro ser um cupido, e amo a Lene e o Sirius, ajudar eles é uma boa idéia. Com esses pensamentos entrei na casa dos Potter e me surpreendi ao me deparar com uma sala de jantar, maravilhosamente organizada e romântica.

– Você fez tudo isso sozinho? Uau! Estou impressionada! – comentei com sinceridade.

– Na verdade não tudo, a Sra. Potter preparou a comida... – Sirius disse meio envergonhado, James tem razão o amor, ou o fato de assumir ele muda as pessoas.

– Está absolutamente perfeito Sirius, pela primeira vez você me provou ser realmente digno da minha melhor amiga, vou trazê-la aqui, só não conte que tudo dê certo, conhece o gênio da pessoa certo? Mas desejo boa sorte a vocês.

Voltei para minha casa ainda perplexa pela mudança de comportamento de Sirius, e com apenas um pensamento em mente, arrastar Marlene para aquela casa e fazer com que seja feliz.

– Lene pode vir comigo? É urgente, preciso muito da sua ajuda – sou péssima em desculpas e em mentiras, minha criatividade é completamente limitada nesse quesito.

– Claro Lily! – ela saiu do quarto comigo, enquanto Alice e Dorcas lançavam olhares preocupados – O que aconteceu?

– Não posso te falar agora – fiz a maior cara de sofrida que consegui, esquece o papel de atriz, aparentemente meu dom se limita apenas em ocultar de James o meu amor secreto por ele – Aconteceu uma coisa... Na casa do James, preciso da sua ajuda.

– Então vamos lá! – essas são minhas amigas, você diz “eu fiz uma besteira não quero falar sobre isso agora, apenas venha comigo” e elas vão, sem se perguntar se você matou alguém ou algo do tipo, apenas vão. Caroline está certa, tenho as melhores pessoas do mundo a minha volta, exceto Petúnia.

Arrastei Marlene para a casa de James e a mandei entrar enquanto esperava do lado de fora, logo que ela passou fechei a porta, aguardei por um tempo para ver se não escutava barulho de coisas se quebrando (ei, ela é minha melhor amiga e olha como eu sou, não pode ser normal também certo?), por fim decidi que tudo estaria correndo bem e voltei para minha casa.

Para minha total e completa surpresa encontrei apenas James jogado na minha cama brincando com meu celular nas mãos.

– Cadê as outras meninas? – perguntei curiosa.

– Bom, eu expliquei a situação e elas apoiaram completamente, mas acontece que Remus enviou uma mensagem para Dorcas pedindo para se encontrar com ela, e Alice aproveitou para sair com Frank, já que tinha deixado ele sozinho para ter uma noite das garotas com vocês, e só sobrou a mim, mas não precisa se lamentar eu valho por mil.

– Você é tão bobo James – revirei os olhos.

– Como foi à operação cupido?

– Aparentemente muito boa – me joguei na cama ao seu lado. – queria saber o que está acontecendo lá agora.

– Bom, eu tenho um jeito, mas é meio errado, isso seria algo que Lily Evans faria? – ele perguntou tirando sarro com minha velha (sim já é velha) personalidade certinha.

Matar aula, se apaixonar pelo seu melhor amigo, que por acaso namora uma garota muito legal, mentir para sua melhor amiga, ta que foi para o bem dela, mas é uma mentira, fazer planos com Sirius Black, e mentir sobre seus verdadeiros sentimentos e pensamentos a maior parte dos dias, é definitivamente a Lily certinha e nerd ficou há muito tempo para trás.

– Eu topo.

– Então vamos lá ruiva.

James me levou pela porta dos fundos a um corredor que acabava em uma cortina vermelha, onde acredito eu dava para a sala de jantar, considerando que podíamos ouvir as vozes dos nossos melhores amigos.

– Eu sei o que você está pensando, e não é nada bom. Mas acredite, eu posso mudar por você... Lene, dê uma chance para nós. Uma única chance.

Annw, tão fofo! Meu Deus, será que colocaram um alienígena no lugar do meu amigo?

Consegui ver Lene totalmente pasma, e acredito ter visto seu rosto corar devido algum pensamento. Bom, se eu fosse ela também estaria assustada.

– Sirius... E-eu não...

– Eu te amo, Lene. Me deixa te provar isso.

– Lily? – James me abraçou de lado – Obrigada.

– Por quê? - perguntei curiosa e nervosa com a posição em que me encontrava.

– Por ter dado uma chance de ser amiga da Carols, não estamos brigando mais, e eu sei que muito disso se deve a você, é importante para mim que você goste dela. Eu amo você sua cabeça de tomate.

– Não foi por nada James, é mais importante para mim que você seja feliz – mesmo que seja sendo amiga da garota que ocupa o lugar onde eu gostaria de pertencer na sua vida, completei em pensamento.

É, minha é uma bagunça, mas às vezes, só às vezes eu consigo fazer algo de bom para variar. Não escutei mais vozes na sala de jantar e imaginei o que estava acontecendo, aparentemente temos um novo casal agora.