Três anos asmodianos (e seiscentos anos humanos) depois...

            - Elesis...

            - Não! Cale-se! Já falei que não quero! – A garota ruiva cruzou os braços, com teimosia.

            - Mas é necessário! Você é a última herdeira do grande herói Sieghart, agora que seu pai se foi, e por isso deve assumir a liderança dos Cavaleiros Vermelhos!

            - Meu pai não se foi! Ele está vivo, só que em outra dimensão. A Cazeaje o mandou para lá!

            - Mas nós não sabemos se realmente foi isso que aconteceu, Elesis! O Elscud pode muito bem ter morrido, sim!

            - Gerard, pelo amor de Thanatos, vá embora. Eu quero ficar sozinha. Não vou assumir a liderança dos Cavaleiros Vermelhos, e meu pai não morreu. E eu já tenho planos: Vou ir atrás da Cazeaje, a Rainha das Trevas, vou matá-la, me vingar por ter sumido com meu pai, assim como com o meu tataravô Ercnard Sieghart há anos atrás.

            - Elesis, tenha juízo. Você pretende ir atrás da Rainha das Trevas assim, de repente, sozinha? Se Elscud, o seu pai, que é bem mais velho que você, perdeu contra ela, como você pretende vencer? Não tome decisões precipitadas.

             - Vou morrer tentando! E eu não vou sozinha! Fui até o palácio real de Canaban hoje cedo, e falei com a princesa Ahnyu.

            - A princesa?! Elesis!

            - Ainda não terminei de falar! Fui até o palácio real de Canaban falar com a princesa Ahnyu. E ela concordou em começar um grupo novo de guerreiros, magos, entre outros, para irem atrás de Cazeaje. Não me deixou liderar, mas chamou uma mulher chamada Lothos, “a comandante Lothos”, como temos de chamá-la, para liderar o grupo, que recebeu o nome de Grand Chase. E ela disse que ia chamar outras duas garotas para se juntarem ao grupo, para então ele começar oficialmente e podermos ir. Viu só? Eu pensei em tudo. – Ela declarou.

            - Elesis. Eu te treino desde que você era pequena. Mas, se agora você vai desistir dos Cavaleiros Vermelhos e ir embora para a morte, você pode ir guardar a sua espada e está dispensada agora mesmo.

            - Enquanto eu e meu pai estamos ausentes, Gerard, confio em você para liderar os Cavaleiros. Não consigo pensar em ninguém melhor do que você para isso, e tenho certeza de que meu pai também não conseguiria. Mas aceito sua oferta de bom grado, e vou imediatamente guardar minha espada e ir para minha casa.

            Exatamente como disse que faria, ela deu às costas para seu treinador, e foi guardar a espada. Então, sem se demorar, saiu do campo de treinamento dos Cavaleiros Vermelhos e seguiu para sua casa.

            Honestamente, Elesis não sabia por que Gerard estava tão preocupado com ela. Ela não tinha dúvidas sobre o sucesso do Grand Chase, nem sobre que seu pai estava vivo. E, afinal, ela havia treinado a vida inteira para quê? Era chegada a hora de ir enfrentar a Rainha das Trevas. E ela só estava esperando o chamado da Comandante Lothos para sair na missão.

*********

            Enquanto isso na Ilha de Eryuell...

- Quando eu vou ter uma missão de verdade, hein? – Perguntou, chateada, a elfa Lire.

            - Mais em breve do que você imagina, irmãzinha. – Respondeu seu irmão mais velho, sorrindo rapidamente.

            - Quero dizer, eu já estou faz tempo na Patrulha Élfica, e sou muito boa com o arco. E para que? Para ficar aqui, na monótona Ilha de Eryuell para sempre? É isso? – Ela continuou reclamando, até finalmente entender o que o irmão havia dito. – Sério?! Em breve?! – Lire perguntou, se virando para ele.

            - Não queria dar a notícia agora, visto que ela pode ser boa ou ruim. Então, continue treinando. Depois, quando formos para casa, eu te conto. – Falou o garoto, antes de pegar seu arco e sua aljava de flechas e sair para treinar em outro canto do campo de treinamento.

            - Ei! Me conta, vai! – Lire pediu, mas ele já tinha saído. Então, a garota pegou seu arco também e continuou treinando, jogando flechas em direção a um alvo, pela primeira vez desejando que o treino da Patrulha Élfica terminasse logo para ela pode ir para casa e assim, o irmão dela poder dar-lhe a notícia.

            Quando o treino acabou, aproximadamente uma hora depois, ela guardou a arma e depois foi correndo falar com ele.

            - Irmão! Irmão!

            O garoto sorriu para ela, e deixou que a garota se aproximasse.

            - Tudo bem, Lire. Vou contar para você. Em Canaban, está sendo formado um grupo de guerreiros para irem lutar com a Rainha das Trevas, um grupo que recebeu o nome de Grand Chase, e que será liderado por uma mulher chamada Lothos. E chegou, aqui na ilha, uma mensagem dizendo para que mandássemos o nosso melhor arqueiro para se juntar ao grupo. O governo da Ilha de Eryuell escolheu você, Lire.

            - Jura?! Quando eu vou?! – Perguntou a garota, animada. Finalmente uma aventura de verdade!

            - O mais rápido possível, assim que você puder.

            - Vou arrumar minhas coisas AGORA!

*********

            Enquanto isso na Academia de Magia Violeta...

            - A magia deve ser feita com o cetro na posição horizontal... Mas não, espere, no outro livro estava dizendo que era vertical... Espera, cadê o livro...

            - Arme.

            - AAH! – A garota deu um pulo e um gritinho estridente quando ouviu alguém atrás dela a chamar. Ela tinha certeza de que estava sozinha na biblioteca, estudando para a prova que teriam no próximo mês, e se assustou genuinamente quando disseram seu nome, e por reflexo fechou o grosso livro de magias que estava estudando, sem marcar a página. – Droga... – Ela murmurou, olhando decepcionada para o livro, ao perceber o que tinha feito. Então, se virou para trás, para ver quem era pessoa que a tinha chamado, e vendo a diretora da academia. Arme dirigiu um sorriso para ela. – Diretora! Perdoe-me por gritar na biblioteca. A senhora me assustou.

            - Tudo bem, minha querida. Vejo que está estudando bem antes da prova, de novo. – A diretora sorriu de volta. Arme era sua aluna preferida.

            - Oh, sim... É que eu gosto de estudar! – A menina de cabelos roxos respondeu.

            - Já percebi. Mas você poderia dar uma pausa nos estudos para eu conversar com você, na minha sala?

            - Certamente! – Ela empilhou todos os livros que estudava em um canto da mesa e se levantou.

            As duas foram até a sala da diretora, que era toda roxa – armários roxos, mesa roxa, cadeiras roxas, tapete roxo, cortinas roxas, abajur roxo; enfim, um cômodo inteiramente roxo.

            Arme sentou-se na cadeira diante à mesa da diretora.

            - Arme – Ela começou a falar, mexendo em uma papelada que estava em cima da mesa, apenas para ocupar as mãos. – Você sabe que é a primeira aluna de toda história da  Academia de Magia Violeta que, além de aprender toda a magia branca conseguiu dominar também as artes das magias das trevas.

            - Sei, sim senhora. Tenho grande orgulho disso.

            - De fato, é um excelente motivo para se orgulhar. Também estaria orgulhosa se fosse você. Estou orgulhosa por você, querida. Mas, como eu ia dizendo, apesar de ser extraordinário e tudo o mais, é uma grande responsabilidade. Afinal, se temos um aluno experiente em magia negra, temos medo de que ele se torne maligno e use isso para o mau.

            - Mas, mas! Eu nunca faria isso!

            - Sei que não. E é por isso que a conversa que eu quero ter com você não é essa.

            - Uh? Qual é, então? – Arme perguntou, confusa.

            - Em Canaban começou a ser formado um grupo de guerreiros para irem atrás de Cazeaje e derrotá-la. Chegou aqui agora a pouco uma carta pedindo para que enviássemos o nosso melhor aluno para lá para se juntar ao grupo, que recebeu o nome de Grand Chase.

            - Grand Chase? Tipo “Grande Caçada”? Que legal! Mas... Eu?!

            - Sim, Arme, você! Você é de longe a melhor aluna desta academia.

            - Ér... Não que eu não queira, diretora, mas... Tem certeza? – Ela perguntou, insegura. A notícia tinha vindo tão de repente.

            - Como assim, “tem certeza?”? É evidente que eu tenho! Você aceita?

            - Eu... Eu... – Arme se pegou em um dilema. Aceitar ou não aceitar? Quero dizer, ela era uma maga boa o suficiente para aceitar, mas ela era tão inocente para pensar em entrar em um grupo do tipo... Mas, afinal, o que ela tinha a perder? – Eu aceito!