Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 20
Ganhando e perdendo




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Três dias depois...

- Senhor, não faça isso...

- Será um ato de extrema irresponsabilidade...

- Seus pais não ficariam nada contentes se soubessem que você vai fazer isso...

            - Preze a sua vida...

            - Silêncio! Eu não quero saber! – Dio gritou, com as mãos nos ouvidos, sem paciência para continuar a ouvir os avisos aborrecedores de Alfred e Sebastian.

            Os dois ficaram quietos, mas continuavam a olhá-lo de uma maneira reprovadora. Não que ele ligasse.

            Dio desbloqueou a audição e pegou sua foice Deathstar que ele havia soltado no chão para poder tapar os ouvidos. Então, em um movimento rápido, ele a fez girar em frente a seus olhos.

            - E eu não vou perder. Sou profissional.

            - Sabemos disso. Mas aquele rapaz também deve ser, senhor! – Alfred explicou.

            Dio deu de ombros, num gesto de pouco caso.

            - Irrelevante. Ele é humano, e humanos vivem muito pouco, ou pelo menos não o suficiente para adquirirem muitas habilidades, ou então aperfeiçoá-las o suficiente para vencerem de um asmodiano. Ele não tem chance. – O garoto sorriu, olhando de uma maneira sugestiva para Deathstar.

            O mordomo e o serviçal não tiveram como discutir.

            - E então? Vocês vem ou não vem comigo? – Dio perguntou, impaciente.

            - Ir com você? – Sebastian estranhou – Desde quando você pede para irmos com você a algum lugar?

            - Oras, não é óbvio? Lá vai ter dezenas de humanos torcendo pelo Sieghart. Quero pelo menos alguém na minha torcida. Rápido, vamos. – Sem esperar resposta, ele partiu para o ponto onde ele Sieghart haviam combinado de se encontrarem. E Alfred e Sebastian, de mãos atadas, seguiram.

            Quando eles chegaram, exatamente do modo como Dio previra, estava lá não só Sieghart como também dezenas de milhares de outras pessoas, ansiosas para ver o heroizinho delas vencer. Pena que não era exatamente isso que ia acontecer.

            O rapaz de cabelos negros distraidamente girava sua espada em suas mãos, imitando a proeza que Dio fizera com sua foice pouco antes, e arrancava suspiros das fãs mais obsessivas. Quando o asmodiano se aproximou mais, ele parou o que estava fazendo e se virou para ele com um sorriso superior.

            - Vejo que não desistiu, como eu previ.

            - Se realmente previu isto, acho melhor você checar o seu ego. Por que você sabe, ego é algo realmente perigoso, e se você não acaba com ele, ele acaba com você.

            Ao acabar de falar, Dio não esperou um pedido formal para começar a luta. Simplesmente desferiu um golpe com Deathstar diretamente no peito do outro. Mas Sieghart também era profissional, como Alfred havia colocado antes, e defendeu com facilidade.

            - Muito bem, então. Que a luta comece! – Ele declarou, tentando dar um golpe por cima do de Dio. Mas ele já esperava por isso, e defendeu com facilidade. Então, continuou o ataque com a pretensão de machucar, mas novamente Sieghart defendeu.

            Ataque. Defesa. Ataque. Defesa. Ataque. E outro ataque, que pôs Dio contra a parede.

            - Últimas palavras? – Perguntou Sieghart.

            - Sim, sete: Não comemore a vitória antes da hora. – O garoto de cabelos roxos falou. Depois, ficou pensativo. – São sete, não são? Bom, que seja. – Então, ele contra-atacou violentamente.

            A ponta da foice foi parar a um centímetro do pescoço de Sieghart. Ele engoliu em seco, e depois fingiu não se importar.

            - Sim, são sete. – Com a espada, ele arrastou Deathstar para longe de sua garganta, e deu sorte, é claro, pois raramente dá certo empurrar a arma do adversário. Mas Dio empurrou também para o lado oposto, e eles ficaram travados em uma guerra de força.

            - Isso é um duelo de armas, não uma queda de braço. – Dio comentou, embora continuasse sem fazer algo para alterar o quadro.

            - Muito bem observado. – Sieghart elogiou, ao contrário do outro tomando uma iniciativa para mudar a situação, desencostando a espada da foice dele e recuando vários passos para trás.

            Ótimo. Era exatamente daquela distância que Dio precisava para aplicar o golpe que já estava planejando desde o começo da luta. Então, ele brandiu Deathstar à cima de sua cabeça e praticamente saltou para tomar impulso. Depois, tentou acertá-lo na cabeça.

            - Touché! – Ele gritou, antes mesmo de acertá-lo.

            E não contava que Sieghart defenderia tão divinamente bem.

            - Acho que aquele negócio de não comemorar a vitória antes da hora deveria se aplicar a você também, não? – Ele comentou sarcasticamente, antes de tentar acertar o braço dele.

            Foi um erro crítico. Dio conseguiu contornar a espada dele e acertá-lo na cintura, fazendo um corte mínimo e superficial.

            - Posso ter comemorado a vitória antes da hora. – Dio disse. – Mas pelo menos, venci. Touché e point. – Ele sorriu ao dizer os termos de esgrima que significam “Tocado” e “ponto”.

            Todos os humanos ao redor estavam de queixo caído e não diziam uma palavra. Não conseguiam digerir a informação de que o grande herói Sieghart havia perdido.

            Sieghart apenas sorriu, tentando disfarçar a verdade.

            - Bom jogo. Você deu sorte, por que não deu tempo para eu me aquecer.

            - Sei... – Dio rolou os olhos – O.K., agora que isso acabou vou embora.

            Ele fez um aceno com a cabeça para Sieghart e seguidamente fez um gesto para que Alfred e Sebastian o seguissem. Depois, os três começaram a se afastar.

            - Eu disse que venceria...

*********

            - Tae? Está tudo bem?

            - Hm? Ah, sim, sim... Tudo bem.

            “Tudo bem”, “tudo bem, “tudo bem”. Tae estava cansada de dizer aquelas palavras em vão. Mas, felizmente ou não, aquilo iria acabar em breve. Muito em breve.

            - Não está tudo bem com ela, não, Zero. – Grandark interferiu e também respondeu a pergunta dele, é claro que esperando irritar a garota.

            Tae suspirou.

            - É, está certo. Não está tudo bem. Há poucos dias atrás descobri que Calnat foi destruída, muito provavelmente levando meu vilarejo junto, e ainda por cima estou com meus segundos contados.

            Uma sombra passou pelo rosto de Zero.

            - É hoje, não é...?

            Ela assentiu sombriamente.

            - Bom, ainda bem. – Disse a insensível Grandark. – Aí ela não vai conosco para a próxima cidade.

            - Já vamos para outra cidade? – Perguntou o garoto – Mas só estamos nessa há três dias.

            - Eu pedi sua opinião? Vamos para outra cidade, sim, senhor, assim que a Srta. Humana morrer.

            - “Srta. Humana”. Legal, ganhei outro apelido... – Tae comentou.

            - Gostou? – A espada perguntou, com a voz pingando ironia.

            - Adorei, Srta. Espada Falante.

            - Grandark e Tae... – Zero chamou rapidamente, antes de qualquer resposta de Grandark – Não acham melhor ficarmos em silêncio por um tempinho?

            - Por que você acha isso, Zero? – Grandark perguntou, brava com a interrupção dele.

            - Porque estamos em uma cidade humana, e humanos não acham muito normal conversar com uma espada. – Zero respondeu, escolhendo as palavras com cuidado.

            - É verdade. – Tae concordou – Mas nós podemos continuar falando, Zero! Nós não somos espadas.

            Então, é claro que Grandark retrucou e a briga continuou. E Zero, como sempre, ficou fingindo não ouvir, rezando para que seu nome não aparecesse na conversa, já que não queria discordar de Tae e não podia discordar de Grandark. Mas, no final das contas, ele sempre aparecia.

            - Você não acha, Zero? – Perguntou Grandark sobre qualquer coisa na qual Zero não tinha escutado.

            Ele respondeu com um movimento de cabeça que podia significar tanto “sim” quanto “não”. De fato, um golpe de mestre. Que cada uma tirasse as próprias conclusões e entendesse o que bem quisesse.

            - Eu não falei? – A espada disse triunfante à garota.

            - Como assim? Eu tinha razão.

            “Nenhuma tem razão.”, ele se defendeu em pensamento, já que não podia fazê-lo em voz alta, “Eu nem sei qual é o assunto!”. Isso já o estava deixando profundamente irritado. O título de Garoto Sem Sentimentos não estava fazendo juízo a ele no momento. Na verdade, não havia feito juízo a ele durante a semana inteira. Não só pela irritação perante as brigas de Grandark e Tae, mas também pelo sentimento estranho que ele sentia simplesmente por estar perto de Tae. Um sentimento bom.

            Ele foi arrancado violentamente de seus pensamentos pelo som de um grito alto e agudo. Ele parou de andar, e se virou.

            Tae estava caída no chão, e estava com os olhos fechados, respirando com dificuldade. Parecia sentir muita dor. Zero ficou estático, olhando sem saber o que fazer. Mais ou menos meia dúzia de humanos que vagavam pelas ruas da grande cidade correu para onde eles estavam, perguntando coisas como: “Está tudo bem, garotinha?”, “O que aconteceu?!”, “Menina, pode me ouvir?”.

            Tae assentiu minimamente após perguntarem se ela podia ouvir. E não respondeu de nenhuma outra forma a nenhuma outra pergunta.

            - Vamos chamar um médico! – Um homem sugeriu.

            - N-Não precisa... – Tae respondeu, com a voz falha. Então, ela fez força e conseguiu sentar no chão, com seu corpo inteiro tremendo com violência, como se ela estivesse com frio, apesar do calor que fazia na cidade. – J-Já passou... – Ela lançou um olhar significativo e doloroso para Zero. E ele entendeu que ela afirmara não necessitar de um médico não porque “já tinha passado” e sim porque não iria fazer diferença. A hora havia chegado. – Alguém p-pode me ajudar a l-levantar?

            Passando à frente de todos os humanos voluntários, Zero agarrou-lhe a mão com força e a puxou para que ficasse de pé. Ela cambaleou, mas logo retomou o equilíbrio, e lançou um sorriso fraco para as pessoas que a fitavam, preocupados.

            - O-Obrigada pela preocupação.

            - Você tem certeza de que não precisa de um médico? – Perguntou um senhor, preocupado.

            - Absoluta. – Tae respondeu com tanta convicção que até Zero quase acreditou. Acreditaria, se não conhecesse a verdade.

            Então as pessoas, mesmo ainda um pouco desconfiadas, se dispersaram, e foi cada uma pelo seu caminho, novamente.

            - Tae...

            - Ei, Zero, você pode me desculpar? – Ela perguntou para ele, cortando sua frase, com a voz ainda sofrida, porém não mais trêmula.

            - Te desculpar? – Ele estranhou.

            - Sim. Acho que eu só compliquei as coisas para você e para Grandark, nessa última semana. – A garota parecia arrependida, e Grandark estreitou o olhar, sem acreditar nela.

            - Você não tem de se desculpar. – Disse Zero.

            - Eu não conseguiria descansar em paz sem que você me desculpasse. – Ela explicou.

            - Você tem de mesmo de voltar para Hades? – Ele perguntou.

            - Zero. – Tae se aproximou dele um passo. – Eu estou morta. Posso parecer de carne e osso agora, mas meu corpo já se decompôs há muito tempo. É, eu sei, essa não é uma verdade muito bonita, mas nem sempre a verdade o é. A vida que eu levei durante esta semana... Não foi natural. Mas foi muito bom estar perto de você. Mesmo.

            Após de terminar de falar, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e então começou a tossir freneticamente. E, pouco depois, ela caiu outra vez, e teria ido novamente ao chão se daquela vez Zero não estivesse olhando e a segurasse.

            Ele não sabia dizer mais se ela estava consciente ou não. Ela tossia, tossia e tossia, seus olhos estavam fechados e ela se debatia. Mas foi por pouco tempo, pois logo sua expressão se suavizou e ela parou de tossir e de se mexer.

            Com certeza, Tae havia morrido.

            Zero ficou alguns instantes com o corpo sem vida dela nos braços, no fundo com uma esperança de que ela conseguisse voltar a vida por uma terceira vez, mas logo em seguida ele se desfez em uma fumaça amarela, só para confirmar que o que ela disse sobre a vida recente dela não ser natural era verdade. Pessoas que realmente existem não somem em meio à fumaça amarela quando morrem. E aquilo também provara que o que ela havia dito sobre o corpo dela já ter se decomposto há muito tempo era também verdade, pois mostrou que o corpo que ela estava utilizando não era mais que aquilo: uma substância mágica amarela que evaporou depois que o tempo limite de sete dias se esgotou.

            Mas Zero não gostava de pensar sobre ela assim. Tae era linda demais para imaginá-la como um corpo sem vida.

            Sim, era um fato que ele se sentiu horrível por dentro quando ela se foi. Mas ele não podia expressar sentimentos, então tinha de guardar aquilo para si.

            Após um minuto de silêncio em respeito à garota e porque na verdade ele não conseguia pensar em nada para dizer, ele se virou para a espada.

            - Então... Vamos?

            Grandark se alegrou.

            - Eu falei que o problema era a garota! Viu só? Ela morreu e você tornou a falar como antes!

            - Mas eu nunca mudei o meu jeito de falar. – Zero se defendeu.

            - Mudou, sim, senhor! – A espada teimou.

            - Certo. Então eu mudei.

            - Oras! E você admite isso assim, com essa simplicidade?!

            - É. Você não queria que eu dissesse que você está certa?

            - Argh! Você nunca entende nada, hein, Zero?!

            - Perdão. – Ele pediu.

            - Está perdoado. Dessa vez!

            - Obrigado.

            Depois disso, ele resolveu ficar quieto. Afinal... Aquela era uma guerra que ele jamais venceria.


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês acham que a Tae deve continuar?
Se tiver mais votos para "Sim", ela continua aparecendo (a vida dela em Hades, etc.), e se tiver mais votos para "Não", eu esqueço a ideia.
Colaborem, por favor...
E até o próximo capítulo!