Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 19
Chamando a atenção


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu ia chamar o capítulo de apenas "Atenção", mas achei melhor não, porque aí iria parecer que eu estava pedindo a atenção do leitor para falar que eu ia parar de escrever a história, ou ficar ausente por um tempo, ou qualquer outra notícia ruim. Então, ficou "Chamando a atenção". Espero que gostem!



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Três dias depois...

- Falando sério. Eu sou o único que acha que essa gente de Vermécia não bate bem?

Dio estava incomodado e inquieto desde que a guerra acabara. Por ser asmodiano, estava tomando extremo cuidado para que os humanos o vissem o mínimo possível, pois embora ele fosse um Profano, quem o visse não saberia disso, e acharia que ele estava lá para fazer um atentado terrorista pós-guerra ou sabe-se lá mais o que um humano pensaria. Mas, para resumir, ele iria se dar mal. E outra coisa que o estava perturbando tragicamente era o comportamento das pessoas de Vermécia, que Dio não conseguia de jeito algum compreender.

Para começar: Calnat, provavelmente o país mais grandioso de Erna, deixara de existir poucos dias antes. Quando souberam disso, os vermecilianos até que se abalaram. Mas foi só por um dia, pois logo no dia seguinte eles pareceram se esquecer completamente de que Calnat um dia existiu.

Depois tinha o fato de que todos eles (sem uma única exceção) veneravam Sieghart, que na mais sincera opinião de Dio foi a pessoa mais imbecil que ele já teve o desprazer de encontrar.

É, realmente. Ele nunca conseguiria entender os humanos. E também não tinha a mínima vontade de tentar entender. Preferia mil vezes ficar ali, num beco escuro no meio de uma cidade de Canaban, escondido pelas sombras e observando ao longe. Exatamento do jeito que estava no momento.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo seu estômago, que já estava há um certo tempo protestando de fome. Dio odiava aquilo. Achava que certas coisas (tais como comer ou dormir) só serviam para fazê-lo perder tempo. Mas se ele parasse de comer, morreria, e se parasse de dormir, desmaiaria. Então, ele não tinha muita opção, nem muito do que reclamar.

Bom, pelo menos daquela vez ele não precisou ir procurar pela comida, pois já a tinha em mãos. Sim, mais cedo naquele mesmo dia, enquanto ele estava se arriscando caminhando pela cidade, encontrara uma árvore com frutas vermelhas e brilhantes, que eram diferentes de tudo que ele já tinha visto, mas que pareciam boas. Então, ele aproveitou que não tinha ninguém por perto e pegou uma. Mas, ao invés de comê-la na hora, ele guardou para uma hora em que estivesse com fome. E o momento havia chegado.

Ele levou a fruta até a boca e a mordeu. Mas logo em seguida se arrependeu, e cuspiu o pedaço que estava em sua boca no chão. Será que humanos gostavam daquilo? Foi a coisa mais horrorosa que Dio já provou.

Tudo bem, de volta à estaca zero, então. Ele teria de procurar por comida.

- Esperem aí. Vou tentar arranjar algo para comer. – Dio falou para Alfred e Sebastian. Então, lançou a fruta que ainda estava em sua mão no chão.

E saiu das sombras do beco para a claridade de um dia comum e feliz de Canaban. Tão comum e feliz que chegava a ser profundamente irritante. Mas, bem, era uma tarefa incrivelmente árdua não ser profundamente irritante aos olhos de Dio Von Burning, portanto a cidade não tinha culpa alguma.

Ele andava pelas ruas de cabeça baixa, fitando o chão. Não queria olhar para os humanos e nem chamar a atenção. Mas talvez tivesse sido melhor se ele tivesse andado normal, por que aí não teria acontecido o que aconteceu. Sem olhar para frente, trombou com algo, e instintivamente recuou um passo e levantou a cabeça.

Porque será que, de todas as pessoas no mundo com quem ele podia ter dado um encontrão, tinha de ser logo com Sieghart?

*********

- Será que ainda demora muito para encontrarmos a cidade?

- Cala a boca.

Tae olhou para Grandark e riu com a resposta dela. A espada estava com o humor muito frio e sombrio desde que a garota havia beijado Zero. Bem, na verdade ela sempre tivera o humor frio e sombrio, mas estava perceptivelmente pior.

Enquanto isso, Zero parecia ainda mais reservado do que antes e Tae parecia extremamente feliz, como costumava ser em vida.

Era verdade que o tempo dela estava acabando, e que ela só tinha mais três dias de vida. Ela estava absolutamente ciente disso, mas estava tentando não pensar no fato. Afinal, se ela ficasse pensando naquilo, iria aproveitar muito menos o tempo que lhe restava. Sem falar que, se Grandark visse que aquilo a estava preocupando, iria ficar falando naquilo de dois em dois minutos.

– Eu acho que a espera acabou. – Falou Zero, provavelmente pela primeira vez naquele dia.

– Como assim? – A garota e Grandark perguntaram em uníssono.

– Cidade. – Ele anunciou, apontando para um ponto à sua frente.

Ele estava certo. Pouco mais adiante a floresta acabava e se abria para uma cidade. E vê-la, mesmo que de longe, fez Tae perder o fôlego.

O que dizer daquela cidade? Ela era grande e tinha muitas e muitas pessoas. Devia ter o décuplo do tamanho do vilarejo onde ela nascera, e o cêntuplo de pessoas.

– Mas que cidade enorme... – Ela murmurou, embasbacada.

– Eu já estive em várias cidades. – Disse Zero. – Muitas delas maiores que esta. Mas, sem ofensas, a sua cidade foi a menor em que já estive.

– Não ofendeu. E não era uma cidade. Era um vilarejo. – Ela respondeu, com um sorriso distante. Tinha tantas saudades de sua terra natal. Tantas saudades de seu pequeno vilarejo...

O lugar onde ela tinha nascido era diferente de todos os outros do mundo. Ele era tão pequeno que sequer precisava de um nome, e não fazia parte de país algum, embora muitas pessoas de fora achassem que ele fazia parte do reino de Calnat, pois era o país mais próximo. Mas, mesmo assim, ainda tinha uma montanha dividindo Calnat do vilarejo. Ela se orgulhava muito de ter nascido lá.

Mas também existia o fato de que ela, durante sua vida inteira, só saíra do vilarejo para ir à montanha. Nunca fora para outras cidades, vilas, países ou reinos. Mas tudo tinha sua primeira vez, e naquele momento ela estava completamente disposta a conhecer outra cidade.

Então, o grupo avançou em direção ao final da floresta.

*********

– Argh. – Fez Sieghart, revirando os olhos e olhando para Dio. – Quem é você, hein? Não, espere. Não precisa nem falar que eu até já sei. Você é mais um fã. O que você quer? Um autógrafo?

– Um autógrafo seu? – Dio disse, em tom zombeteiro – Eu passo. Não bati a cabeça forte o suficiente para querer algo do tipo.

– E você por acaso sabe quem eu sou? – O jovem perguntou, com superioridade.

– Hmm... – Ele pensou, apesar de saber muito bem quem ele era – Sei. Você é o Siagnard, certo?

– “Siagnard”?! Eu sou SIEGHART, não Siagnard. E como você se sente ao saber que você é a única pessoa daqui que não é meu fã?

– Eu não posso responder a essa pergunta, porque não sou daqui. Mas como você se sente ao saber que nem todo mundo é seu fã?

– Sieg! Sieg! Mostra para ele quem é que manda! Não deixa ele falar assim com você! Se eu fosse você, eu não deixava! – A multidão de humanos que se reunia ao redor deles gritava.

Como era mesmo o plano de Dio? Ah, é. Não chamar a atenção de ninguém. Bem, tarde demais.

– Acalmem-se, acalmem-se! – Pedia Sieghart – Vocês o ouviram! Ele não é daqui! Não sabe de meus feitos grandiosos, e por isso não me venera!

– Ah, mas pode crer que eu já fiquei sabendo de tudo o que você supostamente fez. – Dio respondeu – E, sabe, eu até lutaria com você, mas não vou ficar batendo palma para louco dançar.

– Fraco.

– Digo o mesmo de você. Eu não estou com armas para lutar.

– Então vamos fazer o seguinte: Daqui a três dias, nesse mesmo horário, vamos nos encontrar nesse mesmo local e lutar. O que você acha?

Dio pensou em recusar, mas depois mudou de ideia. Afinal, o que ele tinha a perder aceitando? Sem falar que seria muito divertido derrubar Sieghart de seu pedestal.

– Eu topo.


*********

– Caramba! Caramba! Nooossa! – Exclamava uma deslumbrada Tae, que estava encantada com a beleza e o tamanho da nova cidade. Ela olhava para tudo e para todos, e ficava parando várias vezes. Alguns moradores da cidade olhavam para ela como se ela fosse louca. Outros a olhavam com um sorriso divertido, achando graça na situação. Secretamente, Zero também estava achando aquilo engraçado. Ele já havia estado em duas dimensões, dois mundos, dezenas de continentes, centenas de cidades, vilas e vilarejos, e em nenhum lugar se sentira eufórico como a garota estava no momento. Era bem divertido, mas ele não demonstrava.

– Você é da onde, menina? – Perguntou simpaticamente uma senhora que estava passando pela rua.

– Eu sou de Xênia. – Tae respondeu, sorrindo.

– De Xênia? – A expressão da senhora mudou e de repente ela pareceu preocupada – Da onde, em Xênia?

– Perto de Calnat. Por quê?

– Calnat?! – A mulher gritou, alto demais.

Como se tivessem ensaiado, todas as pessoas pararam o que estavam fazendo e se viraram para Tae.

– Calnat?! Você veio de Calnat?! Pelo amor de Thanatos! Como assim?! – Elas perguntavam.

– Não, não! Isso é um engano! Não sou de Calnat, sou de um vilarejo perto de Calnat! – Ela corrigiu – Mas, se eu fosse de lá, qual seria o grande problema?

Reinou o silêncio.

– Você não sabe? – Perguntou a velha senhora que tinha parado para falar com a garota, inicialmente. – Calnat foi destruída.

– Como assim “destruída”? – Ela estranhou, sem se dar conta do que isso realmente significava.

– Significa que o reino inteiro foi explodido. Não houve sobreviventes.

Tae empalideceu, e lágrimas vieram aos seus olhos. Se Calnat fora explodida, muito provavelmente o seu vilarejo sofrera as consequências também, por ser muito próximo ao reino.

E, de repente, quase tudo o que ela conhecia provavelmente já não existia mais.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho uma boa e uma má notícia:
A boa é que o capítulo 20 (o próximo) já está pronto.
A má é que vocês não vão lê-lo hoje, porque eu gosto de deixar pausas entre os capítulos.
Bom, nos vemos no próximo capítulo, eu espero!