Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 18
Orgulho




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Ao que ouviu a voz de sua madrasta, Rey imediatamente parou de chorar. Não importava o jeito como ela estava se sentindo – tudo que realmente importava era que ela não daria à Adellina o gosto de vê-la chorando. Dignidade era uma das coisas de que Rey jamais abriria mão.

            Ela se virou para a mulher e lhe lançou um sorriso de escárnio. Um sorriso forçado, mas esse detalhe era irrelevante. Afinal, o que realmente importava era a intenção.

            - Adellina, – Rey começou a falar, em tom baixo devido ao medo de sua voz sair rouca pelo choro. Mas, ao perceber que ela estava normal, prosseguiu falando mais alto e de maneira mais determinada – se toca. Nunca parou para pensar que existem ex-maridos e ex-mulheres, mas não ex-filhos e ex-filhas? Quanto tempo mais você levará para entender que meu pai nunca irá te amar do mesmo jeito que me ama? Desiste.

            Aquela foi a primeira vez em que ela tinha respondido daquele jeito à Adellina. Foi como tirar um peso dos ombros, se sentir livre. Ainda por cima porque ela sabia que ela merecia aquela resposta, e essa “justiça” misturada com a cara de surpresa que Adellina fez com a resposta tornou tudo ainda mais gratificante.

            Rey esfregou os olhos para afastar as lágrimas e se levantou do chão, com uma determinação que não sentia antes.

            - Obrigada, Adellina. De verdade. – Ela sorriu novamente, dessa vez de uma maneira mais natural – Sua idiotice é sempre tão engraçada que acaba me animando.

            Mas, antes que a madrasta pudesse responder alguma coisa, Rey deu-lhe às costas e começou a descer novamente a escadaria para o primeiro piso.

            Havia decidido: Iria falar com Duel.

*********

            “Não, tudo bem. Vamos.”, Tae havia respondido alguns minutos antes quando Zero havia lhe avisado que teriam de continuar a andar. Mas esse “tudo bem” foi uma grande mentira.

            Não estava tudo bem. Na verdade, nada estava bem. Tae inclusive já tinha pensado em como Grandark era sortuda por não ter pescoço, por que se ela o tivesse, desconfiava que não conseguiria resistir à tentação de estrangulá-la.

            - Zero, fale para a humana andar mais rápido. Eu sinceramente não consigo entender como ela, além de boba, feia e humana, pode ser tão lenta...!

            - Eu posso ouvi-la, sabia? – Tae fechou os olhos, respirou bem fundo e fez uma oração silenciosa em sua cabeça pedindo por paciência.

            - Zero, – Recomeçou a falar Grandark, de uma maneira ainda mais maldosa do que antes – diga para a humana que eu decidi que nunca mais iria dirigir a palavra a humanos imundos.

            - Oras, mas que infantilidade! – Exclamou a garota, frustrada e extremamente irritada.

            - Nossa... O barulho que essas moscas de Erna fazem é tão irritante! Não concorda, Zero?

            - Se eu concordo? – Zero perguntou com um leve grau de desconforto na voz.

            - É, é, e você ouviu muito bem, não se faça de desentendido. Eu não estou te reconhecendo mais, Zero! – Grandark disse, com impaciência.

            - Me desculpe, é que eu estava distraído...

            - E quando foi que eu lhe dei permissão para se distrair, que eu não me lembro?!

            - Não fala assim com ele! Que coisa! – Gritou Tae, que já estava absolutamente esgotada de ouvir uma mísera espada falando dessa maneira com as pessoas.

            - Tae, não... – Começou a falar o garoto, se virando para ela.

            - Mudei de ideia! – Cortou Grandark – Agora você também não vai mais falar com ela, Zero.

            - E por que não? – Tae perguntou, com veneno na voz – É por que você tem medo de que ficando comigo ele ouça a voz da razão e pare de te obedecer?

            - Eu nunca vou parar de obedecer a Grandark, Tae... – Foi Zero quem respondeu. Tae foi capaz de ouvir o próprio coração rachar em mil pedaços, mas logo em seguida foi capaz de ouvi-lo voltar à forma original quando o garoto pegou a sua mão. – Vamos. Eu sei que você está cansada, mas nós já estamos perto da cidade.

            - Zero. Solta a mão dela. E, mesmo que nós estivéssemos há mil milhas da cidade, ela teria de andar da mesma maneira. Simples assim. – Disse a espada.

            Zero soltou a mão da garota.

            - Ah, não... – O olhar que Tae lançou para Grandark em seguida foi assustador. – Escute aqui, daqui a seis dias eu vou morrer. E vai ser pela segunda vez. Eu não acho que eu tenho algo a perder. Portanto...

            Então, num brusco movimento que ninguém senão ela mesma esperava, se virou para Zero, segurou o rosto dele com as mãos e colou seus lábios nos dele.

            E nesse momento, Zero pela primeira vez... sentiu.

*********

            - Boa tarde. – Cumprimentou Rey, ao entrar na sala, apesar de estar evitando tanto o olhar de seu pai quanto o de Duel.

            - Boa tarde, Srta. Von Crimson. – Duel respondeu, e dava para sentir na voz dele que ele desconfiava que a garota fosse começar a chorar e fosse sair correndo de novo.

             Mas ela não iria.

            - Rey, este é Duel. Ele foi o líder da facção genocida da guerra. – Peter contou, com naturalidade, como se o momento em que havia brigado com a filha jamais houvesse acontecido. Mas ela sabia que ele só estava fazendo isso por aparência, e que mais tarde eles ainda teriam de conversar sobre o ocorrido.

            Então, a garota não teve mais opção a não ser olhar para Duel.

            “Já se passaram dois anos... Que saudades. Ele está tão lindo. Pena que ele não pode saber que sou eu...”, a parte de Rey que não pertencia a ela pensou.

            “Quieta! Eu não aguento mais te ouvir falando! Eu não quero ter dupla personalidade! Pare de estragar a minha vida!”, a Rey original pensou em resposta, com desespero.

            “Estragar a sua vida? Oras, você por acaso já pensou que se não fosse por mim, você sequer estaria viva?”

            A garota tentou parar de pensar do eterno diálogo que estava sempre a ocorrer em sua mente, pois isso sempre a deixava muito distraída, já que o mundo não parava enquanto ela brigava consigo mesma, e ela não podia se dar ao luxo de ficar distraída em um momento como aquele.

            Ela piscou para voltar para o mundo real.

            - Hm, então, srta. Von Crimson... – Duel a olhava de uma maneira estranha. Droga. Será que sua ausência temporaria fora descoberta?

            “Ou vai ver ele me reconheceu...”, pensou esperançosa a outra parte de Rey.

            “Impossível. Por favor, silêncio!”

            Ela se desligou dos pensamentos e novamente voltou para o mundo real. E, dessa vez, quando voltou percebeu que Duel tinha acabado de dizer alguma coisa que ela não tinha ouvido e esperava uma resposta. Porque desgraça pouca é bobagem...

            - Perdão. Pode repetir? – Rey perguntou, sem graça.

            Ela sentiu o olhar bravo de seu pai sobre si por um instante.

            - Eu perguntei – Recomeçou Duel – se você sabe pelo menos de algo que aconteceu em Erna.

            - Ah... Claro. – Rey respondeu. Ela sabia de tudo que acontecera na guerra, nos mínimos detalhes, com exceção dos últimos dois anos. Mas, é claro, ela não podia contar isso, pois seria muito estranho e geraria perguntas desconfortáveis.

            - E do que você sabe?

            - Sei que... – Ela fez uma pausa para pensar no que não soaria estranho, e por fim falou: - Sei que Calnat venceu a guerra, mas que não pode aproveitar a vitória pois foi explodida logo em seguida. Sem sobreviventes.

            - Só sabe disso? – Duel estranhou.

            - Não só disso! Também sei que, há dois anos atrás um grupo traiu o restante dos asmodianos e que houve uma briga. Todos os traidores morreram, e uma mulher que estava do nosso lado também. – Rey acrecentou, mas se arrependeu no instante em que refletiu sobre o que havia falado.

            Ele ergueu uma sobrancelha.

            - Está certa. Eu estava lá.

            - Ah, é? – Ela perguntou, com falsa surpresa.

            - Sim. E a mulher que morreu se chamava Edna. Eu a prezava muito.

            “Eu a prezava muito.”. Essas quatro palavras ecoaram pela mente de Rey.

            - Meus pêsames.

            - Eu matei o assassino dela. Ela foi vingada, então acho que ela deve estar bem agora.

            Ele não fazia nem ideia.

            - Bem, - Duel continuou, em tom de quem estava mudando de assunto - antes de falarmos sobre isso, acho melhor eu começar contando sobre o que aconteceu no príncipio da guerra, não é?

            Rey apenas assentiu, e ele começou a falar. Honestamente? Ela só estava ouvindo 50% (se não muito menos) do que ele dizia. E não era por falta de interesse, e sim por causa que a voz em sua mente não silenciava e repetia sem parar: “Por favor, lembre-se de mim”.

            Provavelmente se passaram horas até que ele olhou no relógio e disse:

            - Bem, acho que isso foi tudo. Está ficando tarde e vou-me embora.

            A garota assentiu.

            - Vou chamar um empregado para te acompanhar até a porta. – Falou Peter, que ficara no aposento o tempo inteiro.

            - Obrigado, mas não. Eu posso muito bem encontrar o caminho sozinho. – Duel respondeu, já caminhando para fora da sala. E, quando já estava para sair ele se virou novamente, fitando Rey fixamente. – A propósito, srta. Von Crimson... Nós já nos encontramos antes?

            O coração de Rey perdeu uma batida. Depois acelerou. E então ela sorriu respondendo:

            - Não. Nunca.


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Notas finais do capítulo

Dio no próximo capítulo. Não percam =D.



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