Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 17
Dor de cabeça


Notas iniciais do capítulo

Bem, na verdade eu queria postar esse capítulo só no dia 16, por ser o dia do meu aniversário. É, é, só pelo prazer de falar nas notas: "Hoje é meu aniversário!". Mas ainda faltam mais seis dias, e seria maldade de minha parte fazer quem gosta da história esperar mais. Então, está aí o capítulo 17.
Espero que gostem!



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Um dia depois...

Só para variar, Rey estava divida por duas formas de pensar diferentes.

Por um lado, ela estava contente pela guerra ter acabado, pois nunca foi a favor dela. Mas por outro, ela sentia a perda da guerra como uma derrota pessoal, visto que em outra encarnação (ou mais ou menos em outra encarnação, pelo menos), ela lutara nela e tivera tanta certeza de que Elyos triunfaria.

Então, como sempre acontecia quando ela não sabia o que devia pensar, ela começou a tentar ao máximo evitar falar no assunto - o que era meio complicado, pois o tema tinha praticamente subido a cabeça de seu pai. Bom, mas pelo menos ela ganhava tempo para pensar nisso já que ele mal tinha parado em casa no último dia e também nem pararia por sabe-se lá mais quanto tempo, resolvendo os inúmeros problemas que passaram a surgir com o fim da guerra. A dimensão inteira estava um terrível caos. Mas é claro que ela, Rey von Crimson, não precisava se preocupar com isso. A família von Crimson era tão importante que a dimensão era praticamente divida em duas: a primeira parte, onde os asmodianos em geral viviam. A segunda, onde os von Crimson viviam. Apesar de que, é claro, isso não se aplicava à Peter von Crimson, que embora vivesse na segunda parte da divisão, tinha de se envolver o tempo inteiro com a primeira, e resolver todos os problemas que ela tivesse. Essa era a pior parte de ser tão influente, ele sempre dizia.

Então, enquanto as pessoas normais estavam desesperadas para obterem alguma informação sobre os parentes que foram para a guerra, ou então chorando suas mortes, lá estava Rey, sentada confortavelmente em sua cama, atualizando o seu diário. Dois anos antes, depois que seu pai fez o ritual para curá-la de sua doença, ela tinha ficado totalmente sem paciência para manter diário. Mas, como em todos os outros casos, ela continuara o hábito para provar à seu pai que não tinha mudado tanto depois do ritual, como Adellina tentava convencê-lo.

“Dia 4, mês oito.

A situação para o povo de Elyos está muito, muito ruim. Para a guerra, tinham ido 600.000 soldados. Sabe quantos voltaram? Por volta de 60.000. Acho que quase todo mundo deve ter perdido alguém lá. E quanto a mim? Bem, digamos apenas que eu sinceramente prefiro não falar sobre isso...”.

Ela foi interrompida por batidas na porta. Antigamente, ela esconderia o diário, mas como ela queria mesmo era que vissem que ela ainda escrevia nele, continuou com ele no colo, bem a vista.

- Entre. – Pediu.

Assim que ela falou a porta se abriu, revelando seu pai, que aparentava estar estressado e cansado. Ela não sabia que ele estava em casa.

- Rey, eu quero falar com você.

“Eu quero falar com você”. A frase que tinha o poder de fazer uma pessoa se lembrar de cada coisa errada que já fez na vida. Rey fechou o diário e pousou ao seu lado, na cama.

- Do que se trata?

Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si.

- Você faz ideia, – Começou – do quando perder a guerra foi grave para os asmodianos?

Droga. Porque tinha de ser logo esse assunto?

- Sim. – Ela respondeu, o mais direta o possível.

- E você sabe que isso está causando contradição em Elyos? – Ele prosseguiu.

- Contradição?

- Sim. Você não sabe o que é contradição? – Peter estranhou.

- Sei. – Rey respondeu, fazendo força para não revivar os olhos – Mas por que isso está causando contradição em Elyos?

- Porque parece que nem todo mundo estava do nosso lado na guerra. Houve muitos traidores. Talvez tenha sido o motivo de perdermos.

Rey abaixou o olhar. Sim, ela sabia disso. Ela (ou pelo menos parte dela) tinha aprendido isso da pior maneira.

- Ah, é? – Perguntou, com a voz fraca.

- É, infelizmente acabou acontecendo. Mas deixe-me ir direto ao ponto. Rey, você é minha filha e a única herdeira da família von Crimson. Quando eu morrer, será você que assumirá meu lugar e governará Elyos. E você já tem quinze anos, já está na hora de você começar a aprender.

Rey não respondeu. Então, ele prosseguiu:

- Quero que você se envolva com os assuntos pós-guerra.

- Sempre pensei que pais responsáveis faziam de tudo para manter os filhos longe desse tipo de assunto. – Ela disparou, sem pensar duas vezes.

- Pais que criam os filhos para a mediocridade fazem de tudo para mantê-los longe desses assuntos. Eu crio a minha filha para ser uma líder. – Peter respondeu secamente. Então, se virou e abriu a porta, fazendo menção de sair. – Você não tem opinião. Eu já decidi, você vai se envolver. A propósito, como eu só estive presente no começo da guerra e depois tive de voltar, quero que mais tarde você fale com um conhecido meu que esteve presente do começo ao fim. Quero que ele te explique como foi exatamente que as coisas aconteceram em Erna. - E depois de dizer isso, ele realmente saiu.

“Ah, que ótimo.”, Rey pensou. “Então o ditado ‘Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece’ é verdade.”

*********

- Hm... Zero? Dá para pedir para sua espada não ficar me encarando? Dá medo. – Sussurou Tae, no ouvido do garoto.

- Eu ouvi isso, viu? – Retrucou Grandark, com sua voz rascante. – Eu vou encará-la o quanto eu quiser, humana. E eu não sou a espada dele.

Tae bufou. Só estava há um dia com eles e Grandark já a fizera perder totalmente a paciência. Ela não compreendia porque Zero ainda obedecia à um objeto, e ainda por cima um objeto como aquele, que falava, ouvia, e era bem sinistro, por sinal.

 - Eu estou cansada. – Tae anunciou, depois de alguns minutos. Zero era incansável, por acaso? Ele tinha andado durante um dia inteiro e não parecia nem um pouco cansado!

Como se esperasse que ela o dissesse, Zero parou de andar.

- Não sei como estamos tão perdidos. Ainda não há sinal de cidade por perto. – Ele declarou, como sempre com a voz inexpressiva.

            - Então, por que parou? – Grandark perguntou. – Precisamos achar a cidade! Ande!

            - Eu acho que precisamos parar um pouco. Quero dizer, não a estou questionando, porque se quiser, nós continuamos, mas a Tae é humana... – Respondeu Zero.

            - Oras, e daí? Então ela que fique aí descansando ou sei lá o que, e nós continuamos. – A espada disse.

            - Tae...

            - Não, tudo bem. – A garota suspirou. – Vamos.

            Mas, apesar de parecer conformada com a decisão de Grandark, na verdade ela sentia vontade de gritar. Quem ela achava que era para estragar os únicos seis dias que ela tinha ao lado de Zero? E ela faria de tudo para que fossem perfeitos, pois seriam suas últimas memórias.

            A sorte de Tae com certeza era que ela tinha acumulado muita paciência no tempo em que passara em Hades. Por que senão, aquela espada iria ter alguns pequenos sérios problemas... Ah, se iria.

*********

Algumas horas depois...

Rey tomou coragem e se olhou no espelho.

Se ela contasse para alguém o quanto era difícil olhar para o próprio reflexo, a pessoa não acreditaria. Com certeza não. Era de se esperar que ela já tivesse se acostumado, mas ela nunca se acostumaria. Era duro não conseguir se enxergar na própria imagem, como se olhasse para outra pessoa. Bem, era ela. De fato era ela no espelho, ela sabia disso, e não tinha dúvidas. Como toda a vida dela, era uma questão complicada...

Alguém bateu na porta. Ela se olhou mais uma vez, com um quê de tristeza, e depois virou-se e começou a caminhar em direção à porta, com má vontade. Ela já sabia o que era.

Ela abriu a porta e encontrou seu mordomo James, que cuidava dela desde que ela era muito pequena, e sem dúvidas era o empregado que ela mais prezava. Ele a cumprimentou e depois informou o que ela já sabia:

- Madame, seu pai a está chamando. Ele quer que fale com o conhecido dele que esteve na guerra.

- É, eu sei. – Rey suspirou pesarosamente. Ela não sabia se conseguiria disfarçar sua outra personalidade sendo aquele o assunto. Esperava que sim, pois ela não aceitava ter trabalhado tanto para escondê-la para depois botar tudo a perder.

Ela saiu do quarto, batendo a porta com mais força do que deveria, e se encaminhou para a escadaria. Desceu as escadas, atravessou o corredor principal do primeiro andar e entrou na sala em que seu pai costumava receber as visitas.

            O que aconteceu a seguir Rey não pôde evitar, e não poderia ser diferente.

            Era ele. Em pé, no meio da sala, olhando diretamente em seus olhos.

            De todas as pessoas que foram à guerra e que seu pai poderia fazê-la conversar, tinha de ser logo ele. Era o que, senão o destino?

            E o que ela poderia dizer para ele?! Não era opção: “Oi, eu morri por você. Se lembra de mim? Pois é, eu sei, estou viva. Muitas coisas aconteceram! Surpreso?”.

            Sua mente explodiu em indecisão e contradição. Era insuportável. Todos aqueles pensamentos... Eram demais para ela.

            Duel, Duel está aqui...

            Ela talvez tenha gritado. Não tinha certeza, não estava conseguindo raciocinar direito. Ela só tinha a certeza de que correu. Ela não estava aguentando ficar lá. Ela novamente atravessou o corredor, subiu as escadas, mas não foi para seu quarto – não conseguiu chegar até lá. Desmontou no corredor mesmo, com lágrimas lhe correndo a face. Por que chorava? Por muitos motivos. Primeiramente ela chorava pela derrota, pois sua atitude não fora nada comum para alguém mentalmente são, o que comprovaria para seu pai a teoria de Adellina. Em segundo lugar, chorava de raiva da mesma por ter enchido a cabeça dele com a tal teoria, de que ela não era a mesma Rey de antes do ritual. Depois, ela chorava por ter reencontrado Duel e não poder conversar com ele – ou, se chegasse a conversar, mesmo depois do que tinha feito, não seria do jeito que gostaria. E por último, chorava pela dor de cabeça insuportável que lhe infernizava.

           Rey ouviu passos na escada. Alguém, provavelmente seu pai, subia a escadaria. E, poucos momentos depois, sua dedução foi confirmada, pois ouviu a voz dele a seu lado:

            - O que você estava pensando?! – Sua voz era dura, porém ele não gritava, apesar de isso ser apenas devido ao fato de que havia um convidado no andar de baixo. – Eu nunca poderia imaginar que minha própria filha me envergonharia dessa maneira! Vamos, recomponha-se!

            Mas a garota não respondeu. Peter fez um gesto de irritação.

            - Certo, então fique aí no chão. Mas fique sabendo que você nunca esteve tão encrencada na sua vida tanto quanto está agora.

            Então, ele tornou a descer para o primeiro andar. Mas mesmo depois de ele ter ido, ela não ficou sozinha por muito tempo. Só para provar que ela não tinha um miserável pingo de sorte, logo ela ouviu a voz que mais detestava no universo ao seu lado:

            - Não é mais a queridinha?


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Notas finais do capítulo

To be continue... ^_^