Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 13
Conversas sérias


Notas iniciais do capítulo

Aháá, venci a formatação finalmente! Huhu... Ah, sim, só para avisar: O meu notebook ficou com vírus esses dias... Quase enlouqueci, achei que ia perder todos meus arquivos, mas deu para recuperar =/... Bem, boa leitura!



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Quatro meses depois...

– Dio, quer fazer o favor de comer igual gente?

– Como assim? – Dio perguntou, apesar de ter entendido muito bem o que sua mãe quis dizer, e só para provocar pegou um pedaço de carne que estava em seu prato com a mão, enfiou inteiro na boca e começou a mastigar de boca aberta.

– DIO! – Sua mãe repreendeu, nervosa com o comportamento dele.

– Tanto faz. Vou para o meu quarto. – Ele disse, após engolir com dificuldade, e se levantar.

– Dio, pode tratando de ficar aqui porque depois do almoço vamos ter uma conversa séria. – Falou o pai, que como sempre estava prestando atenção em tudo a sua volta, apesar de parecer justamente o contrário.

– Argh... – Ele tornou a se sentar, com sua melhor expressão mal-humorada e de braços cruzados.

– O que aconteceu para você ficar assim? – A mãe perguntou – Ultimamente você tem estado tão mal-educado! E eu também percebi que você não vai mais ficar com seus amigos com a mesma frequência de antes.

Ele não respondeu por que sabia que era verdade. Nos últimos tempos ele fizera quase nada além de praticar luta com sua foice. E tudo porque ele sabia que Rey estava morta; ela disse que tinha mais uma ou duas semanas de vida, e já tinham se passado meses. Atormentado com esses pensamentos, ele pegou Deathstar, a foice que já estava a gerações em sua família e sacrificou suas últimas semanas para treinar, com objetivo de encher sua cabeça de algo que não fosse Rey, ou então de ficar exausto demais para pensar nela, nem ele sabia bem.

Seus amigos haviam tentando inúmeras vezes convencê-lo a sair, de diversos modos. No começo, eles tentaram fazê-lo rir inventando brincadeiras toscas como imitar galinhas, embaixo de sua janela, cacarejando alto e dizendo coisas do tipo: “Posso ser uma galinha, mas pelo menos não sou franguinho como o Dio! Có có có có!”. Mas continuava sem surtir efeito. Apesar disso tudo, os garotos podiam garantir que quando chegasse dia 6/11, o dia em que em homenagem a Lua, que sempre influenciou tanto o mundo deles, ocorria diversos jogos e competições para todas as idades, Dio, que sempre fora muito competitivo e o melhor do time, iria deixar de frescura. Há muitos anos consecutivos que o time de Gordon, Abacuc, Hartwig e Dio ganhava os jogos, e eles já tinham até uma torcida de tamanho bem satisfatório que se reunia todos os anos bem no centro da arquibancada e gritava seus nomes e frases de incentivo. Mas Dio também faltou ao evento, deixando o time fraco, com apenas três integrantes e sem seu melhor jogador, acabaram então perdendo. Os garotos foram até sua casa e, frustrados, talvez sem sequer pensar direito, o xingaram de covarde, imbecil e diversas coisas degradantes. E desde então eles não haviam se falado mais.

Voltando ao presente, como ele não podia sair da mesa para ir treinar, ficou repassando em sua mente de novo e de novo os golpes que treinara naquela manhã, enquanto esperava seus pais terminarem de comer para terem a “conversa séria” e enfim ele estar livre. E ele acabou por ficar tão entretido com seus pensamentos que não percebeu quando seus pais acabaram a refeição, até que ouviu a voz de seu pai dizer:

– Venha, Dio.

Ele se levantou da cadeira e os três deixaram a sala de jantar para irem até a sala de estar, que era o cômodo ao lado, onde de fato era mais confortável para conversar. Ou para dormir, e no fim era o que Dio ia acabar por fazer, do jeito que “conversas sérias” lhe eram interessantes...

Ele se jogou de qualquer jeito em uma poltrona, e seus pais sentaram “como gente” em um sofá que ficava logo à frente da poltrona onde ele estava.

– Você é realmente muito, muito bom com a Deathstar... – O pai foi começando a falar, mas Dio não queria elogios.

– Podem ir direto ao ponto, por favor?

– Podemos. – Ele continuou – Precisamos que você vá à Erna para nós.

Aquilo o pegou de surpresa. O garoto ergueu as sobrancelhas com descrença.

– Sério?

– Sim. – Foi sua mãe que respondeu – E precisamos que você vá amanhã.

– Mas... Por quê? – Não fazia sentido. Havia nenhum motivo aparente para seus pais o despacharem para Erna de uma hora para outra.

– Porque queremos que você investigue como as coisas estão por lá – Ela disse. – Não faça mais perguntas. Leve com você a Deathstar, e vamos mandar também o Alfred e o Sebastian.

Alfred era o novo mordomo da família, e Sebastian, um serviçal, mas a última coisa em que Dio estava pensando no momento era nos dois. O que o atormentava de fato era: ir para Erna, de uma hora para outra, por um motivo tão... tolo? Aquela história estava muito mal contada.

– Eu não concordo com a 1ª Guerra Mágica. Se acontecer algo por lá e eu tiver de me envolver na guerra, vou ficar do lado dos humanos. É só um aviso. – Dio falou.

– Se fizer isso, será considerado um profano. – Seu pai avisou.

“Profano” era o nome que davam para os asmodianos que se voltavam contra sua própria raça.

– Eu sei. – E com um sorriso misterioso, Dio se levantou e saiu da sala sem dizer mais uma única palavra.

Talvez ir para Erna fosse bom por esse ponto: ele finalmente poderia se rebelar contra a guerra e esquecer de uma vez por todas sua história sem final feliz com a Rey.

Com certeza havia algo por trás disso tudo, mas quem ligava? Talvez a viagem fosse... Interessante.

*********

Algumas horas antes...

– Tudo bem, faça o que você quiser!

Já havia se passado quatro meses que o ritual havia sido feito e, como esperado, Rey parecia bem mais saudável. Sua voz havia perdido o tom rouco, ela já andava normalmente, havia ganho peso e sua pele não era mais tão pálida.

Mas sua personalidade também não era mais a mesma. Mesmo quando sua doença quase não afetava sua vida, ela detestava atividades físicas, não suportava brigas e não era de falar muito, confiando em seu diário mais do que em qualquer pessoa. Mas desde o ritual ela não havia escrito uma palavra sequer em seu diário e falava o que pensava, por mais petulante que fosse, entre diversas outras alterações.

A pessoa mais incomodada com a nova personalidade de Rey era Adellina. Nos últimos meses ela insistira pelo menos quinze vezes para Peter desfazer o ritual, com mil argumentos diferentes. E provavelmente foi a única coisa que ele já negou a Adellina desde...sempre. Mas mesmo negando, ele não parecia ter raiva dela por estar pedindo isso, de forma que Rey tinha motivos para ficar com raiva dele. Por que ele não podia ver Adellina como ela realmente era?

Mas Rey não tinha medo dela. Não mais. A única coisa que importava para ela no momento era se recuperar logo para poder sair de casa e ir ver Dio. Ela achava que sua aparência havia melhorado muito, e em sua opinião já podia sair sem que achassem que ainda estava doente. Mas sempre que ela pedia ao seu pai ele respondia: “Ainda não”. Então ela insistia, coisa que também não ousaria fazer antes do ritual, mas tudo o que conseguia era ouvir um “Ainda não!” bem mais alto. Rey já tinha entendido que seu pai não queria que ela saísse porque sabia que a primeira coisa que ela iria fazer era procurar por Dio, mas ele não podia segurá-la dentro de casa para sempre, e por bem ou por mal, hora ou outra ela ia sair.

E ela não se importava de fazer por mal, talvez ela até esperasse isso, por isso quando ela foi pedir a ele mais uma vez, ficou genuinamente surpresa quando ele a mandou fazer o que bem quisesse.

– Por que você ainda está aqui? Está tudo bem, então vá, adeus. – Peter falou ao ver que Rey o olhava incrédula.

– Ótimo! – Ela se virou e começou a ir em direção a porta, mesmo tendo ficado um pouco desconcertada com a inesperada resposta positiva, e já ia abri-la quando ele mudou de ideia:

– Espere.

“Eu sabia...”

– Rey... amanhã, pode ser?

–Amanhã eu vou poder sair? – Ela perguntou desconfiada, se voltando para o pai.

– Se você parar de falar nisso por hoje, vai. – Ele afirmou.

–Então... Eu... Ahn... Obrigada. – Disse ela, e saiu correndo para seu quarto logo em seguida, antes que ele pudesse mudar de ideia e impor uma condição.

Peter suspirou. Rey em muitos aspectos ainda era a mesma, mas em outros estava tão mudada... Até os olhos da menina brilhavam de maneira diferente.

Mas ele não podia deixar que ela encontrasse Dio novamente. Tinha de dar um jeito. Ele nunca gostara do garoto, pois achava vergonhoso o fato de sua própria filha ser amiga de um Von Burning, que apesar de ser uma família nobre e muito importante, era constantemente vítima de piadas e gozações. Se fosse por Peter, os dois jamais teriam ficado amigos, mas ele não pôde fazer algo para evitar isso, pois a mãe de Rey adorava Dio, e adorava mais ainda o fato de Rey, que não podia sair de casa, ter pelo menos um amigo.

Mas, por mais infeliz que esse pensamento fosse, ela não estava mais lá para cuidar da filha ou para qualquer outra coisa, e cabia a ele decidir a vida da menina. E ele não a queria com Dio Von Burning. Adellina concordava completamente com ele e sempre o recordava da péssima reputação da família Von Burning. Foi então que ele tomou uma decisão que sabia que por em prática era apelar muito, mas como estava dentro de seu poder fazer aquilo, decidiu-se por fazer.

Então ele saiu de sua casa e foi até a casa dos Von Burning.

Bateu na porta uma vez. Duas vezes. E então a mesma mulher que costumava levar e buscar Dio quando ele ia brincar com Rey atendeu.

– Pois não?

– Quero falar com os responsáveis por Dio. – Sim, ele sabia o nome deles, mas queria deixar o assunto já claro.

– Pode entrar. Vou chamá-los.

– Não quero entrar nesta casa. Apenas chame-os.

Ele esperou que o casal chegasse, pouco tempo depois que Erzsébet (ou seja lá qual fosse o nome dela) saiu.

– Posso ajudá-lo? – O homem perguntou.

– Sim – Peter respondeu – Preciso que se livrem do filho de vocês.

– Como é? – A mulher pareceu indignada com a resposta, mas isso já era esperado.

– Vocês ouviram. Eu o quero bem longe. E quero amanhã.

– Como ousa vir até aqui falando isso? O que o nosso menino fez? Dio sequer tem saindo de casa ultimamente!

– Pouco me importa. Minha filha, Rey, amanhã com certeza virá procurar por ele, e quando isso acontecer não o quero aqui. E se ele estiver por aqui juro que irei matá-lo.

O terror tomou conta da expressão deles. Eles também sabiam muito bem com quem estavam falando e que estava no poder dos Von Crimson matar quem quer que fosse, com ou sem motivos.

– Mas... O que você quer que façamos com ele?!

Peter teve de pensar por um instante, para enfim responder:

– Mandem-no para Erna.

– Mas aí também é provável que ele morra!

– É melhor mandá-lo para Erna com probabilidades de ele viver do que deixá-lo aqui com a certeza de que morrerá amanhã, não concordam?

– Eu... – O Sr. Von Burning ia falar, mas desistiu.

– Fico feliz que tenham concordado.

Peter virou-se e foi embora, mas apesar de estar satisfeito consigo mesmo por ter arranjado um jeito de mandar Dio para bem longe de sua filha, no fundo de seu coração sabia o quão decepcionada sua falecida esposa ficaria.


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Notas finais do capítulo

Como sempre me sinto na obrigação de avisar que muitos detalhes (alguns importantes, outros nem tanto) da história não estão na oficial, apenas na minha. Exemplo: Os signos lunares (como já disse), a madrasta da Rey, os amigos de Dio, Tae, e agora também fui eu que inventei que o pai da Rey foi o verdadeiro culpado por Dio ter ido à Erna, pois na original diz apenas que os pais dele o mandaram para "investigar a situação". Mas se voltarem no texto perceberão que também fiz eles darem essa justificativa para a viagem de Dio (apesar de mentindo).