Lembre-se De Mim escrita por Tsuki Hikari


Capítulo 10
Vou cuidar de você




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– Ahn... Surpresa? – Dio arriscou, embaraçado.

– Até que enfim, não é...? – Rey disse, brincando, mas no mesmo instante em que falou, uma lágrima escapou. Ela a enxugou rapidamente, esperando que Dio não tivesse visto.

Rey já não era mais uma menininha. Deixara de ser uma criança bonitinha para se tornar uma garota linda. Apenas algumas coisas estranhas estragavam sua aparência: Seus olhos azuis não tinham o brilho que Dio se lembrava e estavam avermelhados. Será que ela estava doente? Com alguma alergia?

As outras coisas já estavam presentes no passado, mas haviam se agravado: Rey estava ainda mais magra, tanto que parecia que se ela tentasse se apoiar em um braço, ele se quebraria. Também estava pálida como um fantasma.

Foi então que a ficha caiu.

– “Até que enfim”?! Em meu lugar, você ainda não teria descoberto a função da chave. – Dio provocou com um sorriso que deveria ser malicioso, mas misturado ao seu olhar de surpresa por vê-la em tão
deplorável estado, ficou um sorriso triste.

– Senti sua falta... – Inesperadamente, Rey se levantou de sua cama e foi correndo aos tropeços e com passos vacilantes na direção do amigo.

Dio pensou rápido. Eles estavam em cantos opostos do quarto, e ela não iria muito longe nas condições em que se encontrava. Como ele previa, quando Rey já estava próxima, suas pernas falharam e ela só não caiu porque Dio foi rápido o bastante para dar um passo à frente e segurá-la.

Então ela o abraçou com tanta força que ele se perguntou como seus braços, que pareciam tão frágeis, podiam ser tão fortes.

– Eu também – A clara demonstração de afeto deixara Dio um tanto desnorteado, portanto ele demorou mais do que deveria para responder, mas Rey não se importou.

– Eu pensei que você jamais viria... – Ela murmurou depois de alguns instantes.

– Do jeito que você é otimista, deve ter pensado mesmo... – Ele brincou. Havia quase se esquecido o quanto era fácil falar com Rey. Mas os pensamentos da garota deviam estar mais além, pois ela começou a deixar escapar lágrima após lágrima, num choro que parecia estar sendo reprimido há muito tempo. – Não fique assim... Vai tudo dar certo.

– Você já deu uma boa olhada para mim? Olhe e repita que vai tudo dar certo. – Ela tentou se separar dele para que ele pudesse vê-la melhor, mas mal estava conseguindo manter-se de pé sem ajuda, então desistiu com um suspiro frustrado. Dio a compreendia. Ele conseguia imaginar o quanto deveria ser aborrecedor ser totalmente dependente de outras pessoas até para as menores coisas. – Eu tenho mais uma semana de vida, Dio. Duas, se eu der sorte. E então eu vou morrer sem nunca ter sequer saído de casa. Isso é... Muito injusto. Quer dizer, o que eu fiz para merecer tudo isso? O que eu fiz?

– Rey... Eu tenho certeza de que tudo vai dar certo. Eu jamais te diria algo tão sério só para te consolar. É que... Bom... – Ele corou. Não conseguiu dizer o que queria. Isso era assustador; ele nunca tivera esse problema antes.

– O quê?

– É que... Bom... Argh! – Não devia ser tão difícil. “É que se o destino nos juntou agora, não foi pretendendo nos separar depois”. A frase surgia de mil modos diferentes na mente de Dio, mas ele não conseguia dizer de nenhuma forma. – Droga, não estou conseguindo falar coisa com coisa!

Rey parava de chorar lentamente.

– Não precisa falar nada... Eu entendo.

E de repente, o clima tenso passou e o resto do mundo deixou de existir. Dio viu sua vida se resumir a duas coisas apenas: Rey e o que ele sabia que devia fazer. Então, ele baixou o rosto até seus lábios se encontrarem. Ele não sabia de onde tinha vindo a ideia, principalmente porque ele nunca havia beijado alguma garota antes, só sabia que deveria ser com Rey. Seus lábios moviam-se juntos, e o abraço tornou-se cada vez mais apertado.

O coração de Rey batia tão forte que Dio podia senti-lo. Quando o beijo finalmente terminou, Dio olhou fixamente dentro dos olhos de Rey como querendo memorizar o momento para sempre.

– Acho que isso é uma despedida. – Rey concluiu, com seu corpo ainda abraçado forte ao de Dio.

– Não é uma despedida porque ficaremos juntos para sempre, não se lembra? E o sempre não acaba nem agora nem daqui a uma semana ou duas, como você disse há pouco. Sempre é sempre! – O rosto de Dio se iluminou – Ei, tive uma ideia! Porque você não vem comigo? Podemos dar um jeito na sua doença, eu sei que sim! Eu tenho um amigo cuja família usa magia também. Se falarmos com os pais dele, eles devem saber algo para te curar. – A garota não parecia estar convencida,
mas estava claramente pensando no assunto – E, além do mais, o que você tem a perder? Eu vou cuidar de você! Venha comigo, Rey.

Mas qualquer resposta de Rey nunca pôde ser dita, pois naquele momento um forte barulho os interrompeu.


*********

Dio olhou para a porta que estava aberta para o corredor do destino ao ouvir o barulho, mas Rey olhou para outra porta, que ele não tinha reparado, pois era muito escondida e não estava lá na última vez que ele frequentara a casa dos Von Crimson. Uma porta de ligação do quarto da garota com o do pai, que fora instalada com o agravamento de sua doença.

Ela não conseguia acreditar na sua falta de sorte. Sua madrasta, Adellina, estava lá parada de braços cruzados e com um sorriso vitorioso estampado no rosto. Estava feliz pela chance de estragar tudo para a enteada, e nem tentava disfarçar.

– Ah, que gracinha... Por essa eu não esperava. Você me surpreende, Rey! – Ela disse com uma voz tão doce que dava vontade de vomitar – Eu entro esperando ver você de cama, como sempre, mas ao invés disso vejo você de pé, abraçada com um garoto classe baixa!

– Não diga as coisas sem saber! Ele é da família Von Burning, ele é nobre! – Rey rebateu.

– Von Burning? – Adellina riu – Sabia que, há algumas gerações, a família Von Burning podia usar magia por conta própria? Mas então aconteceu algo muito peculiar: Nasceu uma criança sem os poderes. Os descendentes dele também não puderam usar magia, e desde então a família é vítima de piadas. Nem sei por que seu pai a deixava brincar com esse garoto, há alguns anos. Acho que foi porque ele achou você e o tal ancestral dos Von Burning parecidos. Nasceram defeituosos e só trouxeram vergonha à família.

– Eu não nasci defeituosa. – Os olhos de Rey se encheram de lágrimas novamente, dessa vez por estar muito magoada.

– Não? Já olhou para si mesma? Você não é normal. Você merecia se casar com esse garoto, mesmo. Mas pena que você não vai viver o suficiente para isso.

– PARA! Eu vou contar tudo para o meu pai! – Ela gritou com a voz estrangulada, mesmo sabendo que seu pai era cego aos defeitos de Adellina, que sendo anos mais jovem que ele e de uma beleza extraordinária, o seduzira logo após a morte da mãe de Rey.

– Ah, é? Como? “Papai, eu estava só jogando no ralo todos seus esforços para me esconder, me agarrando com o menino Alcarin, quando a Adellina chegou e disse umas verdades”?! Querida, se eu fosse você parava de discutir e voltava para cama.

Rey e Dio se entreolharam, e por olhar disseram tudo o que mil palavras não podiam dizer. Depois, eles se separaram delicadamente e ela caminhou com dificuldade até a cama. Tivera mais dificuldade para voltar do que para ir.

– Não se preocupe, Rey. Não se esqueça do que eu te falei. Não vai ser agora, mas e daí? Vai ser logo! Eu volto pra te buscar! – Dio disse, fingindo não estar indignado com tudo o que Adellina dissera sobre sua família, e principalmente, sobre Rey. Então, ele se virou para a mulher e disse com um sorriso petulante: – Diga ao Sr. Von Crimson que Dio Von Burning mandou lembranças. – E caminhou até a porta pela qual tinha entrado. Antes de sair, dirigiu um sorriso cheio de promessas a Rey. – Até, te vejo em breve!

– Até. – Rey não entendia o que se passava pela cabeça dele. Ele era tão imprevisível! Mas ele também tinha claramente desafiado Adellina, o que ela não conseguia fazer. Tanto que, quando respondeu “até”, não foi para desafiá-la. Foi porque realmente acreditava naquilo.

Dio fechou a porta e foi embora, e elas ficaram sozinhas.

– “Até”, hm? Pretendem se encontrar ainda? Ah, não vai acontecer. Não se esqueça de que você está morrendo. Imagino que você deu a chave do destino para ele. É uma invocação básica para consegui-la de volta, você sabe, não é?

Rey arregalou os olhos, vendo o mundo desmoronar diante dela. Não havia sequer pensado em invocações.

– É, acho que sim. – Adellina riu e saiu do quarto também, deixando-a só.

Porque nada dava certo?


*********

Logo que Dio entrou no corredor, a porta de seu quarto se materializou pouco a frente. Se ele não estivesse tão perturbado, ficaria feliz por não ter de refazer toda a caminhada. No momento em que ele atravessou a porta, o corredor do destino sumiu e deu lugar ao corredor de sua casa. Tudo tinha voltado ao normal. Então, ele correu para pegar a chave que ainda estava no chão, depois dele tê-la jogado lá.

Mas, no momento em que ia se abaixar para pegar, ela se desfez no ar.

Porque nada dava certo?


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Notas finais do capítulo

Nossa, duvido que exista personagem mais simpática que a Adellina...
Eu volto para postar de novo!
É uma promessa! xp



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