O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 5
Capítulo 4 -Eu Aceito o Desafio.


Notas iniciais do capítulo

Vocês são uns lindos! Sério mesmo, me emocionei com os reviews do capítulo passado! E a Hillary que recomendou, e os leitores novos, e os que estão acompanhando *---* ~vira uma ovelha feliz saltitante pintada com as cores do arco-íris~ vocês são demais! ;D Espero que não tenha demorado muito, sei que deixei um clima meio "suspense" no capítulo anterior. Talvez vocês se decepcionem. Talvez não. Tenham calma, eu adoro enrolar hahaha...
Esse capítulo que vai desencadear muita coisa na história! A-D-O-R-O! *---*
Ps: Mari, like always, thanks for ur help, my pretty girl!



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Capítulo 4. –Eu Aceito O Desafio.


“Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Sócrates

Poseidon ficou um pouco desnorteado, ao sentir um aroma de cereja familiar e percebe-la tão perto ao ponto de conseguir contar o número de cílios que cobriam seus olhos cinza. Por um momento, quando sentiu sua respiração irregular, algo totalmente absurdo e inconcebível se passou por sua mente, mas então ela ergueu a mão (que não aparentava, mas era tão leve e delicada quanto uma manada de elefantes desembestada) e a jogou contra seu rosto, em um doloroso tapa, que deixou a marca dos cinco dedos na pele.

–Isso, foi por entrar no banheiro enquanto eu estava lá dentro, sem a minha concessão.

O deus esfregou o rosto, com os olhos fechados, tentando se controlar para não pular no pescoço dela e esganá-la, balançando sua cabeça pra frente e pra trás, igual se fazem nos filmes. Não queria que ela tivesse o prazer de saber que havia ficado muito furioso.

Voltou a abrir os olhos, tentando transparecer falsas emoções.

-E ela ainda ousa fazer a tentativa de bater em um dos Três Grandes. Ela tem sorte de não ser homem para poder me enfrentar com mais do que alguns dedinhos macios...

As palavras vieram até ela como um sopro. A maneira sádica de pronunciá-las, como se ela não estivesse ali, foi o que a fez perder a capacidade de pensar racionalmente.

Poseidon só teve tempo de vê-la abrir a boca, de incredulidade, antes que seus olhos se tornassem uma coisa sinistra e cheia de raiva, e ela avançasse grotescamente, de modo que teve de contê-la pelos ombros.

-Quer ver o que é dedinhos macios, quer?!!!Seu peixe obtuso e ridículo! Me largue, seu filho da...

-Cuidado com o que você está prestes a dizer, ela é sua avó -  ele interrompeu, enquanto lutava contras as tentativas frenéticas de Atena de atingi-lo em toda e qualquer parte que estivesse próxima o suficiente. Infelizmente para ele, ela sabia o suficiente sobre guerra para infligir (muita) dor ao inimigo mesmo estando presa.

Ela se agitou ainda mais nos braços dele, que passaram a prendê-la como barras maciças de bronze celestial. Temia tomar alguma decisão precipitada em relação a ele, mas ao mesmo tempo estava louca de vontade de ver o icor escorrendo em sua pele e se derramando pelo piso de mármore, que provavelmente ia ficar tãããão mais bonito tingido de dourado...

Não suportaria ser humilhada. Não daquele jeito. Estava pronta para ativar seu escudo, e iniciar um duelo que já estava vencido (ela tinha a torturante ciência de que estava com seus poderes reduzidos), quando ele desceu as mãos, de seus ombros para seus braços, até escorregarem para sua cintura.

É claro, não de uma forma “romântica” ou qualquer coisa do tipo (Atena estava plenamente convicta que não poderia ter nada de, argh, romântico naquela cena), mas apenas pressionando os dedos com firmeza, e depositando as forças (que não eram poucas), nisso, como uma mensagem que dizia claramente que não iria soltá-la até ela recuperar o autocontrole. Sentiu cargas de energia circulando por trás de suas veias, e levantou o rosto, orgulhosa. Ele a encarava sem emoção, mas seus olhos verdes não conseguiam mentir, algo estava se passando na mente dele naquele instante, e só a curiosidade de descobrir o quê fez com ela parasse de lutar contra suas forças e respirasse fundo.

Não acreditou quando percebeu que se deixara levar tão fácil pelas ofensas dele. Devia estar com um ego maior que o mundo por saber que suas palavras a afetaram em seus pontos mais sensíveis.

Apático.

Cretino.

Idiota.

Arrogante.

-Apenas me solte, Poseidon. –Atena pediu, no tom mais frio que conseguiu encontrar.

Ele não pensou em desobedecê-la, sabia que ela não teria outro ataque daqueles, pois ela aparentemente superara a provocação. Assim que se desvencilharam ela recuou alguns passos, e tentou olhar para qualquer ponto naquele imenso quarto, que não eram as malditas orbes verde-esmeralda.

Um grande silêncio entre respirações perdurou por alguns minutos, até começar a se tornar algo torturante.

-Ahn, Ok. Vamos fingir que isso não aconteceu. –Poseidon tentou dar um jeito de melhorar aquele clima de “se eu pudesse te matava sem pensar duas vezes”, interrompendo o silêncio da melhor forma que conseguiu.

Não sabia como ela reagiria à sua voz.

Atena fechou os olhos e comprimiu um suspiro, até voltar a abri-los e se permitir aquele contato visual intenso.

-Você me chamou de fraca! Não é algo que se esquece com facilidade, sabe?

Ela não quis soar ressentida, mas, sua voz e sua expressão somente conseguiram transmitir esse sentimento.

-Mas desde quando você se importa com o que eu penso?

Ela considerou a pergunta, que realmente ficou rodopiando em seus pensamentos. Ela não deveria mesmo ter se importado tanto.

Deu de ombros.

-É muita ofensa, para eu simplesmente relevar.

-Mas... Você sabe que eu falei somente para te provocar. –O sorrisinho maroto habitual, voltou ao seu lugar de origem depois dos momentos de tensão. - Sabe a força que tem, certo?

Ela franziu a testa.

-Isso quer dizer que o tapa doeu??? – seus olhos cinzentos cintilaram de excitação.

-Não. Isso quer dizer que não é para você ficar me dando tapas. Estamos no Oceano, a dois mil metros de profundidade. –Por Zeus, será que ele nunca iria se cansar de repetir essas palavras??? -Você não quer desafiar o Deus que rege tudo isso... –Ele fez um gesto com as mãos, direcionando-as para cima e para o lugar onde ficava a sacada, de uma forma bem convencida, que fez Atena revirar os olhos, esquecendo por um momento de que estava tão furiosa, e somente se recordando do fato de que ele era muito pateticamente prepotente. 

 -Hunf. Isso é o que você pensa.

Ele fez de conta que não ouviu.

-Ok Atena, estou adorando conversar, mas quero ir logo comer. E antes, quem sabe, te apresentar o lugar.  Vem ou não?? –Ele fez um gesto convidativo com os dedos, e começou a andar em um caminho que só poderia levar às portas duplas de carvalho.

-Não é como se tivesse muita escolha. Tenho que conhecer o lugar onde vou dormir.

Ela o acompanhou, em passos ágeis, e logo ambos estavam fora do majestoso aposento. Atena, logo à primeira vista, encantou-se pelo esplendoroso corredor em trilha reta do quarto. A decoração era inteiramente marítima (estrelas do mar, conchas, pérolas, plantas submarinas em cores diversas, algas), desde o chão até as paredes, mas tudo mantinha seu ar de arquitetura grega, elegante, antiga e incrivelmente bela. Além disso, a decoração combinava com o cheiro de mar, que ela gostaria muito, se não fosse também o cheiro dele.

Primeiro, ele lhe apresentou os cômodos do andar de cima, que consistiam em, além do quarto principal, um enorme escritório com uma pequena biblioteca (os olhos de Atena cintilaram de emoção e felicidade ao ver que havia livros naquele lugar), uma imensa Sala de Jogos (tinha tudo que era possível e imaginável em relação a jogos naquele lugar, desde Sinuca até Caça-Níquel), e uma adega digna de Dionísio (ela franziu o cenho ao tentar entender porque a necessidade de tanto álcool se ele nem passava muito tempo naquele local).

O andar de baixo possuía a mesma decoração, e parecia ainda mais requintado. A Sala de Estar era um perfeito luxo, com aquelas janelas gigantescas, espelhos, teto muito alto cheio de lustres de cristal e ornamentadas colunas de sustentação. Além de uma diversidade de pufes e um gigantesco sofá negro de couro que se alinhava com o tapete e com a TV, que mais parecia uma tela de cinema (e provavelmente deveria ser, já que seria impossível o sinal de televisão pegar a dois mil metros de profundidade). Talvez dormir ali não fosse tão ruim assim.

A Sala de Jantar era acoplada à Sala de Estar, e consistia basicamente em uma enorme mesa de cristal, com várias cadeiras, e uma copa com pratos de porcelana ao lado de uma cristaleira com taças da República Tcheca. A cozinha, como todos os cômodos da “Casa” era gigantesca e tinha bancadas de mármore com armários e uma mesa trabalhada de mogno, além das coisas básicas, como pia, fogão, geladeira e freezer. Tinha também micro-ondas ,cafeteira, espremedor de frutas e outras coisas assim. Ela se perguntou o porquê de tantos eletrodomésticos se ali era uma chalé de férias e, mais importante, como ele pensava que frutas frescas poderiam chegar ali. Hermes as traria, talvez? Nah, ele não deixaria ninguém mais descer ali. Infelizmente.

Mas o cômodo mais surpreendente foi o da piscina. Era uma piscina tão grande que uma baleia orca se sentiria feliz em viver ali. Além disso, Poseidon lhe explicara que a água de lá era salgada e quente, o que a deixou um tanto intrigada.

Aliás, falando em Poseidon, Atena tinha a cautela de ficar sempre pelo menos a um metro de distância dele enquanto conheciam a residência. Era sempre bom estar prevenida. Só quebrou essa “regra” quando regressaram a Sala de Jantar, e a deusa teve uma surpresa ao constatar que havia uma mesa elegantemente servida ali. Não fez perguntas, afinal, ela sabia que era só uma mera capacidade, e sentou-se diante da mesa, surpresa por constatar que estava morrendo de fome.

Aparentemente, Poseidon também, porque mal se sentaram e ele já estava devorando a comida, que era um espaguete com molho ao sugo, e algumas almôndegas suculentas. Ela ficou olhando para o belo prato por alguns momentos, e ele, depois de passar por sua precipitação inicial, percebeu que ela estava hesitando.

Suspirou.

-Eu não envenenei, não cuspi, não coloquei excremento de baleia nem qualquer outra perversão maligna que você pode estar pensando que eu poderia ter feito relação à comida.

A loira estava prestes a mentir e dizer que não era nada disso que tinha em mente, que estava apenas pensando em alguma coisa, mas acabou que teve de apenas sorrir.

-Você jura pelo Estige?

Ele revirou os olhos, prestes a enfiar mais uma garfada de espaguete na boca.

-Sim.

Atena olhou para ver se os dedos dele estavam cruzados. Em seguida, riu de si mesma internamente (isso é possível sim), pegou os talheres e começou a comer. Não queria comentar nada, por orgulho, mas tudo estava demasiado saboroso para que após umas 6 ou 7 garfadas, ela ainda continuasse com o silêncio.

-Está muito bom.

-Eu sei. –Ele deu um sorrisinho, como quem diz “óbvio”. –Quer um pouco de vinho?

Ela nem havia reparado que havia uma garrafa da adega ali, até ele pegá-la e incliná-la em seu copo.

-Ok.

Ela nem pensou que poderia estar entrando em uma cilada, e assim que ele a serviu (não quis pensar nisso como cavalheirismo). Bebericou um pouco e surpreendentemente... não se arrependeu.

Assim que terminaram de jantar, ele a guiou em direção a sala de estar. A taça de vinho e a garrafa ainda em mãos. Vinho francês. Château Lafite Rothschild. Safra de 1972. Ela conseguia ler através dos dedos grossos que pressionavam o vidro. Pelo sabor e pelo aroma, a bebida devia ser MUITO cara.

Não que ela se importasse com isso. Não faria diferença alguma. 

Levou-o mais uma vez aos lábios, não se preocupando em medir as doses de álcool aquela noite.

Ela precisava daquilo para espairecer sua mente e acabar não entrando em colapso.

As costas de Poseidon eram largas, sob o tecido da camiseta branca. Fixava seu olhar nelas, à sua frente, enquanto iam caminhando pela luxuosa Sala de Estar. Permitiu-se voltar a olhar para trás, a Sala de Jantar, e notou que os pratos e talheres sujos, que estavam ali atrás há menos de um minuto tinham simplesmente se dissolvido. A mesa estava impecável, como antes. Intrigante de se observar.

Quando voltou a olhar para frente, surpreendeu-se ao perceber que haviam alcançado o sofá de couro, e que ele se sentara nele, em um gesto sugestivo para ela fizesse o mesmo.

Sem pensar muito ela o imitou. Sentou-se, ao seu lado, mas com a cautela de manter uns bons cinquenta centímetros de distância. Poseidon sorria, e isso nunca significava boa coisa. Além disso, as linhas de seu rosto formavam uma expressão que indicava algum tipo de sensação... Ansiedade, talvez?

Bem, era isso que parecia.

Um tanto desconfiada, a deusa pousou a taça de vinho em uma pequena mesa de suporte, e cruzou as pernas (agradecendo a Zeus por ter escolhido uma calça jeans justíssima ao invés de um daqueles vestidos que mais pareciam blusas). Poderia jurar que os olhos verdes dele não perderam aquele detalhe em sua postura, mas talvez estivesse apenas imaginando coisas. Não importava.

Ajeitou uma mecha de cabelo, colocando-a atrás da orelha, e, tentando evitar uma troca de olhares intensa em meio ao silêncio oceânico, ficou observando a sala mais uma vez, percebendo os detalhes de sua arquitetura antiga, e sua decoração marítima.

Até que ele decidiu falar alguma coisa. Sua expressão tentava passar algo de despreocupado, mas Atena detectava a ansiedade em seus movimentos corporais, e um toque de deboche na curva de seus lábios. Além do fato daquele verde dos olhos ficarem reluzindo veementemente em sua direção.

-Você gostou da Sala, Atena. Mas eu tenho certeza de que você ainda prefere o quarto.

O comentário autoconfiante que ele proferiu, a fez franzir o cenho, e lançar um olhar de desconfiança. Ele parecia ter lido seus pensamentos, pois se sentia exatamente assim, mas era muito orgulhosa para admitir que ele havia acertado exatamente no ponto.

-Você não sabe nada sobre mim.

Ele se limitou a rir, o deboche no canto dos lábios se expandindo aos poucos.

-É o que você pensa! –Exclamou, parecendo se apegar a essa ideia de uma forma que ela jamais poderia compreender.

-Como assim?

-“Conheça teu inimigo como a ti mesmo”.

Ela franziu a testa com a explicação dada com uma frase que já lhe era muito familiar. Era até um de seus modos de pensar, um método de estratégia. E parecia justificar um suposto interesse. Mas ainda assim, era muito difícil acreditar (na realidade, impossível) que aquele acéfalo repugnante a conhecesse, mesmo que minimamente. Ela sabia que jamais havia deixado escapar algo sobre sua personalidade diante dele.

-Você não sabe nada sobre mim, Poseidon. –Disse, no tom mais firme e seco que conseguiu. –Com ênfase no NADA.

E isso não era pouco.

-Quer apostar? –Sugeriu, com um olhar recheado de expectativas. Ele mordia os lábios como se não pudesse se controlar. –Eu te desafio.

Atena bebeu um pouco mais do vinho enquanto pensava, mas na verdade, não era bem um caso de pensar, se ele estava a desafiando.

-Não tenho nada a perder...

-Ok. –Ele pareceu reprimir diversas reações, enquanto murmurava a palavra.- Se você me fizer sete perguntas íntimas sobre você e eu acertar pelo menos cinco, durmo no sofá da sala e você fica com o quarto.

A deusa arregalou os olhos, como se não pudesse esperar proposta melhor vinda de alguém como ele.

-Fechado! Eu aceito o desafio!

-Ótimo. –Os olhos dele brilharam como de uma criança ao ganhar um presente.

-Mas espera aí. –Ela fez uma pausa estratégica.- Só por uma mera precaução...E se você ganhar?

 -Bem... –Atena não gostou nem um pouco daquele sorriso malicioso que ele colocou no rosto. Chegava a ser perverso, na verdade.  –Digamos que você será minha empregada. Amanhã, o dia inteiro.

Atena abriu os lábios por alguns segundos, intrigada pela forma que ele pronunciara as palavras. Como se fossem um sonho particular ou algo que ele estivesse esperando por muito tempo... Estranho.

Era uma troca tão absurda para se fazer.

Imagine, se ele ganhasse, ela teria de ser sua empregada, o que significava que ele poderia lhe pedir qualquer coisa que ela teria de conceder. E se fosse o oposto, tudo o que teria era apenas um quarto (tudo bem que era uma linda suíte com uma banheira maravilhosa, mas mesmo assim)

 Além disso, ele parecia tão confiante, com seu sorriso malicioso, que foi instintivo hesitar por alguns segundos antes de firmar o trato. Mas depois, apenas deu de ombros, como de costume. Ela não o deixaria ganhar de forma alguma. 

-Tudo bem.

-Perfeito! Mas antes de fazer as perguntas, jure pelo Estige que vai falar a verdade quando minhas respostas estiverem corretas.

Ela enroscou um cacho loiro nos dedos, e as palavras se perderam em sua boca por alguns segundos. Então ela ficou presa naquele sorriso debochado, e na ira que lhe surgia por causa dele, e pronunciou com seu tom mais firme:

-Eu, Atena, Juro pelo Estige que lhe direi a verdade quando suas respostas estiverem corretas. –A deusa sentiu a carga pesada de fazer um juramento, mas ao mesmo tempo, não se preocupou muito (ou pelo menos tentou) com as consequências.

Poseidon se agitou no sofá, tentando refrear sua empolgação.

-Então... Comece


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Notas finais do capítulo

Quero reviews, quero reviews, lalalalalalá