O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 24
Capítulo 23 - Abrindo a Guarda.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por não me abandonarem...São mais de 300 reviews em OS e eu fico com lágrimas nos olhos só por pensar...Vocês são muito especiais para mim. Cada mínima palavrinha deixada nas recomendações ou nos reviews equivalem a um sorriso meu...Espero nunca decepcioná-los, meus amores. E que continuem comigo nessa jornada até 1000 reviews kkkk (é possível sonhar alto, certo? =33)...Só tenho que agradecer.
E me desculpar, como sempre, por ser tão demorada =S
Espero que gostem! Escrevi com muito carinho ^^
Kissus ♥



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Capítulo 23 - Abrindo a Guarda.

-Espera aí, Atena. -Agora, era a hora de Poseidon ficar frustrado. Ele a soltou, violentamente, e simplesmente fechou a cara, cruzando os braços e passando a encará-la da mesma forma que ela o encarara, segundos atrás. -Você estava me esbofeteando só porque não sabia onde eu estava?!

-Você disse ?! –A loira praticamente se engasgou depois de ouvir aquela repreensão. Esfregava os braços com freneticidade agora, como se quisesse se livrar de qualquer “vestígio Poseidoniano” nos lugares onde ele encostara. –Hunf. Do jeito que você fala até parece ser algo insignificante...

-Mas é algo insignificante!

claro que não é! -A voz dela subitamente ficou uns mil decibéis mais afinada. Era um tom que usaria, muito provavelmente, se quisesse quebrar um copo de cristal ou ensurdecer meia centena de pessoas - Como você ousa me deixar abandonada nesse lugar?!! 

A óbvia indignação da deusa provocou em Poseidon uma imensa vontade de rir. Ela estava quase ficando vermelha de raiva...

-Vai me dizer agora que a princesinha tem medo de ficar sozinha em casa?

-O quê?? Não!!! –Droga. O desespero em negar só conseguiu fazer a buliçosa insinuação de Poseidon soar mais verdadeira! – Quer dizer... Eu sei que é difícil, mas não seja ridículo, seu cretino. É óbvio que eu não tenho medo de ficar sozinha. Eu adoro ficar sozinha! Amo, com todas as minhas forças e emoções... Ainda mais se esse “sozinha” significar “ ficar sem a sua desprezível companhia.”– A deusa fez questão de frisar o desprezível, enquanto fazia aspas com os dedos, apenas porque o sorriso implícito no canto de lábio dele conseguia tirá-la perfeitamente do sério. –Bem...É só que... Ninguém mais sabe que eu estou presa aqui, além de Lans. E se algo acontecesse com você, enquanto fazia sua festinha particular aí fora... ? E se você fosse...sei lá...capturado?

-Capturado? –O deus não pôde conter o riso, de tão patética que era a imagem em sua cabeça. Poderia ter interrompido as especulações de Atena com uma cortada rápida, mas estava curioso demais para saber até que ponto ela iria chegar. –Ok. E daí?

-E daí????????! Como assim e daí, Poseidon? Ora! E daí que você não teria como avisar ninguém da minha situação! Eu provavelmente ficaria presa nesse lugar deprimente e isolado, sem poderes e sem recurso algum para o resto de meus dias...!  Que também é a eternidade, caso você não tenha percebido... Ou seja, eu viveria num tédio absoluto e irrefutável, a menos que conseguisse realizar uma transgênese, amputando minhas pernas e autoimplantando uma cauda de peixe no lugar... Eu me tornaria uma sereia e finalmente poderia fugir daqui... Mas ainda assim, não seria uma boa ideia, pois eu teria de me adaptar a esse seu ambiente subáquatico, o que, vamos combinar, não é exatamente a melhor das experiênc...

Pelos sete infernos.

Incrível como Atena conseguia ser insuportavelmente dramática quando estava necessitada de um argumento desesperado.

E mais incrível ainda como ela começava a gaguejar e deixava de fazer sentido quando tentava defender um argumento que não tinha nenhuma lógica em que se embasar. Milênios de experiência tornaram Poseidon um expert em perceber os pontos fracos da deusa, assim como um modo eficaz de deixá-la nervosa para que eles aparecessem mais facilmente.

-Afrodite sabe que você está aqui, Atena.  –Poseidon interrompeu seu discurso, com uma voz de tédio tão incomensurável, que só faltava ele bocejar ao formular a frase. -E eu também não deixei a redoma, como você supostamente insinuou que fiz.

A loira, que provavelmente teria ficado sem palavras com tal declaração –ela realmente falhara legal, pois havia se esquecido da traição de Afrodite, e de todas as consequências que aquilo também trazia-, até ficou contente pela última afirmação, pois pelo menos naquilo ela encontrava força o suficiente para protestar.

É claro!

Ele estava mentindo.

Sem dúvida alguma.

O fato de ele continuar impassível, com seus braços cruzados e expressão de tédio, não significava nada além de que ele estava tendo a coragem de mentir descaradamente.

-Hahaha, não seja cínico, Poseidon. Por favor. A menos que você tenha desenvolvido a supertécnica de se infiltrar nos grãos de poeira do assoalho, você não estava dentro dessa casa.

Essa foi a vez dela cruzar os braços, levantando as sobrancelhas ameaçadoramente.

-Sim.

Caramba.

Atena ficou realmente surpresa com aquela resposta. Esperava que ele fosse negar ou oferecer resistência a admitir...Mas entregar assim tão na bandeja que era uma mentira?!! Não, aquilo não era nem um pouco do feitio de Poseidon... Ele jamais se deixaria derrotar por palavras de um modo tão fácil, sem retortes ou revides. Será que ele estava admitindo que tinha conseguindo se infiltrar nos grãos de poeira do assoalho?? Era improvável, mas a única alternativa, considerando que ele somente continuava sorrindo, daquela sua maneira patética e idiotamente irritante.

 -Eu realmente não estava dentro dessa casa. Mas o que te garante que eu não estava lá fora, e dentro dos limites da redoma, hein, Srta. Genitude?

-... –Oh-oh. Mais uma vez Atena realmente ficou sem palavras diante daquela. Pensou em corrigir o “Genitude”, afirmando que “Genialidade” soaria mais adequado, contudo não iria servir para ocultar sua falha, naquele caso. Tinha que encontrar um rebate bom para dar de resposta. Excelentemente bom. Mesmo que fosse um tanto quanto...Adulterado.- Você teria ouvido os gritos que eu dei, Poseidon, mesmo estando do lado de fora. Acredite em mim... Eles foram bem... Sonoros. 

-Ah, eu acredito sim.

-...-Epa. Mais uma resposta inesperada da parte dele.

Será que havia ela se aperfeiçoado tanto na arte de mentir –praticara algumas vezes, na frente do espelho- que com apenas alguns vocábulos já conseguia ser convincente? Sim, fora uma calúnia. Era fato que ela havia ficado preocupada com a ausência do deus...Mas não o bastante para sair berrando seu nome pelos cômodos da casa. E nem para considerar a hipótese de olhar do lado de fora.

 Mas Poseidon não esboçava uma expressão de credulidade, como poderia ter esperado que ele faria... Não.

Ela conhecia muito bem aquele sorriso dele.

Sim. Ela poderia jurar que ele estava beirando a malícia.

-Pode crer que eu conheço bem a potência dos seus gritos, Atena...

Demorou cerca de alguns segundos, até que a compreensão conseguisse atingir a loira, mas o tom de voz de escárnio utilizado por ele colaborou bastante para que suas intrujices começassem a ruborizar.

Só então é que foi capaz de se recordar da cena... De como fora seus gritos os responsáveis por todo o decorrer daquela calamidade... De como eles foram os principais causadores daquele...Beijo. É. Beijo.

Minúsculo, insignificante, estúpido, desprezível, ignóbil, desprezável, obnóxio, miserável, imundo, sórdido, medíocre, abjeto, torpe, anódino, inesquecível e ridículo beijo do ainda mais desprezível deus do mar.

Atena parou, num átimo, ao se dar conta de que havia uma palavra sobrando naquela lista. Uma palavrinha extra que não concordava com as outras, que não soava como devia e que não estava em equilíbrio com o restante. Uma palavrinha que seu subconsciente descuidada e ingenuamente colocara no meio das outras.

Não, não podia ter sido o subconsciente. Porque isso significaria que ela realmente achava isso, só não queria admitir, certo? Foi só um escorregão. A parte racional do seu cérebro se confundira, um pequeno relapso apenas, talvez porque “inesquecível” rimasse com a próxima palavra, “desprezível”.

Claro que fora isso.

Atena ainda não conseguia sorver a palavra do ato, que antes era tão ordinária, tão normal, mas agora soava como uma maldição. Se fosse conviver com ele, e com aquelas reminiscências, porém, iria ter que se acostumar.

-Como você não escutou...os gritos? –Ela logo quis desviar o assunto, antes que pudessem se emaranhar em todo aquele drama mais uma vez.

Já era suficientemente ruim ter que encarar a diversão dele, e sentir o sangue esquentando nas bochechas. Não queria ter que conversar sobre aquilo de novo.

Poseidon apenas deu de ombros.

-Simplesmente não escutei. Estava lá fora, distraído com os jardins.

-Você? Distraído com os jardins?!...-Incrível como ele soava natural dizendo aquilo. Nem parecia que ele pudesse estar inventando, ou algo assim, mas Atena o conhecia muito bem para saber que a imagem dele com avental, regador e plantinhas realmente não combinava. -Desde quando você acorda assim cedo para olhar os jardins, Poseidon?

-São verdadeiras obras-primas de se admirar. –O deus não se importava nem um pouco com o tom desconfiado dela. Sabia, que na arte de fingir, conseguia se dar muito bem. Muito melhor que ela, por sinal. E também... era verdade. Os jardins eram lindos. Havia sido ele o decorador. Poderia muito bem ter estado aquele tempo todo lá, admirando-os em torno do chalé, ao invés de no Palácio, transando com Lans. Era uma mera questão de mudança de locais, certo? - Aposto que iria gostar deles.

-Eu??!!

-Não, não... Os plânctons e as baleias assassinas, mesmo. –Poseidon teve de tirar uma da cara dela. - Tsc, tsc... Sinceramente...Como podem dizer que você é a Deusa da Sabedoria, Atena?

-Cale essa boca, energúmeno mentecapto. –A deusa grunhiu, violentamente irritada. -Por que você acha que eu gostaria desses seus hediondos jardins? –A bem da verdade, nunca havia nem imaginado como seriam tais jardins, então não tinha nem o direito de dizer que eram hediondos, porém, já que havia sido insultada daquela forma, nada podia impedi-la de responder com equiparável rispidez. –Eles são subaquáticos!! Aposto que devem ser encanecidos, feios, e ressecados.

-A única coisa que é encanecida, feia, e ressecada, é seu humor, Atena. Mas, não, eu não desisto de acreditar que posso fazer isso mudar. –Se Atena achava que aquelas palavras não podiam ter perigo algum, então ela estava realmente enganada. Antes que se desse conta de como, o deus já havia avançando para perto dela, mais perto do que sua lógica gostaria de permitir, e simplesmente puxava seu braço, como se fosse arrastá-la de repente.- Venha, Atena. Vamos comigo ver os jardins.

-Ah...O quê?! M-mas... Eu não quero... –A loira estava confusa, gaguejando, e só conseguia pensar que tinha de inventar qualquer desculpa para não ir. As coisas já estavam suficientemente estranhas entre eles, antes mesmo de ela ter falado com Alana e de ter encontrado o misterioso caderno. Não precisavam piorar, agora, com convites esquisitos para fazer coisas anormais, que aparentemente eram inocentes, mas vindas de Poseidon, sempre lhe colocavam uma pulga atrás da orelha. –Quer dizer...  Eu estava tendo uma leitura construtiva aqui e...

-Shhh. Fique quieta. –Poseidon reprimiu-a, antes que pudesse continuar a desculpa. Atena também não pôde deixar de reparar que ao fazê-lo, os dedos dele seguraram seu braço com mais força, como se simplesmente não pudessem deixá-la escapar. O verde claro de seus olhos, naquele instante, também não poderia ser mais sarcástico, como se quisesse passar a mensagem para ele de que “deu para ver o quanto a leitura era construtiva, com você arremessando o livro sobre minha cabeça.” Atena também reparou que estava começando a reparar coisas demais em relação a ele...Mesmo que instintivamente. E isso sem dúvida, não podia ser um bom sinal. - Já se esqueceu do pacto que fez comigo ontem? Sobre pelo menos tentar ser um pouquinho mais empolgante e extrovertida?

-Ahn... –Ela não via como ir a um jardim poderia ser algo extrovertido e empolgante, mas talvez, na concepção de Poseidon, aquele fosse um gesto importante a ser tomado. -Para ser sincera, esqueci sim.

-Então... –Poseidon abriu um dos melhores sorrisos provocativos de sua coleção. -É bom começar a se lembrar. A não ser que queira que certos rumores se espalhem pelo Olimpo como se espalham suspiros nos lugares que eu passo.

Argh.

Bem que estava demorando para Poseidon demonstrar as verdadeiras intenções com aquilo. Testá-la.

Recodava-se vagamente de terem selado aquele pacto...Sim, uma coisa em troca da outra. Devia ter esperado que ele fosse cobrá-la, logo de cara. Era tão típico. Ainda mais usando uma analogia ridícula para se vangloriar.

-Você não vai ousar abrir a boca sobre aquilo, criatura anencefálica. Simplesmente não vai.

Atena tentou soar o mais ameaçadora possível, mais muito provavelmente, estava falhando de forma miserável. Poseidon não conseguia parar de sorrir.

-Não vou. Mas somente porque hoje será mais um longo dia para você, minha deusa.

Poseidon obtinha com muito mais êxito a proeza de assustá-la. Havia feito que ela sentisse arrepios involuntários, depois de escorregar lentamente os dedos por seu braço e encontrar sua mão. Além disso, o tom de voz que usou naquele “minha deusa”, inevitavelmente, fez com que ela se recordasse de um trecho, da primeira página daquele caderno... Sim, ela havia conseguido lê-lo escondida, no final das contas.

E isso só conseguia tornar a sensação de ele segurar sua mão ainda pior. Mas isso não fez que ela o repelisse. Nem que se soltasse. 

Será que Atena não estaria... Deixando sua guarda se abrir demais?

Simplesmente suspirou.

Gostaria de poder saber.

Gostaria de poder consertar

-Sem o "minha", Poseidon. Sem o "minha"...


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Notas finais do capítulo

Reviews? *ooo*