O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 21
Capítulo 20 -Onde você dormiu a noite passada?


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas *-* Eu sei que vocês me odeiam por eu demorar tanto (combine provas com vício em got e tvd), mas dou logo um aviso: Vocês vão me odiar muito muito muito mais ainda depois de lerem esse capítulo ;D Ou não, quem sabe. Ainda tem muita história pela frente...Muitas surpresas para vocês haha Espero que gostem, de qualquer forma, e não me odeiem a ponto de não deixar reviews *o*
Créditos a Mari, pois o finalzinho do cap é dela. ♥
Amo vocês.
Juro. *-*



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Capítulo 20- Onde você dormiu a noite passada?

Quase se sentiu reconfortado quando chegou ao Palácio.

Quase.

Uma voz em seu interior parecia emitir guinchos raivosos periodicamente, como se quisesse alertá-lo de que havia assuntos não resolvidos ali dentro, a cada cinco segundos. Era uma mensagem bem clara: não era o certo estar ali, naquela noite. Mas ele rebatia esses guinchos subconscientes com a própria consciência, argumentando que era exatamente por causa desses “assuntos não resolvidos” que estava ali, aquela noite. Já havia feito a sua escolha. E desde quando ele se preocupava com o que era certo ou errado? Se fosse há três dias, não teria hesitado nem por um segundo em responder “sim”, confiantemente. Não sabia o que havia acontecido para estar agindo assim. Só sabia que não podia deixar continuar.

Quando chegou a porta do mais majestoso aposento do Palácio, sabia que ela estava lá. O resto era todo silêncio. Mas podia ouvir bem o breve som de uma entediada respiração através da porta. E, já acostumado, sabia perfeitamente o que iria encontrar assim que a abrisse.

No quarto, jamais.  Em seu escritório particular, sempre. Não conseguia decifrar porque, desde que ela demonstrara estar interessada em algo mais, sempre havia preferido assim. Era como se não achasse que ela merecia tal privilégio: ser conduzida ao seu quarto. O que não era verdade. Ela merecia todos os privilégios do mundo. Era a melhor parceira que poderia ter desejado. Não havia dúvidas quanto a isto. Ou, talvez, achasse que tudo ficaria pessoal demais se fosse transportado até o quarto. Se tivesse de escolher, ficaria com a segunda opção.

Antes de entrar, cumpriu seu pequeno ritual, bagunçando o cabelo daquele seu jeito típico, que sabia que era extremamente sexy, e depois vestiu seu melhor sorriso de canalha. Ela gostava quando ele ficava daquele jeito.

 Ao abrir a porta, não foi exatamente uma surpresa deparar-se com os saltos-altos pretos de dez centímetros de altura dela, apoiados na mesa espessa de carvalho de seu escritório, descendo até as longas e torneadas pernas. Mas observar o que ela vestia foi outra história. Se não ficasse surpreso, sem dúvidas não pertenceria àquele mundo. Teve que se segurar (e muito) para permanecer impassível perante a visão, mas era realmente difícil, considerando que ela não vestia nada além de uma cinta-liga e um corpete bem justos, mostrando tudo o que gostaria e até um pouco mais. Os seios praticamente transbordavam, como se desejassem saltar da sua prisão de seda, e os olhos do deus simplesmente pareciam ter vontade própria e não conseguiram desviar deles por uns cinco ou dez segundos, provavelmente detonando toda sua glória de divindade. Mas pelo menos tinha certeza de que também estava sendo secado. Sabia que seu “ânimo” voltaria, assim que também voltasse para lá.

O sorriso dela estava satisfeito e sensual, embora houvesse traços de impaciência nítidos no amarelo dos olhos. Não se moveu, em nem um milímetro. Parecia achar que ele deveria ir até ela, ou cumprimenta-la primeiro. Poseidon não era lá muito de tolerar pequenas afrontas...Mas quando vinham dela pareciam ser até...divertidas. Cruzou os braços, esperando e fechando a porta atrás de si com menos de um pensamento.

O prazo dela foi cinco minutos, um bom alcance, até desistir de tentar fazê-lo saudá-la primeiro.

-Tudo bem, eu me rendo, Vossa Majestade. –Ela levantou os braços e caprichou no sarcasmo, principalmente em relação ao termo “majestade”, algo que fazia com muita frequência quando estavam a sós. Poseidon não ligava, porque por mais sarcástico e egocêntrico que uma pessoa tentasse ser, ele sempre seria muito mais. – Pode falar comigo já, amorzinho.

Não pode segurar o riso por mais tempo. Desatou a caçoar dela.

-Você pode ser hilária quando quer, sabia? Principalmente em relação às repentinas mudanças de vocabulário e tratamento.

Aparentemente, o comentário parecia mais ter som de elogio do que de chacota, já que tudo o que ela parecia saber fazer era sorrir. Um sorriso que, por sinal, equiparava o de Poseidon no sentido safadeza.

-Eu sou como vocês, deuses. Posso ter várias versões de mim mesma em estoque, prontas para servir como coringas.

-Ah, disso eu não tenho nenhuma dúvida. – E também não tinha dúvidas de que era muito bom que ela não fosse uma deusa, afinal de contas, ninguém poderia segurá-la se fosse. – Está parecendo mesmo uma deusa, vestida assim.

Ele sabia que era elogio demais para preencher os ouvidos dela, mas que lhe custava dizer aquilo? Estava evidentemente implícito na forma que seus olhos pousavam nela, descendo devagar e aos poucos, para só depois se lembrarem de retornar ao nada inocente rosto. Como sempre, ele tinha aquela sensação de que aquele rosto não era o rosto. Mas isso ele sentia com qualquer que já houvesse tentado arriscar, e era um sentimento estúpido e irrelevante. Ela era bonita, não havia como negar, e isso já era mais do que suficiente.

Ela mordeu o lábio, e levantou-se da enorme cadeira de espaldar alto que a envolvia como uma delicada bonequinha de porcelana, mesmo não sendo nada para o tamanho original de Poseidon. Quando se aproximou dele, inteira ao alcance de sua vista, deu uma volta como que para deixa-lo tentado.

Quer dizer, como se ele já não estivesse antes, nesse estado.

-Então o agrada o meu novo look, senhor?

-Não, é óbvio que não me agrada. Preferia muito mais que fosse Atena vestindo isso. – Ele não soube como a frase lhe ocorreu, e nem porque diabos o nome da infeliz teve a audácia de navegar sobre sua língua. Porém, tanto fazia, já que era só uma exclamação estúpida e muito sarcástica. Mas, aparentemente, para ela não era tão estúpida assim. Ele poderia jurar que, por um único momento, ela pareceu não notar o sarcasmo em sua fala, e deixou relampejar um intenso ódio na íris, contraindo os ombros. Só que fora rápido demais, e no instante seguinte, ela já balançava a cabeça em desaprovação, e passava a língua nos lábios enquanto sorria.

-É assim, é? Acho que vou me cobrir então...

Poseidon revirou os olhos com a ameaça.

–Perguntas idiotas, respostas mais idiotas ainda.

Por mais que ela já tivesse demonstrado não se afetar, um brilho especial parecia ter voltado ao seu rosto depois que ele enunciou a frase. Passou a caminhar, lentamente, em sua direção, e ele fez questão de secá-la a cada passo. Quando ela finalmente chegou perto o suficiente para que ele conseguisse tocá-la, parecia ter se transcorrido uma eternidade. Ela roçou as pernas macias nas suas, e aproximou o rosto do dele, para morder seu lábio. Havia algo estranho com o cheiro dela. Era um perfume que não sentia havia muito tempo. Mas não era como se sentisse saudades de sentir. Não sabia por que, mas era muito mais fã de aromas cítricos ou shampoo de cereja.

Retribuiu aquele beijo com igual empolgação, enquanto seu subconsciente fantasiava. Quando ambos ficaram sem fôlego, enquanto que aqueles olhos amarelos pareciam estar diferentemente familiares.

-Você demorou muito, Poseidon. Tive que esperar demais...

-Eu agora estou aqui. –Ele a cortou, arrefecendo. A voz dela parecia um resmungo chorão, que ele não se daria ao trabalho de discutir com. Discutir era a última coisa que desejava fazer aquela noite. – Mas não por muito tempo. Então é melhor você fazer bom proveito, Alana...

x-x

Ele a estava perseguindo. Aquele monstro. Ela já o havia derrotado. Era bem mais poderosa, e sua essência já havia quebrado a dele. Não entendia porque ele continuava sorrindo diabolicamente, como se de repente fossem surgir mais 20 dele para ela esmagar.

Mas isso foi antes de raciocinar, e descobrir o quão estúpida, ingênua, e idiota conseguira ser. Ela não conseguia mais correr, e ele conseguiu alcança-la, enredando-a e devorando-a com seus dentes famintos. Embora não literalmente, foi tão afiado e sangrento como se tivesse sido. A maldição a envolvia e a encurralava agora,  num quarto sem janelas, com um dragão de sete cabeças, as quais se ela tentasse cortar, nasceriam outras mais poderosas e ferozes.

Não havia escolha, se não recuar. Era a única alternativa, a única chama de luz naquele beco frio e escuro da maldição. Ela ainda era orgulhosa demais para deixar que aquilo acontecesse, então portanto iria fugir, já que era sua única escolha. Ela fugiu. Para bem longe. Fugiu, fugiu, fugiu, por milênios e milênios, mas quanto mais fugia, e quanto mais se esquivava, mais perto chegava da porta que estava barrando sua fuga. Logo ela estaria sem nenhuma opção novamente. Logo ela teria que lidar com aquilo que estivera fugindo por milênios, o quarto e o dragão. Mas ela não queria lutar. Não queria lutar. Não quando lutar envolvia mexer com aquilo.

Atena acordou suando, ofegante, sem saber se era de dia ou de noite. A luz da aurora não estava ali, mas então ela se recordou que não havia luz da aurora quando se estava a dois mil metros de profundidade, e grunhiu. Só havia luzes artificiais acesas, quase como se tivessem sido programadas para acenderem assim que ela abrisse os olhos.

Mas não era como se já estivesse acostumada a isso. Deu um salto, quando percebeu, de súbito, que não era naqueles sofás desconfortáveis da sala que estava deitada, e sim na cama dele.  Argh. Devia ser por isso que estava tendo pesadelos tão horríveis. Frustrada, tentou se lembrar do porquê estava ali, e foi só depois de uma grande reviravolta de pensamentos que as imagens da noite anterior, ela e Poseidon discutindo, e assistindo a um filme insignificante, vieram à tona.

Oh. Era jubiloso aquele dia ter acabado, finalmente. Sentia-se grata só por perceber.

E por ter acordado daquele pesadelo também... Mas não devia pensar nisso. Fora insano. Fazia éons que aquilo não vinha a sua mente. E só pensar conseguia deixa-la toda arrepiada.

Sem ter que travar batalhas contra a inércia, Atena se ergueu, esfregando os olhos lentamente. Espantou os cobertores, embora não se lembrasse de tê-los puxado na noite anterior, e dobrou-se para cumprir seu ritual de espreguiçamento.  O relógio da parede marcava 4 horas, pontualmente. Provavelmente da madrugada, é claro. Mas acordar na madrugada era típico para Atena, enquanto que para Poseidon não deveria ser norm... Ué, mas onde estaria o desgraçado senão ali para rir de seus infortúnios? Não lhe parecia provável que pela primeira vez desde que fora concebido, Poseidon tivesse agido de forma cavalheiresca, indo dormir no sofá ao perceber que ela havia adormecido na cama. Era como esperar que Ares tivesse uma coleção de bichinhos de pelúcia fofinhos e gorduchos com olhinhos pidões, e dormisse abraçado com cada um deles.

Estava totalmente desperta, e não queria mesmo voltar a dormir ou a ter pesadelos. Achou melhor ir tomar um banho antes de ir à procura do brioso energúmeno anencéfalo...bem, se é que queria realmente encontra-lo. Uma grande parte sua estava totalmente feliz e aliviada por ele não estar ali para atazana-la, mas pelo menos 23% de sua consciência advertia que solidão e quartos silenciosos não eram exatamente bons presságios, como ela estava pretendendo que fosse.

Precisava relaxar. Antes que saísse completamente de seu perfeito estado mental e enlouquecesse.

E não havia nenhuma opção disponível mais efetiva do que tomar um longo banho quente.

Tomou a cautela de verificar se Poseidon não estava escondido atrás das cortinas do banheiro, dentro da pia, na borda da banheira ou dentro do cimento dos azulejos, antes de trancar a porta e tirar a roupa, que por sinal, e felizmente, não havia sido uma das camisolas lascivas ala Afrodite. Certificou-se também de pegar seu shampoo de cereja e sabonete de frutas cítricas habituais, afinal, até mesmo deuses tinham suas preferências aromáticas, e demorou-se com a água escorrendo, pura por entre seus ombros e cabelos. Pareceu que se passaram horas ali, como simples minutos, enquanto seus pensamentos e problemas eram lavados com os cabelos. Mas tanta tranquilidade, de repente pareceu soar um tanto assustadora para Atena. 

Tudo bem, o mais provável era encontrar Poseidon roncando no tapete da sala com uma garrafa de whiskey vazia, mas pelo menos suspeitava de que estaria sendo vigiada. Ela ainda não tinha desistido completamente da ideia de bolar um plano de fuga, e ele com certeza devia estar ciente disso.

Saiu do chuveiro e enxugou-se. Sentia-se limpa e renovada, e a verdade é que adorava aquele cheiro de mar onipresente. Entretanto, se pudesse regressar ao Olimpo, sua adoração seria dez mil vezes mais infinita. Aquele lugar era realmente uma prisão, esmagando todas as suas capacidades. Era como ser uma mortal, pela primeira vez. E ela odiava se sentir assim. Odiava tudo. Odiava revirar suas malas, e perceber que a peça mais decente que encontraria lá, era um vestido para pessoas que mantinham relações extraconjugais periodicamente.

Era um vestido de seda tingido de verde, que odiosamente fazia lembrar o tom dos olhos de um certo Cabeça de Alga. Cortava-lhe as pernas bem acima do joelho, e tinha um decote suspeito, mas pelo menos era livre de babadinhos e frufrus e rendas que a deixariam extremamente irritada. Sentiu-se estranhamente bela com ele, mas depois repreendeu-se por isso. Daqui a pouco estaria a meio passo de ficar andando com um espelho e verificando o quão bela e maquiada estava. Obrigada, mas esse hábito poderia ficar na conta de Afrodite.  

Não soube por que, mas ao entrar no quarto, teve a esperança de um balde de água cair em sua cabeça, ou se deparar com qualquer outra pegadinha de mau-gosto de Poseidon. Mas ele não estava ali para rir dela, ou olhar com aquela cara de pescador prestes a fisgar o peixe. Com o perdão da obviedade da metáfora.

Mas não.O quarto estava exatamente como ela deixara.

Atena correu os olhos por todo ele e não pareceu encontrar nada de novo ou diferente. Nenhum sinal da intrusa invasão de qualquer peixe desprovido de neurônios. As cobertas continuavam bagunçadas, algo que ela fez questão de corrigir sem pensar duas vezes. Também abriu as cortinas da sacada, e mesmo que não houvesse sol, tê-las abertas fazia-a pensar que já era mesmo de dia.

Não parecia ter mais nada que ela pudesse arrumar, para seu grande desapontamento, até que de repente, seus olhos se desviaram, como se estivessem sendo projetados, para o chão marmóreo do aposento.

 A borda do tapete.

O pequeno canto da parte inferior esquerda estava desalinhado, como se alguém tivesse esbarrado com o pé acidentalmente. Mas Atena não esbarrava nas coisas acidentalmente, e estava quase convicta de que aquilo não estava ali antes, quando acordara.

Com um pouco de medo de estar se tornando paranoica, Atena foi até lá.

Obviamente, com o único intuito de alinhar e arrumá-la. Tudo culpa do maldito Transtorno Obssessivo-Compulsivo. Afinal de contas, a única coisa mais estressante do que um objeto fora do lugar ou saído de seu estado de perfeita harmonia simétrica era a presença de Poseidon.

Na verdade, a presença de Poseidon podia facilmente ser qualificada como a coisa mais estressante, deprimente, enjoada, depravada e maléfica de todas as galáxias. Sem nem ter de pensar duas vezes.

Após arrumar o tapete, tendo o cuidado de deixá-lo milimetricamente no lugar, foi que ela notou os minúsculos grãozinhos do que parecia ser poeira (ou talvez areia de praia, quem sabe?) que estavam ali ao redor. E ela tinha a mais total e absoluta certeza de que eles não estavam ali antes. Não havia uma realidade plausível em que Atena dormiria num quarto com grãozinhos de areia no chão. Era impensável, e ela, como já era de se esperar, virou a cabeça nos 180º a que era limitada, com aquela visão microscópica altamente acurada e pronta para apontar o menor sinal de distúrbio da limpeza que ela fizera no quarto. Exatamente por isso, foi uma questão de milésimos de segundo até ela focar-se no que parecia uma reduzida e, para um observador desatento, praticamente inexistente, trilha de areia no chão.

Engatinhando, ao melhor estilo “detetive de desenho animado”, ela acompanhou a trilha, já pensando em um milhão de adjetivos qualificáveis para o ser desprezível que descuidadamente a deixara ali. Estava tão absorta nessa linha de raciocínio que quase bateu com a cabeça na parede esquerda do quarto (que era onde a trilha terminava).

Não fazia nenhum sentido. Logicamente, aqueles grãos haviam se desprendido do corpo de algum ser – provavelmente humano – e não podiam simplesmente parar de existir ao ir de encontro a uma parede. Claro que, se fosse o caso de um deus ser o culpado pela existência da trilha, faria sentido ela acabar na parede, já que o dito cujo poderia facilmente atravessá-la, exatamente como se não existisse. Mas, de novo, não fazia sentido. Por que um deus iria se dar ao trabalho de andar pelo quarto e deixar uma trilha no chão quando podia simplesmente se teleportar para o cômodo do outro lado da parede?

Foi exatamente nesse momento que o cérebro privilegiado de Atena executou perfeitamente as sinapses, e o insight  veio, respondendo às suas questões.

Ao fazer o pequeno, desagradável e horrível tour  pela casa, ela achara estranho o fato de a parede daquele quarto dar para o lado externo do Palácio, sem nenhum outro cômodo ali. Estranho porque, nas suas estimativas de comprimento e área (ela era  a responsável pelos projetos arquitetônicos do Olimpo, afinal de contas), faltava pelo menos um metro a mais de distância para a existência daquela parede. Mas estava tão desesperada na hora que mal deu-se uma segunda chance para repensar no assunto, que parecera, à hora, completamente irrelevante.

Agora, parecia crucial.

Pôs- se a examinar a parede, atenta e minuciosamente, determinada a achar uma minúscula falha de um nanômetro na estrutura que comprovasse suas teorias. Exatamente por isso, não ficou surpresa ao descobrir a forma de uma porta retangular inscrita ali, completamente invisível para qualquer pessoa.

Mas Atena não era qualquer  pessoa. E ela não era praticamente a neurose encarnada à toa.

Tendo isso em mente, não foi nada difícil achar um jeito de acionar o mecanismo que possibilitasse a passagem pela porta. Não que ela esperasse algo brilhante vindo da mente de Poseidon, mas mesmo ele tinha de admitir que pressionar uma área específica do rodapé da parede ser tudo o que era necessário para acionar as engrenagens e alavancas era MUITO clichê.

Acontecia em toda novela mexicana barata e em qualquer filme pífio de mistério ambientado numa casa antiga.

Sem pensar duas vezes, Atena afastou a porta e entrou.A parca luz que iluminava o lugar – um corredor de não mais de três metros de extensão – era totalmente fornecida pelas janelas do quarto. O chão do corredor era de madeira, e havia pequenas gavetas enumeradas nas paredes, como eram organizados os cofres dos bancos mais seguros. Até ali, tudo fazia sentido, e, honestamente, Atena ficara subitamente desanimada pela falta de emoção do lugar.

Até ela, praticamente no fim do corredor e quase indo de encontro à parede à sua frente, topar com os pés ainda descalços numa coisa fria no chão.

Novamente, abaixou-se, e novamente ficou impressionada com a criatividade do deus dos mares. A coisa fria era um pequeno ferrolho, que ela puxou e – oh,surpresa! – abriu-se em direção a um alçapão com pequenas escadas. Como não havia nada mais interessante para fazer, ela pôs-se a descer cuidadosamente as escadas, dessa vez, de pedra antiga que parecia rochas submarinas. Naquela altura, ela já não fazia a mínima ideia da profundidade total a que se encontrava, mas realmente não fazia questão. Parou um pouco para acostumar seus olhos à falta de luz, e desceu o resto dos degraus em caracol sem fazer mais nenhum barulho.

Dessa vez, acabou parando numa saleta minúscula, completamente no escuro. Tateou à sua volta até achar um pequeno interruptor – quem disse que era hora dos clichês acabarem? – que acendeu uma pequena luz falha no teto, que ficava piscando constantemente. Não havia mais na da na sala a não ser uma caixa no canto, com o que pareciam ser botões alfanuméricos em cima. A tal caixa era também pequena, feita de um metal frio, completamente lacrada e, mesmo balançando-a, Atena não ouviu nenhum som.

Se já não estivesse curiosa o suficiente, agora, com toda certeza, estaria. Precisava saber o que estava ali, tão bem guardado na pequena caixa de metal.

Talvez fosse um segredo obscuro de Poseidon.

Talvez ela pudesse chantageá-lo e obrigá-lo a libertá-la.

Claro que ela era contra as chantagens, mas ali era uma situação extrema.

Tudo o que precisava fazer era descobrir a maldita senha.

Ficou parada, de cócoras, olhando fixamente para os botões com letras e números, utilizando com mais força que nunca toda a sua capacidade lógica e dedutiva.

Para começar, conhecendo as tendências óbvias de Poseidon, e considerando o número extensivo de clichês que ela já passara apenas para descer até ali, resolveu que valiam as tentativas óbvias.

A primeira coisa que digitou eram apenas cinco caracteres:

SENHA

Com um bip artificial e muito à lá filmes de ficção científica, a caixa surpreendentemente se abriu,revelando seu conteúdo.

Um pequeno caderno com capa preta de couro.


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Notas finais do capítulo

Atena tem um segredo. Poseidon tem um segredo. Alana tem um segredo.
E eu não vou contar muahahah~risada dumal~
Reviews e recomendações aceleram meu desempenho. Assim, só por falar. :)