O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 15
Capítulo 14 - Procurando uma forma de clareza.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas e maravilhosas que provavelmente devem estar querendo me ver com cachecol de corda pescoço! Não, eu não morri. (ou pelo menos não ainda). Eu quero MUITO, muito mesmo me desculpar, por zilhões e zilhões de motivos, mas não tenho nem palavras para falar. Sério mesmo. Foi muita irresponsabilidade minha. Ter terminado o capítulo anterior DAQUELA forma, e ainda por cima DEMORADO UM MÊS para postar o próximo. Eu quero esfolar minha própria cara no asfalto. É claro que eu sei que a escola, as provas malditas e os estudos atrapalharam muito, mas o principal motivo foi a minha preguiça, desânimo, (e a vontade de ver e ler GoT o dia inteiro), confesso. Além disso, os reviews iam acumulando, e eu ficava com vergonha de prometer que postaria logo, sabendo que não tinha criatividade para escrever. Muita vergonha. Mas eu li todos os reviews e os amei com todo o meu coração, eu realmente sou uma irresponsável e não mereço tudo isso. Eu juro que vou arrancar os meus cabelos antes de deixar isso se repetir. Juro mesmo. Sei como é estressante esperar, e vocês realmente não merecem isso. Bem, espero que me perdoem. Me perdoem mesmo, porque de certa forma vocês vão querer me matar por esse capítulo não corresponder as expectativas de certo ponto de vista. Mas prometo que como bônus o próximo será postado o mais breve possível, e ele estará fervendo daquelas coisinhas que vocês gostam muito, hihi. De qualquer forma, espero que aproveitem o 14. Minha beta o betou lindamente, e eu também o escrevi com muitos esforços para deixá-lo no mínimo bom, então...Espero que tenha ficado. Saudades de vocês, amores! Um beijo, da má tia Lily.



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Capítulo 14- Procurando uma forma de clareza.

 Enquanto isso, no Olimpo...

Quando chegou a Sala dos Tronos, a primeira imagem que Ares registrou foi a de Zeus, visivelmente estressado e aflito, dando voltas pelos cantos do aposento freneticamente. Ele parecia querer socar alguma coisa –Ares conhecia muito bem com que tipo de expressão se fica ao sentir esse desejo- e, apesar de não ser ‘aquela’ coisa em termos de curiosidade, quis logo saber o que estava fazendo-o ficar daquele jeito. Quer dizer, não que fosse muito complexa a tarefa de deixar Zeus estressado, com todo aquele bom-humor característico. Porém, ele havia sido convocado para ir a seu encontro, o que o induzia a pensar que todo o estresse seria desviado em sua direção.

Com pensamentos lotados de palavrões muito cabeludos, estava claramente estampado na cara de Ares que ele preferia estar em qualquer lugar, menos na Sala dos Tronos, sendo convocado para uma conversa particular com Zeus. Talvez seu andar quase se rastejando também ajudasse a trazer essa impressão, mas ao que se parecia, o deus dos deuses não percebia, fingia não perceber, ou estava pensando em coisas que o impediam de perceber.

Essa última opção era a mais provável, pois ele só foi descobrir a presença de Ares quando o deus bateu o pé no chão 3 vezes consecutivas, despistando sua concentração.

-Até que enfim. – Zeus bufou, com a expressão ainda mais estressada, como se achasse um absurdo os dois minutos que tivera de esperar até Ares chegar. –Pode se sentar.

O deus da guerra franziu a sobrancelhas com a sugestão, obviamente incomodado.

-Ahn, Zeus, sabe como é, eu não estava querendo que isso levasse, assim, mais de uns dois minutos. Tenho coisas pra fazer e...

-E a eternidade para fazê-las. Qualquer inutilidade sua pode esperar. O que eu tenho pra discutir com você é bem mais importante. Do contrário, eu não estaria discutindo com você. –Zeus sentiu um grande impulso de soltar um longo e audível “idiota”, mas quase conseguiu ouvir a voz da filha aconselhando-o para ser paciente se quisesse obter resultados positivos.  Caso contrário não iria ter muito progresso em suas intenções.

 Foi apenas isso que o fez tolerar o pouco caso que Ares estava fazendo de sua convocação ultra-mega-primordial.

-Tudo bem então, Vossa Soberania. – Sem comentários para o nítido sarcasmo da sentença, já que Zeus simplesmente relevou. - O que é?

Ele pretendia enrolar um pouco mais com Ares, antes de falar diretamente o que queria que o deus da Guerra fizesse. As palavras pareciam, de uma forma ou de outra, custar a sair. Se não fosse tão autoconfiante, diria que se preocupava com a hipótese de acharem que ele estava sendo um pouco precipitado (afinal, fazia só 3 dias que Atena estava pra lá do Mediterrâneo).

Mas ele lançaria um raio na cabeça, carbonizando até reduzir a cinzas, quem ousasse dizer que ele estava dando uma de “pai coruja” (com toda a piadinha ridícula por causa de Atena ter como marca registrada as corujas e etc). Ridículo. A palavra realmente cabia bem.

Como não conseguiu achar alguma forma para distrair Ares (cuja paciência era quase tão grande quanto um grão de areia) por mais algum tempo, decidiu por vez ir direto ao assunto. Talvez fosse melhor mesmo, já que o tema estava lhe deixando demasiadamente incomodado nas últimas 72 horas.

-Bem, você sabe...É Atena.

Ares fez uma careta imediata ao ouvir o nome dela.

 Simplesmente inevitável, já que possuía uma grave intolerância a feminismo, livros, nerdice, chatice e dicionários, que por consequência, conseguiam definir com precisão a imagem da intragável deusa, sua companheira de cargo.   

Logo depois que conseguiu suavizar sua expressão de desprezo, mostrou-se confuso. Afinal, definitivamente não fazia a menor ideia a que Zeus estava se referindo, ou de que forma seu estresse estaria relacionado com sua maior puxa-saco.

-O que tem a sua preciosa filhinha?

Zeus ficou em dúvida entre achar que Ares realmente não fizera a ligação, por ser demasiado estúpido, ou achar que ele estava aproveitando da oportunidade para dar algumas gargalhadas internas a custo de sua expressão. As duas opções pareciam ser extremamente viáveis, no caso, e igualmente irritantes.

Suspirou.

-Eu quero que você vá atrás dela, para ajuda-la. Mesmo que ela, o que é muito provável, já tenha recusado sua ajuda.

-Ahn???! – Ajudar Atena? Era essa mesma a mensagem que Zeus estava tentando passar, com toda sua aflição e estresse? -Não sei do que está falando, mas eu definitivamente não gostei da ideia. Para que a Srta. Perfeição iria precisar de mim? –Revirou os olhos, devido à quão patética a ideia lhe parecia.- Quer que eu a ajude a tirar pó da montanha de livros que ela guarda no quarto?

Ele bufou, como se achasse uma própria ofensa particular, o que foi recebido com um rosnar muito audível de Zeus.

-Pare de falar asneiras, Ares. Você sabe que minha filha não está no Olimpo.

-AHN? Atena não está mais entre nós? –A frase poderia ter duplo sentido, é claro,mas quando se existe a imortalidade, o mais perigoso deles acaba sendo descartado. Ares parecia estar realmente surpreso, e idiotamente feliz, o que fez Zeus descartar a opção de estar sendo ridicularizado diante da conversa.

-Então, você realmente não sabia?

-Nem fazia ideia. Quer dizer, se soubesse, teria armado uma super festa de comemoração antes...

Será que iam desconfiar se um raio simplesmente caísse ali e atravessasse Ares ao meio? Eletrocutar um deus nem era uma infração tão grave assim...

-Não há nada para comemorar sem Atena por aqui, Ares. Ela é, basicamente, o equilíbrio do Olimpo. Sem ela, ficamos instáveis.

-Ahaaaaaam. – Ares concordou, visivelmente sarcástico. – É claro.

-Mas, justamente por ela ser assim, está administrando as guerras que acontecem pra lá do Mediterrâneo. E você deveria estar ajudando-a, já que, aparentemente, é o deus da guerra.

-Eu sou o Deus da Guerra. Não tem nada de aparentemente. Atena não serve para esse cargo, só pra constar.

Zeus bufou, gargalhando internamente, o que deixou Ares odiando aquele puxa-saquismo irritante.

-É verdade! –Ele insistiu, irritado.

-É claro. Você, melhor Deus da Guerra do que Atena. Aham. Tanto que acaba de descobrir, por mim, que o Oriente Médio está em guerra civil.

-Não,  não está! –Exclamou, como se estivesse plenamente convicto, cruzando os braços de forma ameaçadora. – Eu saberia se estivesse.

-É mesmo? –Zeus estava friamente cético. –Então que guerras Atena está tendo que controlar devido a sua falta de responsabilidade?

-Ela está controlando guerras. Com toda aquela babaquice de justiça e equilíbrio. Eu lidero guerras, baseadas na força. São duas coisas completamente diferentes. Mas de qualquer forma, ela pode estar controlando guerras, mas não pra lá do Mediterrâneo.

-Sei. Então você está dizendo que não está acontecendo guerras lá porque é uma verdade, e não por que você está com preguiça de exercer sua função e ajudar a minha filha?

-É! Não há guerras no momento, Zeus. A Primavera Árabe não está mais assim tão forte,o Egito está no meio da sua primeira eleição desde sempre,os Estados Unidos ainda não acharam outro motivo para atacar o Irã,Israel e Palestina não mandaram nenhum homem-bomba para nenhum lugar nesses últimos três dias,nenhuma tribo africana está fazendo uma carnificina da inimiga,e os países do Oeste Asiático também estão em relativa paz,por mais que isso não me agrade – ele enumerou,contando nos dedos -.E você realmente acha que eu estaria aqui se houvesse uma guerra eclodindo?

Zeus franziu as sobrancelhas,confuso.Realmente,o discurso de Ares fazia sentido.O Deus dos Deuses bem sabia quem era o primeiro a correr para incentivar carnificinas.Mas Atena nunca,nunca mesmo,mentira para ele,e não havia nenhum motivo especial  para que o estivesse fazendo agora.-Então por que Atena mentiria para mim dizendo que tem?

Ares já ia retrucar alguma coisa, quando percebeu que para essa pergunta ele realmente não tinha uma resposta coerente. Não estava mentindo para Zeus. No Oriente Médio, as coisas estavam estáveis pelo que lhe constava. Ele até iria ajudar Atena, mesmo que a contragosto, se fosse total,completa e extremamente necessário. Mas não era, já que ele sabia sempre onde tinha uma guerra. Era quase instintivo. O que deixava um grande vazio na resposta do por que Atena estava mentindo, já que ele seria o último a afirmar que a Srta. Perfeição contaria mentiras para o papai.

-Quando ela disse isso?!

-Deixou essa carta antes de ir. Três dias atrás.

Zeus retirou de um compartimento secreto das vestes um pedaço de papel que parecia ter sido dobrado centenas de vezes. Um tanto desconfortável, entregou o pedaço nas mãos de Ares, que se limitou a levantar uma sobrancelha. Desdobrou o pedaço de pergaminho. Seu real comprimento era praticamente insignificante, nada de especial. Uma meia dúzia de linhas.

Começou a ler, já que Zeus olhava como se esperasse alguma coisa, embora estivesse se preparando para um tedioso texto.

-“Querido papai”...??? -Proferiu, indignado, assim que pousou os olhos no começo da carta. -E depois ela tem coragem de dizer que eu sou infantil. Hunf.

Zeus deu de ombros e Ares prosseguiu com a leitura. Como previra, as palavras de Atena pareciam apenas um agrupamento monótono, embora o conteúdo fosse de certo modo instigante.

“Querido papai,

Sinto muito não me despedir mais calorosamente, todavia, a gravidade da situação do Oriente Médio obriga-me a deslocar para lá o mais rápido possível. Sei que é uma distância considerável do Empire State até à direita do Mediterrâneo e, bem, talvez eu demore um razoável período de tempo para voltar. Mas eles precisam de mim, para ajuda-los com o caos, muito mais do que em qualquer outro lugar.

Ártemis ocultará minha ausência. Confio nela.

Espero que dê tudo certo.

Já saudosista,

Atena.”

-Hum. –Murmurou Ares. Era confuso. Ele saberia se estivesse acontecendo uma guerra no Oriente Médio, como Atena havia proposto. E não havia! Mas se ela estava mentindo, e mentindo para Zeus, então tinha algum segredo muito grande e oculto por trás disso. E, com certeza, extremamente sujo. Mesmo que a imagem da deusa não se enquadrasse muito bem nisso.

-Por que eu deveria confiar em você e não na minha própria filha?

Esse era o problema. Zeus deixaria os céus explodirem antes de admitir que sua filha perfeita pudesse estar envolvida em alguma tramoia. Era muito mais fácil manda-lo ir procura-la na guerra inexistente do Oriente Médio do que fazer uma investigação mais apurada do caso. Quando ia responder alguma coisa, que com certeza seria inútil, foi salvo de ter que dar a resposta por um barulho de estalo.

Apolo se materializou dois segundos depois do ruído. Sem metáforas, o ambiente subitamente pareceu ter se iluminado, e suas atenções foram desviadas para ele.

 As roupas do deus do Sol estavam amassadas, e seu cabelo bagunçado. Parecia ter acabado de sair de uma briga (com Ártemis, talvez, já que os gêmeos se invocavam um com o outro o tempo todo), ou ter escapado recentemente das garras de pelo menos três musas. Conhecendo Apolo, ambas as alternativas tinham a mesma porcentagem de probabilidade.

-Pai?...E Ares? O que vocês estão fazendo aqui?  -Perguntou o loiro, como se esperasse encontrar privacidade ao se materializar ali, e com um vinco na testa.

-Er.. – Zeus hesitou por um segundo, que foi suficientemente grande para as ideias de Apolo ficarem claras.

-Ah, já sei.  –Ele abriu um sorriso quase ofuscante. -Você chamou Ares para falar de Atena, certo?

-Como você pode saber? –Zeus ficou irritado e surpreso com a facilidade que foi para ele tirar aquela conclusão.

-Eu sei de tudo. – De fato, modéstia não deveria ser uma das virtudes de Apolo. - Mesmo sendo óbvio. Todos nós já estamos com saudades dela, e ela é sua filha favorita,e ninguém se lembra de tê-la visto nos últimos dias. Além disso,eu sou o Oráculo – ele acrescentou,com um “dãh” estampado na face,como se ratificasse que aquilo era a coisa mais óbvia da galáxia.

Ares ficou com vontade de dizer que deveria ser riscado, retirado e ignorado nesse “todos”, mas Apolo continuava discursando.

-Eu também quero minha irmã de volta. Atena sabe compor haicais interessantes. Aliás, eu bem que poderia decl....

-NÃOOOO! Não, Apolo, não precisa. Eu estou lendo uma carta, se você não percebeu. –Ares interrompeu, antes que Apolo resolvesse recitar mais um daqueles versinhos irritantes, e usando a desculpa, mesmo que já houvesse lido a maldita carta.

-Carta? De quem? – ele estancou,mesmerizado – Aliás,você sabe ler?

-De Atena, oras. E claro que sei,seu estúpido.

-Atena deixou uma carta? –Os olhos de Apolo brilharam.

-Sim. Antes de ir embora. Pra se despedir de mim. –Explicou Zeus.

-E por que você não falou antes? Também quero ler,Ares, passa aqui.

O loiro se precipitou, avançando ao lado de Ares para poder colocar os olhos no pedacinho de papel, ansiosamente. Mas assim que o fez, toda a alegria iminente de seu rosto pareceu se dissolver por completo, dando espaço a uma expressão diferente, quase ilegível.

-Ahn, pai?

-O que foi?

-Olha só, esta aqui não é a letra de Atena. –Apolo declarou, cruzando os braços, como se dissesse que um mais um é dois.

-O quê?! Como não?! – Zeus pareceu não ter assimilado as palavras muito bem.

-Já a vi escrever poesias o suficiente para saber que a caligrafia não é desse jeito. Não sei de quem é essa letra, mas de Atena é que não pode ser.

-Ah não é? – Ares deu um sorriso malvado para Zeus, como se dissesse “eu te disse”, e lançou um olhar para Apolo que sugeria desapontamento, como se condenasse Zeus por não ter percebido aquilo antes. – Que interessante.

 -Como...Como assim? Tem certeza disso, Apolo?! – O Deus dos Deuses parecia não querer acreditar, quase como se a simples ideia o assustasse.

-Absoluta.A caligrafia de Atena é mais reta,centrada,sem esses floreios a cada dois grafemas. Mas posso chamar Ártemis para confirmar, ela já fez um estudo detalhado de caligrafias, e essas coisas.

-Sim! Preciso ter certeza de que o que você está falando é verdade. É uma acusação bem séria, essa que você está fazendo.

-E ia desencadear um monte de investigações. –Ares fez questão de adicionar mais lenha na fogueira, com um sorriso de vencedor.

-Vou chama-la, então. – Apolo disse. Mas logo que pronunciou as palavras uma ideia parecia ter acometido sua mente, que fez tremular seu sorriso. -Só dois minutos.

 (...)

Apolo não estava realmente com vontade de ver Ártemis de novo, mas quando estava refletindo sobre isso já se desmaterializara da Sala dos Tronos.

Já estava doendo manter a invencibilidade de seu sorriso brilhante. Tinham acabado de brigar (só para variar) por causa do cafajestismo de Apolo (só para variar, de novo ), e o assunto terminara bem mal. Ele sabia que não devia tentar seduzir suas caçadoras. Ela estava certa, como sempre. Mas de que outra forma poderia chamar sua atenção? Era melhor tê-la banhada de ódio do que ter apenas meros vislumbres da lua.

Era difícil para ele ter que lidar com isso mais uma vez. Mas não era como se tivesse escolha agora que tinha sugerido para um Zeus esganado de preocupação.

Encontrou-a onde a havia deixado, perto de seus aposentos pessoais. Mas havia uma mudança no cenário, caracterizada pela presença de uma certa deusa do amor. Ela havia engatado uma discussão, ao que parecia, muito acirrada, com Afrodite. Mas ambas pararam de falar assim que detectaram sua presença no corredor. Afrodite colocou os cabelos para trás, como se temesse que pudesse acha-la descabelada, e ensaiou um sorriso de lado. A figura completamente oposta de Ártemis, que com os cabelos ruivos cobrindo-lhe a face desajeitadamente, e uma espécie de semi-rosnado infiltrado nos lábios salientes, parecia querer esganar alguém. Bem, alguém não, ele. Afrodite também serviria, quem sabe.

-O que está fazendo aqui, Apolo?! –Ela estava evidentemente inconformada com sua audácia de voltar. – Eu não te mandei ir ...–A faísca que piscou em seus olhos amarelos quase o fez querer dar as costas. Só não fez isso porque Afrodite a interrompeu antes de continuar.

-É ótimo que você tenha aparecido, Apolo. Talvez assim você possa me ajudar a pôr um pouco de juízo na cabecinha da sua linda irmãzinha.  –Sugeriu a deusa, esbanjando um misto de charme e sarcasmo, que o fez ter vontade de rir. Se Afrodite soubesse o quanto Ártemis era indiferente a ela e suas tentativas de fazê-la parar de converter as meio-sangues em novas caçadoras... Apesar que sua irmã gêmea não estava parecendo tão indiferente assim no momento em questão.

-Eu não sou a irmãzinha dele. Temos a mesma idade. –Ele bem sabia o quanto ela se irritava de ser tratada com aquele termo.

Apolo caminhou, mantendo o sorriso, na direção das duas deusas.

-Tecnicamente, você é mais nova Ártemis.

A ruiva apenas revirou os olhos. Naquele instante parecia ter realmente muito mais do que sua aparência incitava.

-Queria ter tido uma irmã. E foram só doze segundos. –Ela apenas murmurou, mais para si mesma do que para ele, mas Apolo ouviu. Com todas as palavras e letras. Tentou ignorar uma sensação de ter um líquido mais frio que o gelo escorrendo por dentro dele. Apenas continuou sorrindo.  –Você não respondeu. –Ártemis pontuou. -O que veio fazer aqui?

Afrodite também olhou para Apolo, como se estivesse curiosa, depois que a irmã lhe fez a pergunta.

-Atena. –A palavra poderia ser interpretada de uma maneira realmente equivocada, mas ele só conseguiu dizer aquilo. Como previra, os olhos de Ártemis ganharam uma vida mais gentil, como se de repente já tivesse esquecido seu ódio por ele.

-Ela voltou?!

Por alguma razão, antes de responder, Apolo fitou Afrodite. Por um instante, a deusa do amor deixou cair o que parecia ser uma suposta máscara, e ficou pálida, com os olhos um tanto arregalados. Mas em instantes engoliu em seco e esboçou um sorrisinho.

-Não. Não foi isso que eu quis dizer, Ártemis. Zeus quer que você vá ajudá-lo a decifrar algo relacionado a Atena. – Subitamente, Afrodite pareceu mais aliviada. Só por um instante.

Enquanto Ártemis ficou desapontada mais uma vez. Lançou um olhar de desprezo para Apolo.

-O que foi?

-Hm...Parece que Atena deixou uma carta para ele. Quer dizer, eu não acho que tenha sido Atena. Aquela não se parece com a letra dela. Então tive a ideia de chamar você. Você não fez aquela...análise de caligrafias ou coisa parecida?

-Chama-se Grafologia. – Ela corrigiu, imponentemente.

-Que seja.- Deu de ombros, parecendo tão indiferente à irmã como gostaria de estar. - A carta está lá para você analisar.

-Eu vou.

-Eu também vou, Apolo! – Afrodite pareceu despertar para a conversa de repente. Ajeitou os cabelos mais uma vez, como se fosse um ato de descontração. – Estou morrendo de saudades de Ateninha. Adoraria ler sua carta...

-Tudo bem. –Apolo declarou, embora estivesse um pouco desconfiado das palavras de Afrodite. Algo parecia definitivamente estranho na deusa do amor. Mas não se deixou mostrar desconfiado. Quanto a Ártemis, desejou continuar parecendo indiferente. -Sala dos Tronos,aí vamos nós. –Anunciou ele. Ouviu-se um uníssono de estalos, acompanhados por um suave brilho tremeluzente, enquanto se teletransportavam para o local.

(...)

Já fazia uns bons dez minutos que Ártemis estava analisando a suposta carta de Atena. Haviam até se acomodado em seus respectivos tronos, porque não dava para esperar tal análise em pé, e o ambiente, por motivos óbvios, estava em um silêncio sepulcral.

Zeus estava ficando visivelmente impaciente, e Apolo também. Ares estava olhando de uma forma não comportada para Afrodite, que por sua vez, e por alguma razão, parecia estar ainda mais impaciente e aflita do que todos os outros. Ficava ajeitando os cabelos como se não soubesse que eles já eram organizados em sua forma mais perfeita, e cruzando e descruzando a perna mais vezes do que seria apropriado.

Enquanto Ártemis lia, Apolo não perdia a oportunidade de analisá-la. Mesmo que tal ato fosse completamente involuntário, assim como um ensaio de suspiro. Via as sobrancelhas dela se juntarem, ocasionalmente, e a bolinha negra contrastante dos olhos, ficava se movendo de um lado para o outro. Os lábios eram constantemente mordidos, e ela apoiava o lado esquerdo da cabeça no braço. Seus cabelos arruivados pareciam estar sob alguma espécie de brisa. Nem parecia aquela criatura irritada que havia lhe enchido de tapas algumas horas atrás.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, até mesmo para os deuses, ela finalmente lançou um olhar ilegível para todos. Uma pequena tosse escapou de sua garganta, e ela começou a recitar suas conclusões em voz alta.

-Meu irmão tinha razão. –Ela pareceu dizer aquilo relutantemente, sem olhar para ele.Quase como se quisesse não ter tal irmão. –Esta aqui não é a caligrafia de Atena.

-Como você pode ter tanta certeza? -Afrodite enrugou a testa, mas só por um instante, e logo passou a mão no local como se quisesse se livrar de todos os vestígios, abrindo um sorriso do tipo acabei de escová-los com o melhor creme dental do mercado.

-Não a interrompa, Afrodite. Deixe Ártemis tirar suas conclusões. –Objetou Zeus, colocando os braços nos apoios de seu trono. Estava ansioso demais para ouvir alguma coisa que pudesse ao menos tranquiliza-lo a respeito de Atena.

-Obrigada, Pai. –A ruiva fez uma breve reverência. – Bem, conheço muito bem os manuscritos de Atena. Posso afirmar com certeza, ela possui uma escrita firme, organizada e limpa, com espaçamento regular entre palavras e linhas. Isto indica uma pessoa com clareza de ideias e boa capacidade de organização do pensamento. A letra não é inclinada. Ela também tem uma letra T muito peculiar. A haste vertical é longa, o que demonstra autoritarismo, e a horizontal é curta, o que indica honestidade. Características que ela obviamente possui. –Quase todos assentiram. -É muito diferente dessa outra caligrafia aqui. Não foi feita muita pressão no papel ao escrever. O espaçamento entre as palavras é bem variado, o que indica uma pessoa que pensa de forma mais emocional que racional. Os T’s são verticalmente longos, como os de Atena, porém tem um layout diferente. Uma pessoa ousada além de autoritária. E são cortados horizontalmente por traços compridos, o que pode significar altas doses de orgulho. A letra é inclinada, como uma onda, característica de pessoas impacientes. –Ela olhou para o papel, como se tivesse esperança de descobrir mais alguma solução para o enigma principal. -Não consegui reconhecer a caligrafia. –Admitiu.- Mas será que vocês conseguem pensar em alguma pessoa que apresente as características citadas, e tenha algum motivo para fingir que é Atena? Considerando também que quem deixou a carta tem de ser um deus, pois quem mais se atreveria a entrar nos aposentos de Zeus para deixa-la ali?

O silêncio foi mantido por mais algum tempo infinitamente grande. Todos pareciam refletir sobre as conclusões recém-tiradas por Ártemis, e sobre suas perguntas, até mesmo o despreocupado Ares.  O primeiro som a interromper o sepulcro foi a voz de Afrodite.

-Atena poderia ter pedido para escreverem com ela. Ela devia estar com pressa. –Ela não conseguiu disfarçar uma espécie de nervosismo em sua sugestão. -Não tinha de ir para uma guerra?

-Hmm...Não acho que Atena pediria para ninguém escrever por ela. –Apolo contradisse. -E as informações da carta também estão erradas, como Ares relevou assim que Ártemis leu a carta em voz alta pela primeira vez. Não está havendo nenhuma guerra no Mediterrâneo. Atena não mentiria para Zeus sobre seu paradeiro. –O deus do Sol estava começando a ficar realmente instigado pelo que teria acontecido com Atena. -Nós não conseguimos lhe enviar Mensagens de Íris ou cartas.  Alguma coisa aconteceu! E Ártemis tem razão, um de nós tem de estar envolvido.

-Peça para escreverem, sem dizer por quê. Ninguém recusaria o pedido. –Todos ficaram surpresos pela oferta ter sido pronunciada por Ares, e principalmente sua amada Afrodite, que quase entrou em choque, fitando-o intensamente com os dois olhos arregalados.

Mais silêncio.

-Alguém orgulhoso, que leve as coisas para o emocional... – Refletiu Ártemis. -Que seja autoritário, ousado e impaciente. Alguém com motivos para tramar contra Atena. Conseguem pensar em alguém que tenha as características dessa letra?

Pela primeira vez desde que Ártemis dissera tudo o que concluíra, e todos os silêncios passaram e se restauraram, Zeus interagiu com o que ouvira. Levantou imponentemente de seu Trono antes de dizer o que já estava preso em sua garganta.

-É claro que consigo, querida Ártemis. Você acaba de descrever Poseidon. 


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Notas finais do capítulo

Reviewzinhos? :x