—Faça o que desejar...

Sakura Haruno:

            Depois de toda aquela discussão com Tsunade, aqui estou eu, viajando até a distante vila de Yukata, onde pegaríamos um trem até o nosso destino: A vila de Yuu.

Eu e Sasuke corríamos por entre os galhos das arvores, nos tornando tão velozes e tão visíveis quanto o vento.

 Segundo Sasuke, nós deveríamos eliminar uma garota que agia como uma serial-killer, matando garotas de modo cruel.

Felizmente nós logo chegamos na estação de trem, onde nem esperamos muito tempo.

O vagão estava cheio de pessoas tagarelas, e crianças barulhentas, mas logo depois o silencio se instalou e antes mesmo que eu percebesse, acabei adormecendo.

            —Sakura.—Ouvi Sasuke murmurar meu nome, mas eu resmunguei algo e me virei de costas para ele.

            O Uchiha bufou e falou novamente em um tom bem mais rígido que antes:

            —Sakura, pare de frescura! Já chegamos!

Ao ouvir aquilo, eu abri meus olhos e encarei o moreno irritado e o vagão quase vazio.

Me levantei e enquanto pegava minha malas, saí acompanhada de Sasuke. Yuu não era muito diferente de Yukata.

A neve cobria o chão da cidade como num tapete natural e presente 365 dias do ano. A cidade era menor que sua vizinha, mas possuía o mesmo povo acolhedor e simples, como se a vida ali não tivesse a mesma correria que a “cidade grande”.

            —Precisamos achar um lugar para ficar...— Murmurei, afundando o meu nariz em meu cachecol, enquanto o vento gélido nos dava boas-vindas.

            —Acho que deve ter uma pousada em algum lugar...—Disse o rapaz arrumando a mala em seu ombro, e começou a andar e eu o segui.

            Caminhamos e enquanto procurávamos um lugar para ficar, senti alguém trombar violentamente em mim, chegando até a me derrubar no chão.

A garota que trombou em mim se levantou subitamente e nem sequer me pediu desculpas antes de sair correndo em disparada para longe.

Passei alguns instantes ali, deitada contra a neve, tentando entender o que se passou nos últimos segundos.

O Uchiha surgiu no meu campo de visão, e estendeu sua mão para mim.

            —Está tudo bem?—Indagou Sasuke enquanto eu aceitava a sua ajuda para me levantar.

—Sim.— Respondi, enquanto tirava a neve de minha roupa.

—Que garota estranha...—Murmurou o moreno.

Algo na neve chamou a minha atenção e quando eu olhei, vi uma carteira cor de rosa e infantil que certamente não era minha.

—Ela deixou cair isso.— Disse pegando a carteira.—Para onde ela foi?

—Ela foi por ali.— Respondeu o Uchiha, apontando com o queixo para uma rua não muito longe.

—Eu vou ir entregar e já volto.—Disse indo caminhar, mas senti o rapaz segurar meu punho. —Pode ir atrás da pousada, logo eu irei te alcançar.— Completei e sem esperar por resposta saí correndo na direção em que a garota correu.

Eu corri por entre aquelas ruas vazias e eu encontrei quem eu procurava, mas não da maneira que eu queria.

A garota estava jogada no chão, como se fosse uma boneca de pano, sua pele estava tão pálida quanto a neve que agora se tingia de escarlate, sangue que escorria livremente do ferimento em sua barriga.

Forcei as minhas pernas a se aproximarem da garota e eu assumi o meu “lado profissional”, tentando de tudo para curar a garota, mas infelizmente, sua ferida era profunda demais e por mais que eu não quisesse admitir, a menina morria aos poucos em minhas mãos.

Como se lesse meus pensamentos, e garota virou seus olhos verdes para mim e abriu a boca cheia de sangue, sussurrando:

—Cuidado...

            De súbito, um vento gélido soprou contra nós, levando consigo o ultimo sopro da vida daquela menina e trazendo também uma sensação sinistra de como se alguém me observasse.

            —Finalmente te encontrei, rosadinha...— Murmurou uma voz maquiavélica e cruel, e um frio percorreu a minha espinha.

Automaticamente eu virei a minha cabeça para trás, mas não havia ninguém ali, exceto Sasuke que acabara de aparecer.

Ele parecia perplexo e se aproximou lentamente, e a julgar por essas ações, eu devo estar horrível.

Sasuke Uchiha:

            —Sakura?...—Indaguei, olhando para a rosada que parecia estar no ponto de desmaiar a qualquer momento.

            —Ela... Morreu.— Murmurou a Sakura e eu me aproximei, vendo a garota que jazia na neve. —Eu tentei de tudo mas...

            —Bem, acho que nossa missão já começou...— Falei enquanto a Haruno se levantava.—Vem, vamos achar alguém para cuidar desse corpo.

            Após deixar que as autoridades locais cientes sobre a mais nova vítima da tal serial killer, eu e Sakura nos dirigimos para a primeira pousada que vimos.

            O quarto era pequeno, tendo uma grande cama competindo espaço com um sofá velho.

            Poucos instantes depois de literalmente largar as suas malas no chão, a rosada se jogou contra a cama e adormeceu sem nem ao menos retirar os próprios sapatos, tarefa que sobrou para mim no final das contas.

            Depois de tirar os sapatos dos pés pequeninos da Haruno sem muita dificuldade, a garota se encolheu e soltou o som semelhante ao de o ronronar de um gato e por alguns instantes eu me mantive imóvel, com os sapatos em mãos, como um idiota, temendo que ela acordasse.

            Mas felizmente o cansaço prevaleceu, a ninja estava muito absorta no mundo dos sonhos para acordar agora.

            Caminhei até a mala e peguei uma coberta macia e quentinha e cobri o corpo delgado da médica, tentando ao máximo manter meus olhos longes de determinadas partes do mesmo.

            Suspirei, vendo que hoje terei que me contentar com o sofá velho e pequeno, pelo menos ali eu não terei que me  preocupar em manter os pensamentos nada puritanos longe de minha mente...

Tentei me encaixar da melhor forma possível ali e ao contrário do que eu pensava, logo adormeci.

            Fui acordado com o toque leve, mas insistente do dedo indicador de Sakura em meu rosto.

Quando abri meus olhos encarei as orbes esmeraldinas e que ainda estavam envoltas de sono.

            Quando percebeu que eu acordei, a rosada recolheu seu dedo e disse com a voz rouca pelo sono:

            —Bom dia...

            Eu não respondi, não porque eu não estava afim, mas porque eu simplesmente queria mantê-la ali, como um artista com o objeto de sua obra de arte.

            A pouca luz do sol que adentrava pela janela caia suavemente na face da Haruno, deixando até mesmo dourados alguns fios rebeldes de seu cabelo e evidenciando o tom alvo de sua pele, fazendo-a parecer que era feita de porcelana.

            —Vem, eles estão servindo o café da manhã...—Disse infelizmente se levantando.

            Ambos saímos pela porta e ela seguiu em frente até o salão aonde o café da manhã era servido e por algum efeito sobrenatural, eu simplesmente não conseguia desviar os meus olhos dela, até uma figura pequena que usava um capuz, interromper sua tão elegante caminhada.

            Se eu soubesse o que aconteceria a seguir, eu juro que não teria passado tão tempo a contemplando, ou eu teria acordado mais cedo, ou eu pediria para que o café da manhã fosse entregue no quarto ou eu simplesmente andaria ao seu lado para protegê-la, mas não, tudo deu errado a partir dali... E eu não pude fazer nada.