Ambos necessitavam daquilo, aquilo não era uma questão de orgulho ou de ressentimentos, naquela hora eu esqueci quem era o Kaito, quem era Tsunade, quem era Kakashi ou Naruto, esqueci até mesmo o meu nome, já que a única coisa que ocupava a minha mente era aquele gosto adocicado de Sakura e aquele perfume que era como uma droga para mim.

  Sakura Haruno:
    Inspirei profundamente e levantei o punho pronta para bater na porta de madeira a minha frente, mas depois de poucos segundos a minha coragem havia desaparecido com a mesma rapidez que aparecera. Soltei o ar pela boca, soltando uma fumaça branca por causa da baixa temperatura matinal, é... Acho que está muito cedo para eu vim atazanar a minha mãe com os meus problemas.
    Virei-me de costas, pronta sair da frente da casa onde eu cresci, mas a sacola em minhas mãos pareceu pesar uns nove quilos e assim comecei quase um debate mental eu contra mim mesma. E depois de uns dez minutos eu tomei uma decisão: Vou entregar o remédio de minha mãe e depois ir embora: simples assim!
    Com toda a minha coragem, eu levei o meu punho até a porta, só que minha mão bateu o vazio, já que a porta havia sido aberta pela minha mãe. Surpreendi-me ao vê-la ali, de pé a este horário da manhã, mas o que realmente deu origem a minha surpresa foi o fato de que ela estava bem mais magra de que quando a vi pela ultima vez e sua pele estava pálida e com uma aparência de giz, a Haruno parecia que iria se desfizer a qualquer instante.
    A rosada percebeu o meu olhar sobre si e desviou o olhar, como uma criança levada que sabia que estava fazendo algo errado e logo se apressou a falar:
    —É só uma gripe forte que peguei ultimamente.
A fitei, duvidando de sua frase e ela esboçou um sorriso doce e assegurou calmamente:
    —É verdade, querida, eu estou bem. Agora venha. —Chamou me puxando pela mão. —Está muito frio aí fora e quem vai acabar ficando doente é você, “doutora”. —Disse enfatizando a ultima palavra em tom de brincadeira.
    A mulher se sentou no sofá e como um cachorrinho carente ela olhou para mim, querendo que eu me sentasse ao seu lado. Suspirei e neguei com a cabeça, balançando a sacolinha, onde havia o remédio que praticamente a deixava viva. Ao ver a sacola, a Haruno fez uma careta e revirou os olhos, e com uma das mãos deu palmadinhas no sofá, me incentivando a sentar.
    Suspirei e respondi:
    —Mamãe, eu só vim...

    —Passe um tempo com sua pobre mãe, Sakura!—Pediu pousando as costas de sua mão sobre a testa, fazendo drama de forma teatral. —Quer um pouco de chá? Eu acabei de fazer, está uma delíci...
    —Mãe, realmente eu não posso ficar, eu preciso...
    —Tem algo te incomodando, Sakura. —Interrompeu a Haruno e eu engoli a seco, seus olhos verdes estavam sérios e sábios, ela parecia saber perfeitamente o que estava acontecendo e desconfortável eu desviei o olhar para o chão. —Viu? Você desviou o olhar, está realmente me escondendo algo.
    Levantei a cabeça e ao encontrar o olhar de minha mãe eu não sabia o que dizer, minha boca abria e fechava constantemente, eu queria negar e dizer que a idade estava afetando a sua mente, zombando dela, mas eu não conseguia fazer isso, algo realmente me incomodava e esse meu “incomodo” é simplesmente o indecifrável Sasuke Uchiha.
    —Venha conversar comigo, minha flor. — Pediu em um tom de voz doce. —Percebi que você está estranha desde a sua incomum hesitação para bater a porta. Sei que não sou uma ninja de grande calibre como você, mas ainda sei localizar o chackra de alguém...
    Eu me sentia sem escapatória, como um rato prestes a ser devorado por um gato, mas ao mesmo tempo eu me sentia feliz por isso, finalmente iria poder desabafar com alguém sobre o ocorrido de ontem, sobre o beijo que fez perder o sono a noite toda e só de lembrar as minhas bochechas coraram violentamente.
    Sei que minha mãe prontamente me ouviria, como sempre fez em toda a minha vida, sem me achar estupidamente dramática ou ridiculamente tapada, e agora me senti até um pouco culpada por esconder algo dela. Suspirei e sem dizer uma palavra caminhei até o sofá e me sentei de frente para a Haruno.
    Passei um tempo em silêncio decidindo em como deveria falar, ou por onde começar, enquanto a rosada a minha frente, pacientemente esperava.
    —São os Uchihas. —Falei rapidamente, as palavras saíram emboladas em minha língua e meus olhos estavam fixos em minhas mãos dispostas em minhas pernas, não tinha coragem de levantar o olhar e encará-la.
    —Ah... —Murmurou, pensativa. —Eles... Trataram-te mal, meu bem?—Perguntou tranquilamente.
    —Não!—Respondi levantando a cabeça tendo o meu olhar sustentado pelo e de minha mãe. —Eles estão sendo legais comigo, principalmente Itachi que sempre se preocupa com o meu bem estar e faz de tudo para que eu esteja confortável...
    —E o Uchiha mais novo, o seu noivo?—Questionou evidenciando a ultima palavra, fazendo com que eu suasse frio.
    —Ele é o problema. —Frisei.

Sasuke Uchiha:
    Suspirei e me levantei da cama com uma preguiça sem tamanho e após fazer a minha higiene matinal eu sai do quarto. Meus olhos se fixaram na porta da frente, a porta do quarto que pertencia a Sakura. Passei a mão pelo cabelo após lembrar o que eu havia feito ontem. Tudo bem foi só um beijo, mas foi... Diferente.
    Sem perceber levei meus dedos aos lábios, sendo ainda capaz de sentir a maciez daqueles lábios doces. Suspirei e voltando a mim, retirei os dedos de meus lábios e me arrastei até a escada, onde parei de andar, pensando no que faria quando a visse lá embaixo, provavelmente na cozinha.
    Se assumisse a minha postura fria e indiferente, a rosada certamente se magoaria e talvez me bateria ou me ignoraria também, ao pensar nas hipóteses anteriores, uma leve careta se formou em minha face, eu não queria acabar mutilado e muito menos ignorado pela Haruno.
    Lentamente coloquei a minha cabeça para fora do vão da escada, e observei a cozinha, onde Sakura deveria estar, porém o lugar estava vazio e escuro. Deixei um suspiro aliviado escapar e mais tranqüilo segui até a geladeira, onde peguei os ingredientes necessários para fazer o meu café da manhã.
    Passei um bom tempo comendo, mas meus pensamentos estavam direcionados a Haruno, a casa estava silenciosa demais, assim como ontem, talvez ela tenha saído... Olhei para o relógio na parede, está muito cedo para a garota sair assim sem avisar. Quando acabei de comer, depositei a louça na pia e sai da casa, tentando em vão, esquecer o beijo da véspera.
    O sol estava iluminando todo complexo Uchiha e a grama respondia com uma bela coloração de verde, combinando com a água cristalina de nosso lago. Olhei para o deck e me surpreendi ao ver Itachi sentado ali, seus sapatos estavam ao seu lado enquanto seus pés aproveitavam da refrescante água do lago.
    As lembranças de quando éramos pequenos invadiram a minha mente, como se eu assistisse um filme, recordava de quando pedia conselhos ao Uchiha mais velho que sempre me ajudava, e assim uma ideia surgiu e com a mesma rapidez, eu a repreendi, era idiota demais.
    Dei as costas para o deck e comecei a caminhar, sem nenhum rumo certo e então eu me senti um completo idiota, ora, ele pode ser bobo e até mesmo doido ás vezes, mas... É o meu irmão! Sei que ele vai me ajudar. Aproximei-me do lago a passos largos, antes que desistisse de vez e desse meia volta.
    Sentei-me ao seu lado e o moreno pareceu perceber isso instantes depois, meu irmão estava perdido em seus devaneios e depois de alguns minutos pensando no que dizer, eu perguntei:
    —Itachi, você poderia me ajudar?—Perguntei e ele me fitou, surpreso pela minha pergunta e logo depois assentiu. —Er... Você... Já gostou de alguém?
    Itachi franziu o cenho e suas sobrancelhas se uniram em um misto de duvida e confusão, não pude culpá-lo já que nem eu sabia ao certo o porquê de eu ter feito essa pergunta!
    —Bem... —Começou tentando entender a minha pergunta. — Eu gosto de você, já que você é o meu irm...
    —Não é disso que eu estou falando!—Retruquei angustiado, olhando para a água cristalina que devolvia o meu reflexo com exatidão.
    —Ah... —Falou o Uchiha mais velho, finalmente começando a me entender. —Bem, eu já gostei de uma garota sim... —Murmurou olhando para o céu azul acima de nós.
    —Sério?!—Exclamei olhando para o moreno que sorriu ao me ver espantado.
    —Sim, eu já fui uma pessoa normal, antes de tudo virar um inferno total... —Disse Itachi, ficando sério novamente.
    —E... Como ela era?—Questionei fazendo o meu irmão sorrir novamente, mas dessa vez era diferente, seus lábios formaram um desenho que eu nunca tinha visto antes, era como se ele pudesse sorrir com os seus 32 dentes, e era bom vê-lo assim, realmente feliz.
    —Seu nome era Jun, e como seu nome diz, ela foi a pessoa mais pura que já conheci! Ela era baixinha, mas isso não era realmente importante, seus cabelos eram lisos e longo da cor do sol sabe? —Perguntou apontando para a estrela acima de nós. —E mesmo sendo tímida, Jun parecia ter sua luz própria, era impossível alguém não se encantar com ela!
    —E você...
    —Se eu sentia ciúmes?—Completou Itachi me olhando enquanto eu assentia. — Claro que sim! Como eu disse era quase impossível alguém não se encantar com o jeito alegre dela e assim eu não fui o primeiro ou o ultimo a se apaixonar por Jun.
    —Você... Apaixonado?—Sussurrei sem conter a minha surpresa arrancando risos do Uchiha mais velho.
    —É maninho, isso se chama “amor”. —Disse frisando a ultima palavra que pareceu se tatuar em minha mente.
    “Amor”, uma palavra onde eu nunca encontrara um significado concreto...
    —Como você soube que você estava apaixonado por ela?
    —Hmm... —Murmurou, pousando a mão sobre o queixo, visivelmente pensando. —Bem, eu não sei!—Declarou depois de longos minutos, mas ao ver a minha expressão frustrada, o moreno logo tratou de falar: — É difícil de explicar sabe? Eu sempre achava que era alguma admiração que eu sentia por ela e tal, mas teve um dia em que quando eu a vi na Academia Ninja, ela estava diferente... Na verdade ela estava completamente igual ao dia anterior.
    Senti como se uma gota crescesse em minha cabeça e murmurei:
    —Ainda não entendi nada, Itachi...
    —Eu disse que era difícil de explicar!—Justificou. — O que eu realmente quero dizer, é que a minha visão sobre ela mudou, eu suava frio e o ar que eu respirava parecia não ser o suficiente para os meus pulmões e... Parecia que ela era a única pessoa que eu conseguia ver no mundo...
    Eu simplesmente não sabia o que dizer daquilo, eu nunca havia tido uma conversa assim com ele e... Até que não está sendo tão ruim descobrir que Itachi também tem sentimentos.
    —E hoje? Vocês ainda se vêem?—Perguntei como uma criançinha curiosa, mas me arrependi de ter perguntado ao ver uma sombra passar pela face do Uchiha mais velho.
    —Não. —respondeu sério, mas eu podia localizar um toque de tristeza em seu tom de voz. —Desde que voltei a vila, eu não a vi. A essa altura ela já deve ter arrumado um bom homem e se casado, pretendentes era o que não faltava... —Disse o moreno terminando a frase com uma risada rouca e sem humor, tentando fazer uma piada.
    —Você desistiu da Jun?—Indaguei sem conter um leve tom acusador em minha voz.
    Ele se virou para mim e para minha surpresa ele não vociferou comigo ou me bateu, Itachi deu um sorrisinho fraco em meio a expressão de derrota e respondeu em tom de voz conformado:
    —E o que eu poderia ter feito, Sasuke? Nada vai mudar o fato de que eu já fui um Nukenin, quero que ela seja feliz, só isso... Você ainda é bem jovem Sasuke , talvez até não entenda, mas aqui vai mais uma dica sobre o amor: Nem sempre acaba com “Felizes para todo o sempre”...