Be Your Boy escrita por Yusagi


Capítulo 8
O Gato Roeu a Roupa do Rei em Coma


Notas iniciais do capítulo

Feliiiiiiiz, estou feliz! As coisas vão começando a se acertar, os parágrafos estão to-tal-men-te corrigidos e apesar das inúmeras ameaças que recebi pelo coma de Shizu-chan, lhes trago um novo capítulo de BYB! ♥
Esse capítulo pode parecer um pouco confuso, não sei se consegui me expressar direito... mas, espero que gostem! E o título... não me perguntem sobre ele. LOL. Perdi a lista onde coloquei os nomes dos capítulos e tive que improvisar! xD
Boa leitura! ♥



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Duas semanas. Haviam se passado duas longas semanas desde que Shizuo fora levado para o hospital, e ele ainda não havia acordado – na verdade, não acordaria por tempo indeterminado, graças ao estado comatoso do loiro.

A notícia não havia sido fácil para ninguém – principalmente para Izaya. Ele se sentia culpado pelo ocorrido; se sentia culpado pelo coma de Shizuo, que talvez continuasse para sempre.

Mas, de certa forma, o Orihara estava feliz com aquilo – o loiro podia parecer um vegetal, mas ao menos estava vivo. Na verdade, o coma de Shizuo mais parecia uma medida de segurança de seu próprio corpo para que ele não fizesse nada estúpido enquanto se recuperava.

Porém, ainda doía ver alguém tão forte e saudável num estado tão vulnerável e fragilizado. Izaya não parava de pensar por um momento naquilo... Pensar que deveria ser ele ali naquela mesma cama; talvez dentro de um caixão.

Ainda que ele se sentisse absolutamente culpado pelo atual estado de Shizuo, o que mais se sobressaía era a vontade de vê-lo de pé novamente, atirando máquinas de refrigerante adoidado e destruindo propriedades públicas.

Queria fazer café da manhã para ele novamente, roubar flores do jardim vizinho para enfeitar a mesa, esguichar limão no olho fazendo suco para o loiro...

Ver aqueles pequenos, raros sorrisos nos lábios de Shizuo; abraçá-lo; ser abraçado por ele ao ter um pesadelo...

Discutir para decidir quem limpa a areia dos gatos...

De repente, todas aquelas coisas simples e sem importância pareciam os melhores momentos da vida de Izaya. Ele se sentia injustiçado; sentia como se tivesse sido assaltado pela vida e tido seu bem mais precioso brutalmente tirado de si.

Justo quando havia finalmente aprendido a dar valor à vida de alguém... será que o destino do Orihara era, realmente, perecer sozinho?

Suspirou.

O quarto de Shizuo era branco, branco até demais. As cortinas finas balançavam suavemente com a brisa que vinha das janelas abertas; o piso impecavelmente limpo chegava a brilhar; o pequeno armário embutido na parede, também branco, não aliviava muito os olhos de Izaya sob a luz forte do sol.

Porém, ainda havia um pouco de vida naquele quarto – a cadeira simples de madeira, cor de mogno, que ficava próxima à cama de Shizuo, contrastava com o ambiente em geral; as flores coloridas que descansavam dentro de um vaso improvisado sobre o criado-mudo ao lado da janela... e, principalmente, os cabelos dourados , reluzentes do Heiwajima.

Com seu corpo tonto e pesado, Izaya sentou-se na cadeira ao lado da cama e descansou suas costas contra ela. Abriu um pequeno sorriso enquanto olhava o loiro, que tinha os olhos fechados e expressão suave. Se Izaya não soubesse, diria que ele estava apenas dormindo. – Não vim te visitar nos últimos dias, né?

Levantou uma das mãos e tirou alguns fios dourados da testa do Heiwajima. – Me desculpa, mas os gatos dão um puta trabalho... E a sua casa não pode se cuidar sozinha, então eu vou continuar lá por um tempo... Não tem problema, tem?

Deixou sua mão cair sobre a bochecha do loiro e lhe olhou por alguns segundos, antes de levantar os braços alto no ar, num espreguiço. – E olha só! Eu voltei! - , disse com um sorriso falso. – Eu não queria voltar ao normal quando você está assim, mas você não quer acordar...

Izaya cruzou as pernas sobre a cadeira em que estava. – Hehe, na verdade aconteceu de um jeito bem legal! Eu estava dormindo hoje quando ouvi um dos gatos berrando que nem louco, e aí quando acordei vi que estava esmagando o pobre Chocora... se aconteceu alguma mágica legal pra eu voltar, eu não vi, já que estava dormindo. Mas deve ter sido bem legal!

Tentava usar sua voz mais simpática e alegre, mas estava devastado. Queria que Shizuo estivesse lá com ele quando voltasse ao normal; queria que ele lhe dissesse algumas palavras confortantes enquanto passava mal por causa da “metamorfose”... nem que fosse para o loiro dar risada enquanto Izaya colocava coisas pra fora que nem lembrava ter ingerido.

Ele ainda sentia pena daquele vaso sanitário.

Mas, na verdade, sentia mais pena de si mesmo – mal conseguia se segurar em pé; parecia que seu corpo todo conspirava contra si.

Mas aquele não era momento para se lembrar do desastre.

Shizuo continuava imóvel na cama, e Izaya o olhava com um pequeno sorriso. Por mais que estivesse sendo difícil ver o loiro daquela forma, o Orihara não podia simplesmente sentar-se ali e ficar chorando; ele podia segurar as pontas até Shizuo acordar... se é que acordaria.

O loiro havia tomado conta dele por um tempo, mas agora era a vez de Izaya retribuir o favor.

O Orihara sempre separava algum momento do seu dia, todos os dias, para ir visitá-lo. Fosse depois de limpar a casa, ou depois de algum trabalho rápido... Ele sempre estava lá. Porém, depois dessas duas semanas, esse peso havia ficado grande demais para o Orihara carregar.

Depois de observar o loiro por mais alguns segundos, sem receber resposta, Izaya quebrou. – Quando é que você vai acordar? - , disse; afundando seu rosto na palma de suas mãos.

Levantou um pouco o rosto para olhar a face calma do loiro, que pelo menos na aparência estava bem. – Ruruka-chan e Chocora-chan estão com saudades. Ficam toda hora arranhando a porta da sala e miando...

Algumas lágrimas se apossaram de seus olhos enquanto ele olhava o presente que havia dado a Shizuo, as pelúcias que representavam a família da qual eles então faziam parte e que agora jaziam sobre o criado mudo, ao lado das flores. Estava com o coração apertado; ver Shizuo tão perto mas ao mesmo tempo tão longe lhe doía mais do que ele imaginava ser humanamente possível.

- E eu também. Você pode me ouvir, né, Shizu-chan? Eu estou com saudades. - , disse enquanto apertava o tecido de suas calças; algumas lágrimas pingando no local. – Eu sinto tanto a sua falta... tanto, tanto! - , chorava.

Izaya abraçou o corpo imóvel do loiro e chorou contra seu ombro; tremendo um pouco com a força de seus soluços.

Aliviou-se um pouco com o calor suave que emanava do loiro, mas aquilo não era, nem de longe, o suficiente para que ele se sentisse bem novamente.

Ele estava falando sério quando gritou que amava Shizuo, enquanto segurava seu corpo machucado naquele galpão. Aquilo lhe pareceu estranhamente óbvio, assim como dizer que uma margarida é uma planta.

Na verdade ele mal podia acreditar que amava, de fato, alguém como pessoa e não como bonequinho de LEGO.

O Heiwajima havia lhe mostrado um outro lado da vida; um lado menos cruel... onde existia a cooperação, a amizade, o carinho... todas aquelas coisas que Izaya considerava desnecessárias eram agora uma parte ativa do ser o qual ele havia se tornado.

Shizuo havia feito com que ele se tornasse mais humano. Propenso a falhas, sim; emotivo e perturbado, com certeza; inconseqüente, definitivamente...

Mas, mais que tudo, Izaya se sentia feliz, completo. Talvez um pouco abalado por causa do coma, mas a pequena chama de esperança em seu coração era constante.

Afastou-se do corpo imóvel de Shizuo apenas alguns centímetros, observando a face pálida do companheiro através de olhos borrados por lágrimas. Fechou-os então e tocou os lábios do Heiwajima com os seus, da forma mais doce que podia. – Se você não acordar logo eu vou te afogar com as minhas lágrimas. - , brincou, sua testa tocando a do outro.

Levantou-se finalmente, e secou seus olhos. – Eu tenho que ir agora... sabe como é a vida de uma dona de casa, né? - , disse com um sorriso que era, finalmente, verdadeiro.

Sem olhar para trás, saiu do hospital.

-

Shizuo não conseguia enxergar nada. Estava tudo gelado e escuro, e nenhum de seus músculos se movia. Ele quase podia sentir a solidão, talvez cortá-la com uma faca, de tão densa que era.

Apesar de sua visão limitada, ele sabia que ali não havia nada. Era como se ele estivesse trancado e profundamente dopado no meio de um abismo. Nem mesmo seus pensamentos fluíam corretamente.

Ele já vinha se sentindo assim há algum tempo. Se eram horas, dias ou meses ele não sabia, mas imaginava que uma boa quantia de tempo havia passado desde que aquilo começou. De vez em quando ele sentia algum músculo pulsar, mas nunca podia movê-lo.

Outras vezes, via algumas pequenas luzes frias, mas logo elas sumiam e não restava nem a escuridão, apenas uma sensação estranha onde seu corpo todo ficava ainda mais insensível e gelado.

Havia apenas algumas vezes aonde escuridão e frieza iam embora – onde ele parecia estar sendo envolto por um calor delicioso; ele podia sentir dedos suaves afagando seus cabelos; sentia-os acariciando suas bochechas e vez ou outra dando-lhe um beijo doce nos lábios.

De vez em quando, durante esses momentos, ele sentia um líquido quente escorrendo por seu rosto, mas dificilmente era algo que ele mesmo havia produzido – era quase como se alguém estivesse chorando acima dele. Ele quase podia sentir uma enorme tristeza escorrendo junto a essas lágrimas.

Mesmo depois que essa presença ia embora o calor continuava por algum tempo e ele sentia que, se esforçasse o suficiente, algum de seus músculos se moveria, mas quando ele se esvaía e o frio voltava, Shizuo se perguntava vagamente se estava vivo ou morto.

Porém, esse calor passou algum tempo sem voltar. Shizuo imaginava se ele voltaria a aparecer junto com aquela presença tão calmante, mas não obtinha resposta.

Quando o calor finalmente voltou, parecia um tanto apagado, como se tivesse desistindo de qualquer que fosse seu objetivo.

Dessa vez, tudo parecia mais claro. Shizuo podia ouvir algo sobre Ruruka e Chocora; podia ouvir quem quer que fosse chorando baixinho, quebradiço, doído...

Ele conhecia aquela voz... conhecia aquele choro, aquele calor, aquelas mãos...

Shizuo tentou se agarrar àquela pessoa o mais forte que podia; sentia cada centímetro de seu corpo queimando enquanto tentava mover-se; tentava gritar, tentava ser notado, mas nada funcionava.

“– Se você não acordar logo eu vou te afogar com as minhas lágrimas.” - , ouviu aquele que com certeza era Izaya falando.

Então esse tempo todo ele estava dormindo? Preso num sono sem sonhos? A última coisa que ele se lembrava antes desse sono era dor, muita dor; tanta que após algum tempo ele mal podia sentir os membros de seu corpo.

Isso fazia ele pensar que estava morto, mas se podia ouvir Izaya então... ou os dois haviam morrido, ou Shizuo estava de fato dormindo.

Preferiu a segunda opção.

Puxou o ar à sua volta e conseguiu pela primeira vez em muito tempo sentir um aroma suave, de flores. Conseguiu mover um de seus dedos, depois mais um, e depois outro... e finalmente abriu seus olhos, tão devagar que parecia estar em câmera lenta.

Piscou algumas vezes enquanto suas pupilas ajustavam a quantidade de luz que seus olhos recebiam, e olhou ao seu redor ainda zonzo; mas Izaya não estava lá.

Ele continuava procurando pelo lugar todo; ouvia pessoas vestidas de branco e verde falando com ele, mas não conseguia diferenciar uma palavra da outra; também não sabia distinguir seus rostos.

Porém, ele pôde ouvir uma daquelas pessoas, possivelmente um médico, dizer o nome de Izaya.

-

O Orihara podia sentir o peso do trabalho de casa em seus ombros, e mal havia saído do hospital. Ao chegar em casa – na casa de Shizuo – teria que lavar o banheiro, trocar a areia dos gatos, alimentá-los, varrer o pequeno quintal... ele realmente não estava com humor para isso.

Deu mais alguns passos pelo estacionamento do hospital quando ouviu uma voz fina chamando-o; olhando para trás viu uma das enfermeiras de Shizuo correndo loucamente até ele. – Orihara-san, Orihara-san! - , a mulher gritava. – Heiwajima-san acabou de acordar!

O peito de Izaya se esquentou naquele momento; pura adrenalina tomou conta de seu corpo e ele correu como nunca antes até chegar ao quarto de Shizuo. Ao ver o loiro com os olhos realmente abertos, soltou um suspiro tão pesado que ele até parecia mais leve depois dele.

Foi rápido até a cama e abraçou Shizuo com força, chorando em seu ombro. O loiro soltou um pequeno sorriso e laçou Izaya com seus braços, ainda fracos. – Vai me afogar mesmo, hein.

Sua voz era ríspida e quebradiça com a falta de uso, mas definitivamente forte. Izaya riu um pouco em seu ombro e resistiu a vontade de beijá-lo. – Shizu-chan, seu desgraçado, se me assustar assim de novo eu juro que vou até o inferno só pra te espetar com o tridente do capeta. - , disse Izaya com um leve tom cômico, apesar de estar falando sério.

Shizuo sorriu – ele seria espetado com o que quer que fosse, desde que pudesse continuar junto com Izaya.


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Notas finais do capítulo

E entãaaaao, a pequena Yu merece biscoito? ♥
Esse capítulo foi tão difícil de escrever ;-; Estou sarando do meu mais novo bloqueio, fiquei sem atualizar por umas duas semanas, né? Espero que esse cap tenha compensado xD
Er, outra coisa é que eu não faço ideia de como seja estar em coma, mas imagino que seja mais ou menos como o que eu descrevi... um sono sem sonhos ;3 Eu devia pesquisar essas coisas antes de escrever, mas sou preguiçosa demais >
Bom, aí se vai mais um capítulo, e estamos indo pra reta final da fic! *O* 8/10 capítulos prontos!
Críticas são apreciadas! Obrigada pela sua leitura! ♥
Ps.: Não sei se a palavra "COMATOSO" existe de fato; apesar de o M. Word não ter me corrigido, eu usei isso porque no inglês existe o termo "comatose", quando a pessoa está em coma. Me desculpem se rolou embromation! Hehe.