Ainda escrita por Nara


Capítulo 6
Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Oi moçada.
Bem, eu realmente espero que voces gostem do capítulo, porque eu acho que é a única coisa legal que eu estou fazendo hoje. Meu dia foi péssimo, me perdoem qualquer erro de digitação.
Sinto por ter feito vocês esperarem, notinhas lá em baixo.



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Quinto Capítulo

Como era de costume em Forks, uma chuva fina caía do lado de fora da grande mansão. Esme, Alice e Rosalie estavam sentadas no sofá da sala e o único som que se podia ouvir era o das gotas batendo no telhado e na relva.

– Vocês acham que eles vão demorar muito para voltar? – quebrando o silêncio, Rose indagou preocupada com os homens.

Alice tentou se forcar no futuro dos três, no entanto não conseguiu visualizar algo concreto. – Não sei, eles não devem ter decidido algo ainda. – informou.

– Ora, mas o que há para decidir? – Esme comentou aflita, jogando os braços para o ar.

Passados alguns instantes, ouviram um barulho de passos há uns bons metros dali. Confusas, elas apenas aguardaram que eles se aproximassem. Podiam sentir o cheiro do patriarca e dos dois rapazes, juntamente com um cheiro desconhecido, mas não tão desconhecido assim: era o mesmo cheiro que eles haviam sentido mais cedo.

Levantaram-se e pela porta passou Jasper, Emmett e Carlisle, sendo seguido por uma figura pequena e frágil. A moça tinha a pele tão branca quanto qualquer vampiro, os cabelos ruivos, a boca vermelha e grandes olhos da mesma cor.

– Esme, Rose e Alice, essa é Isabella. Nós a encontramos próximo à fronteira, ela gostaria de conhecer a todos. – ele informou, indicando a mulher em seus calcanhares.

– Olá! – ela saudou com uma voz doce e musical, demonstrando ter vindo diretamente da Inglaterra.

– Olá Isabella, é um prazer. – Esme foi educada, porém um pouco relutante.

– Olá! – Rose e Alice cumprimentaram também.

– E então Isabella, fique à vontade. Fale-nos mais sobre você. – Carlisle pediu, apontando para um dos sofás.

Ela se sentou de pernas cruzadas, pensando um pouco no que poderia dizer.

– Bem, eu venho da Inglaterra, estou apenas de passagem por aqui. Gostaria de... Mudar-me, eu vivi na mesma casa durante muitos anos.

– E pretende morar aqui? – Esme indagou.

– Bem, eu não sei ainda. Existem muitos outros locais que eu possa avaliar.

– E esse é o primeiro que você avalia? – ela insistiu.

– É, na verdade sim.

– E quais motivos te trouxeram até aqui?

Isabella pensou em uma forma de responder as perguntas de Esme de uma forma objetiva e clara, de modo que ela não as fizesse mais.

– Eu já morei aqui nos Estados Unidos antes, isso influenciou no motivo de minha visita. Eu iria ao meu estado de origem, mas como vocês devem imaginar as condições climáticas dessa cidade são muito mais adequadas.

– Entendo.

– Você nunca esteve por aqui mesmo? – Emmett, que estivera quieto até então, soltou.

– Bem, não no ultimo século. – respondeu sorrindo.

– E no Alasca? – indagou novamente.

– Não. Eu não saí da Inglaterra. – foi ainda mais clara.

Isso pôs Emmett a pensar, fazendo com que ninguém entendesse o motivo de suas perguntas.

– Então Isabella, já que ainda não decidiu para onde ir, por que não fica conosco durante algumas noites? Nós não costumamos receber muitas visitas. – Carlisle ofereceu de bom grado.

– Isso seria ótimo, mas eu não quero incomodar. Além do mais, tenho que continuar a procura de uma casa para mim, não sei viver como nômade.

– Nós poderíamos ajudar. Nós temos alguns amigos no Alasca e já passamos por outros locais, podemos te indicar algumas cidades. – Jasper propôs à desconhecida.

– Eu ficaria muito grata. – agradeceu.

– Queira me acompanhar. – ele indicou se levantando do sofá em indo em direção à escadaria. Alice, como sua esposa o acompanhou.

Na sala, ficaram Rosalie com seu marido e o outro casal, Carlisle e Esme.

– Por que todas aquelas perguntas à pobre moça, Esme? – Carlisle perguntou à esposa.

– Eu não sei, aquela garota tem algo de diferente. Você não acha? – ela respondeu em um tom tão baixo que somente os três, que estavam próximos a ela podiam ouvir. O mesmo tom que Carlisle havia lhe feito a pergunta anteriormente.

– Eu não sei, mas também ha algo nela que me chamou a atenção. – Emmett comentou. Rosalie colocou a mão na perna do marido, pressionando com força.

– Não foi isso que eu quis dizer Rose. – se defendeu.

– Poderia então se explicar melhor.

– Certo. É que eu tenho a impressão de que eu já a vi em algum lugar.

– E isso seria possível? Você ouviu o que ela falou? Ela disse que não saiu da Inglaterra no ultimo século, ou seja, ela tem mais de cem anos. Você tem bem menos que isso, Emm, e só morou no Alasca e aqui. – Rosalie concluiu.

– Eu sei, por isso mesmo eu perguntei. Mas eu juro que já a vi em algum lugar. – afirmou novamente. – Mas eu não consigo me lembrar de onde foi. Acha que ela pode estar mentindo a respeito da historia de não ter saído da Inglaterra para nada?

– Ela não disse que não saiu para nada. O mundo é grande Emmett, quem sabe você não a viu até mesmo em sua vida humana. Ou então você pode ter visto alguém parecido com ela, você sabe que com a transformação nossa memória se torna turva. – Carlisle explicou.

– Eu não sei, essa garota é uma desconhecida. Talvez você tenha se precipitado em tê-la trazido para cá, e ainda mais em convidá-la para ficar! – Esme ralhou com seu marido, arrastando-o pelo braço até um canto mais afastado do cômodo, próximo à saída.

– Qual o problema Esme? Desde que nós nos mudamos para cá, há quase cinco anos, nunca recebemos nenhuma visita. Ela só está um pouco perdida, que mal há nisso? Além do mais, nós somos uma família e ela é apenas uma garota, concorda? – ergueu uma sobrancelha.

– É talvez você esteja certo. Mas eu ainda penso que nós devemos prestar bastante atenção nela. – Esme insistiu.

Os três subiram escada à cima, com direção ao escritório comunal. Do outro lado da porta, a sala tinha paredes pálidas, e assim era todo o esquema de cores do ambiente. Nas paredes havia grandes quadros em molduras de ouro, que encantaram Isabella.

– Vocês têm uma bela casa. – comentou. – Moram aqui há muito tempo?

Foi a vez de Alice responder. – Estamos nessa cidade há quase cinco anos. Nós costumamos nos mudar bastante para que assim possamos transitar pela cidade sem que ninguém perceba. – explicou. – Como conseguiu jazer a mesma casa sem que ninguém notasse algo de diferente? – questionou curiosa.

– Bem, eu não costumo ser muito notada.

– O que quer dizer com isso? – Jasper perguntou, abrindo uma gaveta e tirando algumas fotos de dentro de uma caixa preta de madeira.

– Digamos que eu faleci em 1918, e meu fantasma foi visto apenas poucas vezes de lá para cá. – riu-se – Minha casa fica em uma área morta, somente algumas crianças resolvem se aventurar por lá. Em alguns desses casos eu acabei sendo flagrada assombrando o local.

– Oh, com certeza essa vida é bem mais emocionante. – Jasper interpretou. – Bem, aqui estão as fotos dos locais. – Isabella se aproximou, pedindo licença e se sentando na cadeira em frente à mesa.

– Essas? – perguntou.

– Não, essas são algumas fotos nossas. – ele pegou dela. Ela teve apenas a oportunidade de ver, de relance, um homem ruivo, abaixado, em meio à neve.

Pegou então as tais fotos. Realmente os locais eram muito belos, sempre com neve ou com tempo chuvoso. Ela poderia experimentar uma nova vida, uma como a dos Cullen, sem ter que ser vista como um fantasma. Quem sabe ela pudesse transitar pelas ruas de vez em quando e não pelo mato como de costume. Quem sabe ela pudesse voltar a frequentar os teatros que ela amava e ver as atrizes em cena, como ela gostaria.

Em cima da mesa, algo chamou a atenção de Isabella. Havia uma folha de papel e um grafite.

– De quem é? – ela perguntou comovida.

– Isso? É do meu irmão. – Alice informou. – Ele gosta de desenhar.

– Algum problema? – Jasper inquiriu preocupado com a estranha reação da desconhecida.

– Não. – ela balançou a cabeça freneticamente em negativa. – É só que isso fez lembrar-me de algumas coisas... – explicou-se. Então veio a sua memória as lembranças de noventa e cinco anos atrás.

Eu não sabia ao certo que hora o relógio marcava, mas ainda não era de manhã. Meus olhos estavam pesados e eu me sentia muito indisposta.

Lembrei-me então de horas atrás, do corpo de Edward sobre o meu, me lembrei do prazer e corei instantaneamente. Busquei nos lençóis algum vestígio da presença do Masen, mas a única coisa que lhe pertencia era um forte cheiro masculino. Silêncio. Nada se ouvia.

Abri os olhos e me deparei com ele sentado em um banco, um pouco distante da cama, vestindo apenas uma calça clara. Achei tudo muito estranho. Em seu colo havia um portfólio e em sua mão direita um grafite, com o qual ele riscava freneticamente uma folha de papel.

Pensei se seria conveniente falar com ele, ainda me sentia muito envergonhada pela intimidade que tivemos. Rapidamente, cobri meu colo com o lençol branco.

– Não, não se mexa. – ele pediu. Automaticamente me fiz de estátua. – Coloque o lençol onde estava e feche os olhos, como se estivesse dormindo.

Minhas bochechas coraram e não tive coragem de fazer o que ele havia me pedido.

– Não tenha vergonha, apenas finja que está dormindo. E coloque o lençol onde estava! – riu de mim.

Com muito custo, fechei os olhos como ele havia pedido, mas também para não ter que encará-lo, e descobri meu colo, tentando colocar o lençol em sua posição inicial.

Passaram-se alguns minutos, qualquer um diria que eu havia voltado a dormir, e eu realmente estava considerando essa possibilidade, quando ele falou novamente.

– Ainda está acordada? – questionou. Senti sua presença próxima a mim. Balancei minha cabeça para cima e para baixo, ainda sem abrir os olhos. – E você não quer ver o que eu estava fazendo? – perguntou novamente.

Abri um olho e encarei uma imensidão verde voltada para mim. Ele sorria, tinha nas mãos ainda a pasta de coro. Endireitei-me na cama e dessa vez nada me impediu de cobrir meu corpo.

– Tome, veja você. – ele me passou o portfólio. Eu relutei em pegar e ainda mais em abrir. Depois de vacilar por algum tempo, abri e peguei entre meus dedos uma folha grossa de papel. Nela havia um desenho feito a grafite, o mesmo que se encontrava nas mãos de Edward.

Era o desenho de uma mulher, deitada em meio aos lençóis, com uma perna de fora, assim como os braços e os seios quase aparecendo. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro e sua boca estava levemente aberta, diferentemente de seus olhos que estavam bem fechados. Aquela mulher era eu.

– Nossa! – exclamei ao notar a perfeição da obra. Definitivamente era aquilo que eu via quando me olhava no espelho. Edward soube passar minha imagem para o papel assim como os artistas, porém sem precisar de qualquer rebuscamento. Ele precisou apenas de uma folha e um grafite.

– Você gostou? – ele perguntou com os olhos brilhando, porém um pouco relutante.

– Eu adorei Edward. É perfeito! - ele sorriu satisfeito. – Você nunca me disse que desenhava, e que desenhava bem.

– Bem, nós não tivemos muito tempo para conversar, tivemos?

Eu encarei o chão. Realmente, apesar de eu reclamar por não conhecer o homem com o qual passei a noite, sequer me importei em perguntar coisas como essas para ele.

– Agora eu acho que você deveria voltar a dormir, ainda é de madrugada. – ele recomendou, eu dei de ombros.

– Não sei se vou conseguir dormir, não estou acostumada com essa cama. – comentei.

– Quer que eu te ajude? – ofereceu. Eu não sabia do que se tratava essa tal ajuda, então preferi permanecer em silêncio. – Na primeira vez que você se deitou nessa cama estava junto comigo, então talvez se eu estiver junto com você agora se sinta mais confortável.

– Não, tudo bem. – relutei, porém ele insistiu e se enfiou debaixo dos lençóis comigo.

Não me sentia a vontade, já que estava despida. No entanto, seria difícil me desvencilhar, aquela cama também pertencia a ele. Agradeci por, ao menos, ele só estar despido da cintura para cima. Deixei um espaço entre nós na cama, o que não valeu muito, logo ele estava agarrado a mim, me prendendo pela cintura. Eu me mexia nervosamente, na esperança de afastá-lo, mas de nada adiantava.

– Estou sentindo desprezo de sua parte. – disse amargurado.

– Pode me abraçar se quiser. – cedi com indiferença. Ouvi-o bufar atrás de mim.

Eu estava deitada de costas para ele e ele me abraçava por trás. Fiquei encarando a parede pelo que pareceram horas até que finalmente caí no sono, sentindo beijos molhados em minha nuca.

Quando despertei novamente podia sentir os primeiros raios de sol passando pela janela e tocando minha pele. Já não sentia a presença do jovem Edward em minha retaguarda e para ser sincera a cama me parecia um pouco grande demais.

Perguntei-me se teria ele saído para realizar suas tarefas ou se ele havia se incomodado com minhas reações gélidas. Enrolada nos lençóis brancos - agora manchados – me arrastei até o baú próximo da cama e tomei posse de um robe. Cobri meu corpo e caminhei com passos silenciosos para fora do quarto. Olhava para um lado e para outro, com medo de me aventurar pela casa, talvez meu marido até ficasse bravo por me ver longe do quarto. Com a mesma coragem de uma gatinha, me lembrei do caminho que ele havia me mostrado na noite anterior, sempre me certificando de que poderia voltar para a cama a qualquer momento.

Cheguei até o topo da escadaria e já podia visualizar o salão dos quadros, mas não consegui localizar o Masen. Desci os degraus, andei pelo salão até alcançar a sala de estar. Sentado no sofá branco, trajando uma camisa da mesma cor e calças pretas com suspensório, estava o meu marido tragando um cigarro. Dei-me conta de que desde que nos casamos e passou a maior parte do tempo o tabaco entre os dedos.

– Bom dia. – ele me desejou assim que notou minha presença na soleira, mas, ao contrario de sempre, ele não parecia tão animado em me cumprimentar.

– Olá. – respondi acanhada. Ele respirou fundo, amassando o cigarro no cinzeiro e logo em seguida deu batidinhas no espaço ao seu lado, sem dizer nenhuma palavra.

Caminhei até lá e me sentei ao seu lado, desconfortável pela forma como estava vestida.

– Pensei que você fosse dormir mais. – ele comentou olhando para o tampo da mesa.

– Você saiu. – respondi me arrependendo logo.

– Sentiu minha falta? Realmente? – ele ergueu a sobrancelha para mim.

Eu limpei minha garganta. – Bem, eu não estou acostumada em dormir em uma cama tão grande...

– Ah, claro. Motivos óbvios. – revirou os olhos e não me encarou novamente. Perguntei-me se seu humor costumava variar, na noite anterior ele esteve muito falante, ao contrário de agora.

– Algum problema?

– Não, nenhum problema. – ele me pareceu sarcástico. – É só que eu deveria saber que você não se incomodou realmente com a minha ausência.

– Eu não entendo. – confessei unindo minhas sobrancelhas.

– Não há o que entender. Você simplesmente não se importa, não interessa o que eu diga, ou o que eu faça. Ou o que nós façamos. – foi sugestivo, eu corei.

– Você não está sendo claro, e ainda está sendo inconveniente.

Ouvi-o bufar, mas não o encarei. – Está bem. – ele disse em seguida. – Você pode continuar com o seu humor... – plantou um beijo rápido em minha bochecha.

A princípio não me incomodou, mas então seus beijos foram descendo até meu pescoço e eu já podia sentir o gosto do desejo crescente. Sua boca fez o caminho inverso, quando já estava farta do meu pescoço, e alcançou meus lábios. Eu fiquei estupefata e não tive reação.

Abruptamente, ele parou o que estava fazendo e se afastou de mim. De olhos fechados, apertou com a ponta dos dedos seu osso nasal.

– Edward? – perguntei após me recompor.

– Bella. – segurou meu rosto com as duas mãos fazendo com que eu tomasse um grande susto e de forma selvagem me beijou novamente.

Como da outra vez não tive reação alguma, fazendo com que ele se afastasse de mim mais uma vez.

– Me desculpe. – tomei menção de pedir, percebendo que aquilo havia sido terrível. – Eu não queria te deixar chateado.

– Eu pensei que hoje seria mais fácil, mais fácil do que ontem. – comentou pegando outro cigarro da caixinha de ferro que pousava em cima da mesa.

– O que você espera de mim? – argui irritada com seu comportamento.

– Você prometeu tentar. – ele apontou.

– Eu estou fazendo isso a cada segundo. Eu estou aqui, não estou?

– Eu só gostaria que você agisse como minha mulher um pouco, gostaria que você cedesse como cedeu na noite passada. – se aproximou novamente de mim, vindo por cima. Automaticamente eu fiquei em uma posição meio deitada no sofá, ele se aproveitou disso e passou a me cheirar, a encostar seu nariz no meu, enquanto me olhava nos olhos.

– Foi por isso que você se casou comigo, para ter alguém que lhe faça companhia na cama. – cuspi a verdade em sua cara.

– É essa a imagem que você tem de mim? – perguntou com os olhos queimando.

– É essa a imagem que você está transmitindo. – não me alterei ao responder.

– Então suba, e se vista. Quem sabe quando voltar nós possamos conversar sem que você se sinta como uma caça.

Suas palavras foram duras e eu notei a diferença. No entanto aquilo não soou como inesperado para mim. Abraçando meu próprio colo, corri para cima, deixando-o fumar seu cigarro sozinho.

Escadas a cima, bati a porta atrás de mim, desejando estar em uma casa apenas minha, um lugar no qual eu pudesse ser feliz sem precisar de molduras de ouro.

Ouvi um bater na porta, já haviam se passado vários minutos. Eu estava indisposta, jogada na cama, quando ele entrou no recinto. Sequer o encarei, mas senti a cama afundando do meu lado.

– Bella? Eu trouxe o seu café, você não comeu nada ainda, deve estar com fome. – eu encarei-o incrédula, me erguendo de qualquer maneira. – Vejo que você não fez o que eu disse.

– Você disse que não mandava em mim. – apontei.

– É verdade, eu não mando. – concordou com um sorriso. – Inclusive, eu queria te pedir desculpas por ter feito isso. Parte do meu discurso de ontem se esvaiu com as minhas palavras de agora há pouco.

Senti-me um pouco surpresa com seu pedido, mas balancei a cabeça para um lado e outros acreditando que ele era maluco.

– Não precisava. – agradeci. Ele colocou a bandeja perto de mim. Ela estava muito bem organizada, tinha suco e frutas, inclusive a minha predileta. Peguei uma uva e coloquei em minha boca.

– Vai passar o dia inteiro na cama? – ele questionou com a careta descontraída.

– O que você faz? – perguntei em contrapartida.

– Do que você se refere?

– Eu quero dizer... – fiz uma pausa. – No que você trabalha?

Ele começou a rir de mim. – Você não sabe? – estreitou os olhos. – Eu sou médico, como o meu pai. – respondeu-me.

– Eu pensei que você fosse advogado... – corei um pouco. – Ou médico. – completei.

Ele riu um pouco e me passou mais algumas uvas. – Faça mais perguntas! – encorajou. Pensei no que poderia perguntar.

– Desde quando você desenha? – apostei em algo que já tivesse algum conhecimento sobre, para não parecer uma completa idiota.

– Desde pequeno. – respondeu simplesmente.

– Hm, isso já faz tempo. – comentei. – Nunca pensou em trabalhar com arte? – indaguei realmente interessada.

– Algumas vezes. – ele me pareceu vago em sua resposta.

– Foi você quem escolheu os quadros? – falei de boca cheia.

– Que quadros? – franziu a testa.

– Os quadros do salão. Você disse que tinha comprado no centro de um homem, foi você mesmo que os escolheu, não é?

– Hm... Foi sim. Mas e quanto a você, nunca soube que apreciava as artes. – mudou de assunto. Perguntei-me se ele não gostava de falar sobre isso. Ele tinha um dom, qual o problema em conversar a respeito?

– Eu nunca pude apreciar de maneira profunda, mas eu adorava olhar os desenhos nos vitrais da capela, ou as ilustrações dos livros que nós líamos. Eu sempre me encanto quando vejo O Juízo Final de...

– Michelangelo. – ele completou.

– Isso mesmo, não é lindo?!

– É incrível. – ele disse com os olhos brilhando. – É inacreditável. – exclamou mais uma vez, encarando-me, me estudando. – Eu tenho me perguntado como pode existir uma pessoa tão revoltada, porém tão pura bem como você.

Eu corei violentamente. – Você pensa isso de mim? – indaguei olhando para baixo

– A forma como você foi criada lhe fez bem. A religião, a clareza. E a sua forma de pensar é o complemento. Se um dia pudessem representar isso em uma pintura...

– Você é uma pessoa complexa, eu nunca entendo o que você diz. – revelei um tanto incomodada com suas palavras.

– O que faz com que você me enxergue assim? – inquiriu curioso.

– Por que usar palavras tão belas quando as atitudes são tão questionáveis?

– O que tenho feito de questionável até agora? – ele estava realmente confuso. Isso me deixou um tanto quanto irritada com ele. Será que esse homem que me falava realmente não tinha consciência do que fazia comigo? Será que poderia achar ele que suas atitudes eram comuns?

– Ora, o que não é questionável aqui? Nós dois morando sob o mesmo teto, agindo como se fossemos algo que não somos. – ergui os braços.

– O que? – ele não levantou a voz, apenas uniu as sobrancelhas grossas e estreitou seus olhos. – O que nós não somos? – perguntou novamente.

– Um casal. – respondi.

– Nós somos um casal. – ele discordou, revirando os olhos.

– Não! – eu revidei contrariada. - Todos querem que nós sejamos um casal, mas não foi esse o combinado.

–Combinado? Que se dane o combinado. Nós nos casamos, nós estamos aqui e sua tenacidade não vai ajudar. – tomou uma uva do cacho e enfiou em sua boca, despreocupadamente.

– Me desculpe se é errado ir contra algo que eu não quero. – fui sarcástica, mas nem isso fez com que ele mudasse seu olhar, sua expressão.

– O que você não quer? – continuou comendo as uvas.

– Não quero estar aqui, não quero estar assim. – apontei para nós.

– Tem certeza que você não quer isso? Tem certeza que sua primeira impressão foi mesmo tão ruim? – ele me encarava, olhando em meus olhos.

– Já passamos da fase de primeiras impressões. – rebati nervosa.

– Concordo. Estamos na fase de decisões. – ele me informou, deixando-me confusa. Eu não gostava de meias palavras, mas quando se tratava de Edward isso era ainda mais insuportável. Ele tinha uma forma de falar, uma linha de pensamento que eu não conseguia e nem conseguiria seguir nunca.

– O que quer dizer com isso?

– Eu quero dizer que você pode sair por aquela porta agora, se quiser, eu assino sua alforria. – anunciou me assustando. Ele não havia se esquecido do que havia me dito, afinal. Mas por que dizer isso agora, quando eu pensei que ele fosse insistir nisso por mais tempo? - Mas você também pode ficar. – completou, me fazendo cerrar os olhos.

– Ficar e ser uma prisioneira? – indaguei inclinando minha cabeça.

– Ficar e ser minha mulher. – ele me respondeu.


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Notas finais do capítulo

O Juízo Final: http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2012/05/juizo-final.jpg
E aí, o que voces acharam? Eu fico feliz que voces tenham me cobrado, é isso que eu quero, quero q vcs participem.
Mandem comentários, eu vou tentar não fazer voces esperarem.
Beijos e até mais. Nara.