Ainda escrita por Nara


Capítulo 17
Décimo Quinto Capítulo




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Décimo Quinto Capítulo

Edward e Isabella permaneciam sentados na pedra próxima ao rio. Ela estava tentando absorver tudo o que ele havia dito a respeito dos dons da família Cullen.

— Não acho que eu seja tão poderosa assim… - ela divagou. - Se fosse como me diz, eu poderia ter mudado muitas coisas que aconteceram na minha vida. - ele disse entristecida.

Edward pensou nas palavras de sua esposa.

— Você poderia me contar pelo que passou… - ele propôs.

— Eu já te contei. Você sabe o que eu passei. - ele respondeu, tentando se esquivar das perguntas.

Ele sorriu um pouco.

— Mas eu quero saber mais. Quero saber exatamente tudo o que te aconteceu. Se passaram tantos anos, Bella. Mais de 90! - ele exclamou

Ela apenas abaixou o olhar, não sabia se queria lembrar de toda aquela confusão.

— Não sei se quero lembrar de tudo isso… - ela foi sincera. - Muita coisa aconteceu. Muita coisa que eu nem entendo.

O homem respirou fundo e balançou a cabeça. - Sim, não foi um tempo fácil. Para nenhum de nós.

— Você também passou por momentos difíceis? - ela questionou. Edward riu, sem graça.

— Se eu passei por momentos difíceis? Isabella, cada momento era uma martírio para mim. Sabe, naquela manhã em que nós discutimos, na manhã em que você decidiu partir, eu fui até o hospital. Eu não estava me sentindo bem no dia anterior e pedi que Carlisle me fizesse exames…

Isabella prestou muita atenção na fala dele. Ele estava perdido em pensamentos enquanto lhe contava.

— Quando eu cheguei no hospital tive a notícia de que estava doente também, como a maioria das pessoas. Eu havia contraído gripe espanhola. Quando soube do meu diagnóstico entrei em desespero. Saí correndo do hospital e voltei para casa, na esperança de te encontrar, mas você não estava mais lá. - ele lembrou com tristeza em sua voz. Isabella sentiu uma pontada em seu coração que há muito não batia.

— Eu te procurei por todos os cantos daquela casa, tendo esperança de te encontrar em algum lugar. Só então eu me dei conta de que você havia mesmo partido. Eu me desesperei tanto. Estava acostumado a ver os doentes no hospital, sabia que não tinha muito tempo restante de vida e que não estaria mais vivo quando você regressasse.

Fiquei com tanto medo também que algo te acontecesse na viagem e que impedisse o seu regresso. Só me lembro de estar tão fraco e tão triste, até que eu apaguei. De repente uma dor me assolou. Não era nenhuma dor que eu já tivesse sentido, era uma queimação tão forte que parecia que haviam me ateado fogo. Eu me debati e gritei por muito tempo. Três dias para ser exato. Claro, naquele momento eu não tinha noção dos dias. Achei que eu estivesse morrendo e que aquela dor fosse para me fazer pagar pelos meus pecados.

Até que eu acordei. Acordei na nossa casa, na nossa cama, mas não te vi ao meu lado. Tudo estava diferente, até mesmo a cor das paredes. Tudo era mais vívido, mais nítido, mas ao mesmo tempo eu me sentia tão estranho que parecia que nada daquilo era real. Como se eu estivesse vivendo em um sonho, mas que não podia acordar. - Isabella ouviu Edward contar suas lembranças, compreendendo cada sentimento.

— Então Carlisle estava ao meu lado. Eu achei que tivesse morrido e ele também e que tínhamos nos encontrado em outro mundo. - ele riu. - Então Carlisle começou a me explicar tudo o que havia acontecido, no que ele havia me transformado e o porquê de ele ter feito o que fez. - ele continuou divagando, olhando para o horizonte.

— Carlisle sempre foi um bom amigo. Ele sempre me ouviu e me compreendeu. Ele então me explicou que havia me transformado no que eu sou hoje, um imortal, para que eu tivesse mais uma chance. Uma chance de me encontrar com você e acertar as coisas, te ver mais uma vez. Mas você havia partido… - a mulher ouvia tudo atentamente.

— Ele foi ao seu encontro na Inglaterra. Ele então teve a notícia de que tanto você quanto os seus pais haviam morrido. Chegou a encontrar a casa de vocês, mas ela estava vazia. Nossa! Quando ele voltou… - Edward se recordou. - Ele estava totalmente desolado, não sabia como me explicar. Quando ele finalmente disse o que havia acontecido eu perdi a minha cabeça. Foi um momento muito difícil. Eu não queria olhar para ninguém, falar com ninguém. Eu achei que aquilo só poderia ser um pesadelo. Por mais pecados que eu tivesse, por mais que eu tivesse errado durante toda a minha vida, era castigo demais estar vivo enquanto eu não tinha mais meus pais, meus conhecidos… não tinha mais você. Não havia mais motivos para que eu continuasse vivo. Mas eu não conseguia morrer. - ele disse com um tom muito sombrio. Isabella estremeceu.

— Você tentou morrer? - ela indagou assustada.

— Claro! Diversas vezes. Mas nenhuma bem sucedida. E você? Teve sucesso em alguma de suas tentativas? - ele ergueu uma sobrancelha. Ela assustou-se com a sua pergunta, ficando desconcertada.

— Como você sabe que eu tentei? - ele questionou envergonhada.

— Bom, você não me parece muito de bem com a vida. - ele respondeu brincalhão.

Isabella respirou fundo. Edward a conhecia muito bem, apesar do pouco tempo que eles viveram juntos. Ele deveria mesmo saber ler mentes. Ela se conformou que não conseguiria escapar das perguntas do marido. Além disso, ele havia falado tanto sobre seus sentimentos, ela estava tocada. Poucas vezes ele havia falado de seus sentimentos tão abertamente.

— Após o velório de meus pais eu comecei a me sentir muito mal. Caí de cama, mal consigo me lembrar desse momento. Já não havia mais ninguém na casa, meus pais tinham falecido e a governanta também. Havia apenas um funcionário, ele estava lá todo o tempo. Minha memória fica muito turva quando chega essa parte, eu só me lembro de pequenos trechos, acho que eu já havia sido tomada pela doença, estava em meu leito de morte.

Eu passei pela mesma agonia que você, pela mesma queimação. Também achei que estivesse morta, mas eu acordei, depois de muita dor. Já não havia mais ninguém, nem aquele empregado que me ajudou enquanto eu definhava. Quando eu acordei, olhei pros lados, estava totalmente sozinha. Fiquei dias e noites simplesmente encarando o nada, sem saber se aquilo era realidade ou um sonho. Tinha esperanças de que enfim alguém aparecesse e me encontrasse, mas esse momento nunca chegou.

Quando me olhei no espelho não me reconheci. Não poderia ser eu. Tinha os olhos vermelhos, como um monstro… - ela contou tristemente. Edward passou a mão por seus ombros, tentando confortá-la.

— Eu saí daquela casa, lembro que vaguei sozinha por muitos dias, nem me lembro ao certo quantos. Até que eu cheguei ao mar. Havia um grande pedra em que eu subi e me permiti apenas ficar olhando para o horizonte. Eu me pus a pensar, pensei por muito tempo. Minhas memórias estavam turvas, mesmo as mais recentes. Não sabia se realmente aquilo era real. Eu não me sentia real, não me reconhecia mais em meu corpo. Fiquei por um bom tempo me forçando a acordar, jurava que aquilo era um pesadelo, mas quanto mais eu tentava acordar, mais eu me sentia frustrada e desesperada por não conseguir. Então me me joguei de lá em um impulso. Eu pulei da pedra.

Eu entendia de física o suficiente para saber que daquela altura eu não teria sobrevivido ao impacto com a água, mas adivinhe só! Lá estava eu, inteira, sem sequer ter me afogado. - ela riu uma risada gélida

Edward sentiu a necessidade de trazê-la de encontro ao seu peito.

—  Fiquei lá por um tempo até que decidi voltar para casa. Estranhamente, não tinha boas memórias, mas lembrei perfeitamente do caminho de volta.

Enquanto eu voltava, lembro-me de ter passado por um local onde haviam pilhas de jornais no lixo. Havia muitas notícias sobre a doença, sobre muitas mortes, não dei muita importância, mas estranhamente havia um jornal e nele havia a foto de meus pais. Era uma notícia da morte deles. Eles tinham muitas propriedades na Inglaterra, minha mãe era herdeira de muitos bens, então a morte deles foi noticiada. Eu peguei aquele jornal nas minhas mãos. Lá não falava apenas da morte deles, mas também da minha. Eu fiquei tão confusa, tão perdida. Então era aquilo que eu era, uma morta viva? - Edward estremeceu.

— Também falava de você. Junto com a notícia de minha morte, dizia que você também havia morrido e que não havia restado ninguém. Nem você, nem seus pais, nem nada! - Isabella falou com tanto desespero em sua voz que Edward quis chorar, seu coração estava partido.

— Voltei àquela casa. Lembro-me que algumas pessoas que olhavam curiosos em direção à casa chegaram a me notar parada diante da janela. Sabia-se que não havia ninguém naquele lugar, que todos haviam morrido, a fama deve ter corrido. Até que um dia…

Edward notou que sua a voz dela havia se enchido de dor. - O quê?

— Um menino entrou lá. Ele era pequeno, devia ter uns 10 ou 11 anos de idade. Ele entrou lá e eu não havia percebido que minha garganta queimava tanto até que ele estivesse tão perto. - sua voz se quebrou em dor ao lembrar-se daquilo.

— Todos nós fizemos coisas erradas durante essa vida, Bella. - o homem falou tentando ajudá-la.

— Eu nunca fui perfeita, Edward, sempre cometi erros… mas isso. Aquele inocente menino não tinha nenhuma culpa. Ele tinha tanto para viver. E eu acabei com seu sangue em minhas mãos.

Edward decidiu dar um minuto para Isabella. Sem dizer nada, apenas a embalou em seus braços. Quando ele notou que ela já não soluçava, encorajou-a a continuar:

— O que aconteceu em seguida? - ele indagou.

Ela pensou por uns instantes, confusa.

— A partir daí as coisas se tornaram meio incertas. Eu não sei dizer o que é real ou não… - ela divagou.

— Como assim? - ele questionou.

— Eu me lembro que quando estava com o sangue daquele menino em minhas mãos eu implorei a tudo que era mais sagrado para que nada daquilo fosse real, para que aquilo fosse um sonho e que eu acordasse. Eu repeti tantas vezes em minha cabeça que aquilo era um sonho. Então eu me lembro de despertar… - ela encarou o nada enquanto contava a Edward o que havia sucedido.

— Eu acordei e estava de volta à nossa casa. Você estava lá, estava bem. Você disse que tudo estava bem, que meus pais estavam vivos. Você me prometeu que nós ficaríamos juntos. E nós vivemos! Por muitos e muitos anos. Não havia briga, não havia desentendimento, tínhamos uma vida perfeita. Nunca tivemos filhos, mas envelhecemos. Eu me lembro de cada momento com tanta clareza, posso jurar que vivi tudo isso, que acompanhei cada momento, vi o tempo passar. Até que um dia tudo acabou. Eu acordei novamente e estava de volta àquela casa vazia.

Edward franziu a testa com tudo aquilo que Isabella havia lhe falado.

— Bella… você sabe que nós não dormimos. Não podemos dormir. Ou não precisamos, na realidade. Como você pode ter sonhado?

— Não foi um sonho! - ela respondeu energicamente. – Eu vivi. Eu senti. Como eu posso te sentir agora. Era real, era tudo muito real. Eu não sei explicar… - ela passou as mãos pela face. - Eu não sei explicar. Quando eu despertei novamente eu não sabia mais dizer o que era sonho e o que era realidade. Eu saí dali, parei em uma igreja, mas já não reconhecia nada a minha volta. Eu vi um calendário, haviam se passado mais de noventa anos desde que eu me lembrava.

— Calma! - Edward exclamou, segurando ambos os lados da face de Isabella. - Passaram-se mais de noventa anos e você não viu todo esse tempo passar? Ficou naquela casa sem caçar? Como isso é possível? E as suas necessidades? Você não sente sede? - ele a bombardeou com perguntas.

— Eu não sei… - ela respondeu confusa. - Até agora eu não sei direito, não entendo tudo isso. Eu não sei o que é real e o que é apenas fruto da minha imaginação. - balançou a cabeça freneticamente.

Continuou. - Saí de lá. O padre me aconselhou a buscar por novos horizontes e assim eu fiz. Vaguei por muito tempo, por muitos lugares, até que eu decidi voltar para a América. Não sabia ao certo para onde ir, fiquei tanto tempo sem ver a luz do sol que sequer sabia o que ela fazia com a minha pele. Então eu comecei a me esconder no frio, na chuva, em lugares nublados. Até que parei aqui! - ela exclamou, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. - E aqui está você.

— E aqui está você! - Edward respondeu, rindo. - Só pode ser sido o destino. - ele a abraçou novamente. - Eu ainda não consigo entender. É como se você tivesse entrado em um transe provocado pela sua própria vontade de se afastar do mundo real. Como se tivesse se transportado para um outro mundo onde viveu por todos esses anos, enquanto o seu corpo permanecia hibernando.

— Por favor, Edward, seja sensato. - ela falou e ele gargalhou.

— Desculpe a minha insensatez. Como nós, seres místicos imortais poderíamos nos transportar para outro mundo?

Ela refletiu por uns instante.

— E se na realidade esse momento for um sonho? - questionou. - Como eu posso saber?

Edward franziu a testa. - Então eu também estaria sonhando? - indagou.

— Bem… - ela começou. - Talvez só um de nós.

— Não seria eu. Em nenhum dos sonhos que eu já tive você chegou a aparecer triste para mim. Eu jamais sonharia com você sozinha, eu jamais te deixaria sozinha. Eu só me lembro de ter sonhos felizes com você. - ele respondeu simplesmente, enchendo o coração de Isabella de alegria, fazendo brotar um sorriso em seus lábios.

— É o tipo de coisa que o Edward verdadeiro falaria, parabéns, imaginação! - ela brincou, fazendo ele gargalhar.

— Eu gosto de ter ver assim, leve. Tivemos poucos momentos juntos, mas os momentos em que você estava descontraída são os que eu mais gosto de lembrar.

— Eu gosto desses momentos também. - ela respondeu. - Nós não nos entendíamos, mas tivemos momentos muito felizes enquanto fomos casados.

— Fomos? - ele questionou. - Não somos mais?

Isabella rolou os olhos. - Você entendeu o que eu quis dizer. Passou-se muito tempo, Edward.

— É… mas agora você está aqui. - ele falou enquanto olhava diretamente em seus olhos agora dourados. - Como vamos ficar agora?


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Notas finais do capítulo

Oi! Mais um capítulo.
Nossa, passou muito tempo. Eu já nem lembrava direito das histórias. Mas é bom estar aqui pra terminá-las. Bom saber também que ainda tem gente acompanhando.
Os capítulos estão meio desconexos, em partes pq como eu demorei muito tempo de um capítulo pro outro, tem muitos gaps. Vou ter que revisar a história desde o começo. Não se importem se tiver alguma inconsistência.
Beijocas, até o próximo.