Ainda escrita por Nara


Capítulo 10
Oitavo Capítulo - Parte II


Notas iniciais do capítulo

They call me Slim Shady... I'm back, I'm back ♪♫



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Bella chorou durante algum tempo, até que sentiu uma presença ao seu lado. Notou que era a empregada que a arrastava para fora do quarto. A mulher colocou-a na cama, em outras acomodações, sem grandes dificuldades, pois Isabella estava estática.

– Mãe, pai. – ela falou confusa.

– Descanse senhora. Eles vão ficar bem agora que não há mais sofrimento. – a mulher passou a mão por sua face suada e igualmente doente. Ela, a passos lerdos, saiu do quarto, exausta, deixando Isabella chorando na cama, agarrada a um travesseiro.

Desceu as escadas e chamou pelo segundo empregado da casa, para que ele encomendasse o trabalho funerário. Assim o homem o fez. Então ela partiu.

A chuva batia nos vidros das janelas naquela manhã. Isabella despertou em um sobressalto, passando a mão por sua tez, exausta. Acreditava que tudo não havia passado de um pesadelo.

Ainda trajava o vestido do dia anterior. Apressada, levantou-se da cama e saiu do quarto. Lembrou-se então do aposento de seus pais e o reconheceu ao lado do que estava. Sem se dar ao trabalho de bater na porta, girou a maçaneta e adentrou o cômodo que se encontrava vazio. A grande cama estava feita e não havia sinal de seus pais. Isabella sorriu esperançosa.

Desceu as escadas e sentiu-se tonta. Escorou-se no corrimão.

– Isabella? – um homem perguntou.

– Pai! – ela respondeu animada, mas então notou que não era Charlie quem falava. Era um homem alto, forte, com a face muito pálida; pálida demais para uma pessoa normal.

– Desculpe, não quis assustá-la, senhora. – desculpou-se e logo corrigiu sua falha em tratá-la pelo primeiro nome.

– Eu pensei que fosse meu pai. Ele não está no quarto, e nem minha mãe. Sabe onde eles estão? – questionou.

– Sei. – o homem respondeu simplesmente.

– Me leve até eles. – ela ordenou.

– Nós já vamos. Logo eles já vão chegar.

– Meus pais saíram? Mas eles estão doentes.

– Desculpe senhora, eu pensei que soubesse. Sinto muito. – abaixou o olhar.

Bella sentou-se na escadaria, tomando ciência de que suas esperanças eram inúteis.

– Quem vai chegar? – perguntou.

– O padre e o coveiro. – ele respondeu sem jeito. Ela sentiu-se enjoada. Novas lágrimas surgiram em sua face.

– Então eles estão mesmo... – não conseguiu continuar a fala.

– Sinto muito. – ele lamentou.

– Oh, meu Deus. Meus pais... – chorou. – O que eu vou fazer da minha vida? – passou a mão pelos fios de cabelo desarrumados.

– A senhora quer que eu pegue um copo de água com açúcar? – ofereceu.

– Água com açúcar? – perguntou inconformada. – Eu não quero água com açúcar.

– Eu sinto muito. – repetiu. – Mas agora é hora de ser forte.

– É tudo culpa dessa maldita casa, desse maldito dinheiro. Se meu pai não tivesse vindo cuidar dessa casa ele estaria vivo agora. Comigo.

– O senhor Swan era um chefe de família, ele tinha que zelar por suas posses...

Isabella encarou o estranho homem de forma que ele se calou.

– Eu vou me retirar. – anunciou, sem jeito.

– Espere! – o homem se virou para ela. – Onde eles estão? – indagou.

– No quintal dos fundos. No gazebo.

– No gazebo? – perguntou emocionada.

– Sim. Dona René adorava sentar-se ao gazebo.

– É mesmo? Eu nunca soube disso... – divagou.

– Com licença. – retirou-se.

Bella permaneceu sentada por alguns minutos e então caminhou a passos bambos até o andar de cima. Fechou a porta atrás de si, encostando-se à mesma e fechando os olhos.

– Isso não pode estar acontecendo comigo. Não pode... Edward me ajude, por favor. – pensou no marido que havia abandonado a um oceano de distância. Deslizou pela madeira da porta, alcançando o chão e encolhendo-se em posição fetal.

– Edward. – chamou mais uma vez, como se o homem pudesse ouvi-la e responder, mas não houve resposta. Tomada por uma ideia repentina, ergueu-se do chão frio, cambaleando. Direcionou-se até a escrivaninha próxima à grande cama. Escorou-se e procurou por papel e caneta. Estavam ambos em uma das gavetas – achou também envelopes.

Sentou-se na grande cama e tomou entre as mãos um pedaço de papel branco. A caneta tinteira tremia em sua mão direita. Apoiou a folha no móvel e concentrou-se em grafar as palavras corretamente.

Começou. Pensou por um tempo no que escrever.

Sinto sua falta, agora mais do que nunca.

Deve estar achando estranho o fato de eu estar dizendo isso, mas simplesmente não tenho como dizer o contrário. Sinto-me sozinha.

Só quero pedir que

Eu voltarei. Espero que aceite de volta essa "esposa pródiga". O fato é que eu só tenho você. Meus pais partiram ontem à noite, não tenho palavras para descrever a tristeza e a solidão que sinto.

Desculpe-me, por tudo, por ter sido tão dura, por ter dito palavras injustas, por ter fugido de você; desculpe-me. Preciso do seu perdão assim como preciso do ar para sobreviver. Uma lágrima escorreu por sua face e molhou o papel.

Eu quero voltar, voltar para você.

Eu te amo.

Mais algumas lágrimas molharam o papel branco, borrando a tinta em alguns pontos. No entanto isso não incomodou a mulher, que soluçava intensamente. Ela o amava e justamente nesse momento difícil não estava ao lado de Edward.

Ouviu alguém bater à porta, não deu importância.

– Senhora. – ouviu a voz do mesmo homem esquisito de antes. Não quis respondê-lo. Fechou os olhos e balançou sua cabeça de um lado para outro.

– Com licença. – ouviu-se novamente, porém desta vez do lado de dentro do quarto. Ela o encarou, com uma careta questionadora. O rapaz notou as lágrimas nos olhos de Isabella e titubeou.

– Desculpe-me senhora, como não respondeu pensei que poderia estar passando mal, preocupei-me. – tentou consertar sua gafe.

– O que quer? – perguntou seca.

– Queira acompanhar-me, senhora. – pediu acanhado. Mais lágrimas rolaram por sua face, agora por um misto de sentimentos: lembrar-se de Edward e lembrar-se de seus pais.

– Eu não quero! – soluçou – Vá embora daqui!

– Desculpe-me senhora, mas não posso. – Bella o encarou, com os olhos vermelhos de tristeza e irritação. – Eles esperam pela senhora. Quem sou eu para ter opinião? Mas a senhora deveria se despedir de seus pais.

As palavras do esquisito empregado acertaram Isabella como uma marretada.

– Eu quero me despedir deles. – afirmou desconcertada, enquanto sua face encontrava-se cada vez mais molhada pelas lágrimas que escorriam compulsivamente de seus olhos.

– Eu vou levá-la até eles, senhora. – o rapaz concordou.

– Obrigada. – agradeceu. O rapaz se levantou, estendendo a mão para a dama à sua frente, mas Isabella titubeou. – Não, faça-me um favor. – pediu ao invés de aceitar a mão estendida.

– Sim senhora.

– Leve essa carta, com urgência, para que ela seja entregue o mais rápido possível na América. Eu vou endereçar. – passou as mãos pelo rosto. No envelope branco escreveu com sua bela caligrafia o nome do destinatário, Edward Masen, juntamente com o endereço. – Leve agora.

– Como quiser senhora.

Dobrou a folha de papel e colocou-a no envelope, entregando às mãos do pálido desconhecido. – Obrigada. – agradeceu.

Ele sorriu e retirou-se, levando consigo a carta. Isabella permaneceu sentada na cama, suspirou. Sentia-se destroçada. Fechou os olhos, mas nada podia fazer com que ela se sentisse melhor. Seus ombros pesavam, sua cabeça latejava, as lágrimas pareciam não querer dar trégua e seu coração estava partido.

– Será que algum dia eu vou conseguir ser feliz? – questionou o nada. – Eu preciso ser forte. – disse a si mesma. – Mas, meu Deus, eu me sinto tão fraca... – passou a mão pelos cabelos. Parou por um instante, sentindo vertigem. – Nossa, que sensação ruim... – comentou sentindo um calafrio tomar seu corpo. – Oh, que horror. – sentiu mal estar.

Ergueu-se, passando as mãos pelos braços desnudos. Talvez fosse apenas o frio. Caminhou até seu baú, abandonado em um canto do quarto. Apanhou um xale e jogou sobre seus ombros.

– Talvez seja melhor... – começou, mas não pôde completar a frase, engolindo em seco. Talvez fosse melhor vestir-se de preto.

Revirou as roupas na mala, procurando por um vestido escuro. Antes que encontrasse o que procurava, achou a camisola azul que trajara na última noite em que esteve com seu marido. Ainda podia sentir seu cheiro no fino tecido, quase pode sentir suas carícias, o toque de suas mãos másculas subindo por sua perna, segurando em sua cintura. Com suas próprias mãos tocou seus ombros, seus braços, mas nada se comparava ao toque de Edward, ao amor de Edward.

– Eu te amo. – admitiu para si mesma, enquanto sofria com isso, enquanto sofria com tudo.

Ergueu-se quase sem poder, levando com sigo uma peça de roupa escura o suficiente para despedir-se de seus pais. Tão escuro quanto sua áurea naquele momento. Ela vestiu-se e respirou fundo duas vezes antes de sair do quarto e descer as escadas.

Parecia que o caminho até a sala, e da sala até a porta dos fundos era infinitamente maior do que realmente deveria ser. O silêncio pairava em todos os cômodos, fazendo com que um sentimento de solidão tomasse conta de seu corpo gélido. Bella avistou a saída para o jardim dos fundos, passando por uma porta aberta. Viu um grande gramado e, conforme a visão da paisagem ampliava, ela pôde notar o quão nublado o dia estava, proporcional ao seu estado de espírito.

Ainda ao longe ela avistou o gazebo, todo enfeitado com flores brancas e amarelas, que eram os únicos seres que demonstravam estar vivos naquela paisagem desoladora. Avistou também dois homens, ambos vestidos de preto, parados como duas sombras. Bella caminhou até eles, sabendo quem eles deveriam ser.

Seus membros estavam cada vez mais enfraquecidos e suas pernas quase não obedeciam aos comandos de seu cérebro. Com muito esforço, avizinhou-se dos dois homens que se viraram para a mulher. Não podia ver sua própria face, mas pela expressão de pena nos rostos dos senhores pressupôs que a dor estava mais que explícita.

Atrás deles estavam postos sobre a grama os dois caixões de madeira branca. Quando Bella se deu conta, sentiu como se fosse vomitar. Suas pernas enfraqueceram. Foi amparada pelo senhor de batina, que correu para assisti-la.

– Menina! – o senhor exclamou. Ela estava desfalecida. O segundo homem veio em auxílio, dando batidinhas em seu rosto.

Bella estava consciente de tudo a sua volta, mas sentia-se fraca demais para se erguer. Um após outro, soluços escapavam de sua garganta. Ela começou a balbuciar palavras.

– Calma menina, calma. – um dos homens pediu, mas de nada adiantou. Tudo em volta ficou escuro e ela ficou inconsciente.

Isabella abriu os olhos com dificuldade. Tudo parecia muito escuro, parte pela má iluminação do quarto e parte pela visão turva que ela tinha. Ela encontrou-se deitada em uma cama, que ela reconheceu ser a mesma em que havia dormido anteriormente. Não tinha noção, no entanto, do tempo. Sentia como se estivesse desacordada por muito tempo.

– Senhora. – ouviu alguém chamar com a voz baixa próxima a ela. – A senhora pode me ouvir?

– Edward? – ela indagou.

– Não senhora. A madame está me ouvindo, eu fiz o que me pediu: levei a carta.

– Edward. Eu quero... – forçou a fala.

– O que a senhora quer? – ele encorajou-a.

– Edward. – repetiu.

– Nós estamos sozinhos, senhora. Não há ninguém aqui, ninguém que eu possa chamar.

– Pai?

– Eles estão bem agora. Seu pai e sua mãe.

Ela relaxou na cama, sentindo-se fraca pelo esforço de falar. Seu corpo estava todo suado e não encontrava forças para realizar nenhum movimento.

– Não desmaie de novo. Eu lhe imploro. Não desmaie. – o homem pediu aflito. Bella não o respondeu. – Deus! – ele exclamou.

– Se a senhora pode me ouvir, pode me entender, eu lhe peço: por favor, seja forte. Fique boa! Eu não sei o que fazer. Não posso deixá-la sozinha, mas não há mais ninguém. Madame precisa ficar boa logo.

– Não me deixe. – ela pediu com a voz quase como um sopro. O estranho homem segurou a mão dela com a sua própria, tão fria quanto gelo.

– Eu não vou, prometo. – ele afirmou.

– Edward. Eu preciso ver o Edward. – disse quase sem forças.

– Quem é esse Edward? A senhora pode me dizer? É alguém que eu possa procurar? – questionou.

– Edward... Eu amo.

O homem pensou um pouco e entendeu o que ela quis dizer. Olhou para a aliança na mão esquerda da mulher.

– Eu preciso ver... – tentou se erguer.

– Agora não, senhora. – ele a deteve.

Ela esparramou-se na cama e desfaleceu.

Isabella teve sonhos. Sonhou que ela se afastava de Edward e nada que ela fazia diminuía a distância entre os dois. Acordou com um sobressalto, banhada em suor e ardendo em febre. Ela procurou na escuridão por alguém, mas não enxergou nada dentro de seu curto campo de visão.

Notou após algum tempo uma silhueta aproximando-se dela. Sentiu que o mesmo colocara algo quente em sua testa. O estranho empregado colocava uma toalha na molhada na face de Isabella, sem que ela sequer reagisse.

Perdida em pensamentos, ela sussurrou:

– A empregada...

Ele a ouvira perfeitamente e sabia que ela havia se dado conta da falta da governanta da casa.

– Ela se foi, senhora. – ele respondeu. Decidiu então ser mais claro: - Ela estava doente há algum tempo e não resistiu. – concluiu cabisbaixo.

Bella compreendeu e engoliu seco, esforçando-se para conseguir emitir sons audíveis e compreensíveis.

– Eu vou morrer. – caiu em si, sentindo seu corpo cada vez mais fraco, cada vez menos vivo.

O homem continuou limpando a face de Isabella, sem se dar ao trabalho de responder.

A mulher convalescente, repentinamente, segurou o braço do homem, que limpava sua face, e o olhou com olhos arregalados.

– Não me deixe morrer. – implorou de forma tão profunda que o abalou. Ele engoliu seco. – Por favor, não me deixe morrer. – implorou mais uma vez. – Edward... Eu preciso...

Sua voz se tornou cada vez mais fraca, até que ela não pode dizer mais nada.

O estranho homem afastou a toalha da face dela colocou a mesma na bacia com água morna que estava posta sobre o criado-mudo. Ele observou a face pálida da jovem mulher, tão pálida e desprovida de vida quanto a sua própria face. Passaram-se poucos dias desde que ele havia a colocado na cama, depois do fatídico dia do sepultamento, mas ela estava definhando em ritmo acelerado. Pensou em chamar um médico, mas em meio ao turbilhão de problemas que todos enfrentavam achar um médico disposto a tratar de uma doente em sua residência seria impossível. Ele sabia que no fim das contas aconteceria com a jovem senhora o mesmo que havia acontecido com os pais dela e com a governanta, que trabalhou naquela casa durante tantos anos.

Ele olhou mais uma vez para a mulher deitada na cama, ardendo em febre. Analisou cada parte de sua figura. Sentiu que não poderia deixá-la sozinha. Parou novamente na bela aliança no terceiro dedo da mão esquerda de Isabella e aquele nome veio novamente em sua cabeça: Edward. A forma como ela o chamava explicitava o quanto ela o amava, o quanto ela precisava dele. E Edward não saberia o que teria acontecido com sua mulher.

Perdido em suas reflexões o homem pensou em ajudar Isabella, em salvá-la. Mas seria essa a salvação ou a condenação da jovem? Um impasse.

– Edward... – Isabella sussurrou novamente em seus delírios.

Seria justo permitir que Isabella nunca mais visse o amado, ele indagava.

– Edward... – ela continuava.

– Por favor, não me deixe morrer. - a fala de Isabella corria em sua mente.

– Meu Deus, me dê uma luz. – o homem pediu, colocando a cabeça entre as mãos.

– Edward...

O estranho homem ergueu-se, tomado por uma repentina coragem. Aproximou-se da mulher, olhando bem para a face desprovida de cor.

– O destino quis que você se separasse desse Edward, nós não podemos lutar contra o destino. Eu faço isso apenas para que você possa vê-lo mais uma vez. E talvez um dia, mesmo sabendo que você me odiará, se dê conta de que ao menos assim você pode vê-lo pelo menos mais uma vez. Espero que então me perdoe.

Passou os dedos pela face de Isabella, descendo por sua mandíbula, até chegar a seu pescoço.

– Espero que então me perdoe. – repetiu.

Edward abriu os olhos assustado. Ele estava deitado na grande cama de seu quarto pouco iluminado. Apesar da falta de luminosidade, pôde enxergar tudo a sua volta perfeitamente. Ergueu seu tronco rapidamente, mas uma mão o parou. Ele assustou-se, segurou fortemente o braço que o parava e virou rapidamente para encarar a figura a seu lado.

– Carlisle? – ele perguntou espantado. O loiro sorriu para ele. - Pensei que eu estivesse morto. – sussurrou para si mesmo.

Carlisle abaixou os olhos.

– Mas você está aqui. – concluiu.

Quando Edward foi engolir sua própria saliva, sua garganta ardeu em brasa. Automaticamente, apertou seu pescoço com as mãos.

– Você vai ficar bem. Com o tempo isso vai melhorar. – Carlisle afirmou.

– Eu estava sozinho. – Edward começou - Mas você está aqui. – repetiu confuso, mal podendo falar devido à queimação em sua garganta.

– Você estava aqui sozinho e eu não poderia deixa-lo, certo? – bateu no ombro do amigo.

– Eu não me lembro de nada, apenas da dor. Doeu tanto Carlisle, tanto. Eu sabia que estava morrendo, tive certeza. Mas agora você está aqui. Como é possível? Se aquilo não era a morte, o que era? De forma alguma todo aquele sofrimento poderia ser vida.

– Não pense nisso agora, Edward. Tudo vai ficar bem. – Carlisle tentou tranquiliza-lo.

– Bem? – Edward indagou. – Eu não me sinto bem. O que é isso Carlisle? O que está acontecendo? É um sonho, não?

Carlisle engoliu seco, pensando no que falar.

– Você estava aqui sozinho, caído, quando eu o encontrei. Você estava definhando. Eu só quis te ajudar. Mas então começaram os delírios. Os dias se passaram e você continuou delirando, chamando por sua mulher, pela Isabella.

– Bella... Minha Bella. – Edward ergueu-se novamente na cama, como se fosse atrás de alguém.

– Acalme-se! – ele pediu cauteloso.

– Eu preciso vê-la, preciso ir até ela. Bella está sozinha, ela precisa de mim. E eu preciso dela.

– Você a encontrará... Um dia. – Carlisle disse.

– Não! Eu preciso agora.

– Edward! – Carlisle espalmou as mãos no peito de Edward para detê-lo, mas o amigo foi mais forte, afastando as mãos do médico brutalmente.

– Me deixe Carlisle! Eu me sinto forte o suficiente para ir atrás dela. Preciso encontra-la.

– Você irá encontra-la, mas você não pode agora. – Carlisle repreendeu.

– Por que eu não posso agora? – Edward indagou alto. – Eu ainda estou doente? É isso.

– Não, Edward. – Carlisle corrigiu. – Você está curado.

– Então por que eu me sinto dessa forma, estranho? – Edward tentou encontrar uma palavra que descrevesse como se sentia.

– Diferente.

O Masen cerrou os olhos. – Diga.

– Edward, tudo que eu fiz... Eu apenas quis te curar para que você pudesse novamente ver a sua esposa, a qual você ama tanto.

– Então...

– Não, Edward. Deixe-me terminar. – Carlisle pediu. – Eu só fiz isso para que você pudesse reencontrá-la, pois não é justo que você partisse sem ao menos olhar novamente para ela, poder dizer a... – parou.

– Carlisle, você está dizendo coisas sem sentido. O que você fez?

O loiro respirou fundo.

– Edward... Eu te transformei em uma pessoa como eu, uma pessoa diferente. – tentou explicar.

– O que você tem de diferente? – Edward estava confuso.

– Edward, eu não sou humano.

Edward passou a mão pelos cabelos. – Carlisle, deixe de dizer besteiras. – disse e em seguida levou sua mão ao pescoço. – Minha garganta dói.

– A minha também. – o Cullen disse sério. – Eu vou mostrar-lhe.

O loiro se levantou do banco onde estava sentado e abriu as janelas do quarto. Um grande feixe de luz adentrou o local, iluminando-o e tocando a pele do homem sobre a cama. Carlisle observou a cena enquanto Edward o encarava sem compreender suas ações.

– Olhe. – o doutor apontou para a mão do amigo, que pousava sobre a cama.

Edward abaixou o olhar e observou uma forte luz brilhar em sua pele, como a luz de uma chama. Sua pele aqueceu mais do que o normal sob o raio de sol, fazendo com que Edward desviasse do feixe.

– O que é isso? – o homem indagou encarando sua mão.

– Vá até o espelho e veja seu reflexo. – o amigo indicou. Edward relutou, mas ergueu-se e saiu da cama, caminhando até a delicada penteadeira de sua esposa. Encarou a si mesmo no grande espelho.

A imagem era nítida. Tão nítida e assombrosa que fez com que Edward se assustasse. Aquele não era ele, de forma alguma. O ser com a pele pálida como a de um cadáver e com os olhos tão vermelhos como sangue não poderia ser ele e sim um monstro, uma assombração. Edward cambaleou. Ele observou os movimentos do monstro no espelho, que o imitava. Tocou sua própria face com seus dedos e a aberração também o fez.

– Carlisle? – chamou pelo amigo, vendo o monstro fazer o mesmo. Ele abaixou o olhar não querendo mais ver aquele ser assustador.

Edward olhou para o amigo que permanecia parado próximo à janela, apenas observando. O Masen encarou o jovem médico, seus olhos, sua pele, sua expressão, sua postura. Tudo. Tudo como o monstro no espelho.

– Carlisle? – chamou novamente. – Carlisle! – gritou.

O Cullen respirou fundo, fechando os olhos. – Tudo tem um preço, Edward. Eu fiz isso para que você pudesse viver, mas essa é a troca. É o que somos.

O homem voltou seu olhar para o espelho. – Monstros? É o que somos? Nós somos monstros!

– Nós somos pessoas que tiveram uma segunda chance. – Carlisle Cullen aproximou-se de seu amigo em um piscar de olhos, com uma rapidez assombrosa.

– E você acha que a minha Bella vai querer olhar para essa aberração que eu vejo agora? O que eu sou Carlisle? Como eu posso ter novamente a minha Bella se eu sequer sei o que eu sou?

– Eu nunca disse que você poderia tê-la de volta, eu apenas disse que você poderia vê-la novamente, ainda que uma última vez. – o doutor falou ressentido, cheio de pesar em sua voz.

– Não! Eu não fico sem a minha Bella, não! Prefiro estar morto. – Edward exaltou-se.

– Todos gostariam de ter a oportunidade que você está tendo, Edward. Você a ama e merece vê-la mais uma vez. – o amigo de Edward pousou uma mão em seu ombro.

Edward chorou sem lágrimas, sentindo uma grande dor em seu peito. Caiu de joelhos, soluçando. – Então vá. Traga a minha Bella, Carlisle, por favor. Traga a minha Bella.

O companheiro abaixou para ficar da mesma altura que o amigo desolado.

– Eu vou. Eu vou trazer a sua mulher de volta, Edward. Eu apenas peço que... – fez uma pausa. – Eu apenas peço que você não sinta ódio de mim, Edward. Por favor. Aconteça o que acontecer não me odeie.

Edward o encarou, com a expressão profundamente triste.

– A única coisa que eu quero é estar com a minha Bella. Só isso. Não sei o que será de mim se eu não puder estar com ela. Então, por favor, Carlisle, traga-a para mim.

– Eu faço isso, Edward. Você terá sua mulher de volta.

O médico loiro prometeu, erguendo-se do chão e deixando o amigo a sós com sua tristeza.

Bella abriu os olhos assustada. Ela estava deitada na grande cama de seu quarto pouco iluminado. Apesar da falta de luminosidade, pôde enxergar tudo a sua volta perfeitamente.

Carlisle caminhou pelas ruas escuras, prestando atenção em cada casa em que passava em frente. Era noite, o céu estava encoberto, podia prever que uma tempestade se aproximava. A única iluminação era proveniente dos postes nas calçadas.

Ouviu alguns trovões. Teria que caminhar em baixo de chuva. Preferiu andar a pé a alugar um carro. Ao menos poderia prestar mais atenção em cada casa e achar a que procurava.

– Senhor! – um homem chamou. Carlisle virou-se para o som da voz.

Um homem de meia idade, parado em frente a uma residência, chamou por ele. O médico deu alguns passos em direção ao homem.

– Procura por alguma coisa, senhor? Vejo que está olhando para cada casa com tanta atenção.

– Sim. – o Cullen concordou. – Eu procuro por uma casa, mas não sei bem se estou na direção certa.

Um relâmpago rasgou o céu.

– Uma tempestade vem aí. Por que não entra em minha casa pelo menos até que a chuva passe? Quem sabe não poderei ajuda-lo. – o homem ofereceu.

Carlisle pensou um pouco, ponderou se seria adequado. Ele tinha preferência por andar no escuro, assim não seria visto. Em contrapartida não sabia ao certo para onde estava indo.

– Muito obrigado, senhor. Não quero incomodar, já está tarde.

– Não é nenhum incômodo. Não é certo deixar um homem perdido pelas ruas, ainda mais a essa hora da noite. Venha, fique um pouco, poderemos ajuda-lo a encontrar o lugar que procura.

Carlisle decidiu aceitar. – Muito obrigada.

Os dois entraram na grande casa branca. Carlisle sentou-se no sofá, onde havia sido designado. Na sala apareceu uma senhora também de meia idade, mulher do gentio homem. Ela ofereceu café a Carlisle, que recusou com educação.

– Então senhor...

– Carlisle. Carlisle Cullen.

– Senhor Cullen. – o homem sorriu. sua mulher ao seu lado. – Seu sobrenome não me é estranho, creio ter ouvido falar de uma família Cullen. Mas o senhor não poderia pertencer a essa família, pelo que eu ouvi já faz tanto tempo que todos morreram. É praticamente uma lenda.

Um frio correu a espinha de Carlisle. Não havia outros Cullen na Inglaterra a não ser sua família.

– Bem, não poderia ser a minha família. Eu venho da América. – respondeu com um pouco de medo.

– América! E por que vem de tão longe? – o homem perguntou.

– Eu procuro uma moça, ela está vivendo aqui, mas eu não sei exatamente onde. Eu consegui apenas um endereço incompleto e alguns pontos de referência. Ela morava também nos Estados Unidos, é uma conhecida minha. Veio para cá ver os pais e até agora não voltou. Estou aqui para leva-la de volta.

– Uma moça? É conhecida do senhor. Bem, qual é o nome dela?

– Isabella Masen.

– Isabella Masen? Não, não conheço ninguém com esse nome. Você já ouviu falar, querida? – o homem perguntou à mulher ao seu lado, que até então esteve calada. Ela pensou um pouco.

– Bem, sabe que esse nome não me é estranho. – respondeu com seu atenuado sotaque inglês. – Eu já ouvi falar de algo sobre Masen da América, mas não sei exatamente onde. Bem, de qualquer forma, se ela veio ver os pais aqui, algo deve estar errado, pois não conheço nenhum Masen na região.

A mulher parecia ser uma grande conhecedora das famílias da região, principalmente as grandes famílias.

– Masen é o nome dela de casada. O nome de batismo é Isabella Swan. Filha de Charlie e René Swan.

Os dois sentados à frente do médico empalideceram. O homem trocou olhar com a mulher, que o encarava com um misto de surpresa e tristeza.

– Vocês a conhecem? – Carlisle previu.

O homem limpou a garganta.

– Sim, nós a conhecemos. Bem, não pessoalmente, mas seus pais sim. Charlie Swan tinha muitas posses. A casa deles fica no fim dessa rua, uma casa enorme. Um verdadeiro palacete.

– No fim dessa rua. Bem, então eu estou indo no caminho certo! Muito obrigado pela ajuda, senhor. Eu preciso encontrar essa moça com urgência. – Carlisle sentiu-se feliz, mas logo fechou a cara quando percebeu a expressão dos dois à sua frente.

– Algum problema? – indagou.

– Bem, senhor. Eu sinto muito, mas creio que não poderá encontrar quem procura. – o homem sussurrou.

– Por que não? – Carlisle indagou confuso.

– Os Swan... Bem, houve, ainda há uma grande epidemia de gripe, uma gripe muitas vezes fatal. – o homem começou. Sim, o Cullen conhecia muito bem aquela doença.

– Sim, eu sei. Qual o problema?

O casal entreolhou-se novamente. – Os Swan não resistiram à doença. Eles faleceram. – o homem cuspiu de uma vez.

A expressão do médico era de susto. Os Swan mortos! Pensou.

– Nossa! Eu jamais pensei... Santo Deus! – exclamou. – Por isso ela não voltou. Coitada, deve estar passando por uma situação muito difícil, sozinha, tendo que lidar com a morte dos pais. Meu Deus! Agora mais do que nunca eu preciso encontrá-la, levá-la de volta para casa.

– Senhor? – o homem a sua frente chamou a atenção. – Estão todos mortos. Sinto muito.

Levou um segundo até que Carlisle compreendesse o que o senhor de meia idade estava tentando dizer. Seu queixo caiu em choque.

– Mortos? Todos mortos? – perguntou sem querer acreditar.

– Sinto muito. – a mulher ao lado de seu cônjuge disse.

– Isabella está morta! – ele estava espantado.

Meu Deus! O que eu fiz? Carlisle gritava em sua cabeça. Ele apenas podia pensar em Edward e no quanto ele sofreria quando soubesse.

– Isso não pode ser verdade! – ele se levantou do sofá. – Eu agradeço muito pela ajuda de vocês, mas eu preciso ir agora.

– Senhor, está chovendo. Para onde vai? – o senhor questionou.

– Muito obrigado pela ajuda. – Carlisle disse e saiu pela porta, sem dar importância ao casal atrás de si. Ele correu pela rua, tentando ao máximo controlar seu desespero. A chuva estava cada vez mais forte, mas ele conseguiu ver uma casa, uma das últimas da rua, compatível com a descrição que ele havia recebido. – É aqui.

Parado em frente à entrada, tentou enxergar algo através dos vidros embaçados das janelas, mas o ambiente estava muito pouco iluminado. Tentou a porta. Para sua grande surpresa, estava destrancada.

Carlisle procurou algum vestígio de vida pela casa, mas tudo à sua volta parecia fantasmagórico: os móveis estavam todos cobertos com grandes lençóis brancos, o pó começava a se acumular sobre as superfícies descobertas. Não havia luz no ambiente, as grandes janelas estavam todas fechadas. A chuva do lado de fora só tornava o cenário ainda mais assustador, como o de um filme de terror.

– Deus! O que eu fiz? - Carlisle questionou o divino ao se dar conta de que o homem que ele pensava ter salvado para que pudesse ver novamente sua mulher jamais a veria.


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Notas finais do capítulo

Olá gente!
Ei sei que faz muito tempo que eu não atualizo as minha fanfics... Eu me sinto muito mal por isso.
Infelizmente meu tempo está muuuuuuito curto. Não é desculpa, pois eu me comprometi.
Não quero abandonar as fanfics. Pode ser q eu leve um ano pra postar, mas eu vou postar. É o que eu gosto de fazer.
Senti a falta de vocês.
Espero me manifestar aqui em breve. Tomara q vcs tenham gostado do capítulo.
Bjão.... Até a próxima.
PS.: desculpe qqr erro de digitação, eu não revisei o capítulo.