Acabou, pensei. Mas eu via, que embora estivesse dilacerado por dentro, pelas perdas que eu acabara de sofrer, que agora meu horizonte estava limpo, não havia nada me esperando lá em frente, a não ser, talvez, a paz. Isso mesmo.

Eu estava finalmente em paz.

Voldemort havia morrido há vinte e quatro horas, e agora, nós tínhamos que recomeçar. Os corpos haviam sido retirados do salão, haveria um enterro conjunto, onde todos seriam homenageados. Isso não era justo com Dobby, pensei tolamente.

Mas meu coração vazio não se permitia sentir dor. Era algo mais terrível ainda. O vazio ...

Como as coisas se resolveriam, eu não tinha nem idéia. Estava no dormitório da Grifinória, sentado na cama que um dia fora minha, pensando, refletindo. E agora? Tudo que fizera de sua vida fora caçar o lorde, se proteger dele ... Mas agora, eu precisava seguir em frente, como repetia em minha cabeça.

“ Não vou dar atenção a isso agora” pensei. Haveria um bom tempo pra pensar. O que eu preciso – pensei – É da minha família.

Eu desci devagar as escadas do castelo. Sabia que a família Weasley, (minha família) estava ainda no castelo. A maioria dos sobreviventes ainda não se fora, ajudando a arrumar o castelo.

Eu fui até o grande salão e vi que eles estavam todos sentados a mesa da Grifinória. Não que cada um se sentasse na mesa de sua casa. As casas não eram mais tão importantes nesse momento de fim de guerra. Ou talvez não, sorri. Ninguém se sentava a mesa da Sonserina .

Gina olhou pra mim e levantou silenciosamente da mesa onde seus pais conversavam de cabeça baixa e o rosto marcado pela dor.

Ela veio até mim com a expressão dura, e com surpresa de minha parte, vi que ela me abraçou. Fiquei perplexo por um instante, daquela demonstração de afeto na frente de todo mundo, mas um segundo depois, vi que era disso que eu precisava, e passei meus braços a sua volta.

– Acabou – sussurrou ela, escondendo o rosto no meu pescoço.

– Sim Gina, acabou, tudo vai melhorar agora – eu reafirmei, embora não tivesse a mínima certeza do que dizia.

– E porque teve que acontecer tudo isso pra acabar? – ela perguntou num tom de “Não é justo”.

– Eu não sei Gina, mas vem, vamos sair daqui – eu a puxei para o jardim.

Ela me acompanhou quieta, e por fim nos sentamos à sombra de um grande carvalho, perto do lago. A lula gigante nadava tristemente no ali.

– O pessoal que foi ferido foi retirado pro St. Mungos está manhã. E o ... resto, foi levado pelo ministério. Eles vão fazer as honras em um mês.

– Um mês? Porque tanto tempo? – perguntei surpreso.

Gina deu de ombros.

– Imagino que queiram que a população bruxa volte com sua vida normal antes, e sinceramente, acho que precisamos. Olhe o jeito que ficou o castelo! – e ela acenou tristemente para o castelo, várias partes dele estavam em ruínas.

– Sei o que quer dizer – comentei – Sabe, me pergunto o que fazer agora ... Suponho que quando tudo isso passar, vou levar uma vida normal. Bem, quase normal.

– Nós estamos indo embora hoje à noite Harry – disse Gina.

– Estão? – uma coisa gelada caiu por meu estômago – Bem, é. Acho que uma hora vocês teriam que voltar. Eu também vou ir então, acho que posso alugar um quarto no caldeirão furado até...

– Não seja burro – falou Gina irritada – Você vem com a gente. Mamãe estava dizendo agorinha que você pode ficar no quarto de Rony. Não acho que ... Bom, se você aguentasse ficar com o quarto de... Bem... – ela soluçou.

– Não, eu não quero – me senti enojado.

– Jorge quer viajar agora – ela comentou – Ficar longe de tudo isso. Ele disse que vai pra França... Imagino que a perda foi... pior pra ele.

Eu dei uma risadinha amarga.

– Duvido.

– Bem... Não acho que seja igual, uma vez que F... que eles eram irmãos, mas imagine...

– Imaginar o que?

– A dor que eu senti quando o vi morto – ela fez uma careta, e depois olhou pra mim com raiva – O que você tem na cabeça? Titica? Como pode fazer isso comigo?

– Desculpe Gina... – mas internamente eu sorri, imaginando se ela gostava de mim tanto assim – Foi necessário... Tudo que eu queria era mostrar a vocês que eu estava vivo...

Gina deu de ombros.

– Não vai acontecer novamente, em breve vou ser maior de idade, e não vai poder se livrar de mim em suas aventuras senhor Potter.

– É o que eu espero – eu ri – Ei! Vou fazer dezoito anos! Que loucura... Nunca achei que iria ter uma vida tão longa!

– Nunca mais repita isso – disse Gina alarmada, me abraçando.

– Gina... eu comecei.

– O que?

– Sei que se passou um ano, e você continuou na escola... Sabe... Com o... e com... Bem... O que eu quero dizer é...

– Quer perguntar se eu ainda sou sua namorada? – ela semicerrou os olhos, perspicaz.

– Sim – eu suspirei.

Ela me abraçou.

– Você era a única coisa que me dava forças pra continuar lutando.

Eu sorri.

– E você foi a única coisa em que eu pensei antes de fechar os olhos para morrer.