Opostos escrita por Nyne


Capítulo 28
Os fins justificam os meios?


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas leitoras!
Como prometi, aí vai um dos capítulos mais tensos da história até o momento.
A história do Mateus pode (ou não) tomar rumos até então não esperados, nem por ele e nem por vcs.
mas pra ver, onde vai dar, só lendo mesmo =)
Dedico esse capítulo as novas leitoras
Bann e
That Is Over Power
Sejam bem vindas queridas =)
Ótima leitura a todas!



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Eu quase não falava com a minha mãe, não tinha tempo pra isso. Como disse, ela trabalhava fora e só chegava à noite, sempre cansada e muitas vezes de mau humor por causa do trabalho.

Mas quando ela me chamou no quarto dizendo que queria conversar, ela estava séria, não brava. Não entendi de primeiro momento o que eu tinha feito ou deixado de fazer pra ela ficar daquele jeito, mas logo entendi.

– Pode me explicar o que é isso Mateus? – disse apontando com o olhar uma mancha no lençol da minha cama.

Eu sabia muito bem o que era aquilo, mas não consegui dizer nada, apenas abaixei a cabeça.

– To esperando Mateus. Que mancha é essa?

– É só uma mancha mãe, nada de mais. Se for pelo lençol, eu ia lavar, mas esqueci.

– Mateus, eu não sou nenhuma idiota. Essa não é só uma mancha, isso aqui é mancha de sangue.

– Me machuquei jogando bola na escola mãe.

Ela sentou na beirada da minha cama e mandou eu sentar do lado dela. Juro que pensei que ela ia me bater, mas não fez isso. Apenas começou a conversar comigo.

– Essa mancha não é de machucado e você sabe. Só duas coisas explicam essa mancha filho e uma eu já descartei, visto que você não fica menstruado.

Baixei a cabeça, não conseguia encarar a minha mãe, fora que aquilo tudo estava sendo muito constrangedor.

– Mateus, sei que você fica sem graça de falar essas coisas comigo, mas vai ter que falar. Sou sua mãe, não precisa ter vergonha de mim.

– Mãe, você já sabe o que aconteceu, então, por favor, não me pede pra dar detalhes.

– Tudo bem, mas olha pra mim Mateus. Você se previniu não é? – perguntou como se já soubesse minha resposta.

Respirei fundo e coloquei a cabeça entre os joelhos.

– Mateus, não acredito que você transou sem camisinha. Diz que você não fez isso!

– Eu comprei camisinha mãe, mas na hora eu nem lembrei, foi mal!

– Foi mal? Foi péssimo Mateus! O que você tem na cabeça?

– Já disse que não lembrei mãe. Na hora pensei em tudo, menos isso.

– Pensou em tudo? Não pensou em tudo não, porque se tivesse pensado teria pensado também em uma DST, uma gravidez fora de hora! – dizia ela aos berros.

– Não precisa desse drama todo mãe. Ela era virgem, não tem como ter me passado doença nenhuma e nem eu pra ela, porque só não usei camisinha dessa vez! – respondi num tom alto.

– Certo espertão, mas e gravidez? Se essa menina era virgem eu duvido que ela tomasse algum tipo de anticoncepcional. Ela pode ter engravidado Mateus.

– Pára de drama mãe, foi uma vez só.

– Comigo também foi uma vez só e olha pra você bem na minha frente!

Eu conhecia a história da minha mãe, mas aquilo tudo trouxe de volta a tona tudo o que ela havia passado.

– Eu também transei com seu pai uma única vez sem camisinha, também não pensei em nada, acreditava que nada de errado ia acontecer em uma única vez, mas não foi isso que aconteceu Mateus e você sabe. Engravidei de você e seu pai me deixou na mão, nunca me ajudou em nada. Tive que enfrentar meus pais sozinha, me virar sozinha como faço até hoje pra você estar aqui. Não quero que você cometa o mesmo erro que eu cometi.

Quando ela disse erro, senti uma pontada dentro de mim. Então era isso que eu era pra ela? Um erro?

– Então é assim que você me vê mãe? Como um erro, fruto de uma burrice sua? – disse em um tom que a desafiava.

Ela me deu um tapa na cara que doeu muito, mas senti que doeu nela muito mais que em mim.

– Nunca mais repita isso entendeu? Nunca mais! – disse ela entre dentes.

Ficamos por algum tempo em silencio e ela começou a chorar. Eu também sentia uma sensação ruim por dentro, mas prometi pra mim mesmo que não choraria na frente dela e nem na frente de ninguém.

Ela secou as lágrimas e foi até mim, me abraçando em seguida.

– Você não é um erro, nunca foi. Não me arrependo de nada que tenha passado pra que você estivesse aqui hoje Mateus nada. Mas ainda não é essa vida que eu gostaria que você tivesse. Não queria te privar de ter um pai.

– Não foi você que me privou disso mãe, ele se privou sozinho.

– Mesmo assim, você acha que fico feliz com isso? Eu... Eu...

Ela não conseguiu falar e voltou a chorar de novo bem ali na minha frente. Minha mãe sempre pareceu ser tão durona, mas estava aos prantos na minha frente e tudo por minha culpa.

– Pára mãe, para, não faz isso. Desculpa, desculpa. – disse abraçando-a, mas ainda assim segurando meu choro.

– Eu te amo filho e tudo o que falei foi por querer o seu bem.

– Eu sei mãe, eu sei. Desculpa. E não devia ter falado aquilo também.

Ficamos por um tempo abraçados sem dizer nada. Minha mãe era mesmo uma guerreira. Nunca dependeu do meu pai pra nada, sempre se virou sozinha pra me criar. Claro que eu sentia falta de um pai, uma figura masculina, mas não trocaria pai algum pela minha mãe.

Ela afrouxou o abraço e me olhou com os olhos ainda inchados.

– Você gosta dessa menina filho?

– Ah mãe, é complicado...

– Mateus, sei que você é jovem, quer e tem mais mesmo que curtir a vida, ser feliz. Mas não seja feliz em cima da tristeza dos outros, meu filho. Você parece muito com o seu pai na aparência, mas rezo todos os dias pra que você não tenha nada dele no seu caráter.

Não entendi claramente o que ela quis dizer com aquilo. Foi então que ela começou a desabafar comigo.

– Quando eu conheci o seu pai ele era lindo. Parecia muito com você. Ele tinha a garota que queria e quando queria. Essa garota nunca era eu apesar de querer muito isso. Ele era o popular da faculdade e eu aquela que se faltasse em todas as aulas ninguém notaria..

Enquanto minha mãe falava, eu ia ligando algumas coisas e vendo as coincidências na minha própria vida na escola.

– Uma vez tivemos um trabalho em grupo e seu pai estava péssimo na matéria, afinal ele nunca assistia à aula, respondia chamada e ia pro bar em frente à faculdade. Ele sabia que eu gostava dele e se aproveitou disso. Se ele terminou aquele semestre na faculdade foi graças a trouxa da sua mãe aqui, que fez todos os trabalhos dele. Seu pai tinha um poder de convencer as pessoas que era algo inacreditável.

Eu continuava ouvindo cada palavra da minha mãe e podia ver em seu rosto a mágoa em cada palavra.

– Algum tempo depois de me usar como “aluna particular” digamos assim, seu pai resolveu tirar alguns lucros a mais comigo. Saímos algumas vezes e idiota e apaixonada como estava, acabei transando com ele. Pouco depois descobri que tinha engravidado. Fiquei feliz, mas assustada claro, afinal eu só tinha 19 anos, faltavam três anos pra acabar a faculdade, foi um baque. Quando falei com ele, meu mundo desmoronou Mateus. Ele me ofendeu de todas as maneiras que você pode imaginar, chegou a duvidar que o filho fosse dele, mesmo tendo certeza que era.

– Mãe, eu conheço o suficiente dessa história, não precisa voltar no passado e lembrar de tudo isso e sofrer, assim vou me sentir mais culpado do que já estou.

– Não, quero que você saiba de coisas que ainda não sabe, exatamente porque não quero que você seja como seu... Como aquele homem.

Continuei a ouvir o que ela dizia, até porque sempre pensei que ela havia me dito tudo. Ela engravidou, e meu pai sumiu, nunca quis saber dela e muito menos de mim. Mas pelo visto ainda havia algo encoberto nisso tudo e já que ela queria falar, eu ouviria.

– Se já não bastasse dizer aqueles absurdos todos pra mim, ele ficou dias sem aparecer na faculdade. Eu ligava pra ele e ele nunca me atendia, ninguém sabia dele. Uma noite indo embora da faculdade meu celular tocou. Era ele, me chamando pra ir ao lugar que ele costumava guardar o carro dele, perto da faculdade mesmo. Fui pensando que ele havia parado pensado e ia me ajudar, afinal o filho era dele também. Cheguei e la estava ele encostado do lado de fora do carro. Aproximei-me meio sem graça e ele perguntou como eu estava, mas de uma maneira bem fria. Conversamos um pouco e ele me disse algo que mesmo que eu viva mil anos nunca vou esquecer.


FLASH BACK ON


– Dei uns perdidos nas aulas pra fazer algo que agilizasse pro nosso lado, antes que não de mais tempo. – disse ele tirando um envelope pardo do bolso e me entregando.

– O que é isso?

– A solução pro nosso problema.

Abri o envelope. Havia uma boa quantia em dinheiro lá, com certeza pagaria uns três ou até quatro meses de faculdade.

– Desculpa, mas ainda não entendi. Você quer o que? Que eu pegue esse dinheiro e suma pra ninguém saber que estou grávida?

– Claro que não. Isso não resolveria nada.

– O que você quer então?

– É óbvio não é? Aí tem dinheiro suficiente pra você se livrar desse estorvo.

– Espera, acho que não entendi direito, você não pode estar falando sério.

– Estou sim. Essa criança não pode e não vai nascer entendeu? Não posso ter um filho agora, na verdade nunca pensei em ter um. Você vai tirar essa criança enquanto dá tempo, me entendeu? E tudo vai voltar a ser como era.

– Não! Não e não! Nada vai voltar a ser como era e não vou tirar esse filho, não vou fazer isso.

– Qual é o seu problema? Tão inteligente na faculdade e tão burra em outras coisas! Essa criança é um atraso tanto na minha vida como na sua, na verdade mais na sua que na minha.

– Não é um atraso, é uma vida, seu filho!

– Acorda garota burra! Como vai fazer com uma criança hein? Como vai se manter e manter a ela? Já deixei bem claro que não quero essa criança. Pega logo a porra do dinheiro e se livra disso enquanto há tempo. Estou te ajudando.

Senti uma pontada tão forte no meu peito com aquelas palavras. Ele não mostrava nenhum tipo de arrependimento ao dizer tudo o que disse. Peguei o dinheiro que ele havia me entregado e comecei a rasgar nota por nota na frente dele.

– Você está louca? Tem noção do que tive que fazer pra conseguir esse dinheiro? – dizia ele segurando minhas mãos com força, fazendo com que assim eu deixasse cair as notas que não havia conseguido rasgar.

– Não se preocupa, não quero um centavo seu pra nada, muito menos pra matar meu filho. Mas saiba que você está plantando e mais cedo ou mais tarde sua colheita vai chegar, tenha certeza disso. – disse virando as costas e saindo chorando enquanto ouvia-o gritar.

– Sua louca, maluca! Você ainda vai se arrepender de não ter aceitado esse dinheiro, pode ter certeza!


FLASH BACK OFF


Eu fiquei em estado de choque depois de ouvir aquilo tudo. Minha mãe não parava de chorar e me dei conta de tudo o que ela havia passado pra que eu fosse um homem de bem, coisa que eu sabia que não estava sendo. Antes não entendia o porquê, mas agora eu entendia. Apesar das orações da minha mãe, eu tinha tudo pra ser como meu pai era: um monstro. Porém depois de ouvir aquilo tudo e ver como minha mãe estava, eu odiei aquele cara com todas as minhas forças. Eu era filho de um monstro e se não bastasse, estava me transformando em um também.

– Filho, olha pra mim – disse minha mãe segurando meu rosto – promete pra mim que você não vai ser como esse homem. Promete que nunca vai brincar com os sentimentos de ninguém, com a vida de ninguém.

– Mãe...

– Por favor, Mateus, me promete.

Como eu podia prometer aquilo sabendo que eu estava planejando fazer exatamente o contrário? Na verdade já havia até começado.

– Promete filho, faz isso pelo amor que tenho por você.

– Eu... Prometo mãe. Vou me esforçar pra isso.

Ainda com os olhos vermelhos e inchados minha mãe me abraçou forte, como não fazia há muito tempo.

Fui sincero na minha promessa, mas ainda sentia dentro de mim a dúvida se conseguiria cumprir ou não.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Foi tenso não foi?
Ficou um pouco + longo que os outros eu acho, mas foi necessário.
Não esqueçam de deixar seus reviews ok?
Recomendem tbm =)
Ah, se há alguma leitora fantasma entre vcs, se apresente, não mordo =D
Façam uma autora feliz =)
Bjus e até o próximo!