Ela não respondeu. Simplesmente não conseguia. Abriu e fechou a boca, nenhum som se atrevia a sair. Ela iria falar a coisa errada de qualquer modo, fora melhor assim.

–Achei que fosse apenas uma brincadeira de mal gosto quando me avisaram que você havia acordado, mas não é uma mentira, infelizmente - Poseidon disse. Suas palavras passavam por Atena como lâminas. Ela havia se esquecido de como ele era irritante. O Poseidon que ela imaginara não era assim. Aquele Poseidon não a maltrataria mais, ele a amava. Mas o Poseidon real não era assim, ele nunca a amaria. Ele a trataria como sempre tratou: como inimiga. O que eles eram, na verdade, quase sempre foram.

Quase sempre. Houveram tempo em que eles andavam lado a lado, como aliados. Eram amigos, até. Ele a fazia rir e ela o ensinava coisas, curiosidades. Ele a mostrava um pouco do seu mundo, a encantando com as coisas que ela não havia visto, apenas lido.

Mas então aconteceu. Ela confiou demais nele, se iludiu e tivera o coração partido. Ela o encontrara com Medusa. Nus. No seu templo.

Por muito tempo esse momento havia sido o pior da eternidade de Atena, até ela acordar e perceber que ela imaginara ela e Poseidon juntos.

Ela não era pra ser assim, na verdade. Ela era forte, orgulhosa. Não deixaria que um mero pescador a abalasse, mas a verdade é que esse sentimento não nasceu enquanto ela estava dormindo, ele já existia. Porque sim, ela o amara, e muito, antes de se decepcionar com ele. Atena havia tentado deixar esse sentimento de lado, deixando que sua raiva assumisse seus sentidos, tornando-se assim fria, calculista, vazia.

E ele nunca soube que ela o amara, e nunca saberia. Também, não iria se importar, então ela não contaria de qualquer modo. Ninguém saberia, seria um segredo que morria com Atena (se essa algum dia morresse).

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Ela havia ficado muito quieta depois de seu último comentário.

Talvez não devesse tê-lo feito, fora maldoso demais. E fora, estranhamente, uma mentira.

Poseidon realmente havia ficado... contente, quando ouvira dizer que Atena acordara. Ele sentia falta de discutir com ela. O problema é que sua necessidade de rebaixá-la, como ela sempre fazia com ele, era maior do que seu sentimento de contentamento. Até porque ele nunca admitiria que ficara feliz, nunca. Era orgulhoso demais para isso, e se o fizesse, não o faria para Atena.

Ela havia se perdido em seus pensamentos, e ele pode notar algumas lágrimas se formando em seus lindos olhos, e ele desejou saber em quê ela pensava.

–Er... Atena?

–Hum? - Foi tudo o que ela conseguiu dizer, acordando de seu "transe".

–Você... hum... está, er, bem? - Ele nem acreditava que as palavras haviam realmente saído de sua boca, e pela expressão que ela fizera, nem Atena havia acreditado. Aquilo soara de um jeito diferente à intenção de Poseidon. - Quer dizer, eu posso comemorar agora ou você está bem? - Ele tentou "consertar" o estrago. O que havia com ele? Seria seus sonhos estranhos o perturbando novamente?

Desde que Atena ficara doente, Poseidon começara a sonhar com momentos estranhos, que nunca haviam acontecido. Em muitos deles ele estava com a própria Atena, e se lembrava vagamente de beijá-la em um ou outro sonho. Ele chegou a conclusão que deveria estar completamente louco.

Ah, não que ela não fosse formidável à vista, com seus cabelos loiros perfeitamente alinhados, com seus cachos fofos caindo sobre seus ombros, seus lábios convidativamente vermelhos e com seus olhos mortais. Mas ele simplesmente não podia ficar com ela, nem que em sonho! Eles eram inimigos declarados! Não conseguiam ficar no mesmo recinto por mais de 3 minutos sem querer matar um ao outro. Claro que isso nem sempre fora assim, e houvera um tempo que Poseidon se arrependera amargamente de não tê-la beijado, mas os tempos haviam mudado, ela o odiava com todas as forças de seu ser, e ele nutria o mesmo ódio por ela.

Ao menos era o que ele pensava.