Capítulo 8

BELLA POV

Cada dia naquela clínica era diferente do outro, cada dia havia uma surpresa diferente e ontem a surpresa foi Edward e sua declaração pública pra mim. Eu admirei sua coragem, mas do que isso admirei o ato dele de expor seus sentimentos em meio ao grupo por mais frieza que esse ato escondesse por trás.

Ele gostava de mim e isso me torturava por saber que eu não podia retribuir. E não conseguiria mesmo que quisesse. No fim de tudo havia Henri  e esse sentimento de culpa que nada apagaria. Agora que eu consegui um apartamento próprio era questão de tempo até que ele chegasse, até que eu explodisse.

- Bella? – era ele, apoiando o queixo com as mãos e olhando pra mim no balcão.

- O quê?

- Pensando na vida? – Mexi no computador em minha frente focando no arquivo, um estudo de caso que eu teria que compartilhar com a equipe amanhã e mal fiz três parágrafos.

- Não, tenho que apresentar um estudo de caso para a equipe amanhã. Estou trabalhando nisso. O que quer Edward?

- Não tenho muitos amigos aqui. Jacob só anda ocupado, Emmet nunca vem aqui e meu padrinho também, sinto falta de conversar sobre assuntos amenos. – ele suspirou, parecia ser sincero.

- O que quer fazer?

- Tomar um milkshake de morango com batata frita, mas só que não posso. Que tal me contar sobre sua vida?

A nova versão Edward simpático era intrigante. Ele não sairia daqui enquanto não obtivesse respostas, então somente comecei a tagarelar.

- Minha temporada na França foi proveitosa, apesar de eles serem poucos efusivos, sentia falta de calor humano, afeto verdadeiro sabe? Contudo, depois melhorou, fiz amigos na universidade e conheci Henri, ele é perfeito demais pra ser real. Não existem muitas pessoas bonitas e inteligentes no mundo, além de você e dele... – Foi aí que eu percebi, falei do meu namorado para o homem que estava apaixonado por mim. Genial Bella. Edward continuou me ouvindo.

- Não vai continuar?

- Eu não devia ter falado de Henri.

- Por que não? Ele é seu namorado, você está com saudades, é normal.

- Como você sabe que ele é meu namorado? Não disse nada sobre o grau da nossa relação...

- Seus olhos brilharam ao falar dele. Espero que esse cara perceba o tesouro que tem em mãos.

- Acho que precisamos aumentar a dose do seu remédio, Edward. Eu não sou tesouro, sou uma bagunça.

- Um tesouro bagunçado então. Se eu fosse esse cara não deixaria você solta.

- Você não presta Edward. – Ri cobrindo meus olhos com as mãos. Num ato impensado ele apertou minhas mãos nas dele e beijou-as entre os dedos. Senti um arrepio agradável invadir minha espinha. É isso que chamam de prazer culpado?

- Agora sim eu não presto. – Ele sorriu.

- Por que você faz isso?

- Quer mesmo que eu diga?

- Prefiro não arriscar.

- A verdade não liberta, Bella, muito pelo contrário. Mas por hora te dou a honra de fazer-me perguntas.

Pensei bem no que queria perguntar. Uma coisa me intrigava, a relação dele com Jane.

- Eu queria saber sobre sua antiga namorada.

-  Minha relação com ela no começo era muito boa, como qualquer outra relação, Jane me fazia sentir vivo, ela era corajosa, louca, não se importando com nada. Depois ela me apresentou ás drogas e nosso namoro ficou tenso, dependente, doentio.

Apesar de ela ter destruído Edward, eu sentia inveja dessa Jane por ter coragem suficiente para ficar com ele, para se aprofundar numa relação com ele.

- Nem sei se vou conseguir voltar ao meu apartamento e encontrar vestígios dela lá.

- Você amando alguém, é impressionante.

- E você? Ama Henri?

- A verdade não liberta Edward.

 - Você tem toda a razão, foi um cara bastante sábio que disse isso. – Ele sorriu, ver aquele sorriso repetidas vezes á noite era danoso a minha sanidade. Por sorte, Edward bocejou dando sinal de que o sono chegou. – E esse cara sábio precisa descansar, boa noite Bella. É sempre um prazer falar com você.

Ia dizer o mesmo, mas preferi não arriscar, Edward poderia interpretar mal.

- Boa noite.

Após a saída dele, alguém me chamou pelo skype e ao ver no nome de Henri piscando na tela, aquela sentimento de culpa voltou a me assombrar. Quando eu estava com ele era pra estar com o pensamento nele e não em outro.

- Mon amour, senti falta de ver esse rosto lindo. – Sorri pois sabia que ele estava tentando me agradar, minha aparência era horrível.

- Como você pode ser tão mentiroso?

- Eu acho você linda, é pecado isso?

- Claro que não, só é estranho porque estou cansada e acabada.

- E ainda há espaço para mim nessa vida cheia?

- Sempre terá, principalmente agora que encontrei o nosso espaço ideal. Segundo Alice ele é habitável.

Seu sorriso expandiu. Como ele era lindo.

- Habitável é bom. Dentro de algumas semanas nos veremos, espero. E matarei a saudade de cada parte de você.

Suspirei, esse era o homem que eu precisava amar, estar perto sendo fiel e honesta com ele.

- Eu também quero matar as saudades. A distância é uma droga.

- Mas vai servir pra nos aproximar mais.

Ou não, pensei revirando os olhos.

- Bella? Tudo bem? – Henri franziu a testa, seu sorriso se desfez.

- Tudo, por quê?

- Você acabou de dizer que a distância não nos aproxima. Aconteceu alguma coisa que eu preciso saber?

Eu disse em voz alta, de todas as besteiras que eu podia fazer, disse em voz alta. O cansaço era realmente destruidor. Engoli seco, prendi a respiração sentindo toda a tensão me invadir.

- Nada, amor. Sério, está tudo maravilhoso. Preciso mesmo ir, ok? Te amo. Beijos. – Desliguei a webcam sentindo um alívio por não estar mais aos olhos avaliadores de Henri. Ele sabia que havia algo errado. Você é péssima com o manejo de emoções, Bella.

Nos dias que se seguiram organizei minha mudança, de vez em quando falava com Henri por telefone ou por mensseger, mas sempre escapando e disfarçando, eu me sentia péssima por isso. Contudo era o que eu conseguia diante das minhas emoções misturadas em relação á ele e a Edward.

Comprar móveis era a parte mais difícil, Jasper se ofereceu pra ir comigo junto com Alice, mas dispensei, pois sabia do gosto de Alice para móveis caros e extravagantes. Então convoquei meu pai, passar um tempo a mais como pai e filha ao invés de patrão e empregado era bom.

- Sua mãe me ligou e disse para dar um suporte que você precisar.

- Como se eu fosse uma criançinha.

- Você sempre será nossa criançinha, mesmo que o modelo francês a deflore.

Minhas sobrancelhas se ergueram.

- Pai! – alertei atônita voltando minha atenção para ele.

- O que foi? Eu tenho ciúmes da minha filha. Não só ciúmes como também admiração, por isso estou te propondo passar meus pacientes pra você enquanto eu estiver viajando durante duas semanas com Esme.

Minhas compras de casa nova já não eram mais importantes, tudo que eu conseguia pensar era no que meu pai acabara de dizer. Eu seria a substituta dele, então isso quer dizer que Edward seria meu paciente. O quanto isso era constrangedor?

- Eu não estou preparada.

Carlisle tocou meu ombro.

- Eu sei que é muito pra pensar, mas eu sei que você está pronta, você é uma Cullen depois de tudo. Vai ser bom pra você assumir responsabilidades dentro da clínica.

Quando eu pensava que a vida não podia estar mais confusa, vinha algo mais para confundi-la mais ainda. Encarar meus sentimentos por Edward e monitorá-lo era tudo que eu menos precisava agora.