EDWARD POV

Era um dia comum como todos os outros desde que eu entrei na clínica, com execeção de que hoje eu não tremia tanto, meus nervos estavam mais controlados e eu até podia sentir meus músculos menos tensos devido ao antidepressivo. Alegria e tranqüilidade transitória me eram satisfatórios no momento levando-me até o jardim, sem nenhum material em mãos, relaxei um pouco quanto ao livro.

Avistei uma garota assustada, ela abraçava os joelhos e balançava para frente e para trás. Seus cabelos eram iguais aos de Bella, caindo como cascatas nos ombros. Aproximei-me devagar sentando na outra extremidade do banco. Dei um sorriso receptivo tentando parecer simpático,mas minha falta de tato social fez parecer uma careta.

- Você é Edward Masen não é? – Sua voz saiu  trêmula.

- Sou eu sim , o próprio, ou pelo menos o que restou dele.

- Eu li seus livros. São bem interessantes, retratam bem o existencialismo predominante nas relações atuais.

Eu gosto dessa garota, se é que eu gosto de alguém nesse mundo. Forço outro sorriso, ela sorri de volta. Jovens não gostam dos meus livros, preparam maconha com as páginas deles ou apenas ignoram. Era bom saber que algum deles apreciava minha arte.

- Você usou os adjetivos certos pra me agradar ou é naturalmente assim?

- Sou naturalmente assim.

- E por que uma jovem inteligente está aqui?

- Porque eu tomei anfetaminas para melhorar meu desempenho escolar e acabei ficando viciada. Meus pais descobriram e me trouxeram pra cá.

- Desintoxicação é a pior fase, depois vem a abstinência outra fase horrível. É preciso ter paciência pra melhorar, uma virtude muito almejada porém pouco executada. Desculpe minha sinceridade se confunde com rudez.

- Não, é ótimo ter conselhos de alguém como você. – Ela disse erguendo a palma.

- Bom, espero que não esteja te assustando.

- Meu nome é Bree e não estou assustada. E você Edward como está?

- Sobrevivendo. Meu terapeuta sempre faz essa maldita pergunta.

- É horrível, eles esperam você dizer “Estou bem” e nada mais. Ainda bem que a doutora Isabella não é assim.

- Doutora Isabella é sua psiquiatra?

- Ela mesma, um amor de pessoa. Muito diferente dos outros psiquiatras, muito mais sensível.

Sensível era a definição certa para Bella. Suspirei pensando nos olhos castanhos me fitando com insegurança.

- Edward? – Bree me chamou balançando as mãos em frente ao meu rosto.

- Sim.

- Você está meio aéreo.

- Estou pensando numa pessoa e no quanto eu quero ser digno dela.

- Você é digno de qualquer mulher. Rico, bonito, autêntico, talentoso...

Quem diria que uma garota conseguiria reforçar o ego de Edward Masen? Mesmo que eu fosse tudo isso ainda não seria digno de Bella. Teria que me anular, diminuir-me bastante para chegar até ela. Era um objetivo, um desafio que eu me dispunha a dedicar. Faria qualquer coisa para ter alta, até mesmo manipular.  Eu precisava estar limpo para conquistá-la.

- Obrigado pela conversa Bree. A gente se vê. E lembre-se foco no que você mais quer, viver.

Olhei em seus olhos por uma última vez antes de sair. Meu cérebro maquinava idéias para arrancar a alta médica de Carlisle Cullen, mesmo sabendo que obtê-lo em terapia seria difícil. Enquanto eu fosse o rapaz complexo, sarcástico e inteligente demais não poderia obter alta tão rápido e se eu mudasse subitamente Carlisle logo desconfiaria.

Fui tirado dos meus pensamentos quando avistei Bella conversando no corredor com Caius, um dos psiquiatras mais detestáveis que conheci. Ele tentava intimidá-la, enquanto ela apenas desviava focando nos papéis em suas mãos. Ninguém fazia isso com minha garota e saia ileso. Porém, ali eu era o paciente e ele o homem com o poder de argumentar sobre minha impulsividade se eu o agredisse, ainda havia Bella e o nosso pequeno segredo. Então respirei fundo num lapso de frieza e continuei caminhando em direção ao quarto.

Ouvi passos atrás de mim apressados, uma mão suave tocou meu ombro e meus músculos reagiram a sua presença. Tentei ficar calmo, sem demonstrar o que sentia quando na verdade queria levar sua mão até meu coração e fazê-la sentir as batidas.

- Oi Masen.

- Doutora Swan, ao que devo a honra?

- Qual é a jogada? – Ela ergueu as sobrancelhas desconfiada.

- Não me faça perguntas sem sentido, você me chamou.

- Só queria dizer oi. – Bella defendeu-se.

- Não consegue ficar longe não é? Eu também não. – Ela prendeu a respiração e mordeu o lábio inferior. Como eu queria beijá-la. – O que Caius queria com você?

- Perturbar, exercer o poder dele. Essas coisas.

- Se ele te importunar é só falar, conheço  algumas pessoas da pesada que se encarregariam dele. – Sorri.

- É tentador, mas não obrigada. Vai para o grupo amanhã?

- Eu perderia a oportunidade de ver seu lindo rosto mais uma vez? – Ela prendeu a respiração  de novo e olhou para os lados tentando disfarçar o rubor. – Posso te pedir um favor? Cuide bem de Bree, ela é uma garota boa, lembra á mim quando era mais jovem.

Bella estreitou os olhos, me fitando de forma curiosa. “Qual o truque?” sua expressão facial queria perguntar.

- Sem truques. Só eu e você como pessoas normais. – Tentei repetir minha fala de anos atrás quando quase a beijei numa festa. Eu era um  idiota egocêntrico na verdade, ainda sou.

- Ok. Cuidarei da Bree, é meu trabalho, quando você sair daqui pode ser o padrinho dela, quem sabe?

Ser padrinho de alguém significava que você superou os obstáculos da dependência e venceu. Eu não era um vencedor, não era tão bem preparado para o mundo. Mas a idéia de ser referência para alguém era tentadora.

- Você me acha um bom exemplo? Eu daria um bom padrinho?

- Me diga você daqui a algumas semanas quando tiver alta. – Ela sussurrou mais próximo que o normal. Bella geralmente tinha medo de mim, mas agora o medo deu lugar a confiança principalmente quando ela levou os dedos até minha barba por fazer.

- Precisa fazer a barba, Edward, por mais que fique charmoso com ela. – Disse antes de virar as costas e ir embora. Meu coração foi com ela, junto com minha sanidade.

Foi difícil crer no gesto de Bella, agora era eu que me perguntava qual era a jogada dela com essas atitudes. Encontraria ela no grupo mais tarde, contudo nem mesmo poderia questioná-la sobre seu ato porque estaríamos em público onde nossos segredos eram velados.

Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei participar desse grupo, era como sentir pena de mim em público. Mas era também mais um recurso que me auxiliaria a sair da clínica, se fosse bem no grupo, quem sabe conseguiria a tão almejada liberdade.

- Meu nome é Edward Masen, eu sou um adicto. A primeira vez que eu usei cocaína foi por influência de uma amiga que mais tarde tornou-se namorada. Ela dizia que me ajudaria, que seria a solução para os meus problemas com inspiração. Mas foi o começo dos meus problemas. Fiquei numa fissura terrível, exigindo mais e mais de mim e aumentando as doses da droga. Ela te dá aquela sensação de que o mundo é seu, é impressionante. Eu já era narcisista, então foi só uma extensão de mim. Os amigos falsos surgiram, as festas surgiram, as oportunidades de consumir aumentaram. Até que eu notei algo errado, eu me comportava como um animal com a droga, mal comia e dormia. Então resolvi me internar. Não pensem que foi uma decisão fácil, poucas pessoas realmente se internam, tem o objetivo de largar o que te dá tanto prazer.

Respirei fundo olhando pra Bella, que olhava pra mim atentamente assim como todos ao redor.

- Não é o ato que te define, é o que te levou ao ato. Não sou mais tão ganancioso como era antes. Agora enxergo coisas que não conseguia enxergar antes. Acho que me internar foi o ato mais corajoso que tive e mais sensato também.  Quero voltar a escrever naturalmente, quero poder me olhar no espelho sem ter ódio de mim. Quero reencontrar uma pessoa do meu passado e dizer que a amo e só agora percebi, espero que não seja tarde demais pra nós. – olhei para Bella, ela não expressava nada, ou se esforçava para não expressar. Será que ela tinha alguma noção dos meus sentimentos e de pra quem eles eram direcionados?

Ao final dos depoimentos todos bateram palmas. Bella anunciou que continuaríamos na próxima semana com um belo sorriso no rosto. Fui a última pessoas á deixar a sala do grupo.

- Edward! Espera.

- O  quê?

- Foi bonito o que você disse. Eu fico feliz que finalmente consiga se expressar.

Sorri pondo as mãos nos bolsos.

- Eu preciso dar um jeito de sair daqui não é? Se esse seu grupo for me ajudar...

- Contanto que você seja sincero. – Ela não estava decepcionada, nem surpresa.

- Não importa, só quero sair daqui e resolver minha vida.

Ela não finalizou a conversa, mas eu fiz por ela. Se continuasse naquele ambiente com Bella eu a beijaria e acabaria com meu plano, eu precisava estar são, ter atitudes sãs.