- Por que você não me contou? – meu olhar acusador assustou Jasper. Ele largou o violão no sofá e se levantou num salto.

- Desculpe, eu não tive tempo, mas eu ia te contar.

- Como soube? – Jazz ergueu as sobrancelhas.

- Jornais, Edward é um escritor famoso.

Respirei fundo e revirei os olhos. Claro que Edward era famoso, ele tinha um talento natural desde o colegial. Além de ser perfeitamente arrogante e presunçoso, pra essa indústria, ele era o que eles precisavam.

Deixei minha irritação de lado e me joguei no sofá ao lado de Jasper, desabei deixando minha mente caminhar pelo caminho errado e perigoso.

- Ele está tão magro, apesar disso continua o mesmo.Aquela droga acabou com ele, é raro ver Edward triste, ver a frustração em seus olhos foi realmente difícil. Eu só quero cuidar dele e abraçá-lo, trazer tudo de volta pra ele.

Desabafei fechando minhas mãos em punhos. Era errado desejá-lo, manter qualquer tipo de relação com ele, mas eu não queria me afastar de Edward Masen, mesmo ele sendo tudo que eu mais abominava em alguém.

- Você ainda gosta dele. – Jasper disse em tom de tragédia.

- Não é nada bom. – Tive que concordar. – Ficar perto dele vai ser uma batalha contra meus sentimentos. Aqueles olhos verdes são tão...

- Frios? Vazios? – Ele zombou.

- Encantadores. Edward se dedicou a carreira e o que ganhou em troca? Nada, apenas o vício nas drogas.

- Você se importa tanto com ele, sempre se importou e Edward nunca foi seu amigo, Bella. Ele brinca com as pessoas, as atrai e depois as abandona.

Uma das coisas que aprendi com os livros foi que sempre há um motivo por trás de determinado comportamento, eu não conhecia a história familiar de Edward, mas a maioria dos conflitos vinham da infância ou eram originária das relações familiares.

- Ele tem um motivo pra ser assim. Edward não é ruim.

Jasper riu levando as mãos aos cabelos já bagunçados.

- Você tem consciência do quanto está perdida?

Ri sem humor sentando-me ao lado de Jasper. Mordi o lábio inferior prendendo as malditas palavras dentro de mim. Talvez eu devesse trabalhar em outro lugar.

O jantar com os Cullen seria uma ocasião especial, mal chegara de viagem e encontrei Edward Masen minha paixão da adolescência e agora me preparava pra conhecer minha madrasta. Jasper me acompanhou juntamente com Alice que me encheu de perguntas sobre como Paris era. Ela fez Jasper prometer que visitariam a França um dia, e que o mesmo pagaria tudo, depois era eu que estava perdida. Eu gostava dela e do seu jeito espalhafatoso, Jasper era acostumado a escolher garotas erradas e estranhas e Alice era diferente, ela equilibrava ele.

- Lembra do quatro de julho? – Jasper perguntou do retrovisor com um sorriso brilhante.

- Fogos de artifícios na bunda. – Dissemos em uníssono.

- Seus pais enlouqueceram.

- Bella só aprontava comigo, perto de Mike e os amiguinhos era uma santa.

Minha mãe tinha regras de como uma garota deveria se portar, eu sempre fazia tudo ao contrário.

- Que fim levou Mike?

- Ele tem um negócio de venda de embarcações.

- Não sei como consegui namorá-lo por três anos.  – Revirei os olhos.

- E lembra quando você terminou? Os garotos vinham me perguntar sobre você, não perderam tempo ao saber que você estava solteira.

Mike Newton era gentil, engraçado durante os primeiros anos, contudo quebrou aquele código “ só quando eu estiver pronta” e não entendeu o que eu quis dizer. O fato é que não havia aquela faísca com ele, apesar de sermos um dos casais mais invejados do colégio. O que sobrou foi um coração partido da parte dele, é claro. Eu sempre fui apaixonado por Edward e seu jeitão “não tenho nada a perder”.

Agora eu tinha o Henri, e eu o amava e ele nunca me trataria como Edward. Ele me via como parte da sua vida e não como um obstáculo.

Quando chegamos a casa do meu pai, Jasper fez questão de comentar.

- Uou. Seu pai está bem de vida hein!

Uma linda mulher atendeu a porta sorrindo pra nós, Esme pelo que pude perceber.

- Bem vindos. – Ela abraçou cada um de nós e se mostrou bastante simpática. Carlisle tinha sorte em tê-la por perto.

E só esperava coisas boas desse jantar.

- Seu pai falou que você é uma grande profissional Bella. Trabalhou num dos melhores hospitais da França, tirou boas notas... – Esme pontuou sorrindo, sabia do seu esforço pra me conhecer melhor e não me oporia a isso, se ela fazia meu pai feliz....

- Arrumou um namorado francês. – Jasper fez questão de dizer me deixando constrangida, Alice riu enquanto Carlisle não ficou tão feliz.

- Quando ele vem te ver?

- Ele está fechando um contrato com uma agência daqui, quer firmar carreira internacional. Em breve virá pra cá.

- Hum, ele é modelo? – Esme perguntou curiosa.

- Sim, Henri Dupont, conhece?

- Claro! Henri Dupont, uma amiga minha tem uma grife aqui e adoraria que ele desfilasse pra ela. – Me surpreendi, Esme parecia àquelas damas da sociedade bem comportadas e desatualizadas.

- Posso falar com ele sobre sua amiga.

Henri precisava trabalhar pra se ajeitar aqui na América.

-          Seria ótimo. – Sorri pra ela, meu pai não gosto muito de Henri, sem nem mesmo chegar a conhecê-lo, era o velho ciúmes da filha única.

-          Mudando para a sua profissão filha, acho que você se encaixaria bem na ala de dependência química o que acha.

- Maravilhoso pai.

Logo a ala em que Edward estava internado. Esse seria apenas mais um desafio na minha carreira. Só esperava que nossos encontros fossem raros. Havia uma chama, mesmo que pequena, acessa com a presença dele.

A luta entre a ética e a emoção seria cruel e acirrada.

- Médicos. – Esme revirou os olhos.

- Só falam sobre trabalho.

Carlisle me olhou e riu. Em seguida pegou na mão de Esme e entrelaçou com a sua. E o resto do jantar foi agradável, mesmo com Jasper tentando me constranger.

EDWARD POV

Blind - Placebo

Encarei o teto branco tentando me concentrar em apenas dormir, mas com tantas substancias no meu sangue esse simples ato se tornava impossível.

Se continuasse assim teria que tomar algo além dos antidepressivos e dos ansiolíticos, esses malditos remédios me davam emoções transitórias que de nada adiantavam. Sempre me ocorria aquele pensamento de que “podia estar pior”, e eu sabia como era se sentir inútil para si mesmo á ponto de querer acabar com a própria vida.

Eu provei a amargura que a cocaína pode trazer juntamente com a sensação de poder. Andei entre a fronteira da melancolia e ansiedade. Subestimei  meu organismo ao pensar que não me viciaria na droga,  o todo poderoso Edward possuía um ponto fraco.

Cerrei os olhos levando minha mente para Bella, meu coração agiu de forma inexplicável ao vê-la. De garota modelo até a maturidade demoraram seis anos, pelo menos o destino foi justo com alguém. Eu subestimei aquela garota e ao contrário do que pensam eu nunca odiei Bella Swan, senão deixaria ela se afogar no mar nas férias de verão há oito anos atrás quando competíamos em plena tempestade. Se odiasse ela não deixaria Jéssica “ na mão” no meu aniversário de dezessete anos por falar mal de Bella.

As garotas não gostavam do sucesso que Bella fazia com os outros caras, afinal ela era uma das únicas virgens aos dezoito anos. Eu achava isso o maior símbolo de coragem, ela não se rendeu as convenções sociais. Ela era forte demais pra se render a pressão do segundo grau. Por esse fato nunca proibi minha mente de vagar pelo corpo de Bella tendo fantasias e sonhos com ela, mas era covarde demais pra quebrar meu status de competidor, chamá-la pra sair. Não, eu não tinha uma paixão por ela, era o famoso desejo de desvirginar uma garota que habitava a mente de boa parte dos machos alfas.

Quer dizer, ela era atraente e agora mais ainda. Seria fácil demais ficar com ela no colégio, agora se tornara difícil diante da nossa condição paciente e médico. Contudo, como todo bom jogador eu gostava da dificuldade. Há seis anos atrás estava mais preocupado com meu ego do que em sair com minha fiel competidora.

Seria engraçado jogar um pouco com Bella, relembrar nossos velhos tempos. Claro que manteria isso entre nós, Carlisle não poderia sequer saber da origem da nossa “amizade” por assim dizer. Existem regras e códigos de ética ultrapassados, porém utilizados, eu conhecia alguns deles e violaria todos ao dar em cima de Bella.

Afinal, eu sou um bom filho da puta e precisava sair desse buraco negro chamado angústia.