EDWARD POV

Sair da clinica abria um novo episódio na minha vida. Eu era um ex dependente. Agora precisava tomar cuidado pra não cair na tentação, seguir os passos corretos e continuar freqüentando as reuniões e a terapia com Carlisle.

Quando Carlisle disse que não tinha mais porque me manter aqui eu não acreditei. Era felicidade demais, eu o abracei sem me conter. Agora era ligar pra Felix e Jacob contando o acontecido. Meu padrinho provavelmente estaria em alguma viagem, mas Jacob provavelmente estava descobrindo formas de ganhar dinheiro.

Só não esperava ver logo Bella em meio á tanta felicidade, fui impactado com a lembrança do nosso beijo, a lembrança que ela mordeu meu lábio e fugiu do que sentíamos. Depois eu era o covarde. Continuei sorrindo pelo prazer de vê-la irritada, é claro que ela não acreditava em minha melhora.

- Prender Edward aqui só vai fazer mal a ele. Ele precisa socializar, ver gente, continuar a vida dele lá fora. Dar responsabilidades á ele vai ser essencial nesse momento. O objetivo da nossa clínica não é tornar-se uma prisão.

- Eu estou pronto Carlisle. – disse sem olhar pra Bella. – Então vamos providenciar os papéis da sua alta. Seu irmão está na cidade?

Revirei os olhos. Alguém precisava realmente vir me buscar?

- Eu quero fazer uma surpresa pra ele. – disse sorrindo forçosamente. – é melhor ligar pra Jacob, meu agente. E será que o senhor poderia pedir pra sua adorada filha e doutora devolver meu notebook? Ninguém manda na minha vida além de mim agora.

Tive o prazer de dizer isso em sua presença. Ela se resignou á ir em direção á mesa do pai e abrir a gaveta e devolver meu amado macbook. Abracei-o contra o peito olhando pra Bella com um sorriso brincando nos lábios. Eu ganhei.

- Desculpe o atraso papai, estava com Henri, ele acabara de chegar da França e fez uma surpresa pra mim ontem. – Não pude deixar de ouvir. Bella queria que eu ouvisse aquilo.

Carlisle ergueu as sobrancelhas, o olhar de pai zeloso tomou lugar.

- Quero conhecer esse rapaz. Marque um jantar. Mas agora, tenho que providenciar a alta do Edward.

- Ok. – Ela sorriu.

Fui até o quarto arrumar minhas coisas furioso, aquele namoradinho francês dela voltou para o meu total desgosto. A quem eu queria enganar? Sabia que Bella estava namorando e mais cedo ou mais tarde, Henri voltaria pra lhe reclamar o lugar que era de direito, que ele mereceu ao conquistá-la. Eu era apenas o garoto escroto do passado dela que a desafiava das formas mais infantis possíveis. De fato eu nunca fui o suficiente pra Bella, essa é a verdade.

Recolhi minha bagagem e fui á procura de Bree, só na porta encontrei Bella de braços cruzados e olhar distante.

- O que quer princesinha do papai? Ou devo dizer senhora Henri algum-sobrenome-francês? – ela ergueu as mãos em frente ao corpo diante do meu comportamento agressivo.

- Ciúmes?

- E se for? – me aproximei dela.

- Só vim me despedir Edward e dizer que te desejo tudo de bom lá fora. E cuidado com aquela Jane.

- Eu sei me cuidar, me cuidei sem um pai e uma mãe, ainda sem irmão.

- Aí se afundou...

- Se eu me afundei nas drogas ou não, o importante é que quero refazer minha vida.

- O que está nos seus planos agora?

- Desistir de reviver coisas inacabadas do passado e pensar no futuro. – As sobrancelhas dela se ergueram. Claro eu me referi á esquecê-la. A vidinha óbvia com o modelo francês era mais segura pra ela.

- Esquecer um passado não é só uma opção sua.

- Você fez sua escolha.  – evitei olhar pra ela.

- Quem te disse? Ontem eu estava assustada.

- Foi ótimo você ter feito aquilo, porque me mostrou que não preciso de você pra ser feliz. Quero esquecer tudo que senti por você. Quero esquecer tudo que me ligou á você. Sabe de uma coisa? Não deveria ter salvado você há anos atrás. Quem sabe minha vida não teria sido melhor?

- Viver com culpa é muito bom não é Edward. – Bella retrucou, magoada e estarrecida com o que eu acabara de dizer.

- A melhor opção sempre é se proteger, seja de quem for. – disse saindo do quarto com minha mochila nas costas.

Despedir-me de Bree não foi fácil, prometi que iria nas reuniões com ela. Nunca dei um abraço tão longo em alguém. Aquela baixinha ganhou meu afeto tão rápido como ninguém havia ganhado antes. Eu gostava dela como uma irmã mais nova.

- Então você virá às reuniões? Virá me visitar? – seus olhos marejados não me deixavam negar.

- Como não baixinha? E pode ficar com minha coleção de quadrinhos.

- Você vai ter que me trazer outros. – ela sorriu.

- Não acredito que você vai ficar tanto tempo aqui. É forte e inteligente, sair dessa vai ser difícil, mas nunca desista de si mesma.

- Você não sabe como seu apoio é importante pra mim. – beijei sua mão num gesto cavalheiresco. Carlisle apertou meu ombro me lembrando que era hora de ir.

As enfermeiras vieram se despedir de mim, alguns suspirando. Não sabia que o meu mau humor era considerado charme por aqui. Apenas sorri. Pra minha surpresa também, Felix veio me buscar junto com Jacob, depois de acordos financeiros e assinaturas pude ir pra casa deixando tudo pra trás.

- Lembre-se você tem um encontro semanal comigo.

Revirei os olhos.

- Claro Carlisle. Comporte-se. – brinquei.

Quando atravessei os portões daquela clínica encerrou-se um ciclo na minha vida e iniciou-se outro.

Outra vida, outros planos e um novo Edward. Saí para almoçar com Felix e Jacob. Do Mercedes conversível de meu padrinho via tudo diferente, ruas, praias, sentia o cheiro da maresia, sorria para as garotas de biquíni e o sol batendo no rosto. Era tudo tão bonito e tão estranho. Devorei dois hambúrgueres no restaurante o qual sentamos, os dois olharam surpresos pra mim.

- Filho, você está realmente com fome. Eles não te davam comida lá? – Felix brincou.

- Nunca mais tinha comido hambúrgueres. – disse dando um gole na coca cola. Aquele liquido dos deuses.

- Quero me certificar que você fique longe das drogas e do álcool e siga o tratamento á risca.  – Felix disse preocupado comigo.

- Estou bem tio, juro que agora é pra valer. Nada de substâncias ilícitas. Nada de excesso de trabalho. – ele não parecia convencido, só o tempo mostraria o quanto aprendi tendo a liberdade e o corpo levado pela droga.

- Ah, troquei a fechadura do seu apartamento pra certificar que Jane não entre lá, troquei seu número de telefone e tomei a liberdade de comprar um Iphone novo, sei como você adora essas baboseiras tecnológicas. – Jacob disse parando de mexer em seu tablet pra falar comigo.

- Agenciando mais alguém seu babaca louco por dinheiro?

- Sim, uma atriz pornô que agora resolveu escrever contos eróticos. Ela é temperamental.

- Ironia pouca é bobagem. – disse rindo. Félix e Jacob me acompanharam.

- É bom te ver rindo. – Eu sabia que ele queria tocar no assunto Emmet e meus pais, mas era cedo demais pra estragar minha felicidade.

- Quer ir á algum lugar agora? – Meu padrinho questionou querendo suprir sua ausência. Não o culpava, diferente dos meus pais ele era um cara legal, sempre quis que Felix fosse meu pai biológico. Decidi ir pra casa rever meu lar doce lar, por mais pesadas que fossem as lembranças das farras homéricas realizadas naquele lugar.

Félix foi trabalhar já que seu tempo era curto, mas antes de sair me deu um abraço longo e planejamos um jantar no dia seguinte.

Jacob ficou mais um tempo comigo, jogando Mario Kart e uma partida de tênis no meu Xbox. Depois ficamos bebendo coca cola e falando sobre essa nova agenciada dele.

- Ela ridiculamente se parece com você. Mas tem talento, tão grande quanto seu ego e sua beleza.

- Ela não pode ser bonita, inteligente e talentosa. – refleti tomado pela curiosidade. Queria conhecer essa mulher que deixava meu amigo de cabelos em pé.

- Eu conheço esse olhar. Quem sabe te apresento á ela.

- Seria um tremendo prazer. – disse pensativo, seria interessante conhecer outras mulheres. Um passo para esquecer Bella e tudo que me lembrava ela.

Infelizmente Jacob teve que sair. Zapeei a televisão á procura de alguma coisa pra assistir, parei na MTV onde passava um clipe de Mr Brightside  do The Killers.

I'm coming out of my cage

And I've been doing just fine

Gotta gotta be down

Because I want it all

Droga, estava voltando tudo de novo, lágrimas desceram ao perceber o que acabara de acontecer, eu estava livre, deveria estar feliz. Mas o invés disso meus pensamentos voltavam pra ela. Eu só seria completamente feliz se a tivesse comigo. Contudo outro á levou, porque eu sou um idiota incapaz de manter as pessoas que ama por perto. Então chorei feito um bebê que perdeu o brinquedo. Chorei até adormecer, porque bem no fundo eu era solitário.

Os dias se passaram, as noites vieram e eu não atendia aos telefonemas, não lia aos emails, apenas comia o que Jacob havia deixado na geladeira e assistia televisão, quando não estava jogando algum jogo violento no Xbox. O dia todo assim. Minha barba crescia, eu perdia a conta dos dias, eu me perdia. Até que a intervenção milagrosa do meu amigo me acordou.

- Que merda é essa Edward? Você saiu pra ter recaída?

- Não exatamente, tenho tomado meus anti depressivos.

- E não atende ás ligações.

- Desculpe se eu estou tentando viver no meu mundo. Acabei de sair, estou absorvendo as notícias aos poucos. – disse me levantando do sofá.

- Que porra Edward! Você é meu melhor amigo, só não morra, por favor. Não por aquela garota.

- Se sua preocupação é o livro, tem um pen drive com boa parte dele adiantado em cima da bancada da cozinha.

Ele socou o ar.

- Seu filho da mãe cala essa merda dessa boca e se arrume. Faça essa barba, coloque uma roupa limpa e vamos sair.

- Pra onde? – questionei cauteloso. Se ele me desse um soco aí sim não acordaria.

- Não te interessa seu babaca presunçoso. Só vá tomar um banho e fazer a barba.

Simple song - The Shins

Jacob levou-me primeiro ao barbeiro, eu precisava estar apresentável á reunião que ele marcou. Meu cabelo foi maltratado pelas mãos escorregadias de um cabeleireiro com síndrome de moda, que o cortou nos lados e atrás, deixando com um visual mais moderno.

Depois ele insistiu que eu fosse á academia com ele e ainda me desafiou numa corrida á qual eu perdi. Ele apostou que eu não conseguia bater seu tempo, e eu como bom desafiador aceitei. Estava determinado á manter a forma e acabar com a alegria de Jacob. Treinei duro praticamente todos os dias. As garotas piscavam pra mim e algumas até me davam seus telefones, mas o Edward não estava aberto para o amor. Não ainda.

Numa dessas manhãs, mandei um SMS pra Jacob o intimando para outro desafio. Ele disse que tinha uma reunião então fui atrás do único lugar onde meu amigo marcava reuniões. Montei na minha moto sentindo a potência e a velocidade dela depois de tanto tempo, sorri, eu adorava andar de moto pelas ruas de San Francisco. Paralisei quando saí da moto e vi Jacob no café que nós freqüentávamos  debatendo com uma mulher de cabelo curto, pela forma como ele franziu a testa parecia muito irritado.

Caminhei até eles, pegando uma rosquinha na mesa e mastigando. A mulher de cabelo curto olhou pra mim com um sorriso sedutor nos lábios. Ela era bem bonita. Não tinha aquela beleza óbvia e sim exótica. Jacob suspirou e massageou as têmporas como se dissesse “era só o que faltava”.

- Edward...

- Bom dia arregão.

- Estou tendo uma reunião.

- Percebi, sou Edward Masen e você senhorita?

Ela sorriu mais ainda, seus olhos brilhando. Eu não estava enferrujado nessa arte de impressionar as mulheres.

- Gianna Brown.

- Escute Gianna, - disse sem quebrar o contato. – o que estão te oferecendo é menos do que você recebe, portanto seja humilde pra receber porque essa é uma arte diferente da qual você está acostumada á fazer. Não desvela o corpo, desvela a alma. Aceite a proposta inicial, após o lançamento do livro e as críticas que receber você poderá receber mais ou não, é o risco que se corre por abrir sua alma ao público.

Jacob arregalou os olhos pra mim. Gianna bebeu o café, pensativa.

- Por que eu não estou negociando com ele? – Ela apontou pra mim. – Estamos combinados com esse valor Jake.

Pisquei pra Jacob que agradeceu silenciosamente á mim.

- Então Gianna, o que está fazendo hoje á noite?

Enfim, eu precisava seguir minha vida, enfim eu esqueceria o passado. Eu era Edward Masen e não possuía a fama de novo gênio da literatura á toa, todo gênio sentia a loucura dentro de si.