Aurora escrita por Juliana Gonçalves


Capítulo 5
CAPITULO 5 — UMA FAXINA NA ALMA.


Notas iniciais do capítulo

Minhas lindas, segue o novo capítulo. Atrasou um poquinho, mas foi por um bom motivo.

Espero que gostem.

Bjuhs *-*



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Procurei atrás de Edward alguém que pudesse ter o chamado, mas não tinha ninguém ali, só o caminho de onde viemos e algumas árvores pequenas balançando com o vento que anunciava a chuva que logo chegaria.

Olhei para Edward tentando entender o que estava acontecendo e, ele me olhava com o mesmo brilho nos olhos que vi na primeira vez que nos vimos. Seus lábios vermelhos pelo beijo, estavam esticados em seu lindo sorriso de lado. E sua mão possessiva ainda rodeava a minha cintura me puxando contra seu corpo.

Levei uma mão à boca assim que entendi o que estava acontecendo e senti lágrimas descendo por meu rosto. Foi simples assim. Sem nada com que pudesse impedir.

Empurrei Edward para trás tentando me afastar de seus braços, mas ele não deixou, me apertando mais contra seu corpo.

— Não Bella. —Eu precisava pensar, eu queria entender o que estava acontecendo e para isso eu precisava estar só. — Você pode, meu amor. Você pode. Ninguém pode te impedir. — Falou segurando meu rosto.

Empurrei Edward de novo para que ele entendesse que eu queria que ele se afastasse um pouco e senti o vazio me preencher quando seus braços me soltaram. Encostei-me na arvore atrás de mim tentando me apoiar se não poderia cair com o vazio que se alastrou dentro de mim.
Observei enquanto Edward se afastava dando socos no vento e xingando baixinho. Edward estava sofrendo junto comigo. Ele sofria ao me ver sofrer e a minha dor só aumentava ao perceber isso. Mais uma vez, as pessoas que me amavam só sofreriam estando perto de mim. Eu nunca mais conseguiria fazer alguém sorrir, pois eu nunca conseguiria sorrir. Não sabendo que quando eu chorasse a única pessoa que conseguia me fazer sorrir também choraria comigo.

Deslizei meu corpo no caule cascarento da arvore atrás de mim assim que imagens de Jacob me atingiram: seu corpo caindo no ar até atingir o chão de cimento; os fragalhos saindo logo depois que a bala atravessou sua cabeça; o sangue jorrando de seu ferimento; seu peito subindo pela última vez; e seu precioso sangue se espalhando pelo chão levando a sua e a minha vida enquanto as pessoas ao redor gritavam desesperadas pelo ocorrido.

O que eu não entendia antes agora se tornou claro para mim. Apesar de estar viva, minha mente se prendeu àquele momento, como se ele fosse o único que eu vivi durante todos os meus quase dezessete anos. E agora, quando algo forte o suficiente aconteceu em minha vida eu podia enxergar tudo com mais clareza. Mesmo sem querer eu acreditei que havia morrido junto com Jacob. Que minha vida se tinha se tornado aquele sangue que assisti escorrer pelo chão, que secou por causa do sol e que dias depois, quando a perícia terminou, foi lavado levando para o esgoto tudo o que um dia tinha sido minha vida.

Eu jamais conseguiria recomeçar se Edward não tivesse me mostrado que eu tinha me tornado uma morta viva. Que eu havia deixado minha mente e meu coração para trás. Que algo tão importante quanto Jacob poderia acontecer em minha vida, novamente.

— Eu prometi e vou cumpri Bella. – ouvi Edward falar enquanto meu corpo era levantado no ar. – Eu vou estar com você sempre que me quiser por perto.

Eu estava tão concentrada que nem percebi Edward se aproximando. Eu havia me esquecido de onde estávamos. Ele me levou no colo até o carro e me colocou no banco do passageiro. Mas sem dizer nada passei para o banco do motorista e apontei para que Edward sentasse ao meu lado. Ele sentou um pouco contrariado, dei partida no carro e arrisquei tudo o que tinha naquela viagem.

Dirigi a caminho de Portland onde algo triste, mas especial estava guardado. Edward não falou nada enquanto olhava a paisagem passar e em alguns momentos senti que ele me encarava.
Horas depois estacionei o volvo prata de Edward em frente ao consultório conhecido, que muitas vezes precisei visitar para tratar o meu trauma.

Entrei na grande sala de espera com Edward logo atrás de mim. Às vezes eu me sentia constrangida pelo olhar que ele lançava as minhas costas, eu podia não estar vendo, mas sabia que ele estava fazendo isso.

Guiei-o para a parede mais afastada onde tinha vários cartazes sobre acidentes, assassinatos, suicídios e mais outras coisas. Cada cartaz dali era referente ao trauma de alguém. Todos que um dia já passaram por aquele consultório tinham suas histórias naquela parede, mas nenhum com identificação. Para que outros pacientes pudessem entender que havia casos parecidos com os seus em que pessoas conseguiam superar e seguir em frente.

Parei em frente a um grande cartaz branco onde, escrito em uma letra pequena, estava o nome daquele que mais conheci na vida.

Jacob, suicídio.

No dia 19 de setembro de 2010, o jovem Jacob estava em um almoço de família comemorando o seu aniversário e de sua melhor amiga, que completavam 16 anos no dia 13 e dia 15 do referente mês. Quando, sem que todos estivessem cientes do que ocorria, ele saiu de sua casa com uma arma em mãos.

A arma de calibre 22 pertencia a seu pai, que a mantinha guardada em seu quarto, onde provavelmente o garoto a encontrou e usou para cometer o suicídio. Mas antes de se suicidar, Jacob atirou contra sua melhor amiga que estava um pouco mais afastada de onde tudo aconteceu. O tiro a acertou de raspão no ombro deixando um pequeno ferimento, o que não provocou danos maiores.

E antes que alguém pudesse impedir, o jovem atirou contra a própria cabeça tirando sua vida. Ele morreu na hora, impedindo os paramédicos que chegaram logo em seguida de fazer algo que o ajudasse.

Depois de ver seu amigo atira contra ela, e logo depois cometer suicídio, a garota citada acima entrou choque e até então não consegue falar.

22/12/2010
O caso ainda não apresentou melhoras.

Sentia lágrimas escorrendo por meu rosto enquanto lia, pois sabia que Edward acompanhava tudo junto comigo. Mas o que mais me marcou não foi reler e relembrar tudo aquilo, e sim a última frase. Escrita já quase no final do cartaz de uma cor mais escura que a do resto do texto. Estávamos em abriu de 2011 e eu ainda não apresentei melhora alguma. Doía saber que há mais de seis meses eu me tornei uma morta viva e nunca apresentei nenhum progresso contra isso.

Ouvi algo chiando próximo a mim, como se alguém chorasse e deduzi que era isso quando ouvir soluços abafados. Olhei para Edward e percebi que quem chorava era eu, quando vi ele se aproximar de mim e senti seus braços me envolverem.

Edward me abraçou apertado puxando cada vez mais meu corpo contra o seu e senti seus lábios tocar os meus de leve.

— Era você a garota. – não era uma pergunta e sim uma confirmação.

Apoiei minha cabeça no seu ombro e chorei tudo o que podia ali e quando já não aguentava mais ficar em pé senti Edward caminhar para fora da grande sala com seus braços envolvendo minha cintura. Ele me levou para um pequeno parquinho onde tinha várias crianças brincando, sentamos em um banco mais afastado e Edward me puxou para mais perto.

— Obrigado. – falou simplesmente.

Eu queria responder e dizer que quem deveria dizer obrigado era eu, que fui ajudada, e não ele que foi quem me ajudou. Mas apesar de ter falado hoje pela primeira vez em meses, eu não conseguia sair falando o que desse na telha. Eu era devagar, para falar um simples “Ed” eu passei mais de seis meses sem falar se quer um ai. E agora eu teria que ir tentando, para voltar a ser um pouco do que um dia fui.

Passamos um bom tempo sentados apreciando o sol que fazia em Portland até que Edward me chamou para almoçar. O restaurante era simples e pequeno, mas servia uma comida caseira deliciosa. Como já havia passado da hora do almoço, éramos os únicos clientes daquele lugar, o que nos proporcionou uma refeição em paz.

Depois de muito tempo naquela cidade decidimos que era hora de voltar para casa. Esses últimos dias tinham sidos demais para mim e eu precisava descansar. Hoje não havíamos ido à escola, mas amanhã tudo voltaria ao normal e para ter cabeça para estudar eu teria que repensar muitas coisas. E depois quando tudo estivesse em seus devidos lugar dentro de mim eu poderia descansar em paz para recomeçar. Para a aurora que viria marcar minha vida.

Quando estávamos a caminho do carro vi Edward mexer em seu celular, ele guardou-o de volta e abriu a porta para eu entrar, fechando-a logo em segui e voltou para o seu lugar.

Ouvi meu celular tocando assim que Edward fechou sua porta e levantei para pega-lo no bolso do meu jeans. Mas Edward colocou a mão sobre o celular, me impedindo de ler a mensagem. Olhei para ele com a testa franzida.

— Me perdoe seu eu fizer tudo para te ajudar. — Falou segurando meu rosto com uma mão. — Me perdoe se eu fizer tudo o que estiver ao meu alcance para te fazer sorrir. Quero que me perdoe se eu passar dos limites, ou se eu exagerar. E se eu fizer algo que você odeie. Mas eu não posso ficar parado vendo você passar por isso. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ele não as derramou.

— Simplesmente não posso. — Limpou com o polegar uma lágrima traiçoeira que desceu por meu rosto. — Quando te vi naquele estacionamento, a primeira coisa que pensei foi em matar a pessoa que deixou essa tristeza em seus olhos. Eu perguntei na escola, mas ninguém sabia nada sobre a “Isabella”, ou alguém que pudesse ter te machucado. Eu perguntei ao meu pai, mas ele não sabia de nada. — Solucei alto e ele colou seus lábios nos meus, em um simples selinho.

— Mas agora. Sabendo que ele está morto... — sussurrou, limpando minhas lágrimas com seus lábios. — Isso me deixa no escuro. Me deixa sem saber o que fazer. Mas eu vou fazer tudo, tudo o que puder. Até o impossível, se preciso for, para te ajudar. Eu simplesmente não conseguirei viver com essa tristeza dentro de seus olhos. É impossível para mim. — Colou nossos lábios mais uma vez.

— Por isso eu preciso que você me perdoe se eu fizer alguma burrice, tá? — Assenti. Ele sorriu, e foi impossível não sorrir também.

Afastou-se afivelando meu cinto, e permitindo que eu mexesse no celular. Abria a caixa de mensagem com um sorriso quando vi que a mensagem era dele, mas tremi quando a li.

Eu vou te fazer feliz, nem que para isso eu tenha que te fazer cosquinhas!!

E. C.

Desliguei o celular e olhei para ele balançando a cabeça em um não. Edward balançou a cabeça sinalizando um sim e eu respondi com um não. Mas antes que eu estivesse preparada ele começou uma seção de cosquinhas me fazendo gargalhar alto.

Eu tentava bater nele ou me esquivar, mas o espaço dentro do carro era muito pequeno, ainda mais com o cinto de segurança. Desgramado! Colocou o cinto, só para eu não poder sair do carro. Bati minha cabeça na porta do carro, mas ainda assim ele não parou.

— Vamos Bella, eu só vou parar quando você me disser algo. – continuou com as cosquinhas. – Qualquer coisa.

Quando eu não aguentava mais nem sorrir e lágrimas de felicidade escorriam de meu rosto consegui gritar um singelo:

— Ed! — Acho que essa seria a única palavra que falaria por um bom tempo.

—Ata. – falou se ajeitando no banco. — Agora está melhor. — Ligou o carro e deu partida a caminho de casa.

Idiota. Pensei dando um tapa nele que sorriu mais ainda. Hoje de manhã eu queria que esse dia nunca tivesse começado e agora eu queria que ele nunca acabasse.

Edward me deixou em casa, me deu um beijo demorado. E logo se foi alegando que tinha passado muito tempo fora de sua casa, e que seus pais, provavelmente estariam loucos de preocupação com ele.

Entrei em casa usando a chave que ficava encima da porta, pois meus pais estavam trabalhando. A casa parecia mais vazia que o normal, depois do dia que eu passei com Edward. Ele alegrava minha vida mesmo sem querer e fazia meu dia passar de horrível para o melhor de muitos tempos. Em menos de uma semana Edward fez por mim o que médicos não conseguiram fazer com meses de tratamento. Ele se tornou a melhor coisa que aconteceu em minha vida.

Corri para meu quarto assim que tranquei a porta. Eu precisava ajeitar muita coisa na minha vida ainda essa noite. Olhei no relógio de parede de meu quarto que marcava 5h e 32min da tarde, logo meus pais chegariam e eu queria já ter terminado o que estava pensando em fazer.

Procurei em todas as gavetas, em todas caixas e em todas pastas coisas que lembrassem o Jake, a nossa amizade e a nossa infância.

Desce o incidente eu escondi tudo que era dele, que lembrava ele, de tudo e de todos. E principalmente de mim. E hoje eu percebi que eu o escondi de mim mesma, como se nossa amizade não valesse apena ser lembrada. Em vez de superar, eu tentei esquecer, mas eu não precisava mais esconder. Eu precisava conviver e aceitar sua perda. E amá-lo apesar da distância.

Juntei todas as nossas fotos, nossos CDs preferido, os filmes que assistimos juntos. E até palitos de picolé que tomamos em uma praça, no verão de 2009 e decidimos que deveríamos guarda como lembrança de um dos mais quentes verões que conseguimos sobreviver. Esse sido um ótimo dia. Um ótimo dia que deveria ser lembrado e não escondido dentro de caixas velhas, e cheias de poeira.

Coloquei as músicas que mais gostávamos para tocar. Colei nossas fotos na parede, arrumei tudo o que lembrasse ele na prateleira ao lado da cama. Ajeitei toda a nossa história para que eu a lembrasse com orgulho.

Arrumei tudo segurando o choro que estava engasgado como um bolo em minha garganta. Mas eu não choraria mais. As lágrimas me impediram de ver, por seis meses, o brilho que nossa amizade teve. E agora eu queria recomeçar e para isso eu teria que ver tudo com outros olhos, de outra forma.

Quando meus pais chegaram, eu já havia terminado e estava na cozinha esquentando a comida que minha mãe deixou na geladeira. Eles jantaram alegres, pois eu estava feliz e eles viam isso em mim. Depois de ficarmos horas assistindo na sala, eu subi para o meu quarto. Eu precisava, pois amanhã teria que acordar cedo.

Peguei me celular, que ainda tocava, em cima da cama. Eu precisava ajustar o despertador, pois tinha certeza que minha mãe tinha desligado. Mas tinha duas mensagens de texto e uma ligação perdida.

Oii. Está tudo bem por ai?

18:33

E. C.

Bella??

20:05

E. C.

E uma ligação perdida, as 20:51h, de Edward Cullen.

Quando puder me responde, por favor. Estou começando a ficar preocupado.

20:53

E. C.

Sorri. Edward não cansava de ser fofo. Digitei uma mensagem o mais rápido que pude e apertei enviar.

Oii. Desculpa a demora, meu celular estava no silencioso.

21:43

B. S.

Três minutos depois meu celular vibrou.

Oii. Tudo bem? Já estava preocupado.

21:46

E. C.

Sorri mais ainda. Que vontade de apertar ele. Digitei uma nova mensagem.

Tudo bem, sim. E com você?

21: 48

B. S.

Melhor agora. Faz mais de uma hora que estou dentro do meu carro, decidindo se vou ver como você está. Mas meu coração não aguentou. Acho que enfartei.

21:52

E. C.

Não aguentei segurar o riso. A gargalhada veio tão natural que pensei que havia engasgado. Era tão louco isso. Há quanto tempo nos conhecemos? E Edward já fazia isso comigo.

OMG, mas que exagerado.

21:55

B. S.

Pois é. Foi o que o meu pai disse.

Obs.: Ele está aqui do meu lado, lendo suas mensagens e rindo da minha cara.

21:59

E. C.

Oh. Meu. Deus. O pai dele viu eu o chamando de exagerado. Digitei um pedido de desculpa o mais rápido que pude.

Desculpa.

22:00

B. S.

Aguardei ansiosa sua mensagem. Três minutos pareceram uma eternidade. Mas enfim senti meu celular vibrar.

Não se preocupe. Minha família é louca...

22:03

E. C.

E assim, conversamos por mais de duas horas.


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Notas finais do capítulo

Meus amores, comentem, por favor. Fico mega feliz a cada comentário.

Bjuhs *-*



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