Little Red Riding Hood escrita por Susan Salvatore


Capítulo 14
Heroína e Morfina - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Ok, este capítulo é mais uma transição. Não há eventos muito importantes, mas ele é essencial. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/185286/chapter/14

Ok, eu confesso: estou com medo de abrir os olhos. O que é torturante já que estou morta de curiosidade. Literalmente. Eu sei, não teve graça.

Sinto uma ansiedade terrível de abri-los, mas o medo do que vou encontrar é maior. Sinceramente, eu sei que não vou para o Inferno; porém não há garantia nenhuma de que seja o Paraíso. E se for o nada? Eternamente sozinha, sem nada ver, ouvir ou sentir. Não seria capaz de suportar. Mas preciso descobrir!

Então lá vai; um... dois... três.

Abri os olhos.

A primeira coisa que vejo é azul. O azul mais lindo que se pode imaginar. Mas o azul sorriu.

Não era o Paraíso, era Damon Salvatore.


– Olá, Aurora – diz ele, fazendo referência ao conto de fadas.

– Não estou morta – constatei como uma pessoa inteligente não faria.

– Que bom hein?! – suspirou ele, balançando a cabeça.


Eu me sentia alta – coisa que nunca fora – então olhei para baixo e vi o chão a uma boa distância: estava no colo dele.


– Por que estou no seu colo? – perguntei, não exatamente reclamando.

– Esperava que eu a tirasse de lá como? Com a força da mente?


Eu ri. Era um som engraçado, algo que não ouvia há muito tempo.


– Onde estamos? – questionei, olhando em volta. Era uma campina cercada por uma floresta; reconheci imediatamente. Estávamos na Geórgia, onde nós viajáramos pela primeira vez. Damon podia tentar disfarçar, mas era um completo romântico.

– Não lembra? – disse, fazendo beicinho e tentando, sem muito sucesso, não sorrir.

– Ora, acabei de acordar. Dá um desconto. – inevitavelmente sorri. Estar com Damon era assim mesmo.

– Falando nisso... – ele se ajoelhou e me apoiou no chão, então me beijou. A sensação era hipnotizante, como se fosse a primeira vez. O toque dele na minha pele provocava arrepios e formigamentos.


Você o ama, lembra?, sussurrou uma voz na minha cabeça. Sim, eu me lembrava. Era uma das poucas coisas das quais me recordava, mas dessa eu tinha certeza. Eu o amava.

Retribuí o beijo, mas senti que havia algo errado. Não devia estar sem memória. E havia uma sensação estranha também. Como se aquilo fosse errado, como se eu pertencesse a outra pessoa. Sotaque. Essa palavra me veio à mente, mas não havia qualquer outra memória que pudesse associar a ela.

Ah, mas ele queria ir além dos beijos... Eu também queria? Cada toque dele provocava uma sensação profunda – era a única palavra que eu pude encontrar para descrever aquilo; era como se despertasse da minha alma.

Não era surpresa que a sensação fosse estranha; eu estava estranha. Sentia como se tivesse mudado. Ficado mais forte, física e mentalmente. Sentia-me preparada para qualquer coisa, qualquer batalha. E meus sentimentos estavam diferentes também; mais acentuados, porém, totalmente controláveis. Havia uma coisa da qual eu tinha certeza absoluta: eu estava livre para agir sem intermédio deles. Se isso era bom, eu não sabia.

Tentar descrever não é fácil. Era como se eu tivesse percorrido quilômetros e estivesse cansada, mas sem dúvida sabia que poderia encarar mais outros mil sem reclamar. Ao todo, eu me sentia mais forte, como nunca fora.

Mas ainda faltava alguma coisa. Minha memória. Algo crucial havia passado. Ao tentar me concentrar nisso, veio tudo num jato; cada momento, cada sensação, dos últimos meses me veio à cabeça. Ofeguei.

Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não.

Não podia. Era impossível.

Senti vontade de gritar. Não queria aquilo na minha cabeça, precisava me distrair.

Então me concentrei em uma questão mais banal.

Empurrei Damon.


– O que você fez comigo? – perguntei. Ora, eu conhecia o suficiente de vampiros pra saber que a memória deles era recuperada no instante que se transformavam.

– Do que... – começou ele, mas aí viu minha expressão. Deve ter entendido.


Ele se levantou, ficando de costas para mim. Olhou-me de soslaio.


– Eu não podia perder você. Mesmo que fosse como vampira, você ao menos estaria comigo.

– Você me transformou? – perguntei incrédula. Eu não podia ser esse tipo de monstro.


Damon suspirou.


– Não. Seu pai não deixou. A poção de Elijah só funcionaria se você fosse transformada depois, coisa de bruxas – disse ele, agitando a mão impacientemente – Mas John não deixou. Ele usou outro feitiço; amarrou a vida dele à sua. Como você se foi, ele deu a vida dele pra trazer você de volta. Deve estar se sentindo forte.


Ele falou tudo aquilo bem rápido, não me dando chances para processar. Atualmente, eu só pensava uma coisa: WTF?!

John... Meu pai... Morto? E por mim?

Não fazia sentido. Era impossível. Irreal.

Nós nunca fôramos muito próximos e eu não sabia dizer se realmente o amava, mas ele dera a vida dele por mim. Por quê? Ele nunca se importou!

O choque me consumiu. Até mesmo a dor. Como se quisesse me torturar, meu cérebro lembrou-me de mais uma coisa: Klaus. Eles planejavam matá-lo; por favor, por favor, que não tenham conseguido.

Damon me encarava, esperando a onda de perguntas que certamente viria.


– Vocês o mataram? – perguntei, a voz fraca.

– Não. Elijah nos traiu. Eles fugiram. – ele disse as três sentenças com uma fúria controlada assustadora na voz.


Tentei evitar o suspiro de alívio que ameaçava vir à tona.

Eu estava destruída por dentro. Sim, digo isso no mesmo tom que alguém comenta o quanto o sol está quente. Havia tanta dor, decepção e medo que qualquer um imaginaria que morrer era melhor. Provavelmente era, mas o problema é que havia as coisas boas também; a felicidade, o alívio e o amor. Era como uma droga – e eu estava irremediavelmente viciada. E estava cansada de tentar lutar contra o vício.

Cansada. Essa é uma ótima palavra pra me definir.

Olhei para minhas mãos e havia oito números gravados à caneta em uma delas; não precisava nem pensar, sabia que era o número dele. Uma saída.

Talvez a solução não fosse tentar evitar; mas sim aceitar. Se eu fosse embora com Klaus, não haveria mais tanta dor.


– Me leve para casa – disse a Damon, mais decidida do que de fato me sentia.






As coisas passam rápido na vida; essa é uma das lições que aprendi.



Os três dias seguintes passaram rápido, e eu mal notava o tempo. Basicamente, ficava no meu quarto, apenas desfrutando das eventuais visitas que recebia.

E o enterro de John chegara mais depressa do que eu queria.

É claro que eu chorei, desolada. Perdi a tia e o pai e não havia nada que me consolasse; mas, mesmo em meu desespero, pude notar algo diferente em Damon. Ele parecia... Com dor.

Ninguém falava comigo – nem eu fazia questão. Ser deixada sozinha com sua dor é a melhor coisa que podem fazer por você.







A semana logo terminou. Estava preocupada comigo mesma. Eu era como uma menina morta-viva. Não queria ser assim, mas sabia que era minha culpa. Eu decorara aqueles 8 números, porém teimava em não usá-los.

Eu suspirei enquanto pegava meu celular. Chega. Não há ninguém que agüente.

Ele atendeu no primeiro toque.

Ficamos em silêncio durante uns bons minutos. Não eram necessárias palavras pra nos entendermos.


– Vou te buscar amanhã – disse ele simplesmente.

– Por favor, não demore – pedi, antes de desligar.


Finalmente a dor teria fim. Mas outra dose começaria logo em seguida; era hora de avisar aqueles que eu amava de que eu partiria.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!