Amar Você escrita por Marcela


Capítulo 28
Devassas




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Dei uma volta, contornando meu próprio corpo, para correr de volta por onde viemos, quem sabe assim eu poderia sair da trilha com facilidade. Meus passos estavam lentos, pois eu já estava um tanto cansada. Rolei meus olhos negros pela floresta que me cobria e notei que aquele não era o lugar de onde a galera tinha vindo desde o sítio. Eu sabia que não devia ter aceito fazer essa caminhada.

 

Percebi que estava ofegando novamente, depois de ter corrido tanto. Meus olhos procuravam por algo que eu já conhecesse. Mordi os lábios inferiores e trêmulos, ainda afagando meus braços cruzados, na tentativa de me esquentar do frio cortante. Mesmo estando coberta com a capa de chuva, meu cabelo chanel oscilou e grudou em minha face nervosa e molhada, assim que um vento gelado bateu contra meu corpo tenso. Meus joelhos estremeceram e achei que ia cair no barro.

 

Observei os galhos das árvores cambalearem e as gotas de chuva pelas folhas deslizarem e penetrarem no chão. Algumas caíam em meu corpo, mas eu já nem ligava, apenas queria sair daquele lugar horrendo. Meus olhos logo avistaram uma árvore um tanto diferente das outras que estavam em sua volta. Ela tinha as folhas murchas e secas, assim como meus olhos e minha boca. Alguns de seus galhos fracos estavam quebrados e permaneciam pendurados, estando à um fio de não caírem ao chão e se espatifarem, assim como meu corpo. O seu tronco estava tão arranhado e quebradiço que eu podia compará-lo ao meu coração machucado, o qual sofrera muito por um amor não correspondido. Coloquei as mãos no peito e segurei o choro - não queria que minha situação ficasse pior do que já estava.

 

Logo voltei a correr, mas acabei trombando com alguma coisa, ou melhor, alguma pessoa. Os cabelos dela estavam grudados em sua face de anjo e escorriam pelos ombros estreitos em uma cortina dourada e molhada. Os lábios estavam trêmulos e eu senti seu medo e constrangimento penetrarem em mim, me fazendo arrepiar. Ela chorava desesperada e seu estado era pior que o meu.

 

- Irene, você está bem? - Disse fitando seus olhos que corriam nervosos, pelo local.

 

- E-estou. - A loira continuava a chorar - AH, A QUEM ESTOU TENTANDO ENGANAR? - Ela segurou com força meus ombros e me chacoalhou - NÃO ESTOU BEM, MÔNICA! ESTOU PERDIDA!

 

- Bom, então não faz muita diferença... - Rolei os olhos para o chão.

 

- O que... O que você quer dizer com isso?

 

- Também estou perdida. - Disse monotonamente.

 

Irene não disse mais nada, apenas me seguiu quando comecei a andar, procurando uma saída. Ela ficou próxima a mim, com medo de se ferir ou alguma coisa parecida. Tentei deixar nossos corpos o mais separados possível para evitar constrangimento. Permanecemos calada durante um tempo, mas logo minha ficha caiu.

 

- Ô Irene, como assim você está perdida? - Encarei-a nos olhos verdes, parando de andar - A ‘senhorita’ não estava com o Cebolinha?

 

- Ah sim... Estava, mas é que...

 

Parei para raciocinar. É claro que ele tinha deixado ela falando sozinha, ou algo assim - Irene não ia se perder sozinha e sem ajuda. Voltei a olhar em seus olhos e ela se encolheu, com medo de que eu perguntasse alguma coisa que a deixasse aflita, mas não hesitei em falar nada.

 

- HAHA! O Cê te deixou plantada no meio do mato? - Tentei não rir mais.

 

- Claro... CLARO QUE NÃO, SUA LESADA!

 

- Olha aqui como fala comigo, mocinha! - Apontei o dedo indicador em frente à seu rosto molhado e corado - A única ‘lesada’ aqui é você, que fica plantada em pé e ainda por cima falando sozinha...

 

- Cala a sua boca Mônica! Você... VOCÊ NÃO SABE DE NADA! - Sua voz era rouca.

 

- E preciso? - Fiz pose de constrangida - Olha aqui meu bem... Mas essa sua cara de anjinha não me engana não, tá? Sei muito bem que você não gosta do Cebola! Você está cegando ele, está o deixando sem opções.

 

- Opções pra quê? - Ela me encarou sem medo - Pra escolher entre eu e você? Haha, faça-me rir. - A loira oxigenada riu ironicamente.

 

- Como você é irônica, Irene! - Fingi estar boquiaberta com que acabara de ouvir - Pelo menos eu não uso sutiã de bojo pra disfarçar meus peitos. Não preciso de cabelos loiros ou olhos claros para conquistar as pessoas. Sua pose de ‘princesa’ pode até ser bonita, mas não é verdadeira. Já a minha, é sincera, pois não preciso ter ’bunda’ para fazer amigos. Olha aqui garota, EU CANSEI DESSA SUA FALSIDADE! OU VOCÊ CRIA VERGONHA NESSA CARA E DEIXA O CEBOLINHA LIVRE, OU PODE COMEÇAR A SE ACOSTUMAR COM SEUS OLHOS ROXOS DAQUI PARA FRENTE. - Disse rapidamente, dando ênfase a cada palavra, para que as mesmas entrassem na cabeça dela e fizessem algum efeito.

 

A loira de farmácia me olhou com o queixo já lá no chão. Tratei de continuar meu caminho para sair daquele lugar tenebroso. Parece que tinha tirado um elefante das minhas costas, literalmente, pois desabafei tudo que tinha pra falar para aquela garota. Já estava ficando cansada de andar quando ouvi os primeiros gritos da galera, pronunciando o meu nome e o da Irene.

 

***

 

 

- Ai menina, como você foi se perder da turma? - Magali dizia enquanto limpava alguns arranhões em meus braços.

 

- Estava distraída. - Minha voz era monótona e trêmula por causa do frio - E você sumiu de vista, né Maga? - Perguntei, me recordando de quando ela já não estava mais comigo, lá na mata.

 

- Desculpa Mô... Nem notei que você tinha ficado para trás. - Ela acariciou meu rosto com as mãos.

 

- Você ainda não me explicou sobre o Joaquim. - Insisti novamente em uma explicação por ela estar escondendo algo sobre o namorado.

 

- É que nós brigamos e eu me senti culpada, mas já passou. Eu não queria te deixar preocupada com essas bobagens, Mô. Você já tem tantos problemas quanto ao amor e eu iria acabar te deixando pior ainda.

 

- Que nada Maga! Vou te ajudar sempre, por isso você pode se abrir comigo. - Ela me abraçou e eu retribui - Você é minha melhor amiga.

 

Eu sabia que nela eu podia sempre confiar e contar meus segredos - Magali era a pessoa mais legal que eu já conheci, pois estava ali comigo sempre que eu precisei. Ela agradeceu e continuou ajudando a me recuperar de hoje e depois fui tomar um banho para ficar limpa. Não consegui parar em pé durante o resto do dia chuvoso e aproveitei para dormir em minha aconchegante cama.

 

 

***

 

 

- A Mônica tá bem, véi?

 

- Shiu Cascão! Assim você acorda ela.

 

As vozes vindas do escuro eram um sussurro para mim. Tentei abrir os olhos com calma para poder ver meus amigos. Cascão olhava fixamente para meu rosto, esperando uma reação qualquer, já o Cebolinha dirigia os olhos castanhos à meu rosto em um olhar carente e lúgubre. Retirei a coberta de cima do meu corpo e me levantei aos poucos.

 

- Não... Não se levante, Mô. - O ex-troca letras me impediu de ficar em pé.

 

Ele se sentou ao meu lado e acariciou meus cabelos negros, assim que eu voltei à minha posição anterior. Não percebi de primeira, mas Cascão já não estava mais no quarto. Fechei os olhos quando os dedos macios do meu amigo, dedilharam minha face pálida. Deslizavam da testa aos meus lábios trêmulos, em toques sensíveis, me fazendo estremecer. Levei minhas mãos até seu rosto e ele se aproximou de mim. Explorei seus cabelos com os dedos e senti nossas respirações se juntarem novamente. Há muito tempo eu não sentia o doce sabor de seus cálidos beijos.

 

 

Fim do 28º Capítulo.

 

Amores da minha vida *o* Eu aqui de novo -q usahiahshsauhaus Me desculpem mais uma vez pela demora - isso está virando rotina já T_T Mas espero, meeesmo, que tenham gostado! Comentem por favor *----* beijos :*


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