Amar Você escrita por Marcela


Capítulo 27
Trilha




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Eu poderia muito bem ter recusado a idéia de fazer a trilha, assim como fez Denise. Ficar tomando chocolate quente, acomodada em uma rede num dia de chuva como esse seria, sem dúvidas, muito mais gostoso. Só que a minha ‘grade amiga’ Magali tinha que me obrigar a vir com ela, pois havia dito que seu namoradinho não estava passando bem, assim ficaria sem companhia. Aceitei emburrada, mas fui.

 

O chão estava lamacento e nojento, a ponto de eu querer correr dali e tomar um belo banho. O céu agora chorava fraco, mas eu ainda podia sentir algumas gotas caírem em meu corpo. Meus cabelos curtos cambalearam quando um vento gelado bateu contra mim e eu estremeci de leve. Aos poucos fomos entrando na trilha, onde as árvores iam nos engolindo e logo estávamos caminhando sobre pedras e barro. Me aconcheguei dentro daquele casaco fino e fitei o chão, acompanhando meus passos vagarosos com os olhos negros - se eu fosse um pouco mais lenta seria capaz que eu parasse de andar.

 

- Anda Mônica! - Magali gritou pra mim, me acenando já lá na frente.

 

Corri até ela e andamos uma ao lado da outra. Nosso silêncio era tanto que podíamos ouvir os pernilongos zunindo no local - achei que iria sair toda cheia de roxo e de picadas dali. Magali estava muito quieta para o meu gosto e diferente de seu normal como ‘palhaça’. Hesitando um pouco, fui a primeira a quebrar o silêncio.

 

- O Joaquim não está doente, não é? - Encarei-a séria, já sabendo a resposta.

 

A garota dos cabelos negros e compridos me olhou assustada e depois rolou os olhos para o chão, ainda calada. Repeti a pergunta, insistindo para que ela me desse uma resposta clara para eu poder confirmar minhas suspeitas, mas Magali nada falava. Fingindo não ligar, olhei para frente e continuei a andar, calmamente - tentaria esquecer, pois aquilo não era problema meu.

 

Antes que eu pudesse perceber já estava caída de bunda no chão - culpa da pedra escorregadia e maldita que eu tropecei. Levantei-me e limpei a roupa com as mãos, tentando tirar o mais sujo dela. A floresta de samambaias era radiante, mesmo quase sem sol. As folhas verdes brilhavam suavemente com alguns raios solares que nelas refletiam e aquele aroma das flores entrava em minhas narinas arrancando de mim um suspiro cansado.

 

Descansei as pálpebras para apreciar melhor aquela brisa gostosa que acariciava meu corpo tenso e ao abrir os olhos novamente, eles se depararam com o paraíso, literalmente. Ele estava ali, na minha frente, com um sorriso se desenhando em sua face corada de anjo, indo para o canto da boca, onde ele ficava torto e maravilhoso. Naquele momento eu havia esquecido de como se respirava - tive vontade de guardá-lo em meu coração e dentro da minha mente para sempre. Não dissemos nada durante um tempo, apenas trocamos olhares, com sorrisos em ambos os rostos. Logo ele quebrou o silêncio, ainda sorrindo.

 

- Oi. - Quase ri da cara de bobo que ele fez para mim.

 

- Oi Cê. - Mordi os lábios inferiores da minha boca.

 

- É... Aceita minha companhia? - Ele corou de leve.

 

- C-claro. - Gaguejei, encabulada.

 

- Eu sabia que você não ia negar! - Disse o ex-troca letras.

 

Cebolinha envolveu meu ombro com seu braço másculo e me apertou contra seu corpo - ele ria contente. Eu não sabia como ele tinha mudado da noite para o dia, mas que ele estava diferente, estava. Tentei ser mais compreensiva o possível e tentar não pensar no meu amor por ele - isso só me faria sentir pior - pois queria poder aproveitar aquele momento até o último minuto, coisa que não durou muito. É claro que antes dela chegar, tudo estava maravilhoso. Não conversávamos, apenas andávamos abraçados, mas ela teve que nos atrapalhar.

 

Seus dentes de um branco radiante ficaram um pouco à mostra assim que ela deu um meio sorriso ‘encantado’ de garota ‘boazinha’. Aqueles seus olhos verdes brilhavam em inveja - ela tinha fome de poder, quanto mais possuía mais queria - já não bastava ser bonita, tinha que desejar meu melhor amigo? Minha vontade agora era de voar em seu pescoço e bater-lhe até sangrar, mas como sou boazinha, apenas encarei-a, sorridente, pois o Cebolinha me abraçava.

 

- Oi Cê. - Ela dirigiu as palavras calorosamente para ele, mas me fitava ao pronunciá-las.

 

- O-oi Ilene. - O ‘desgraçado’ gaguejou - O que quer aqui?

 

- Posso falar com você, à sós? - Perguntou, dando ênfase no ‘à sós’.

 

O moreno rolou os olhos para mim, que estava quase tendo um enfarte ali mesmo, horrorizada com tanta falsidade. Boquiaberta, eu não conseguia responder o garoto que esperava que eu falasse algo. Hesitei em pronunciar qualquer coisa, evitando soltar palavras que não deveriam serem ditas ali, pois nenhum de nós gostaríamos de ouvir tais coisas. Tentei desembaralhar meus pensamentos lá dentro de minha cabeça e arranjar algo útil para devolver à loira de farmácia.

 

- Sabe o que é I-R-E-N-E? - Disse perfeitamente o nome dela, dando destaque a cada letra - O Cê tá o ocupado agora, não está vendo? - Sorri maldosamente para a garota e apertei o corpo do meu amigo contra o meu, segurando-o pela cintura.

 

- E então Cê? Você vem? - Ela me ignorou e voltou a falar com o Cebola.

 

- E-eu já volto, Mô... - Duvidei muito que ele ‘já’ voltasse.

 

Nossos corpos se descolaram e eu estremeci, com medo de deixá-lo ir com ela. Pensamentos terríveis passaram pela minha cabeça naquela hora e eu tive vontade de chorar, e deixar as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e purificar minha alma. E ontem? Não teve nenhum valor para ele o tempo que passamos abraçados, naquela noite? Nos aquecendo do frio cortante com ambos corpos trêmulos? Como ele pode ir com a Irene e me deixar aqui, plantada no meio de uma trilha, sozinha?

 

Logo corri com meus olhos negros como a noite pelo espaço e já não encontrei-os ali. O povo também havia sumido e eu estava perdida. Demorei um pouco para raciocinar e colocar os pensamentos em ordem, para poder sair correndo dali, em busca do resto do pessoal. Eu sabia! Eu tinha certeza que me perderia nessa trilha. Parei de correr e fechei os olhos pensando em como aquele chocolate quente seria bom agora.

 

Para piorar ainda mais minha situação, senti as gotas geladas beijarem minha testa - uma, duas, depois três, logo eram incontáveis. A chuva forte havia voltado e eu estava ali, sozinha e sem ninguém para me guiar. Tudo culpa dela! Tudo culpa da idiota da Irene! Se não fosse aquela inútil eu não estaria aqui. Mas não! A loira oxigenada tinha que roubar meu melhor amigo de mim e me deixar plantada que nem uma retardada no meio do nada, embaixo da chuva fria, e ainda por cima, suja de barro. Eu queria era morrer.

 

Fim do 27º Capítulo.

 

Desculpem a demora meus amores, mas saibam que eu gostei muito de escrever esse capítulo e estou louca para terminar o próximo - só estou esperando a inspiração vir me visitar! |Hahahaha. Espero que tenham gostado e comentem, por favor, o que acharam. Amo muito vocês :*


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