Olhos Cor De Âmbar escrita por maga


Capítulo 12
Obrigado


Notas iniciais do capítulo

Desculpe.



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Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.

Simplesmente ignore que esse é um dos momentos mais importantes da história bruxa.

Você não vai parecer uma retardada. Não vai. Você é Hermione Granger uma bruxa brilhante. Tudo vai dar certo.

-Hermione, vamos, está na hora – Harry me despertou da minha obvia falha de hipnose pessoal.

-Como você está tão calmo? Eu mal consigo ficar em pé – meu corpo parecia vibrar, meu nervosismo transbordava do meu corpo.

-Eu estou pirando, mas a Gina me deu um beijo que sugou minha alma – ele sorriu sacana e Ron o fuzilou com os olhos.

-Boa sorte – Fred passou por nós e piscou para mim – você está linda – ele sorriu, um sorriso tão lindo, ele estava tão lindo com aquele terno e a gravata borboleta que por um instante eu cogitei pedir a alguém para recolher meu corpo derretido no chão.

Mas preferi somente sorrir envergonhada.

-Meu Merlin a vela está derretendo nos meus dedos, podemos ir logo? – Ron também cogitava algo, algo como uma série de assassinatos.

-É agora – Harry e Ron passaram os braços pelos meus ombros e respiramos fundo – vamos acabar com isso.

Nunca havia visto tantas pessoas juntas no mesmo espaço, pelo menos não com roupas escuras e feições tristes.

O local que havíamos montado no dia anterior parecia maior agora, todos os olhos estavam direcionados a nós, alguns demonstravam gratidão, mas outros algo que eu não sabia identificar, um pequeno ódio reprimido, tristeza demais, eu não sei.

Kingsley disse poucas palavras que pareciam não se captadas pelos meus ouvidos. Tudo parecia irreal demais.

Vieram os aplausos e Harry foi até onde deveria e começou a falar. Ron e eu sentamos em cadeiras bem posicionadas.

-Desculpe. É a primeira coisa que quero dizer a todos vocês. Por tudo. Durante todos esses anos eu nunca entendi por que todas as pessoas sabiam meu nome, e falavam às vezes sobre mim. Cheguei a pensar que eu poderia quebrar menos regras, o que não vamos discordar, mas eu só queria conseguir me convencer de que o futuro não dependia de mim, que os problemas não recaiam sobre mim, que eu não teria de enfrenta-los sozinho. É por isso que eu peço desculpas. Por pensar que tinha que enfrentar tudo sozinho.

“Mas se há algo que eu aprendi é que você não é nada sem as outras pessoas, sem seus amigos, sem aqueles que confiam e depositam suas esperanças em você. E é assim que se fazem vencedores.

E por isso, obrigado. Obrigado por serem corajosos, por acreditarem, por lutarem, por nunca desistirem e nunca esquecerem que enquanto estivermos juntos não há nada que não possamos fazer”.

Obrigado Harry nunca vou conseguir superar isso. Os aplausos continuavam fortes quando me dirigi tremendo ao centro do palco ao lado de Harry. Você é uma pessoa importante, inteligente e... Havia tanta gente aqui antes?

Procurei por rostos conhecidos na multidão e reconheci uma parte deles sem conseguir ligar todos os rostos a um nome.

“Você está linda” Fred fez o movimento com os lábios quando meu olhar encontrou o dele.

-Muitos se julgam conhecedores das guerras. Talvez por terem lido um livro, e posso confirmar que existem mais do que deveriam sobre o assunto, ou por que lhe disseram como é, porque ouviu em algum lugar, porque simplesmente sabem.  Sabem que há lutas, sabem que há mortes, que há vencedores, perdedores e aqueles que sobram, você nunca sabe como realmente é algo até acontecer com você.

“Você não sabe como são as flores até sentir seu cheiro, não sabe como é estar na praia até as ondas molharem seus pés, não sabe como é ter amigos enquanto não conhece os melhores, não sabe o que é amor, antes de ser amado. E muito menos sabe como é uma guerra antes de passar por uma.

Sim, há lutas, mortes, vencedores, perdedores e pessoas que sobram. Mas também há o medo que espreita a todo o momento, um medo incomodo e triste, há a tristeza, há as feridas que como marcas eternas penetram nossas almas, e ainda a ferida que faz chorar e gritar, o medo, o temor mais forte, nós tememos o temor do sopro frio da morte. Aquilo que mais nos machuca não é a nossa, mas a morte daqueles que nos mostraram como é o amor, como ter amigos, a preciosidade da família.

O pior das guerras, o sentimento que ninguém vai entender ou sentir lendo um livro, ouvindo ou simplesmente pensando que pode.

O pior é ser uma das pessoas que sobram, e nós estendemos isso. Porque todos nós perdemos alguém, nós sofremos, sentimos medo, e sentiremos falta e desejaremos voltar e salvar aquela pessoa que não merecia morrer, e ninguém merecia.

É nosso dever como aqueles que ainda estão aqui nos lembrar deles e somente pensar o quanto foram corajosos e como podíamos ter amado a cada um deles um pouco mais. Isso já basta.Contar a cada próxima geração o quanto foram grandes e nós fomos corajosos.

Lembra-los de que nunca devem entender uma guerra”

O som das palmas, Ron falando. Tudo tão rápido. Meu corpo parecia adormecido.

- Eu sei que nada que algum de nós disser vai diminuir a dor. São nesses momentos que começamos a confiar no tempo. Não é como se daqui a alguns dias ou semanas já poderíamos ser felizes indo a lugares que costumávamos ir ou vendo coisas que costumávamos ver ao lado das pessoas que perdemos de maneira tão terrível. Mas, espero eu, que algum dia, com a força do tempo, a brisa possa passar por nós com a sensação de que ficará tudo bem, que o sol voltará a brilhar como sempre brilhou, dando luz ao recomeço de nossas vidas.

“É quase insuportável pensar em uma voz e um sorriso que tanto amamos e que nunca mais serão nossos. O toque de uma mão, de um beijo, o carinho transportando de um abraço. Um espaço em nossos corações será sempre dessas tantas coisas que caracterizavam de forma tão perfeita essas pessoas que se foram.

Algum dia no futuro, como disse Hermione, vamos contar às futuras gerações o quanto a guerra foi terrível, mas não nos esqueceremos de dizer que cada momento que pudemos lutar ao lado desses heróis que morreram valeu a pena, para que nossos filhos e netos saibam o quanto eles foram pessoas maravilhosas.

Espero, do fundo do meu coração, que juntos possamos reviver todos os nossos amigos e familiares mortos quando contarmos a história de como tornamos o mundo bruxo melhor com a ajuda deles.

Toda vez vamos relembrar seus abraços, beijos, vozes, o riso deles ecoara em nossas almas, e eles vão nos causar um sorriso puro, assim como só eles souberam fazer.

Obrigado.”

Quando tudo terminou algumas lágrimas molhavam meu rosto. Harry, Ron e eu nos abraçamos e andamos decididos até a mesa grande onde se encontrava a família Weasley, me sentei entre Ron e Fred.

- Você foi maravilhosa – carinhosamente ele sorriu para mim e depositou um beijo em minha testa.

- Estou tão orgulhosa de vocês queridos – Molly se esforçava para disfarçar algumas lágrimas.

- Bom, após esses discursos motivadores, podem se servir – Kingsley voltou a falar, tentei ouvi—lo dessa vez.

O único som audível era o dos talheres tocando os pratos e sendo lentamente movimentados para as bocas de forma triste. A maioria dos rostos estavam molhadas pelas lagrimas que ninguém se preocupara em enxugar.

- Você está bem? – Fred perguntou amorosamente passando a mão no meu rosto.

 - Não se preocupe comigo, está tudo bem – sorri para ele segurando sua mão com força. Ele beijou minha testa mais uma vez. Senti-me protegida.

Mas algo não deixava minha mente, o que eu faria se uma das pessoas homenageadas naquela tarde fosse Fred? Esse pensamento me corroia por dentro e a simples possibilidade de perdê-lo me doía profundamente. Apertei mais a mão dele.

Ao meu lado Ron chorava silenciosamente e mal tocara em sua comida, o que vindo dele me desesperava. Ele sabia como era, perder quem amamos, ele sabia como era terrível. Eu sempre senti um ciúme bobo de Lila quando me apaixonei por Ron, mas agora eu entendia o quanto eu não tinha o direito de odia-los juntos.

Senti-me culpada em relação a isso e talvez depois das homenagens pudesse fazer algo por eles, não pela culpa em si, mas por finalmente entender o quanto uma pessoa pode ser importante para nós.

Depois disso tudo passou rápido, rápido demais. Quando dei por mim já estávamos todos na sala da Toca, em silêncio pensando em como aquela tarde havia sido difícil.

As homenagens foram feitas por ordem alfabética e um representante de cada família dizia o que achava certo e acendia uma vela. E assim aconteceu até que todos já tivessem realizado tal ritual. Kingsley disse algumas palavras e todos partiram para suas casas, assim como nós, com o peso de uma despedida.

Segui com Fred até o quarto e minha cabeça queimava com meu esforço para descobrir uma forma de ajudar Ron a melhorar.

- Hermione, Hermione, Mione! – Fred me chamava um pouco irritado – Eu estou te chamando há uns 5 minutos!

- Me desculpe – sorri envergonhada de minha distração.

- No que está pensando afinal? – perguntou puxando uma cadeira e se sentando na minha frente com uma perna de cada lado do encosto da mesma.

- Em Ron, estou preocupada com ele, parece mal – abaixei a cabeça. Sentia-me errada.

- E o que pretende fazer por ele?- ele levantou meu rosto para que eu olhasse para ele.

-Eu não sei – respondi frustrada – eu só queria ajuda-lo a se sentir melhor.

- Mione, você não pode fazer nada, a garota que ele ama morreu – Fred tinha os olhos tristes e as duas mãos uma de cada lado do meu rosto.

- Eu preciso, - uma lagrima desceu pelo meu rosto e pela mão de Fred – eu já desejei que ela morresse Fred, eu desejei que ela morresse.

- Hermione – ele levantou e me abraçou forte – não foi sua culpa, você não queria que ela morresse de verdade.

-Mas ela está morta – as lagrimas tomavam conta do meu rosto – como você se sentiria se tivesse me perdido Fred? Como você se sentiria?

- Eu não poderia mais viver – sua voz estava fraca e cortada – mas não culparia ninguém, o Ron também não culpa.

-Isso não quer dizer que eu não deva tentar ajuda-lo – parei de chorar, me desvencilhei dos braços de Fred e sequei minhas lagrimas com alguns lenços de papel que estavam em cima do criado mudo – e eu gostaria muito que você me ajudasse com isso.

- É claro Mione, mas não fique triste OK? – ele me abraçou novamente e eu me deixei relaxar e sentir seu cheiro doce.

-Tudo bem, vamos – puxei-o até o quarto de Gina e troquei rapidamente de roupa, ele simplesmente tirou o terno, a gravata, os sapatos e abriu alguns botões da camisa arregaçando as mangas até os cotovelos.

Caminhamos calmamente até o jardim e procurei a janela do quarto de Ron e com minha varinha comecei a rapidamente limpar o terreno onde ele poderia ver olhando pela janela.  Fred me ajudou a fazer um cercado não muito grande, mas não muito pequeno e aramos a terra com um feitiço muito simples.

Pouco tempo depois, talvez uns 20 minutos, olhávamos para um belo canteiro com lavanda recém-plantada, mais roxa do que qualquer outra flor que já havia visto.

Suspirei e Fred ao meu lado entrelaçou meus dedos nos dele e ficamos em silencio apenas observando o resultado de nosso trabalho.

Sem nada dizer, entramos na Toca e subimos as escadas em direção ao quarto de Ron, batemos na porta e ele se limitou a nós dizer um triste e melancólico “Entre”. Fred abriu a porta para que eu entrasse e veio logo atrás de mim.

Ron somente levantou a cabeça e nos olhou por alguns segundos e abaixou a cabeça novamente. Machucava-me vê-lo ali sentado, sem vida.

-Ei Ron, eu tenho um presente para você – forcei um sorriso e me sentei ao lado dele.

- Eu não quero nenhum presente Mione – ele sussurrou sem olhar para mim. Fred continuava parado na porta somente observando nossa conversa.

- Eu sei que você vai gostar – segurei a mão dele e a acariciei com carinho – vamos lá Ron só precisa abrir a janela.

Ele olhou para mim com uma expressão confusa e ergueu a sobrancelha.

-O que? – parecia intrigado – como assim abrir a janela?

- Por que você não descobre? – me levantei e o levei até a janela ainda segurando sua mão.

Seus olhos se iluminaram e ele lentamente abriu a janela e olhou para o canteiro de lavandas que balançavam como fantásticas bailarinas. A brisa passou por elas e trouxe seu doce perfume até Ron, seus olhos expressavam não dor, não alegria, mas gratidão. Uma lagrima solitária desceu por sua bochecha e com os cabelos ruivos mexendo com a brisa, que tinha o cheiro de lavandas, ele disse somente uma palavra, segurando minha mão com força.

-Obrigado.


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Notas finais do capítulo

Espero que possam me perdoar.



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