Um Presente De Natal escrita por Valentinnes


Capítulo 9
Capítulo 9




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Batendo a palma da mão esquerda na testa, guardei as passagens na minha mochila e corri em direção ao guarda, eu não sabia para onde ele estava levando o Baro, mas eu tentaria impedir. Só agora eu reparava que o cabelo de Baro estava bagunçado, mas tirando isso ele parecia bem.

– A onde o senhor está levando o meu irmão? – perguntei parando ofegante de frente com o guarda.

– Irmão? – ele perguntou me fitando e voltando com seus olhos para Baro enquanto deixa com que uma ruga de interrogação formasse em sua testa, ele devia estar procurando semelhanças entre nós dois, mas acho que a única coisa que tínhamos de igual, era o branco do olho. Baro também me olhou franzindo o cenho.

– Por parte de pai – disse rapidamente sentindo minha respiração ficar tensa.

– E onde estão seus pais mocinha? – perguntou o guarda desconfiado.

– Ahn... Meus pais? – perguntei pensando em uma resposta – Bem, eles moram no interior, estávamos aqui passando o natal na casa da minha mãe, porque sabe como é né? Meus pais separaram quando eu era pequena e acabei ficando com o meu pai que se casou novamente e teve ele, mas o meu pai tem traços completamente ocidentais, a mãe dele que é japonesa – falei tudo com a maior calma possível para que a mentira parecesse mais real e antes que o guarda questionasse sobre minha mãe, completei – E como sou maior de idade, vim sozinha com o meu irmãozinho para a rodoviária.

Baro me observava com os olhos semicerrados, ele fazia sinal negativo com a cabeça para tudo o que eu dizia, mas quem disse que eu ia perder a oportunidade de ser a irmã mais velha? O guarda fitou Baro incrédulo, mas esse rapidamente ficou sério e assentiu com a cabeça, como se confirmasse toda a história.

– Você não parece ser maior de idade mocinha – falou o guarda sério – Mas tome conta do seu irmão, porque se eu o pegar brigando novamente na minha rodoviária, ele vai ser expulso daqui – disse ele empurrando o Baro na minha direção.

Concordei com a cabeça. Dei um tapa no braço de Baro, apenas para fingir estar brava com ele e sai o puxando na direção oposta para onde o guarda ia. Ainda tínhamos que achar Jonghyun. Eu olhava para as pessoas, tentando achar meu amigo, quando Baro falou fitando o chão:

– Você devia dizer que era minha namorada, ele acreditaria mais.

– Eu não, não vou ficar te dando idéias – respondi simplesmente ainda procurando por Jonghyun.

Baro bufou ao meu lado e apontou para uma direção qualquer a frente dizendo que era Jonghyun. Corremos até ele perguntando se ele estava bem, mas sua real preocupação era com as passagens.

– Você as trocou Duda? – perguntou ele me fitando.

– Troquei... – disse calmamente analisando Jonghyun, ele parecia bem – Mas é para um ônibus que sai daqui cinco horas.

– Cinco horas? – perguntou Baro ao meu lado, um tom mais alto que o normal.

– Eram as únicas que tinham – respondi tentando me manter calma.

– Vamos voltar para a plataforma, quem sabe o ônibus ainda não saiu – disse Jonghyun saindo na frente, mas havíamos demorado demais.

O ônibus havia saído há alguns minutos e Yesung havia partido com ele. Ficamos das oito da manhã até uma hora da tarde esperando nosso ônibus. Era inegável que em alguns momentos Jonghyun queria devolver a passagem e pagar seu dinheiro e Baro queria largar Yesung na cidade interiorana sozinho, mas eu estava decidida a ir atrás do meu presente, então eles acabaram ficando comigo. Meus pacotes de fandangos, minha bolacha de chocolate e minha água, foi o nosso almoço e quando o ônibus chegou, eu tinha uma esperança inocente de que Yesung pudesse ter voltado com o ônibus, mas isso não havia acontecido. Fiquei sentada ao lado de Baro, enquanto Jonghyun ia no banco de trás. A viagem não demoraria tanto, seria apenas duas horas. Clarilândia ficava perto da cidade do Papai Noel, porém uns vinte quilômetros antes de chegar a ela, a estrada se dividia em duas e Clarilândia ficava para o outro lado. Como eu fiquei na janela, antes do ônibus partir, eu abri a cortina e fitei as pessoas que estavam acompanhadas na plataforma de embarque. Eu tinha certeza que nenhuma delas, jamais havia perdido seu companheiro e isso me fazia sentir mal. Vinte minutos de viagem depois e eu acabei adormecendo. Acordei com Baro cutucando meu braço. Seu comprido dedo indicador, parecia que perfuraria minha pele. Abri os olhos muito calmamente e senti que eu estava deitada em algo macio e confortável. Quase gritei ao perceber que essa coisa macia e confortável era o ombro de Baro.

– Nós chegamos – anunciou ele se levantando.

Acompanhei os garotos para fora do ônibus e me assustei com o clima. Estava um pouco frio e o céu estava encoberto por densas nuvens escuras, eu só esperava encontrar Yesung antes que começasse a chover. Quando finalmente tirei meus olhos no céu, fiz uma longa careta. Clarilândia era realmente um fim de mundo. Apenas a estrada era de asfalto - um asfalto decadente -, porque as outras ruas eram todas de pura terra e as casas ficam afastadas da rodoviária, se é que podíamos chamar aquilo de rodoviária. Parecia mais um galpão sem paredes e com a bilheteria. O chão era feito de cimento, mas precisava de reforma. Olhamos em volta procurando por Yesung, não havia porque ele ter sumido naquele fim de mundo, mas ele não estava em vista. Caminhei até a bilheteria calmamente e encostei-me ao balcão que ameaçava cair a qualquer momento, mas achei que isso me faria parecer mais simpática.

– Boa tarde senhorita – cumprimentei a mulher educadamente forçando um sorriso.

– Desencoste do balcão – pediu ela mastigando um chiclete com a boca aberta, por alguns segundos, pensei que aquilo devia ser muito sexy naquela cidade, mas me concentrei em desencostar do balcão e perguntar do meu presente.

– Ahn... Você viu um rapaz alto, bonito, com os olhos puxados, usando um boné, jeans, muito atraente, inocente, educado e dono de um sorriso meigo passar por aqui? – perguntei por fim com verdadeiras esperanças.

– E esse homem existe? – perguntou a mulher revirando os olhos ainda mastigando seu chiclete.

– Você não viu nenhum japa passar por aqui? – perguntei de uma vez, já que para brasileiro desconhecedor de k-pop, qualquer olho puxado era japonês.

– Não, não vi – respondeu a mulher entediada.

Agradeci apenas para ser educada e voltei para os meninos. Eles no mesmo instante perguntaram se havia algum sinal de Yesung. Contei a eles que a mulher não havia visto nada, então Jonghyun sugeriu que nos separássemos, mas Baro achou que não seria boa idéia.

– Nós vamos acabar nos perdendo também – disse ele passando a mão pelo queixo – Então o jeito é irmos juntos procurar a macumba.

– Macumba? – perguntei espreitando meus olhos para ele.

– Gente – falou Jonghyun se colocando entre nós – Nós temos que procurar o Yesung e rápido, daqui a pouco o sol se põem e nossos pais vão nos matar se não estivermos em casa. Então vamos pensar com calma, se vocês estivessem sem memória e fosse parar em outra cidade, para onde você iria?

– A polícia – respondi em um sobressalto e olhei em volta tentando achar alguma construção que indicasse ser um posto policial.

– Acho que isso não existe aqui – comentou Baro franzindo o cenho.

– Mas vamos procurar – disse tentando ser otimista e sai na frente do grupo indo em direção as casas.

A cidade era realmente muito pequena, com nos máximo dois mil habitantes e depois de rodarmos ela praticamente inteira, acabamos desistindo. Não possuía sinal de polícia, muito menos de Yesung. Havia começado uma garoa fina acompanhada de vento e acabamos nos escondendo embaixo de uma enorme mangueira que ficava ao lado de uma pequena igreja protestante. Cruzei os braços sentindo frio e deixei que meus olhos pousassem em qualquer lugar, eu só queria pensar um pouco.

– Você está com frio? – perguntou Baro parando ao meu lado.

– Um pouco – respondi esfregando minhas mãos nos meus braços.

– Eu não tenho uma blusa de frio, mas eu tenho os meus braços – disse Baro sorrindo sem jeito.

– Eu passo – falei simplesmente voltando a fitar o nada.

– Olha – começou Jonghyun com calma se aproximando de nós dois – Se eu estivesse sem memória e fosse parar em uma cidade desconhecida, acho que tentaria falar com alguém que parecesse de confiança, sabe? Eu iria atrás do dono de algum estabelecimento, tipo uma padaria, uma loja, lanchonete, algo desse porte.

– Que boa idéia – exclamou Baro.

E voltamos a mais uma busca atrás de Yesung. A chuva só ia aumentando e o sol desaparecendo no horizonte. Rodamos a cidade mais uma vez atrás de Yesung e realmente não havia sinal do meu presente, uma pessoa normal não poderia desaparecer daquela forma. Comecei a sentir um nó se formar na minha garganta, eu estava entrando em desespero. Eu não podia ter perdido o Yesung daquela forma, a não ser que ele tivesse sido sequestrado, mas eu tentava pensar positivo, afinal, por que alguém do interior sequestraria o Yesung? Ninguém ali nunca deveria ter ouvido de k-pop, pelo menos eu esperava que não. O sol estava se pondo e a chuva dava uma trégua, quando Jonghyun finalmente disse algo relevante.

– Não me admira que ele não tenha procurado nenhum estabelecimento dessa cidade, aqui é tudo tão pequeno e cheio de poeira, se eu fosse ele ia até uma lanchonete que eu vi na estrada aqui perto, ela era bem simpática.

– Lanchonete? – perguntei um tom mais alto vendo uma luz.

– É Duda, passamos por uma lanchonete a cinco, dez minutos daqui.

– Por que você não disse antes? – perguntei cerrando os punhos com força.

– Eu pensei que você tinha visto – respondeu ele com uma calma que apenas me deixava mais irritada.

– Eu estava... – Baro me interrompeu falando.

– Brigar agora não vai resolver e eu também não vi essa lanchonete, porque a Duda estava babando no meu ombro, mas vamos até lá, se ainda há esperanças de encontrar a macumba é em um lugar que ainda não procuramos.

Embora Baro houvesse ofendido a mim e ao Yesung, suas palavras eram bem sensatas, então seguimos todos para a estrada. Havia mato e mais mato dos dois lados do asfalto, o que me deixava apreensiva, achando que uma cobra ou um crocodilo fosse pular em nós a qualquer momento e a chuva que voltava com força, também não ajudava muito, mas eu faria qualquer coisa por Yesung. Quando finalmente chegamos a tal lanchonete, notei que era uma lanchonete e restaurante, muito bonita por sinal. Minhas pernas estavam doendo e a chuva me impedia de ver com clareza quem estava dentro do local, mas apressei meus passos até chegar à lanchonete que possuía vidros ao invés de paredes de tijolos. Meu cabelo estava ensopado, assim como minhas roupas e meu tênis, mas quem ligava para isso não é mesmo? Respirando ofegante, permaneci na porta da lanchonete, pingando, quando passei meus olhos pelo balcão. Não acreditei no que vi. Atrás do balcão estava Yesung todo sorridente com um avental branco por cima da roupa e o boné preto na cabeça. Pude finalmente respirar com calma. Ele também olhou em minha direção, provavelmente animado para atender novos clientes, mas quando seus olhos pousaram em minha face, ele saiu correndo com os braços abertos.

– Duda! – exclamou ele me abraçando – Eu sabia que você vinha me buscar – completou ele me tirando no chão.

Senti o ar faltar dos pulmões, tamanha era a força com a qual ele me abraçada. Quando ele finalmente me deixou no chão, me afastei e fitei seu avental que agora estava molhado, mas ele parecia não se importar, estava feliz demais com a minha presença. Eu também estava muito feliz em vê-lo e em saber que ele estava bem, mas...

– Como você me entra no ônibus errado? – berrei no seu ouvido – Você sabe onde estamos? Não! Porque nem no mapa esta cidade está! Então tire esse avental que nós vamos voltar agora mesmo para a capital! – gritei tudo bem brava, fazendo todas as pessoas da lanchonete encolherem de medo.

– Olha moça – começou o homem que parecia ser o dono da lanchonete com a voz trêmula – Acabaram os ônibus, viagens para outras cidades só amanhã a partir das dez horas.

– O quê? – perguntei um tom mais alto entrando em desespero.

– Não tem ônibus – falou o homem com a voz esganiçada.

– Temos que ligar para o Key e a Amber – falou Jonghyun pedindo minha mochila, já que durante a chuva, ele havia guardado o celular dentro dela, para que ele não molhasse. Ele pegou o celular e discou o número rapidamente colocando o aparelho na orelha, mas então ele abaixou incrédulo e observou o visor fazendo uma careta – Meu celular está sem sinal.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham que vai acontecer? Aceito críticas, dicas e sugestões *-* e me desculpem os erros de ortografia e gramática, eu sempre reviso o texto, mas sabe como é né? Ainda tenho muito que melhorar. Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]