Paralisei pensando no que eu poderia fazer, quando Yesung discretamente surgiu do meu lado.

- O que a Sully e as amigas dela estão fazendo aqui? – perguntou Yesung franzindo o cenho.

- Sully? – perguntei arqueando a sobrancelha esquerda.

Yesung abriu a boca para explicar, mas então Amber entrou no meio de nós perguntando quem estava lá embaixo.

- O que elas estão fazendo aqui? – perguntou Amber séria – Eu vou lá falar com aquele triozinho do mal – disse Amber se afastando da sacada cruzando os braços.

- Espera – falei rapidamente indo atrás da garota – Minha prima está ali embaixo, então se você arrumar briga com aquelas garotas, a culpa vai cair sobre mim e vou ser mandada para praia e se eu for para a praia, o Yesung vai junto nem que seja na minha mala, então precisamos encontrar outra solução.

- Você quer que eu me esconda? – perguntou Yesung franzindo o cenho e apontando inocentemente com o indicador para o guarda-roupa dos meus pais.

- Dessa vez não – respondi fitando o chão.

Eu precisava pensar em algo e rápido, porque as garotas não paravam de apertar o interfone. Foi então que uma idéia louca passou pela minha cabeça e como eu não tinha tempo para pensar em nada melhor, ia aquilo mesmo. Pedi que eles esperassem ali e desci correndo até a dispensa. Voltando com um rolo grande e resistente de corda, entreguei a Amber dizendo minha idéia e desci para o térreo, para receber minha prima e suas amigas.

- Bom dia garotas – disse toda educada abrindo a porta e destrancando o portão com o controle – Queiram entrar – falei ainda no mesmo tom animado e simpático.

- Onde o Yesung está? – perguntou ferozmente a garota fofa, que segundo o Yesung se chamava Sully.

- Do que você está falando? – perguntei me fazendo de desentendida enquanto esperava as quatro entrarem para poder fechar a porta.

- Não se faça de boba – disse ela elevando a voz – Ontem nós encontramos você no shopping na companhia do Yesung.

- Eeeeu? – perguntei fazendo o maior drama possível enquanto fechava a porta da frente – Claro que não, ontem eu fiquei em casa o dia inteiro jogando vídeo game com minha amiga Amber, vocês podem ligar para ela que ela vai confirmar.

- Nunca – protestou a garota que eu havia derrubado na praça – Até agora eu estou com os hematomas que você me causou.

Franzi o cenho ainda fingindo não saber de nada e fitei minha prima Sooyoung. Ela parecia dividida com as duas histórias, porque ela nunca acreditava em mim, mas a idéia de eu estar desfilando com o Yesung pelo shopping devia parecer absurda demais para ela aceitar.

- Vocês querem tomar café da manhã? Eu estava fazendo isso agora mesmo – disse sorrindo, tentando encerrar o assunto.

- Eu tenho uma prova! – exclamou Sully animada.

Rapidamente ela tirou o celular do bolso e apertou alguns botões, até que do nada o colocou na orelha. A fitei arqueando a sobrancelha esquerda, tentando entender como uma ligação podia ser uma prova, mas então ela abaixou o celular o mais sem graça possível.

- Me empresta seu celular Yuri? O meu bônus para fixo acabou – pediu ela com um sorriso amarelo guardando o celular no bolso.

Abaixei a cabeça rindo discretamente enquanto ela pegava o celular da amiga que Jonghyun havia segurado durante o resgate de Baro no dia anterior e discava um número. Ela colocou o aparelho na orelha e soltou um sorriso cínico para mim. Arquei minha sobrancelha pela trigésima vez no dia, sem entender o porquê daquilo, quando escutei o telefone tocar. Arregalei os olhos, mas não me movi, apenas encarei Sully.

- Não vai atender? – perguntou Sooyoung incomodada.

- Ela não... – não deixei que Sully completasse, apenas sai correndo e atendi ao telefone.

- Mãe? – perguntei alto tampando discretamente o lugar por onde o som entrava no aparelho, o trio de garotas se espantaram – Não mãe, eu estou bem – fiz uma curta pausa, mas rapidamente retomei – Então ta, boas férias e tchau – coloquei o telefone no gancho e soltei um sorriso forçado.

- Procurem o Yesung! – ordenou Sully, fazendo as suas duas amigas se separarem.

- Ei, vocês não podem sair revirando minha casa – disse brava enquanto as via caminhando pela casa – Aqui não é a casa da mãe Joana! – berrei vendo Sully revirar alguns travesseiros no sofá, como se o Yesung com todo aquele tamanho, fosse conseguir se esconder atrás de um punhado de travesseiros.

Olhei para Sooyoung intrigada, esperando uma reação da parte dela, mas ela não se movia, apenas observava as garotas com uma careta confusa. Mas a imagem da garota que eu havia derrubado na praça, subindo para o primeiro andar, me apavorou. Sai correndo feito louca e a agarrei pelo cabelo a puxando de volta para o térreo.

- Sully – gritou ela enquanto eu a arrastava – O Yesung deve estar lá em cima.

- Não está não – berrei mais alto jogando a garota no térreo e me colocando na frente da escada.

- E o que você está esperando Tiffany? – falou a líder.

Semicerrei meus olhos enquanto encarava a garota, ela só subiria para o primeiro andar, por cima do meu cadáver ou com a ajuda de Yuri, que foi o que ela fez. Ambas agarram meu braço enquanto eu esperneava e Sully subiu correndo para o primeiro andar.

- Sooyoung – gritei para a minha prima e olhei para a escada, como se eu perguntasse a ela, se ela não faria nada.

Mas um belo ‘não’ ficou bem claro quando ela cruzou os braços e revirou os olhos, como se nem ligasse com o fato de eu estar sendo segurada por suas duas amigas. Pouco tempo depois, Sully desceu séria para o térreo. Se meus braços não estivessem presos, eu estaria roendo minhas unhas de ansiedade. Ela parou defronte comigo, me encarando completamente séria e abriu a boca para dizer algo, mas nesse exato instante, alguém abriu a porta da frente.

- Estava tudo aberto, então eu fui... – Baro se calou assim que avistou as três garotas – O que essas filhas do Lúcifer estão fazendo aqui? – perguntou Baro franzindo o cenho.

- Visita – disse rapidamente finalizando com um sorriso irônico.

Ele me espreitou com os olhos.

- Então você, garoto do nome estranho, você deve estar com o Yesung, onde ele está hein? Diga de uma vez ou você sofrerá terríveis consequências.

- Agora vamos parar com a palhaçada e vamos embora – falou Sooyoung um tom mais alto, ficando irritada com o modo como Sully tratava Baro.

- Mas... mas... – tentou protestar a líder do trio.

- Você encontrou o Yesung na casa da Duda? Não! Porque ele está lá na Coréia do Sul! Então vamos embora que não estou com tempo para ficar aguentando essa ladinha inútil – terminada sua frase, Yuri e Tiffany me soltaram muito contragosto, comecei a desconfiar que a líder do quarteto era a minha prima, mas era só uma desconfiança - E quanto a você Duda, pensei que ia tomar café da manhã com a Amber – disse ela dando ênfase no nome da minha amiga – Minha mãe saberá disso.

Dito isso, as garotas deixaram a casa marchando e Baro me fitou confuso.

- O que aconteceu agora? – perguntou ele arqueando a sobrancelha esquerda.

- Nada de muito grave, mas se alguém perguntar você veio aqui para irmos para a casa da minha tia jogar vídeo game certo? – não esperei que ele respondesse, apenas corri para a cozinha.

Fechei o notebook de Amber e coloquei dentro de sua mochila. Amarrando a sacola de pão, observei as torradas prontas e apenas as cobri com um guardanapo. Peguei meu cartão de passe que estava do lado da geladeira sobre o pequeno armário e as chaves da casa. Eu me preparava para correr até Baro com as chaves na mão, quanto notei que em cima do balcão de granito estava o laço vermelho que tinha vindo em cima da cabeça de Yesung. Mordendo o lábio inferior, peguei o laço e coloquei no bolso da minha calça e sai correndo até Baro.

- Vamos – disse simplesmente e tranquei a casa antes de ir para a casa da minha tia.

Ao passar pelo curto espaço que havia entre a porta da casa e o portão, notei que havia uma corda amarrada na varanda que ficava sobre o jardim fofo da minha mãe e sorri. Cheguei à casa da minha tia com a maior naturalidade possível e acenei para o meu tio coreano que estava aparando a grama. Ele acenou de volta sorrindo e disse algo como “Oi rapaz” para Baro, que educadamente o cumprimentou de volta. Entrei na casa e me deparei com os três pirralhos jogando vídeo game, eles não tinham nada de mais interessante para fazer?

- Duda... – disse um dos gêmeos.

- ...você voltou – completou o outro em perfeita harmonia.

Soltei um sorriso meio forçado, meio natural, para aqueles pirralhos e disse com uma voz extremamente calma e amigável.

- É claro que eu voltei, eu não disse para vocês que eu ia trazer o Baro para jogar vídeo game? Então, aqui está ele – completei com um sorriso angelical.

- Quando você disse isso? Foi no mesmo instante em que você nos prometeu um beijo? – perguntou o primeiro gêmeo com um sorriso enorme.

O fuzilei com os olhos, mas então percebi que minha tia e as quatro garotas me observavam da cozinha. Voltei a sorrir.

- Quase nessa hora – disse rapidamente fazendo MinWoo revirar os olhos.

- Então senta ai Baro – falou o segundo gêmeo todo animado.

Semicerrei meus olhos para aquelas coisas pequenas e me virei para a cozinha sorrindo, onde minha tia voltava a conversar sobre algo com as garotas. Colocando a mochila de Amber no balcão, tomei fôlego para contar mais uma mentira, coisa que eu não era tão habituada a fazer, mas era necessário.

- Tia Laura – a chamei em um tom manhoso e arrastado – Minha amiga Amber estava lá em casa tomando café da manhã comigo, quando os pais delas ligaram para ela dizendo que o JeongMin não estava bem, então... – ela me interrompeu.

- O que aconteceu com o irmãozinho da Amber? – perguntou minha tia preocupada.

Ela conhecia o irmão de Amber porque ele estudava junto com seu filho MinWoo e os dois eram bons amigos.

- Parece que ele comeu algo que não lhe caiu bem e estava passando mal. O que importa é que a Amber foi para a casa dela correndo e acabou esquecendo a mochila e o notebook na minha casa e como eu já havia combinado com o Baro, de ele vir jogar vídeo game com os meninos, pensei que ele poderia ficar aqui com eles enquanto vou lá devolver a mochila da Amber e ver como o irmão dela está.

- Quer que eu te leve querida? – perguntou minha tia solicita do jeito que ela era.

- Que isso tia, não precisa se incomodar, eu vou lá rápidão e já volto, só fique de olho no Baro para mim tudo bem? Até mais tia – disse com um sorriso e deixei a casa rapidamente antes que ela pegasse as chaves do carro ou uma das quatro garotas resolvessem ir também.

Fui de ônibus para a casa de Amber e parei em frente ao sobrado que ela morava um tanto ofegante, do ponto até sua casa havia uma grande distância e como eu dificilmente fazia educação física na escola, acabava nisso. Toquei a campainha e esperei pacientemente até que seu irmãozinho, a coisa mais fofa e mordível do mundo, apareceu na porta.

- Duda! – exclamou ele animado – Pode entrar, o Bada está preso.

Suspirei aliviada ao ouvir essa notícia e abri o portão. Bada era o pastor alemão cruel de Amber que não ia muito com a minha cara. Passei por JeongMin bagunçando seus cabelos negros e perguntei em tom animado se ele estava bem e onde estava Amber.

- Estou bem sim – disse ele com um sorriso enquanto fechava a porta atrás de mim – Você viu como eu cresci? Daqui alguns dias eu passo a Amber... – uma voz o interrompeu.

- Talvez você me passe, mas para isso você vai ter que comer muitas verduras e legumes – falou Amber descendo as escadas em um tom alegre que dificilmente eu via.

- Ai eu também vou ficar bem fortão – disse JeongMin mostrando os braços.

Amber riu de forma jovial enquanto concordava com o irmão mais novo, como eu queria que ela fosse daquele jeito meigo e carinhoso na escola, mas ter uma fortona como amiga tinha suas vantagens, a não ser pelo fato de ela ficar me socando de dez em dez minutos. Yesung apareceu no topo da escada descendo com uma grande camiseta azul marinho, diferente da qual eu havia lhe emprestado. Estranhei o fato e fitei Amber com a sobrancelha esquerda arqueada.

- Porque ele trocou de camiseta?

- A Amber derrubou suco no menino – respondeu o mini Min antes que sua irmã conseguisse formular uma resposta.

- Você viu ele sem camisa? – perguntei entrando em desespero.

- Não, claro que não – respondeu ela constrangida por estar perto do seu irmão – Ele pegou a camiseta e foi para o banheiro.

- Oi Duda, até que enfim você chegou – disse ele sem mais nem menos me dando um abraço.

Contornei seu corpo com meus braços e lhe dei três tapinhas de leve nas costas sem entender o porquê do abraço. JeongMin saiu rindo para a sala, enquanto Amber me fuzilava com os olhos.

- Meu notebook – pediu ela acabando com o abraço.

Tirei a mochila das costas e entreguei a ela que rapidamente a abrir e colocou o notebook sobre a grande mesa de jantar. Eu e Yesung ficamos de pé ao lado dela, enquanto ela ligava o notebook. Quando ela abriu a página da internet, já que em sua casa também havia internet sem fio, ela limpou a garganta e me fitou. Arqueie a sobrancelha esquerda sem entender o porquê daquilo.

- Vocês não querem ir assistir TV? – perguntou ela me manda ir para a sala com os olhos.

Só então me toquei do que ela iria fazer e puxei o Yesung para a sala comigo. O mini Min estava sentado no sofá maior e como eu era amiga dele e ele não possuía nenhum tipo de paixão platônica por mim, sendo apenas meu amigo também, sentei ao seu lado e puxei Yesung para sentar do meu outro lado.

- Agora deu vontade de ver especial de Natal do Roberto Carlos – disse brincando, o fazendo rir.

- Achei Duda, achei! – disse Amber alvoroçada.

Levantei-me no mesmo instante do sofá e Yesung me acompanhou, mas antes que eu chegasse à sala de jantar, escutei um estrondo alto atrás de mim. Assim que me virei, procurei por Yesung com os olhos e o encontrei no chão em posição fetal, suas mãos estavam pressionando sua testa.