Quatro dias. Eu fiquei exatamente quatro dias sem falar com o Noah e ele sem falar comigo. Só falávamos o necessário. 'Bom dia.' 'A Cath ligou.' 'O que pedir para o almoço.' Só isso. Depois que ele brigou comigo naquela noite, eu tratei de por a minha cabeça pra funcionar e me lembrar do que aconteceu antes deu acordar confortavelmente na minha cama com o celular dele tocando alto. A minha cabeça doía toda vez que eu tentava, mas eu consegui lembrar. Eu tinha dormido no colo dele. Ele devia ter me trazido pro meu quarto e me colocado na cama, e quando estava indo embora o seu celular tocou. E eu comecei a gritar com ele daquele jeito horrível. Me senti péssima por ter falado com ele daquele jeito. Mas as palavras dele tinham me magoado muito. Eu queria pedir desculpas, mas ele nunca me dava a chance de falar com ele. Quando estávamos perto dos nossos amigos ficávamos o mais distante possível um do outro. E quando estávamos no quarto ele ficava trancado no quarto. Por várias vezes a Cath perguntava por que estávamos daquele jeito. E eu sempre desviava do assunto ou olhava pro outro lado. A última vez que ela perguntou eu disse: 'Cath, você não vivia reclamando que a gente brigava? Agora que gente não tá mais brigando você fica reclamando que a gente não tá brigando. Se decide Catherine.' Eu sei, foi horrível, ela só queria o meu melhor e blá, blá, blá. Mas eu não queria ficar ouvindo sobre o Noah ou sobre porque estávamos distantes um do outro. Eu me senti péssima, porque agora eu estava brigada com as minhas melhores amigas e com o meu melhor inimigo. E tudo por culpa minha. Naquele dia a Jus queria ir ao shopping, no cinema. E como eu estava meio brigada com ela, ela não me pressionou a ir. Nem a Cath, muito menos o Noah. Isso me magoou mais ainda. Porque era sinal de que ele preferia ficar sozinho do que ter que ficar comigo.

Eu tinha acabado de sair do meu quarto e senti um cheiro forte e doce de perfume. Noah estava com uma blusa polo azul, calça jeans preta e um tênis branco. Seu cabelo estava penteado. Era a primeira vez que ele não estava usando bermuda dois números mais larga, e uma blusa enorme. Olhei pra baixo assim que olhei nos seus olhos. Ele estava olhando pra mim.

– Er... então eu to indo lá... - ele disse meio embaraçado. As lágrimas começaram a arder nos meu olhos e eu senti meu rosto ficando vermelho. - tem certeza de que você não vai?

Engoli minhas lágrimas e olhei pra ele com a cara mais animada que eu consegui fazer.

– Não, eu não sou muito fã de shoppings.. gente demais. - dei um sorrisinho desanimado.

– Ah, então tá... - pausa constrangedora - tchau Alice.

Olhei pra ele quando ele falou meu nome.

– Tchau Noah.

P.V Noah

Cath já tinha me ligado umas 5 vezes perguntando onde eu estava. Dessa vez não coloquei uma roupa qualquer. Decidi me arrumar melhor. Cara, como eu tava com saudade daquela baixinha me xingando e me batendo. Mas também estava cansado de quando ela explodia e eu levava o raio. Era só ela ficar estressadinha que já começava a brigar comigo. Queria ver até onde aquilo ia dar. Não seria o primeiro a quebrar o silêncio entre nós. Saí do meu quarto e fui pegar minha carteira e minhas chaves. Alice saiu do quarto dela e ficou me olhando. Não sabia o que falar, então disse o óbvio pra quebrar o silêncio.

–Er... eu to indo indo lá... - não pude evitar, antes que eu percebesse a pergunta me escapou - tem certeza de que você não vai? - será que ela percebeu a esperança na minha voz?

– Não, eu não sou muito fã de shoppings... gente demais. - ela me deu um sorriso que mais parecia uma careta.

–Ah, então tá... - não sabia mais o que fala de novo. - tchau Alice.

– Tchau Noah. - ela disse com a voz mais triste que eu já tinha ouvido dela. Controlei a vontade sobrenatural de correr e abraçá-la e dizer que eu não meu portava se ela me batesse ou brigasse comigo. Desde que ela tivesse um sorriso no rosto.

Saí do quarto indo direto pro meu carro que eu aluguei, não iria ficar dependendo de carona do Adrik nem do Gabriel. Fui para o shopping onde todos me esperavam. Corri para a fila do cinema.

– Nossa que demora eim... e não conseguiu trazer a Alice né... - Cath disse agitada como sempre. Mas eu via uma nota de tristeza em sua voz. Todos nós estávamos chateados. Principalmente eu.

– Então, que filme vai ser? - Júlia falou pra mudar o rumo da conversa.

– Ah, decidam aí que eu vou pra fila da pipoca. - eu disse rápido. Eu queria me afastar dos meus amigos. Queria ficar sozinho. Fui andando sem pressa alguma pra fila. Alguns minutos depois uma garota muito baixinha, de cabelos curtos ficou atrás de mim na fila.

– Nossa, que demora, o filme já vai começar. - ela ficava murmurando o tempo todo.

Finalmente a minha vez chegou, eu pedi uma pipoca e uma coca e fui me encontrar com meus amigos. Graças aos céus a Julia teve o bom censo de escolher um filme decente com muita luta e sangue. Não alguma baboseira romântica que a Cath queria.

Entrei no cinema e me sentei. O filme parecia bom, com muitas cenas de ação e todos reagiam as cenas. Mas eu não conseguia me concentrar. Alguns minutos depois do filme começar aquela garota da fila da pipoca sentou do meu lado. Continuei viajando em pensamentos. Imaginando o que a Alice podia estar fazendo agora...

– Ei, menino - a garota me cutucou - você está bem? Eu te perguntei o que eu perdi no filme.

–Uh? Ah, er... eu não sei... não estou prestando muita atenção. Desculpe.

–Ah, obrigada mesmo assim...?

– Noah - eu disse.

– Noah! - ela repetiu com um sorriso bobo. - é o nome do personagem daquele filme... 'Diário de uma Paixão' não é?

Isso me lembro Alice. Me lembrou aquela noite toda. Me lembrou a nossa briga. Me lembrou o carinho que eu estava fazendo nela enquanto ela dormia no meu colo. Me lembro tudo... a garota ainda esperava uma resposta.

–É, é sim..

– Meu nome é Melissa mas pode me chamar de Mel. Então Noah - ela deu outro sorrisinho ao falar o meu nome. - onde está a sua namorada? Um garoto como você não pode estar solteiro.

Aquilo estava começando a ficar desconfortável.

– Erm... eu não tenho.

–Ah! Eu também estou a procura de alguém - e piscou pra mim. Me mexi desconfortável na cadeira. Me virei pra ver o filme. Depois de uma hora de muita pancadaria e sangue, eu já não aguentava mais ficar ali. Toda ceninha de sangue ou explosão, ela se agarrava a mim dando gritinhos finos. Não aguentava mais aquilo. Fingi que alguém me ligava ora dar uma desculpa pra sair da sala do cinema e fui andando rápido pra saída do shopping, mas em um dos andares do shopping eu vi uma loja que vendia camisas de bandas. Eu vi uma camisa do nirvana, parecida com a minha porém feminina, que eu ouvi a Alice dizer que queria muito. Por mais que ela não merecesse eu fui na loja e comprei a blusa. Colocando em um embrulho muito bonito. Fui para casa ansioso para ver a reação dela quando visse o presente. Mandei uma mensagem para o Gabe.

'Indo pra casa. Garota chata pra caralho me aporrinhando. Foi mal cara.'

Logo depois recebi um mensagem em resposta.

'Eu sei que você ta indo pra casa por causa da nanica vlh. Você não me engana. Ahuahauhauh'

Revirei os olhos e não respondi. Uma parte de mim sabia que eu estava indo pra casa pra ver a Alice, como ela estava e o que ela estava fazendo. No caminho pro hotel começou a cair uma chuva filha da mãe. Acelerei o carro. Tive que subir quatro lances de escadas. Motivo: o elevador tinha quebrado.

A medida que eu ia chegando mais perto do meu quarto eu ouvia uma música muito ala tocando. Quando cheguei à porta do quarto o barulho me deixava tonto de tão alto. Abri a porta e me deparei com a última coisa que eu esperava de Alice.