Corpus Inversion escrita por Miller


Capítulo 30
Quando Merlin fez a coisa certa... Part. II - Capítulo Vinte e Oito.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado às lindas: Black e DudinhaLoverBlack pelas recomendações lindas que mandaram para a fanfic!
Obrigada de coração, meninas! Perdoem-me por não mandar o agradecimento diretamente por MP, mas continuo tendo problemas de responder por lá :/

De qualquer forma: VOCÊS SÃO UMAS LINDAS E EU AMO VOCÊS ♥

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ÚLTIMO CAPÍTULO.

Certo, são três horas da madrugada e eu estou aqui terminando de escrever e postando este capítulo para vocês, quando deveria estar dormindo por que trabalho amanhã.

Mas isso é a vida e eu sou simplesmente ansiosa demais para ficar guardando este capítulo.

Eu, sinceramente, não consigo acreditar que chegamos ao fim de CI.

Me dói o coração e eu chorei escrevendo este capítulo, apesar de não possuir qualquer drama ou qualquer coisa que possa fazer chorar.

Eu não vou me estender muito por aqui, pois tenho certeza de que querem ler o capítulo logo, portanto nos vemos lá embaixo, amores!

Boa leitura!



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Marlene McKinnon

— Você tem certeza de que está bem, Marlene? — Dorcas indagou pelo que parecia ser a milésima vez nos últimos trinta minutos.

— Sim, Dorcas. — disse e suspirei. — Só estou meio...

— Nervosa? Ansiosa?

— Algo assim. — resmunguei.

Dorcas então se prostrou em minha frente, sorrindo para mim enquanto colocava as mãos em meus ombros.

— Ah, Lene, qual é. Vocês passaram o mês inteiro convivendo juntos, não é como se fossem desconhecidos ou qualquer coisa assim. — Dorcas franziu o cenho. — Para falar a verdade, vocês são o oposto disso. Conhecem-se bem demais.

— Ugh! — gemi. — Apenas pare, Dorcas.

— Okay, não está mais aqui quem falou. — ela ergueu as mãos como em rendição. — Certo, Lene, eu tenho que ir agora. Marquei com Remus às nove e meia e, bem, já são nove e meia.

— Tudo bem, Dorcas. — eu assenti e sorri para ela. A verdade era que estava bastante contente com a aproximação de Dorcas com Remus e não seria eu e meu nervosismo que a impediria de ir até lá e dar uns beijos no Lupin. Não mesmo. — Ah, meu Merlin, não me deixe sozinha! Eu estou surtando! — segurei-a pela frente das vestes, sentindo um frio enorme em meu estômago.

— Nossa, isso sim foi nervosismo. — Dorcas comentou e sorriu, colocando suas mãos sobre as minhas. — Lene, eu já falei...

— Eu sei o que você falou, mas isso não muda o fato de eu estar nervosa e...

— Lene! — a voz, a maldita voz de Sirius Black ecoou logo atrás de onde estava com Dorcas.

Voltei-me para vê-lo aproximar-se com um sorriso gigantesco no rosto. E maroto. Senti meu estômago dar cambalhotas dentro de mim e tudo o que eu queria era nunca ter aceitado ir com ele à Hogsmead.

— Hey. — cumprimentei-o sem graça.

— Você chegou cedo. — ele disse então, sorrindo ainda mais. — Com pressa para me ver?

Rolei os olhos para sua modéstia.

— Eu passei um mês inteiro acordando com você na cama ao lado, Black. Nem em sonho — rolei os olhos mais uma vez para dar ênfase. — Mas, e você? Por que veio tão cedo?

Sirius apenas deu de ombros, o sorriso ainda estampado em seu rosto. Quis dar um soco em sua cara, apenas para ver se apagava aquele sorriso idiota de lá.

— Bem, você já está bem acompanhada, Lene. — Dorcas comentou então. — Vou indo, já estou atrasada.

Por um momento quis dar uma desculpa qualquer e correr para junto de Dorcas, apesar de saber que aquilo acabaria com seus planos com Lupin e que, provavelmente, me sentiria péssima depois. Mas, sinceramente, que droga eu estava fazendo?

Porém já era tarde demais, Dorcas já estava longe e Sirius cada vez mais perto.

Encarei-o.

— Ótimo. — suspirei fortemente. — Nós vamos sair juntos. Para onde?

— Nós não apenas vamos sair juntos, como temos um encontro, Lene. — Black salientou as palavras, proferindo-as lentamente. — E nós vamos à Madame Pudifoot.

— O quê? — indaguei completamente estupefata. — Você não pode estar falando sério.

— E por que eu não estaria? — ele me encarou, sério.

Senti minha boca escancarar em incredulidade.

— Você está falando sério.

— Como nunca antes, querida Marlene. — seu tom era pomposo e debochado e então ele enganchou o braço no meu e praticamente arrastou-me para dentro do pub rosa e totalmente romântico.

Merlin, que droga era aquela, afinal de contas?

X—X

Após o que parecia ter sido uma eternidade, mas, na verdade, era apenas meia hora, Sirius e eu tomávamos nosso café em um silêncio desconfortável.

Todo o assunto parecia ter acabado e parecíamos estarmos envoltos em uma nuvem de tensão.

Por várias vezes abri e fechei a boca, sem conseguir pensar no que falar. Mas, então, desistia, sentindo-me cada segundo mais inquieta.

O que estava acontecendo, afinal de contas? Seriam os olhares à nossa volta, todos completamente incrédulos do que estavam, de fato, observando? Ou seríamos apenas nós dois que simplesmente havíamos esgotado a quantidade de palavras que possuíamos um para o outro no último mês?

Não saberia dizer.

Sirius largou o copo sobre a mesa, erguendo os olhos para os meus.

Minhas bochechas imediatamente esquentaram.

— Bem... —ele começou a falar, parecendo desconfortável. — Isso está bastante estranho.

— Se sua definição de “estranho” significa “uma situação potencialmente tensa, com expectadores vorazes, ex-pretendentes planejando o meu assassinato e mais um rio de fofocas que irá se estender por séculos a partir de hoje”, então sim, realmente muito estranho. — concordei e então sorri para ele em ironia.

Sirius, parecendo achar graça de meu comentário, começou a rir com vontade.

— Você é demais, Lene. — ele disse. — Só não mais do que eu, por que sou Sirius Black.

— Babaca. — rolei os olhos para ele.

— E você gosta. — ele deu de ombros, fazendo-me corar ainda mais.

Pensei em contestar, mas sabia que não conseguiria falar nada convincente, portanto baixei os olhos para meu café novamente, imaginando quando que tudo aquilo havia acontecido e eu nem sequer percebera.

— Oh, e você nem negou, também.

Como era possível que eu estivesse, de fato, gostando de Sirius Black? Francamente, o cara era um babaca!

Bem, nem tanto, Lene.

Então, talvez, ele não fosse assim tão ruim. Ou talvez eu apenas estivesse com medo de acabar como uma daquelas garotas estúpidas que viviam atrás dele. Mas, por que é que eu deveria ter medo, afinal?

Não era eu quem estava naquele pub extremamente romântico e completamente estúpido em um encontro com Sirius, quando nenhuma outra havia, de fato, conseguido aquilo?

Senti meus lábios formarem um sorriso.

— Black. — chamei-o, fazendo erguer os olhos para mim.

— Lene? — indagou, parecendo surpreso com minha reação.

— Sabe, a última vez que você esteve aqui, tenho certeza de que suas lembranças não são muito boas — comentei de forma despreocupada, inclinando-me em sua direção.

Estreitando os olhos, Sirius encarou-me.

— O quê...? — começou a perguntar, mas pareceu dar-se conta sobre o que eu estava falando. Suas bochechas coraram. Eu nunca deixaria de me surpreender com o fato de Sirius Black ser capaz de corar. — Você precisava mesmo lembrar-se disso?

— O que estou querendo dizer, Black. — inclinei-me um pouco mais em sua direção. — É que este lugar é bastante traumático para você...

— É, você precisa mesmo fazer isso. Que ótimo.

— E, levando isso em consideração e também o fato de todo aquele bando de pessoas chamando você e a Lily de hermafroditas, acho que devemos fazer um espécime de compensação.

Sirius não pareceu entender. Eu sorri ainda mais.

— O quê...?

— Nós estamos num encontro, Black.

— Sim, mas...

— Então é suposto que devemos fazer isto. — e então me aproximei ainda mais, até minha respiração bater com a dele. — Não acha?

Finalmente parecendo entender do que estava falando, Sirius Black sorriu de forma marota.

Definitivamente.

E então, nos beijamos. Não foi fofo, nem clichê e nem remotamente romântico. Mas foi perfeito.

Dorcas Meadowes

— Oh, meu Merlin — eu disse enquanto observava pelos binóculos que Remus havia levado consigo. — eles estão se beijando.

Mais rápido do que eu poderia prever, Remus praticamente arrancou os binóculos das minhas mãos, encaixando-os em seu próprio rosto enquanto observava e um sorriso se formava em seu rosto.

— Estou te devendo cinco galeões — ele disse. — Eu não pensei que Marlene fosse beijar o Sirius. Merlin, o mundo está acabando e ninguém nos avisou — ele então tirou os binóculos do rosto e me encarou com a expressão divertida. — Pensei que nunca fosse viver para ver o dia em que Sirius iria ter um encontro.

— Bem, você está vivo e está me devendo cinco galeões — eu lhe disse. — tem coisa mais vívida do que isso?

— Sabe uma coisa mais vívida do que isso? — Remus então perguntou repentinamente, guardando os binóculos no bolso das vestes e me lançando um olhar de diversão.

— O quê?

— Uma cerveja amanteigada no Três Vassouras — disse. — eu estou com meus dedos congelando.

Sorri para ele.

— Eu acho uma ótima ideia. — disse-lhe. — Mas não pense que me pagar uma cerveja amanteigada vai te livrar da dívida para comigo — encarei-o com uma sobrancelha arqueada antes de começar a caminhar na direção do pub.

— Outch, eu jamais pensaria uma coisa dessas — ele disse e eu ri.

Caminhamos em um silêncio amigável até chegarmos no pub. Remus guardou o binóculo no bolso interno das vestes e abriu a porta para que eu entrasse. Minhas bochechas esquentaram tremendamente, e passei rapidamente por ele, rezando para que ele não percebesse meu desconforto.

A verdade era que havia alguma coisa acontecendo entre Remus e eu, porém nenhum de nós dois falava qualquer coisa a respeito. Tinha vezes em que eu estava com as palavras na ponta da língua, mas me segurava e deixava passar. Eu tinha medo do que aconteceria caso eu lhe perguntasse o rumo que estávamos tomando.

Éramos amigos? Ou estávamos nos encaminhando para alguma coisa mais? A curiosidade me corroía, mas eu ficava receosa de acabarmos nos afastando caso eu forçasse demais.

— Por que você não escolhe uma mesa enquanto eu peço, Dorcas? — Remus perguntou então, arrancando-me de meus devaneios.

Assentindo, comecei a encaminhar-me na direção de uma mesa vazia no lado oposto à entrada, sentando-me contra a janela e observando o lado de fora. Havia começado a nevar, por fim. Era uma neve rala e fraquinha, mas as ruas começavam a ficar esbranquiçadas. Eu sempre gostara muito do inverno.

— Aqui — Remus havia voltado e estava colocando um copo em frente a mim. Estiquei minhas mãos e segurei o copo entre elas, sentindo o calor se espalhar por meus dedos. — Vívido. — ele disse e sorriu antes de tomar um longo gole de sua bebida.

Fiz o mesmo. Quando ergui meus olhos do copo percebi que Remus me encarava. Mais uma vez senti minhas bochechas esquentarem.

Não sei por quanto tempo ficamos nos encarando, mas foi suficiente para começar a me sentir inquieta.

Nós havíamos passado praticamente toda a última semana juntos, se não para rir da desgraça de Sirius e Lily, então estudar – já que ele estava no sétimo ano e, também, era monitor, significando que, em algumas das vezes, eu me aproveitava (um pouquinho) de sua boa vontade, para mantê-lo por perto – ou, ainda, dar uma caminhada pelos jardins jogando assunto fora.

Em nenhuma das ocasiões, porém, Remus se manifestara quanto a nós. O que somente me deixava mais inquieta. Ele não parecia se importar com os comentários das pessoas à nossa volta quanto à minha aparência ou sobre o fato de ele estar saindo com “a menina da Lily, a hermafrodita”. Mas, toda vez que acabávamos ficando próximos demais, quando a tensão parecia estalar à nossa volta, Remus simplesmente mudava o rumo das coisas, afastando-se, mudando de assunto, desconversando.

Qual era o problema afinal de contas? Será que eu estaria entendendo as coisas de forma errada? Ou, então, talvez ele apenas me quisesse como amiga.

Mas eu não conseguia acreditar naquilo, de fato.

Quando as palavras estavam quase escapando de minha boca para indagar finalmente que droga estava acontecendo, Remus baixou o copo sobre a mesa e suspirou, falando logo em seguida:

— Dorcas... Eu sinto que temos que conversar. — disse parecendo nervoso.

Imediatamente, como todas as pessoas do mundo sentiam-se ao ouvirem alguém dizendo que “precisava conversar”, senti-me nervosa.

— Sobre...? — indaguei um pouco receosa.

— Nós dois. — ele disse então.

Oh, um avanço. Então havia um “nós” a ser discutido? Senti-me no limiar entre a alegria e o nervosismo. Talvez não existisse um “nós”, afinal. Talvez ele apenas quisesse dizer que nada iria passar da amizade, estava vendo que eu estava entendendo tudo errado e queria apenas consertar as coisas.

— Certo. — assenti. — Então vamos conversar.

Remus pareceu tomar fôlego, encarando o copo de cerveja amanteigada a sua frente de forma pensativa.

— Certo. — disse e então voltou a me encarar. — Dorcas, eu... Bem, eu não sou bom com essas coisas. — suas bochechas coraram como se para dar ênfase às suas palavras. — O que acontece... O que está acontecendo entre nós dois... — corou mais um pouco, sua pele ficando naquele tom adorável de rosado escuro. — Eu me sinto culpado, por que, bem, eu vejo que você está... Está sentindo algo... Eu não posso retribuir.

Senti como se o ar fugisse de meus pulmões e ergui meus olhos – que até então encaravam suas bochechas adoravelmente coradas – até os dele, encarando-o sem conseguir entender o que ele estava falando.

Remus Lupin estava dizendo que sabia que eu estava sentindo alguma coisa por ele, mas não podia retribuir? Era aquilo mesmo? Ele estava se desfazendo dos meus sentimentos, sem nunca antes ter se dado ao trabalho de perguntar qualquer coisa a respeito daquilo para mim?

Se fosse realmente aquilo, então ele era muito mais arrogante do que eu jamais havia pensado. Francamente, quem ele pensava que era para falar uma coisa daquelas para mim?

— O... O quê? — minha voz saiu fraca e senti minha raiva aumentar. — Você está me dizendo... Não acredito. Está dizendo que não pode retribuir os sentimentos que eu sinto por você? Que, o quê, está vendo que eu estou sentindo demais e não quer me magoar por que não consegue retribuir, então prefere falar isso assim, sem rodeios, ao invés de ter vindo falar comigo antes? Está pensando que é o quê, Lupin?

— Dorcas, não! — ele tinha os olhos arregalados, obviamente arrependido de ter falado o que quer que fosse. — Você não entendeu o que...

— Pois então se explique! — eu disse, sentindo-me completamente irritada.

— Oh, droga, eu sou realmente péssimo nisso — ele passou a mão pelos cabelos, olhando-me de forma nervosa. — Dorcas, eu gosto de você. — disse rapidamente, como se tivesse medo de não conseguir dizer o que queria dizer. Suas bochechas triplicaram a vermelhidão. E as minhas também. Não soube como reagir às suas palavras, mas então ele prosseguiu: — Eu realmente gosto de você. Só que isso — e indicou o espaço entre nós dois. — nunca poderia dar certo por que...

— Você tem medo? — perguntei, inclinando-me para frente e encarando-o.

— Não. — ele disse rapidamente, mas então suspirou. — Sim. Dorcas, você não entenderia... É complicado.

— O quê? Do que está falando? — indaguei, sentindo-me a cada segundo mais confusa. — Está com medo de se relacionar? Ou é alguma outra coisa...

— Eu tenho um problema, okay? — ele disse e baixou os olhos novamente para o copo, franzindo o cenho enquanto suspirava. — E esse problema é bem cabeludo. Eu não posso falar sobre ele, por que eu não me sinto preparado. Mas ele é um impedimento, entende? — voltou a me fitar. — E eu não posso me arriscar a... Revelar esse segredo ou te colocar em apuros por causa dele.

— É grave? — perguntei novamente, lembrando-me de algumas coisas que Lily havia me dito.

Remus ficou em silêncio, sem responder, puxando o copo novamente e terminando com o conteúdo.

— Remus — eu o chamei novamente. — Você sabe que houve uma semana, quando Lily ainda estava no corpo de Sirius, que ela sumiu todas as noites? — perguntei levemente.

Seus olhos arregalaram-se ainda mais, suas mãos apertaram o copo que segurava e seus olhos azuis estavam totalmente fixos nos meus. Senti um aperto em meu peito.

— S-sim, eu...

— E essa semana em questão era Lua Cheia — continuei falando, o tom ainda leve, enquanto eu observava rapidamente ao redor, percebendo se havia alguém por perto.

— Ah... — Remus parecia sem saber o que dizer.

— Olha, Remus, o fato é que, se esse seu problema tem ou não a ver com a semana em que a Lily sumiu, o que estou querendo te dizer é que realmente não me importo. — dei de ombros para enfatizar, fazendo-o ficar boquiaberto. — Eu realmente, realmente, não me importo. Mesmo.

— Você não sabe do que está falando, Dorcas. Isso é uma loucura e...

— Loucura é você deixar de fazer as coisas que gosta por conta desse pré-conceito que você mesmo tem contra o que você é — falei então, encarando-o de forma séria. — Remus, eu sei que nós dois não somos grandes amigos e só começamos a falar realmente neste último mês, mas, tenho certeza, seus amigos devem falar o mesmo que eu. Não é justo que você tenha que desistir das coisas por medo.

Remus ficou mais uma vez em silêncio e eu quebrei o olhar, sentindo-me repentinamente mais leve.

Terminei a bebida de meu copo e suspirei, antes de voltar a encará-lo. Remus parecia completamente perdido em pensamentos.

— Vou pegar mais bebida para nós dois. — eu disse então, quebrando o silêncio, fazendo-o me olhar em confusão. — Ainda sinto meus dedos congelados, você não?

— E-eu... Sim. É. Eu também — ele assentiu com o cenho franzido enquanto me encarava em incompreensão.

Esticando-me, peguei o copo vazio de suas mãos e ergui-me de onde estava sentada. Comecei a encaminhar-me na direção do balcão, parando ao lado de Remus antes de ir.

Ele continuou me encarando sem entender nada. Sorri levemente para ele e inclinei-me em sua direção, dando-lhe um beijo na bochecha de leve.

Senti um leve calafrio percorrer por minha espinha ao contato, mas então me afastei, aumentando o sorriso e voltando-me para o balcão.

— Mais duas cervejas amanteigadas, por favor. — pedi e rapidamente foi atendida. Quando voltei para a mesa, Remus ainda estava corado, porém ele sorriu para mim quanto lhe estendi a bebida.

— Obrigado. — ele disse e eu entendi que não era apenas à bebida a que ele se referia. — Fico imaginando o que James e Lily estão fazendo, já que nenhum dos dois veio a Hogsmead.

— James ficou na escola? — indaguei então, finalmente surpresa o suficiente para parar de pensar no que havia acabado de acontecer. — Por quê?

Remus deu de ombros então, sorrindo levemente.

— Disse que queria dar umas voltas pelo campo de Quadribol, — rolou os olhos. — mas eu não acreditei muito em suas desculpas.

— Oh, Morgana. — eu suspirei e dei de ombros. — Eu só espero que eles não se matem.

— Era exatamente o que eu estava pensando. — Remus disse e então nós dois sorrimos um pouco antes de voltarmos nossa conversa a assuntos mais amenos.

O sorriso no rosto de Remus era muito mais leve do que antes de nossa conversa, então eu me senti feliz por aquilo. Por ora era o melhor que poderia acontecer e, bem, eu estava feliz com aquilo.

Por ora.

Lily Evans

— Pois bem, então pode falar. — fiz um gesto para que ele se sentasse na poltrona ao meu lado, mas ele apenas continuou lá, encarando-me em expectativa.

— Por que não damos uma caminhada?

Oh, sim, fale “por que não damos uma caminhada” com essa cara de pamonha, Potter. Como o idiota estúpido que você. Depois de todos aqueles malditos dias nos quais tive de aturá-lo agindo feito um imbecil ele simplesmente “por que não damos uma caminhada” e acha que tudo vai ficar bem? Francamente, se antes eu o achava um estúpido, naquele momento eu tinha certeza.

Babaca.

Eu não ia. Mas nem pagando. Babaca.

— Por favor? — Potter pediu novamente, seus olhos implorando-me.

— Ah, tudo bem. Eu nem queria fazer meus temas mesmo. — dei de ombros e voltei-me na direção do retrato, caminhando sem nem mesmo me dar ao trabalho de olhar para ver se ele estava me acompanhando.

— Você parece bastante ansiosa. — ele comentou quando chegamos ao corredor e começávamos a encaminharmo-nos na direção das escadas.

— Se você tivesse a pilha de deveres os quais eu tenho para fazer, por que a porcaria da pessoa que ficou um mês no seu corpo não se deu ao trabalho de fazer, entenderia o porquê de minha ansiedade. — bufei fazendo-o rir.

— Huh, Sirius não é a pessoa mais indicada para fazer os temas. Nem os dele e nem os de ninguém.

— Acho que percebi isso sozinha, mas obrigada por me informar, Potter. — rolei os olhos e ele riu ainda mais.

Qual era o problema dele? Ele não estava vendo o desagrado óbvio em meu rosto devido ao fato do amigo dele ser um babaca e prejudicar minha vida escolar pelo simples fato de, bem, ser um babaca?

Morgana, que tipo de problema mental aqueles garotos possuíam?

Continuamos a caminhar, então em silêncio, embora eu pudesse ver os sorrisinhos idiotas que Potter parecia ter colado em seus lábios. Que droga ele estava pensando, afinal?

E, Morgana, por que vê-lo sorrindo daquele jeito fazia com que meu estômago parecesse estar cheio de borboletas? Ou, melhor, cheio de diabretes com unhas afiadas querendo rasgar o caminho até o lado de fora.

Senti minhas mãos suarem.

— Mas e você, como se sente? — Potter então perguntou enquanto descíamos as escadas para o segundo andar, pulando o degrau que sumia. Ou, bem, ele pulou o degrau que sumia.

Eu, com todo azar concedido por Merlin à minha existência, apenas senti minha perna afundar até a metade de meu tornozelo.

— Que bacana. Nossa! Obrigada, Merlin. Você é um grande filho da... — mas então os braços de Potter estavam em volta da minha cintura, puxando-me pela cintura com a maior naturalidade (ora, pois, afinal salvar garotas indefesas da cruel escada. [Pff, era fichinha para o bendito salvador Potter]).

— Obrigada. — murmurei enquanto minhas bochechas, para meu completo espanto (e, é claro que eu estava sendo irônica [aliás, quando eu não estava sendo irônica? {hm, talvez eu realmente devesse parar de ser tão debochada. Talvez as coisas fossem mais fáceis para mim se eu aceitasse as coisas como elas eram. Ou talvez não}, francamente, a quem eu estava tentando enganar? Eu amava ser irônica]), coravam.

Talvez fosse meu comportamento padrão: parecer um tomate quando estava em frente a James Potter. Morgana, como eu era idiota.

— De nada, Lily. — ele disse e sorriu mais um pouco. Ele não iria parar de sorrir nunca? — É engraçado, porque quando você estava no corpo de Sirius, era quase como se eu soubesse que não era você. Mas então eu não sabia.

Franzi o cenho para ele, tentando entender o que estava querendo dizer.

— Não entendo o que quer dizer. — disse.

— Como a McKinnon, que descobriu sobre você no primeiro dia. Sabe, no fundo eu desconfiava que houvesse algo errado, mas eu estava ocupado demais com outras coisas para pensar nisso a fundo. — deu de ombros e continuou caminhando, como se não tivesse acabado de salvar minha vida ou qualquer coisa do tipo.

— Hm. — assenti. — Ocupado com o quê, exatamente? — indaguei em curiosidade.

Meu tornozelo doía e eu tinha certeza de que uma marca lindamente roxa deveria estar se formando ali naquele exato momento. Mas eu tinha coisas mais importantes para me preocupar, como, por exemplo, no repentino silêncio de Potter. E no sumiço de seu sorrisinho irritante.

Esperei mais um pouco, até quase chegarmos ao Saguão de Entrada, para perceber que ele não iria responder minha pergunta.

— Certo. Tudo bem, não precisa responder. — disse e tentei sorri. Maldito! Lógico que tinha que responder. Mais ainda depois daquele silêncio que apenas me deixara mais curiosa do que já estava.

James então voltou a sorrir, como se minhas palavras tivessem-no divertido.

— Quê? — indaguei.

— Você é bem ansiosa, não é? — ele comentou, o sorrisinho em seus lábios me fazendo ter vontade de irritá-lo só para que sumisse dali. Francamente, ele era muito irritante.

— Apenas não gosto que me deixem curiosa. — dei de ombros de forma indiferente.

Tinha começado a nevar.

Fora a primeira coisa que percebi ao sair para os jardins. Apertei o casaco mais contra meu corpo, sentindo-me feliz ao ver a grama, que cobria os jardins, cada vez mais branca. Eu amava o inverno.

E aquele seria o último inverno que passaria naquela escola. Por um momento o pensamento me acertou em cheio, fazendo-me ofegar.

Morgana, quando as coisas tinham passado tão rápido? Eu nem mesmo conseguira aproveitar aquele ano direito por conta daquela droga de inversão.

— O que foi? — a voz de Potter arrancou-me de meus devaneios, fazendo-me encará-lo.

Sorri levemente soltando um suspiro logo em seguida.

— Acabei de perceber que este é meu último ano na escola. — dei de ombros. — E eu sinto como se tudo tivesse passado rápido demais. Eu nem vi o tempo passar, por que tinha muitas outras coisas na minha mente.

— Imagino que essa história de inversão deve ter sido bastante complicada. — ele comentou levemente, parando de caminhar próximo ao lago, observando a floresta com olhos pensativos.

— É, foi... Estranho. — murmurei.

— Quão estranho é estar no corpo de um homem? — ele virou-se para mim. — Quero dizer, para mim é normal, mas imagino que para você devem ter tido muitas diferenças.

Sentindo-me mais leve com o rumo da conversa, sorri para ele enquanto relembrava-me.

— Bem, o fato número um é que, bem... — encarei-o de forma indicativa, mas ele não pareceu entender ao que me referia. — Sabe, eu tinha um lilystick — rolei meus olhos enquanto ele caía na gargalhada. — Ei! Isso não é nem remotamente divertido, Potter! Eu acordava todos os dias com aquela coisa dando oi. Morgana, eu ainda vou ter pesadelos com aquilo, francamente! — estremeci.

Potter, com lágrimas nos olhos, tentava recuperar o fôlego.

— O fato número dois é que é tudo, definitivamente, mais fácil. Não preciso colocar uma roupa passada, não preciso me depilar nem mesmo pentear os cabelos se eu não quiser, francamente. É tão injusto isso! Ah e, é claro, é um saco ter todas aquelas garotas te observando como se você fosse um pedaço de carne. Claro que eu estava no corpo do Black, o que com certeza aumentava drasticamente o número de observadoras, mas ainda assim. Ugh, é tão... Lésbico.

— Na verdade, não — Potter meneou a cabeça. — É apenas normal.

Bufei para ele.

— Viu? É disso que estou falando. Vocês se acham o máximo com essas coisas, mas, Morgana, é tão horrível me sentir observada daquele jeito. Francamente, era quase como se elas estivessem prestes a pular em cima de mim. Ugh!

— Algumas realmente já pularam sobre o Sirius. — ele disse fazendo-me rir.

— Ah, eu já ia me esquecendo: o dormitório. Apesar de ser um lixão e tudo o mais, vocês tem as cobertas, travesseiros e todas essas coisas muito mais confortáveis do que as nossas. E isso é tão desmedidamente injusto, Potter! Vocês, homens, dormem em qualquer lugar, então para quê todo esse conforto enquanto nós sofremos com aqueles cobertores fajutos?

Potter franziu o cenho, arqueando uma sobrancelha logo em seguida.

Isso explica o sumiço das roupas de cama do Sirius. — disse e me encarou de forma divertida. — Fo você!

— Mas é claro! Ou você acha mesmo que depois de todo esse sofrimento eu não iria me aproveitar? — dei de ombros.

Mais uma vez ele riu, divertido. Observei-o por alguns instantes, lembrando-me do tanto que o último mês havia mudado minha concepção de como o via.

Do que sentia por ele.

Lembrar-me daquilo levou-me ao motivo de estarmos ali, tendo aquela conversa.

— O que você queria falar, Potter? — perguntei sem rodeios, cortando sua risada, fazendo-o encarar-me de olhos arregalados. — Por que me chamou até aqui?

Ele então passou as mãos pelos cabelos naquele gesto característico, encarando-me de forma perscrutadora.

— Ouça, Lily. — ele começou a falar, seu tom de voz muito mais sério do que minutos atrás. — Eu lhe devo desculpas, você sabe, por estes últimos dias. Ou, talvez, os últimos anos.

— O quê...?

— Não, sério, escute: eu tenho sido muito rude com você. E eu sei que você e Sirius passaram por muita coisa e tudo o mais, mas eu queria te dizer que não queria te magoar — meneou a cabeça. — bem, talvez eu quisesse um pouquinho. O fato é que, Lily, nós dois passamos quase um mês inteiro convivendo juntos. O que é bem mais do que nossos seis últimos anos na escola.

Sorri para ele em concordância.

— De fato, você tem razão, Potter.

— E você mesma disse que viu que eu não era tão ruim assim...

— Tenho certeza de que não falei isso. — resmunguei.

— Ah, você falou sim. Qualquer coisa sobre “lá no fundo e blablabla”. — ele sorriu fazendo-me rolar os olhos. — O fato é que nós dois não somos mais os mesmos de anos atrás. E, como já convivemos, mesmo que não por vontade própria, por todo esse tempo, eu acho que deveríamos deixar nossas antigas rixas de lado.

Senti minha respiração entrecortar ao ouvi-lo dizer aquilo. Onde ele estava querendo chegar, afinal de contas?

— E isso por quê...?

— Porque eu acho que, devido a todas as coisas pelas quais já passamos e, também, como nós dois estamos, definitivamente, nos relacionando com as mesmas pessoas (você se tornou amiga do Sirius, sabe o que isso significa? É quase apocalíptico), acredito que deveríamos ser mais amigáveis um com o outro.

O ar fugiu completamente de meus pulmões em uma lufada. Cerrei meus punhos enquanto estreitava os olhos.

O quê? Como assim “mais amigáveis”? Ele havia me chamado até aquela porcaria de jardim porque decidira que queria ser amigável comigo? Que, após tudo pelo qual havíamos passado, tudo o que ele queria era ser meu amigo?

Qual era o problema dele, por Morgana? Será que ele não sabia o que acontecia com pessoas as quais tinham sentimentos umas pelas outras e se tornavam amigos?

Ou, talvez, Potter não mais tivesse sentimentos para comigo.

Talvez ele simplesmente tivesse percebido a idiota que eu era e que, após toda aquela história vergonhosa de troca de corpos, não queria mais nada comigo. Depois de longos anos ouvindo-o chamar-me para sair, implorando-me a plenos pulmões, ele então queria apenas ser amigável comigo.

Outch. Senti meu ego murchar.

Mas o que mais eu poderia esperar, afinal de contas? Não era como se eu tivesse sido uma pessoa bacana com ele, certo?

Muito pelo contrário! Quantas vezes eu o havia humilhado, xingando-o a plenos pulmões por todos os cantos do castelo? Menosprezando seus pedidos para ir a Hogsmead. Desferindo xingamentos toda vez que ele respirava muito perto de onde eu me encontrava.

Que tipo de pessoa eu era por querer mais dele quando nunca dera nada em troca?

Morgana, eu era uma pessoa horrível. E ele ainda queria ser meu amigo.

Francamente, Potter deveria merecer um prêmio Nobel ou qualquer coisa do gênero por ser tão bacana.

— Lily? — mais uma vez sua voz despertou-me de meus devaneios.

Senti meu coração descompassar, a lembrança da descoberta que fizera sobre o que sentia por ele no dia do jogo de quadribol muito viva em minhas lembranças. Oh, era o castigo perfeito, aquele.

— Ah, desculpe. — murmurei e tentei forçar um sorriso. — Certo. Eu... Ah, eu acho ótimo, Potter! Quero dizer, James, certo? — falei, sentindo-me compelida a continuar falando qualquer coisa para ver se o aperto em meu peito diminuía. — Amigos, então? — estiquei minha mão para ele. Ele parecia confuso com meu comportamento, mas quem ligava? Tudo o que queria era encerrar aquela conversa de uma vez por todas e sumir no dormitório em meio a minhas cobertas quentinhas e masculinas. — Certo. Que ótimo! Maravilhoso, na verdade. Por que não, certo? Afinal, passamos todo esse tempo juntos e tudo o mais então...

— Lily. — Potter me chamou novamente.

—... Seria de se esperar e... O quê?

— Eu disse “amigáveis”. Não que queria ser seu amigo. — disse e, mais uma vez, senti o ar fugir de meus pulmões.

— Oh... — aquilo doera. Muito. — Certo. Claro! Você não quer ser meu amigo. Francamente! Depois de tudo o que eu falei para você ao longo dos anos era de se esperar que não quisesse. Que droga eu estava pensando, certo? Por Morgana! Nem mesmo eu iria querer ser minha amiga depois de tudo o que... Você tem razão, Potter. Não podemos ser amigos, afinal de contas...

— Lily! — sua voz era impaciente. Calei-me novamente. — Será que você pode ficar quieta um segundo? Por Merlin, você não parece nem mesmo respirar!

Abri a boca para contestar, mas percebi que fora aquilo o qual ele pedira para que eu não fizesse. Franzindo os lábios, cruzei os braços sobre meu peito na tentativa de controlar minha boca. Assenti para ele, indicando que ele poderia prosseguir.

Vamos lá, campeão, continue acabando com meus sentimentos! Eu mereço, eu sei.

— Okay. — ele recomeçou. — Você perguntou por que eu estava “ocupado demais” para prestar atenção no fato de que você não era Sirius, não é? — estava prestes a responder, mas então me contive e apenas assenti. — A resposta é você, Lily.

Minha expressão deveria ser um grande “O quê?”. E eu tinha certeza de que mesmo que ele não tivesse pedido para eu parar de falar, não conseguiria falar nada nem mesmo se quisesse.

Minha voz sumira totalmente perante suas palavras.

— Você tem noção do quanto eu fiquei feliz quando você (mesmo que não fosse você, exatamente) me chamou para sair? Era tudo o que eu quis por anos, Lily. Não conseguia parar de pensar naquilo. Nem mesmo o Quadribol era tão atrativo...

— Então você disfarça bem, porque aqueles treinos pareciam atrativos o suficiente para mim. Até demais, aliás. — deixei escapar, fazendo-o rir.

Você teve sorte, eu já fui muito mais rígido do que aquilo. Mas, bem, isso não entra em questão. O fato é que, pela primeira vez em tanto tempo, eu estava com um encontro marcado com a garota dos meus sonhos. E isso era tudo o que eu poderia querer. Quase como um presente de Natal adiantado.

— Eu realmente não sei como responder a isso, James... — comecei a falar, sentindo que minhas bochechas estavam prestes a derreter de tão quentes em meu rosto. — Por Morgana é tudo tão...

— Eu sei! Eu sei, mas, entenda, Lily. Eu nunca poderia ser seu amigo, por que sempre iria querer alguma coisa a mais. Eu gosto de você. Merlin! Eu gosto muito de você.

Certo, então, naquele momento eu não estava, definitivamente, respirando. Onde estavam os meus pulmões, por Morgana?

Que tipo de brincadeira era aquela? Era mais uma peça de Merlin na minha vida? Mais uma idiotice de sua parte que logo se converteria em uma tacada gigantesca de azar?

Mas os olhos de James eram quentes demais e eu sentia que era verdade. Morgana, eu queria que fosse verdade!

James, porém, pareceu interpretar meu silêncio de uma maneira diferente.

— Tudo bem, eu entendo que não sinta o mesmo, Lily. Eu apenas queria deixar as coisas claras. Explicar o porquê de não querer ser seu amigo. Desculpe-me, eu sei que você nunca...

— Morgana! Cale a boca, Potter! — resmunguei, fazendo-o arregalar os olhos em surpresa. — Você nem mesmo parece respirar! — sorri para ele então, aproximando-me sem nem mesmo perceber. — Você conseguiu falar a maior bobagem de sua vida. E, olha, que você já falou muita bobagem para mim nesses últimos anos. Sério.

— Eu não...

— Acontece, Potter, que você está errado. — falei e ele calou-se. Potter franziu o cenho para mim, encarando-me sem entender. Sorri para ele, sentindo-me muito mais leve do que me sentira no último mês. — Eu também gosto de você. Nossa, eu pensei que estivesse óbvio!

Parecendo completamente estupefato, Potter encarou-me sem acreditar.

— Óbvio? Merlin, Lily, o que há de óbvio... Você me chutou pelos últimos três anos! De que forma poderia sequer imaginar que você...?

— Eu olhei para sua bunda aquele dia. Não era uma mancha, francamente — rolei os olhos. — E, Morgana, James! Eu corei mais nesse mês do que Sirius em sua vida inteira. Se você não notou uma coisa dessas então você é realmente um babaca.

Ele riu então.

— Eu sou um babaca.

— É, eu sempre soube. — retruquei.

Ficamos então nos encarando, ambos com as respirações aceleradas, apenas esperando pelo próximo passo.

Sem que me desse conta, estávamos cada vez mais próximos, sua respiração tocando em minha bochecha enquanto eu podia ver cada pontinho dourado em seus olhos castanho esverdeados.

Meu coração parecia prestes a saltar de meu peito e tudo o que mais queria era acabar com o espaço entre nós.

— Você tem certeza de que não é o Sirius? — Potter então perguntou, cortando completamente o clima, fazendo-me encará-lo de forma estranha.

— Francamente! Você realmente é um babaca, Potter. Pelo amor de... — resmunguei e então ele sorriu, finalmente puxando-me para perto, cortando minha frase ao meio enquanto grudava seus lábios aos meus.

Eu não conseguia fazer ideia de como nem quando, mas os braços de James estavam em volta de minha cintura, puxando-me para perto enquanto os meus subiam até seus cabelos, embrenhando-se por aquele emaranhado negro que outrora tanto me irritara.

Seus lábios eram macios e quentes contra os meus e meu coração parecia nem mesmo bater de tão acelerado que estava. Eu não queria que aquele momento acabasse, mas então estávamos ficando sem ar e tivemos de nos separar.

James colou sua testa contra a minha, seus olhos ainda fechados enquanto eu o observava tão de perto.

O sorriso em meu rosto era grande demais.

— James. — chamei-o. Ele abriu os olhos.

— Lily?

— Quer ir à Hogsmead comigo? — indaguei de forma divertida.

— Agora? — ele parecia confuso, mas sorria.

— Agora.

Ele sorriu ainda mais, beijando-me rapidamente antes de se afastar e puxar-me pela mão.

— Vamos à Madame Pudifoot. — ele disse. — Tenho péssimas lembranças daquele lugar, acho que seria bom se você me compensasse pelos maus bocados.

— Ah, francamente, James. Aquele foi um beijo e tanto! — debochei de sua última experiência com Sirius.

James fez uma careta, fazendo-me rir.

— Apenas... Nunca mais toque no assunto! — resmungou.

— Se não?

— Eu serei obrigado a te calar. — ele me encarou seriamente. Sorri para ele.

— Mas eu achei aquele b...

E então ele me beijou novamente.

— Talvez eu fale mais vezes sobre o assunto. — disse assim que nossos lábios se separaram novamente.

James sorriu, divertido.

— Talvez eu queira te calar mais vezes.

— Ótimo! — disse.

— Ótimo. — ele concordou e então encaminhamo-nos para a saída do castelo, os sorrisos tão grandes que parecíamos dois palhaços. Mas quem se importava?

Eu não, definitivamente.

— Lily? — James então me chamou. Voltei-me para ele com uma sobrancelha arqueada em indagação.

— Sim?

— Por que você não gosta de Merlin? — perguntou. — Sirius disse qualquer coisa sobre isso.

Soltei um riso de diversão.

— Ora, Sirius está louco! Eu não gostar de Merlin? Francamente, eu amo aquele cara! — disse e, apesar da expressão confusa no rosto de James, ele não perguntou mais nada.

X—X

Querido Merlin,

Sou obrigada a lhe mandar esta carta de desculpas pelo meu comportamento completamente incrédulo perante o senhor. Francamente! Eu realmente sinto muito.

Ou, bem, sentiria, caso o senhor não tivesse sido tão cruel ao se divertir com a minha desgraça. Siriustick, sério? Por favor, o senhor poderia ter facilitado as coisas, não acha?

Mas, tudo bem, são águas passadas. Eu perdoo o senhor por sua falta de compaixão para comigo. E entendo seus motivos.

Aliás, ótimos motivos, heim? James Potter? Sério? Ha! E eu pensando que milagres não existiam, veja só.

Certo, vou parar de escrever essas cartas mentais para o senhor porque, francamente, isso não é algo o qual uma pessoa normal faria (não que eu seja, de fato, alguém normal [mas o senhor entendeu o que quis dizer, certo? {caso não tenha entendido, faça o favor de fingir que sim. Nós dois sabemos que nossos desentendimentos não têm acabado muito bem ultimamente, certo?}]).

De qualquer forma, Merlin, obrigada!

PS: apenas não pense, nem por um segundo, que me esqueci de minha última promessa para o Senhor. Ouse fazer qualquer gracinha novamente que eu irei até o seu maldito céu e infernizo sua vida (ou seria morte?). Hm, infernizo sua divindade.

PS²: Por favor, mande um beijo para Morgana. Diga a ela que o tempo ao qual estivemos juntas foi ótimo e que sentirei saudades!

PS³: ainda sinto raiva do senhor, muito embora tenha me esforçado tanto para escrever essa carta. Acho que águas passadas NUNCA serão águas passadas para mim. Desculpe-me por isso, não aprendi muito bem a perdoar pessoas que ferram minha vida (sejam elas divindades ou não).

Atenciosamente,

Lily Evans.


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Notas finais do capítulo

Eu odeio finais. Odeio essa sensação de vazio que dá quando algo que amo muito acaba. Odeio quando finalizo o último capítulo e sinto como se estivesse dando adeus à um velho amigo.

Porque, cada vez que escrevo a última linha de uma fanfic, é um amigo para quem estou dando adeus. Afinal de contas os amigos não servem, justamente, para nos alegrar? Ajudar-nos em momentos difíceis? Nos dar conselhos quando precisamos? Fazer-nos sorrir por qualquer bobagenzinha?

E, bem, foi exatamente isso que escrever Corpus Inversion me proporcionou.

Alegria, felicidade, crises de riso, vontade de entrar na história e bater em um personagem. Ofereceu-me um ombro amigo quando precisava desabafar. Esteve comigo em todos os momentos, apesar dos altos e baixos...

E, vocês, leitores, também! Também E PRINCIPALMENTE!

Eu nunca vou me cansar de agradecê-los por todas as coisas boas, os sentimentos bons, os sorrisos que vocês me proporcionaram. E eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente pelo fato de vocês disponibilizarem um tempo, mesmo que curto e apressado, para ler o que eu escrevo.

Entendam, eu AMO escrever. AMO me perder em personagens, entrar em suas mentes. Me tornar parte deles. AMO a sensação de fazer algo com minhas ideias.

E, é claro, o melhor de todos: AMO poder oferecer o meu amigo, minha história, à vocês. Para fazê-los rir, chorar, se emocionar. Alegrar aquela parcela de dia após uma aula chata, um dia cansativo de trabalho. Ou apenas naquele dia entediante em que nada parece bom.

Obrigada a vocês, por me darem o seu tempo!

Talvez eu nunca tenha dito, até porque costumo deixar as coisas pessoais de lado quando estou aqui, mas vocês, leitores maravilhosos, me ajudaram muito na pior fase da minha vida.

Vocês estiveram comigo e, mesmo que inconscientemente, cada mínima palavra, cada review gigantesco, cada "continua" ou "melhor fic", cada uma dessas coisas foram o que me fizeram ter forças em muitas das vezes.

Muitas pessoas acreditam que isso daqui não é nada, apenas uma bobagem, passatempo. Mas, para mim, sempre foi muito mais. É minha válvula de escape. E eu sei que, assim como tenho problemas, vocês também tem.

E eu queria dizer que vocês tornam minha vida muito mais feliz. E isso não é mentira ou bobagem. É de coração.

Então, amores, muito obrigada! Pelos comentários, acompanhamentos, pelos favoritos, leitores fantasmas que, apesar de não aparecerem por aqui, também perdem uma parcela de tempo com minhas histórias e, nossa, saber disso me vale o dia! Me vale a vida!

Obrigada, também, por todo o apoio e carinho, por todo o amor e, principalmente, paciência (afinal CI demorou quase quatro anos para ser concluída). E vocês continuaram aqui, comigo.

Eu nunca vou conseguir agradecer, mas eu tento, então obrigada, de novo e de novo e infinitamente!

Okay, eu vou parar com isso, porque estou chorando e eu ainda tenho o EPÍLOGO para escrever. O que, com certeza, vai me render mais algumas lágrimas rs'

Não esqueçam de me contar o que acharam, certo? Por favor! É o último capítulo! Leitores fantasmas, é a penúltima chance de me dizerem o que acharam da fanfic.
Vou amar vê-los por aqui, como sempre!

VOCÊS SÃO OS MELHORES LEITORES DO MUNDO!

Até breve, amores.

Agora deixem-me ir, por que tá tarde e eu tenho mesmo que dormir para trabalhar amanhã (ou seria hoje? rs).

PS: Perdão por não ter respondido ainda os reviews do capítulo passado, mas são três da manhã e eu tenho que trabalhar 💔

Assim que chegar do trabalho prometo que respondo, certo?

Beijinhos ♥

Até o epílogo, gente!