Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 6
Capítulo 6




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Era noite. Estava prestes a se armar um temporal. Jesse e eu jantamos na estalagem. Eu aguardava ansiosa para o fim da janta, para Jesse me esclarecer duas coisas: o que ele tinha cochichado com senhora O'Neill e o que havia acontecido na sala-escritório na cada dos de Silva. Já que ele saiu em um estado pavoroso. Senhora O'Neill teve um ataque histérico quando notou que o temporal se aproximava.

-Oh! As minhas roupas! – e saiu correndo para recolher as roupas. Eu ia recolher as minhas. Só que mais tarde. Queria ouvir Jesse antes. Ele ainda estava em estado de choque. Com o mesmo olhar vazio com que tinha passado a tarde. Eu não queria puxar o assunto. Sei lá. Tinha medo de que Jesse pudesse ficar pior – se fosse possível.

-Suzannah... – falou Jesse encarando a parede da sala de jantar – Depois, vá ao meu quarto para eu te contar as histórias.

Confesso que fiquei um pouco receosa. Depois daquela parada do lago.

-Ok. Eu vou. – certamente, Jesse não queria contar ali, por causa do senhor O'Neill.

Terminamos a janta e fomos lavar os pratos – velho e bom hábito das estalagens -. Eu ia me trocar antes de ir para o quarto de Jesse. Cara, espartilho dói muito. Eu não consigo respirar com aquele troço. Subi e quase "invadi" o quarto de Jesse por engano. Voltei e entrei no meu quarto. Enquanto trocava de roupa, ouvi uns passos subindo as escadas. Bem, deveria ser Jesse. Terminei de me vestir sem pressa. Ouvi o barulho da porta se abrindo. Vesti uma camisola – que mais se parecia com um dos nossos vestidos fashions do século XXI – rosa claro e fui ao quarto de Jesse.

Bati na porta. Ele estava se trocando, pois demorou a abrir a porta. E quando abriu, - meu Deus, quase tive um treco – estava sem camisa. Oh, que linda visão! Aqueles abdominais fantásticos! Cara, eu estive tão perto deles hoje de manhã. Realmente, me dava vontade de passar os dedos entre cada um dos músculos dos abdominais de Jesse.

Mas não podia. Não ali, no corredor. Desviei o olhar daqueles lindos e maravilhosos músculos e olhei para Jesse – que, além de ser lindo como eles, poderia achar que eu tinha fixação por abdominais sarados -. Que parecia com um deus grego, com a luz do lampião por trás dele. Ok, chega de enrolar...

-Hermosa... – Jesse sorriu, sinal de que estava se recuperando – Entre, por favor.

Entrei. Ele fechou a porta. O quarto de Jesse estava mais organizado que o meu. Que vergonha, Suzannah! Me sentei na cama. Jesse se virou. Oh, os abdominais de novo!

Cada vez que olhava para Jesse sem a camisa, me lembrava da cena do lago... Como fui estúpida, meu Deus. Ao invés de aproveitar a situação e fingir que me afogava... Jesse vestiu uma camisa de linho branca. Droga, para quê? Maldita camisa.

-E então? – falei para quebrar o silêncio.

Jesse sorriu para mim. É, ele se sentia melhor.

-Ah, sim. Vamos começar... – e se sentou ao meu lado – Bom, eu falei para senhora O'Neill que você nunca tinha usado aquilo. Que com certeza ficaria envergonhada e não iria sair do quarto. Ficou claro?

Como Jesse sabia que eu nunca tinha usado rolinhos?

Concordei.

-E o que era o sinal?

Jesse sorriu pervertido.

-Você vai saber o que é isso mais tarde.

Não é justo.

-Ah... – olhei triste para Jesse – E com seu pai?

Era melhor eu ter ficado quieta. Ele parou com seu sorriso pervertido e retornou ao seu olhar vazio da tarde.

-Jesse... Tudo bem? – Absurdo. Só fui capaz de dizer isso.

-Suzannah. – Jesse me olhou chateado – Ele quer que eu me case com Maria. Eu te falei.

Não era isso. Eu tinha certeza.

-Só isso? Ele te obrigou?

-Claro. – Jesse me olhou surpreso – Mas não foi só isso.

Meu coração acelerou. Vai saber o que Jesse iria falar. Senti que deveria ser algo terrível.

-Ele quer que eu termine com você. – a expressão de medo tomou conta do seu rosto – Me deu uma semana.

Uma semana. Daria tempo para voltar ao presente, quero dizer, o meu presente.

-Vamos voltar! – falei quase fazendo Jesse pular da cama.

-Amanhã. De tarde. – Jesse falou – Quero me despedir da minha família. Menos o meu pai.

Fazia sentido, claro.

-Ok. Amanhã. – falei sorrindo para Jesse. Estávamos bem próximos. Droga, eram os pensamentos do lago de novo. Mas agora até seria tentador...

Jesse se aproximou mais ainda de mim. Senti meu coração bater mais rápido. Cada vez que beijo Jesse, para mim, me faz lembrar o nosso primeiro beijo. Sempre fico arrepiada. Ele pôs a sua mão na minha nuca, se aproximou mais ainda de mim e sussurrou.

-Eu te amo, hermosa. – Era lindo demais. Jesse veio para bem perto de mim e se apoiou. Senti um impulso descontrolado que me fez cair deitada. Como Jesse estava indo em minha direção, caiu sobre mim. Mas não com o peso todo. Como naquela vez, que eu dormi no quarto do Mestre, com medo da Maria e ele, sei lá, me segurou pelos pulsos e ficou com o rosto bem perto de mim.

-Eu também te amo, Jesse. – falei, mas logo que terminei de falar, Jesse me beijou. No quarto, só havia um lampião aceso, pintando o quarto num tom alaranjado, deixando as coisas mais românticas... Oh, não, os pensamentos do lago! Bem. Estava bom demais para me preocupar. Abracei Jesse e aproveitei cada segundo, quero dizer, minuto. Além de ser maravilhosa a sensação de beijar Jesse, isso faria bem para ele. Ele estava muito preocupado com a situação em que o seu pai tinha o posto. Eu pude sentir isso enquanto o beijava.

Seção nostalgia! Me lembrei também do beijo no carro da minha mãe, alguns dias antes de fazer o meu primeiro deslocamento. Naquele dia, somente com a minha respiração eu havia embaçado os vidros do carro beijando Jesse. Afinal, ele era fantasma, então, ele não respirava. E hoje, nós dois conseguimos embaçar os vidros do quarto juntos. Eu queria fazer alguns desenhos nos vidros embaçados. Infantil, eu sei.

Após minutos de beijos e carícias, deduzi que estava na hora de voltar ao meu quarto. Jesse e eu estávamos sentados ao lado da janela. O céu estava limpo, a lua estava iluminando com tanta força, que deixava as estrelas parecendo apenas pontos sem luz.

Jesse estava com o braço por cima de mim, disse que era para me aquecer, mas eu estava bem quente. Me lembrei das roupas. Estava com o rosto encostado no peito de Jesse, levantei e olhei nos seus olhos.

-Jesse, preciso pegar algumas roupas lá embaixo.

Jesse me olhou. Ele estava mais tranqüilo. Parecia que havia tirado um peso das suas costas.

-Eu vou com você. – falou super-protetor. Adoro quando Jesse fala assim. Ele me disse que pareço ser tão delicada quando estamos abraçados, que ele até sente medo de me abraçar com força e me machucar, não é lindo?

-Não precisa. – falei dando de ombros. Na verdade, queria que ele fosse mesmo.

-Precisa sim. – Jesse sabe mesmo como insistir – Já é noite.

É. E realmente estava com medo de sair sozinha naquela escuridão.

-Ok. Venha.

Descemos as escadas devagar, para não fazer barulho para os O'Neill. Quero dizer, para o senhor O'Neill, por que a senhora O'Neill deveria estar voando na sua vassoura. Jesse segurava o lampião na minha frente. Quando chegamos à porta, notamos que estava trancada.

-Jesse, chame o senhor O'Neill, por favor...

Jesse me deu o lampião – que era inútil. Quem precisava daquilo era ele, não eu! – e subiu as escadas em busca do senhor O'Neill. Alguns minutos depois, Jesse voltou com senhor O'Neill, vi que ele me olhou constrangido. Ah, sim, a camisola. Mas qual é? Ele não tem uma esposa? Ah, sim. A senhora O'Neill deve ter contado a ele que acha que eu sou uma "dama da noite". Cara, essas pessoas acreditam em tudo que ouvem?

Ele abriu a porta para nós. Fui ao pátio dos fundos, peguei as minhas roupas e entrei novamente na casa. Subimos as escadas, pedimos desculpas a senhor O'Neill e desejamos boa noite. Larguei as roupas no meu quarto e voltei ao quarto de Jesse. Ah, ele não iria se importar. Ele até ia gostar.

Ficamos conversando por um bom tempo. Na verdade, você sabe qual é o nosso tipo de conversa, não é? Amassos. Depois de perceber que se eu ficasse mais algum minuto ali acabaria fazendo alguma coisa que realmente – não, eu até queria – não deveria fazer, a idéia de voltar ao meu quarto e dormir parecia tentadora. Jesse interroumpeu os meus pensamentos e falou sem fôlego.

-Acho que você deve voltar para seu quarto, hermosa. – encostou a cabeça na parede e falou de olhos fechados, como se não quisesse me ver saindo.

-Tá bom... – falei tentando parecer frustrada, o que não foi nem um pouco difícil. Beijei Jesse desejando boa noite.

-Boa noite, Jesse. – levantei e beijei Jesse, que fez o mesmo.

-Boa noite, Suzannah. Durma bem. – andou até a porta e abriu para mim.

-Você também. – saí. Contrariada, mas eu estava exausta. Jesse ficou me olhando até entrar no quarto e fechar a porta. Me joguei na cama e morri.

Por um momento, à noite, tive impressão de ouvir a porta bater. Não a do meu quarto nem a do quarto do Jesse. Será que era senhora O'Neill voltando da sua voltinha de vassoura voadora? Parecia que sim. Mas eu estava tão cansada que nem abri os olhos.

Ouvi os passos subindo as escadas e andando pelo corredor. Virei para o lado. Se eu continuasse prestando atenção, perderia o sono. Eram passos de botas. E tinham esporas, faziam um barulho terrível. Jesse não usava botas com esporas, nem senhor O'Neill, não que eu saiba. Ouvi uma porta ranger, depois outra, depois outra. Aquelas botas com esporas estavam vindo em direção a minha porta. Senti um medo incontrolável crescer dentro de mim. Me sentei na cama. Daria tudo para Jesse estar comigo. A porta estava trancada. Vi que alguém tentou forçar a abertura da porta. Meu coração disparou. Se fosse Jesse, bateria na porta para abrir. Mas seja lá quem fosse, não queria ser recebido. De repente, vi que a trinca da minha porta caiu. A porta abriu e um vulto escuro correu em minha direção. Senti uma dor horrível que me fez perder os sentidos.


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