Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 5
Capítulo 5




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-Jesse! Que susto! – falei mergulhando no lago, a água estava bem quente. Mais do que eu imaginava. Eu nunca que imaginaria que Jesse tentaria me espiar nua enquanto tomava banho. Ou não era bem isso que ele queria.

-Hermosa, - falou Jesse – porque não me avisou que vinha tomar banho?

É, se eu soubesse que você viria atrás de mim, eu avisaria.

-Por que eu... – fiquei pensando em um motivo qualquer. Idiota. Banal. Tosco. Uma desculpa para fazer Jesse sumir dali – Não preciso de ajuda para tomar banho.

Que resposta idiota!

Jesse me olhou com uma das sobrancelhas levantadas. Tá, o que foi agora? Ele que vem me espiar tomando banho e eu que sou anormal por aqui?

-E por que você veio até aqui? – perguntei meio constrangida.

-Eu vim tomar banho. – falou normalmente.

Tá. O que ele tava pensando? Que tomaria banho comigo?

Nada contra, mas... Não parecia fazer o estilo de Jesse. Não antes do casamento.

-Você... – eu estava vermelha, com certeza – Vai tomar banho comigo?

Jesse começou a rir. Não foi nada escandaloso. Mas eu estava com medo de que a senhora O'Neill notasse a presença masculina ali.

-Não entendi a graça. – falei rispidamente.

-Suzannah... – e Jesse não parou de rir. Eu mergulhei e sai dali. Fui para o lado da toalha felpuda branca. – Suzannah, volte aqui...

Olhei para Jesse enquanto nadava para o outro lado do lago. Eu não voltaria ali para ouvir a resposta de Jesse. Ele tinha rido da minha cara e eu não estava tão bem humorada hoje.

Vi que Jesse correu para trás de um arbusto e saiu dali com uma toalha e entrou no lago. Me apressei para fugir dele. O que será que ele estava pensando? Minha pressa foi em vão. Vi que Jesse estava perto demais de mim para eu poder pegar a minha toalha, me enrolar e fugir dali.

-Suzannah, - falou mergulhando e me segurando pelo punho – desculpe. Eu não deveria ter rido de você. E eu não vim aqui tomar banho...

-Ah, tá. – falei com a água até o queixo – Então porque esta aqui desse jeito?

Jesse ficou envergonhado. Há! Que legal, eu tinha deixado ele sem resposta. Geralmente sou eu quem fica sem respostas.

-Eu iria tomar banho mais tarde. – falou Jesse sério – Mas a verdade é que eu achei que você tivesse saído sozinha. Sabe que eu estou um pouco assustado com a história da Maria.

"Um pouco assustado". Tá legal... Não perecia tanto assim...

-Tá legal... – verbalizei o que tinha pensado – Eu já terminei o meu banho. Vou me vestir antes que a senhora O'Neill me veja aqui e comece a pensar alguma coisa...

-Ah... Ela está aqui...

Claro. Ele achava que eu estava sozinha? Ou talvez estivesse com Maria... Vai saber o que se passa na cabeça de Jesse...

-É. – na verdade eu podia ter ficado quieta. Mas eu acho que eu acabei ficando retardada com esse deslocamento. Uma resposta mais tosca ainda estava por vir aí – Ela está.

-Bom. – falou Jesse passando a mão nos cabelos molhados – Te vejo na estalagem, então. Mas se você me esperar... – falou soltando o meu punho e me olhando daquele jeito...

Ah, claro que eu esperaria se eu estivesse sozinha. Mas se a senhora O'Neill visse eu esperando Jesse sair do banho... Sabe lá o que iria passar pela cabeça dela.

-Acho que te vejo na estalagem. A senhora O'Neill não sabe que você está aqui. – falei tentando ignorar a cara de cachorrinho de Jesse. Mas eu não tive muita força de vontade...

-Ah, é. – Jesse me beijou. Ok, foi muito estranho, afinal, eu e ele estávamos em um rio, sem roupas de banho, e de repente, Jesse me beija, como naqueles filmes antigos, só que isso era bem real. Eu tentei não me aproximar muito de Jesse. Seria constrangedor. Mas foi meio que inevitável. Senti que ficaria ruborizada. Mas quem liga. Ah. Dane-se senhora O'Neill.

Depois do beijo ruborizei, como o previsto. Mas não fui a única. Jesse também tinha ficado ruborizado. Na verdade, foi menos constrangedor do que eu imaginei. Não vou mentir. Foi legal. Jesse e eu ficamos nos encarando, testa-a-testa. Fiquei atordoada pelo efeito do beijo e as suas circunstâncias – lago, Jesse, ausência de roupas de mergulho... - Tentei isolar os meus pensamentos e cair na real. Me desvencilhei de Jesse – que estava me abraçando pela cintura – e saí envergonhada da água.

-Suzannah... – Jesse falou. Mas não terminou. Saí da água e me enrolei na toalha. Fui em direção aos arbustos onde estavam as minhas roupas. Jesse me chamou mais umas 2 vezes.

Eu fiquei rezando para que a senhora O'Neill não tivesse escutado. Mesmo ela não lembrando meu nome. Pus a "calcinha-gigante" – para não dizer tamanho King - Kong – o sutien, o vestido azul claro com branco – será que todos os vestidos da época tinham detalhes brancos? Parecia uma fixação... – e calcei as sapatilhas brancas. Tentei secar o meu cabelo, mas não iria dar certo sem o secador. E fui em busca da senhora O'Neill.

Jesse não estava mais no lago e senhora O'Neill estava torcendo umas roupas ainda.

-Como foi o banho? – que estranho. Ela estava sendo gentil!

-Bom. – falei em uma tentativa incansável de secar os meus cabelos.

-Se quiser eu lhe empresto alguns rolinhos.

Rolinhos? Que raios seriam rolinhos?

-Ah... Obrigada... – concordei. Mas era mais para saber o que eram os tais rolinhos.

Fomos para a estalagem. Jesse estava ali sim. Ele estava estendendo as suas roupas. Legal. Tinha esquecido de lavar as minhas roupas. Nos meus pensamentos de garota do século XXI, eu iria por na máquina de lavar. Jesse estava de costas e não pensei duas veses. Iria assustar ele. Me vingar. Vingança, doce vingança...

Fui lentamente, passo a passo até chegar bem perto de Jesse. Via que a senhora O'Neill tinha ficado olhando. Mas ela deve ter pensado que era coisa de "dama da noite". Quando estava bem perto de Jesse, bati nas costas dele com as pontas dos dedos e dei um grito...

Jesse continuou imóvel, como se eu tivesse apenas chegado e dito "oi". Droga. Não tive uma vingança agradável. Jesse foi até sarcástico. Gentil, mas sarcástico.

-Olá, mi hermosa. Não teve muita sorte em me assustar, não é? – e deu um sorrisinho.

-Oi. – falei sem graça – É. Você é um andróide que não teme a nada.

Jesse e senhora O'Neill me encararam. Ah, sim. Eu não estava no século XXI. Eles não faziam idéia sobre o que seria um "andróide".

Mais uma para a lista de burradas de Suze Simon.

Jesse deu um sorriso. Forçado. Só para fazer com que senhora O'Neill pensasse que estava tudo bem e entrasse na casa de uma vez. Parece que funcionou. Ela sorriu e entrou na casa.

-Jesse! – agora eu iria explodir e falar tudo que eu tinha pensado sobre ele no lago – Que diabos você pensou que estava fazendo comigo no lago? Sabia que a senhora O'Neill poderia ter visto tudo.

Falei.

Como de costume, seria melhor eu ter ficado quieta.

Jesse apenas me olhou e respondeu do seu jeito – aquele mesmo que ele usava quando era fantasma.

-Não sei. – ele estava sendo sarcástico! – Mas bem que você gostou.

Que ousadia! Não esperava isso dele. Mas era verdade: eu tinha gostado.

-Não mude de assunto. – Droga. Eu estava rindo. Havia alguma coisa em Jesse que me fazia ficar de bem com ele sempre. Incrível.

Jesse ficou me olhando. O sol estava a pino, se eu não entrasse na casa eu iria derreter dentro daquela saia balão. Mas como eu estava com ele, não tinha que me importar. Ele ajeitou o cabelo e quando ele ia falar alguma coisa eu me lembrei.

Os rolinhos!

Fiz uma cara e entrei na casa correndo, mais uma vez, em busca de senhora O'Neill. Quase tropecei no capacho na frente da porta. Tremendo susto. Encontrei-a na sala. Devo ter falado arfando, porque ao invés de sair "Senhora O'Neill, os rolinhos!" , saiu alguma coisa como "Senhoneil, osolins...". É. Deveria ser esse o motivo para ela ficar me encarando. Melhor ela ficar me olhando do que ela ter ficado rindo da minha cara, como talvez Jesse faria...

-O que foi, moça? – falou demonstrando um pouco de preocupação em sua voz.

-Ah, desculpe, senhora O'Neill. – falei pondo a mão no peito - A senhora falou que me emprestaria os "rolinhos"...

Depois de uma expressão vazia, senhora O'Neill recebeu a luz e foi ao seu quarto. Voltou com uma caixinha.

-Se precisar de ajuda para enrolar, assim que eu terminar aqui, posso te ajudar.

Abri a caixinha que ela pos no meu colo. Eram bobs. Rolinhos eram bobs! E não eram pequenos, não. Eram proporcionais ao tamanho das calcinhas. Seria bom, que iriam alisar os meus cabelos ao invés de fazer cachinhos.

-É. Acho que vou precisar mesmo...

Jesse entrou na sala. Ele parecia confuso por eu ter saído correndo depois de passou a mão nos cabelos.

-Suzannah, - Jesse parou na porta, depois que viu senhora O'Neill pegando os "rolinhos-bobs" – está tudo bem?

-Sim, Jesse. Tudo bem. Desculpe... – falei qualquer coisa. Naquele momento, eu não estava muito a fim de falar com Jesse. Não pelo o que ele tinha feito comigo, eu tinha gostado, mas era pelos rolinhos.

-Está bem, então... – Jesse olhou desconfiado para senhora O'Neill e sua caixinha. Fez um gesto que não consegui decifrar o que era, mas foi para senhora O'Neill. Ela riu. Legal. Odeio ficar boiando nas "conversas". Ela soltou os meus cabelos e pediu para mim buscar a minha escova. Levantei e fui até a escada. Vi que Jesse entrou na sala e foi em direção dela. Olhei desconfiada, mas eles pararam. Droga. Eu teria que buscar a maldita escova para eles falarem. Subi as escadas e parei lá em cima para tentar escutar a conversa. Ouvi apenas sussurros, Jesse e senhora O'Neill conversando. Deveria ser sobre mim...

Entrei no quarto, peguei a escova e desci as escadas. A pequena reunião de Jesse e senhora O'Neill já havia acabado. Legal, eu tinha que me lembrar disso mais tarde, para ficar de cara com Jesse.

-Está aqui. – alcancei a escova para senhora O'Neill. Lancei um olhar intimidador para Jesse. Ele me olhou nos olhos e sorriu. Não. Não parecia que ele tinha falado mal de mim – Posso saber sobre o que vocês estavam falando?

Senhora O'Neill olhou para Jesse. Ele fez o sinal de novo. Legal, poderia ser sobre mim mesmo.

-Ah, Suzannah, certo? – falou senhora O'Neill passando a mão sobre a sua bandana creme. Apontou a cadeira para eu me sentar – Jesse conta a você mais tarde...

Lancei outro olhar intimidador a Jesse. Lógico. Ele não iria me contar.

-Aham. Tá, me conte mais tarde, Jesse. – passei a toalha novamente nos cabelos molhados.

Depois de passar cerca de uns 40 minutos enrolando aqueles "rolinhos" nos meus cabelos, fiquei parecendo que tinha uma colméia na minha cabeça. Legal. Teria que esperar aquilo secar. Eternidade. E, daquele jeito, eu não ia à rua nem que fosse obrigada. Subi e fiquei no quarto. Alguns minutos depois, bateram na porta. Sai de perto da janela, quando abri a porta, esperava ver Jesse. Talvez ele viesse me contar sobre o segredinho com senhora O'Neill. Mas era a mesma.

-O almoço está servido. – falou senhora O'Neill encarando a minha colméia de cabelos – Acho que seu cabelo já está ?

Ficamos uns 15 minutos desenrolando. Certo. Jesse bateu na porta. Entrou meio encabulado. Mas por quê? Ali só estavam eu e senhora O'Neill. A quem ele contou algum segredinho a ela. Ah, sim. Eu estava de cara com ele. Ele me chamou.

-Suzannah... Nós vamos almoçar na minha casa... – Passou a mão no cabelo, novamente. Mas era por causa da senhora O'Neill. Coitada! Ele estava dispensando o almoço dela.

-Certo, Jesse. – falei – E seu segredinho, não vai me contar?

Encurralei Jesse.

-Te conto a caminho. – me olhou significativamente - Muito obrigado pelo convite, senhora O'Neill.

Ajeitei o cabelo e fomos à "garagem" da estalagem. Depois de alguns minutos de cavalgada, chegamos a fazenda da família de Silva. Olhei para Jesse com uma cara de coitadinha e perguntei.

-O que você e a senhora O'Neill estavam falando de mim antes? E o que era aquele sinal?

Jesse me olhou e segurou uma risada. Ok, parecia com a que ele tinha dado no lago, mas era mais "moderada".

-Nada, te conto mais tarde...

-Mais tarde ainda? – protestei - Vai me contar só de noite, é isso?

-Talvez...

Ah. Droga. Eu não sei conviver com curiosidades. E ainda mais que eu tenho um pequeno problema, chamado "excesso de criatividade". Eu começo a imaginar milhões de coisas que seriam possíveis.

Batemos na porta, a senhora de Silva atendeu a porta e sorriu.

-Jesse, Suzannah! Que bom que vocês vieram almoçar conosco. Entrem, por gentileza.

-Agradeço o convite, senhora de Silva. – falei educadamente.

-Sei pai está aqui, Jesse. – falou senhora de Silva. Apontou a sala e vimos o senhor De Silva de pé – Ele quer falar com você.

Oh. Imagino que deve ser sobre mim. Claro. Hoje era o dia de falar mal de Suzannah Simon. Como foi que eu me esqueci?

Cumprimentamos a mãe de Jesse e suas irmãs, que haviam aparecido alguns minutos depois. Após os cumprimentos, Jesse foi com o senhor De Silva para uma sala nos fundos da sala de estar. Parecia um escritório. Sentei em um daqueles imensos sofás junto com as irmãs de Jesse.

P.O.V. JESSE ( Ponto de Vista Jesse)

Entrei na sala. Eu já imaginava sobre o que ele iria falar.

-Hector... – nunca tinha o visto tão sério assim – Me conte tudo sobre aquela noite, que você desapareceu. O que houve de verdade?

Era exatamente o que eu temia.

Eu teria que explicar tudo para ele.

Tanto faz.

-Pai, o senhor sabe que assim como mamãe e as minhas irmãs, eu sou mediador...

-Não me interessa o nome dessa coisa. – vi que estava com raiva – Me conte, apenas.

Grosseiro. Eu me odeio por ter voltado.

Eu tentaria continuar. Mas, eu devo respeito a ele.

-Eu estava voltando para cancelar o meu casamento com Maria...

-Por quê? O que há de errado com ela?

Sentimentos. Será que ele já havia escutado falar?

-Por que eu não amo ela. E nunca amarei.

-Mas foi uma promessa...

Sei que tipo de "promessa" é essa. É só interesse.

-Para unir terras? E você usa os sentimentos para ganhar mais dinheiro?

Era melhor eu ter ficado quieto. Como sempre.

-Hector. – ele me encarou – Um dia você vai entender.

Claro, eu estava usando os sentimentos como uma desculpa, afinal. Não era esse o real sentido. Era Suzannah. Se eu me casasse com Maria, eu jamais conheceria Suzannah.

-Entender que devemos vender as pessoas? Entender que terras valem mais do que a sua própria autonomia? É isso que o senhor quer que eu entenda?

Ele se levantou. Dios. Eu tinha ido longe demais.

-Hector. Escute aqui. – apontou um dedo para mim - Não faço idéia de onde você estava antes de aparecer por aqui de novo. Quer saber essa história absurda de fantasma? De mediador? De século XXI? Eu não acredito. Não sei da onde você tirou essa tal de Suzannah, e essa maldita idéia de que pode decidir sobre a sua vida. Eu te digo o que deve fazer até quando eu morrer, está entendendo?

Eu não agüentava mais. Eu viraria de costas. Mas não sei o que me impediu de me levantar. Fiquei ali, controlando a minha raiva.

O silêncio se instalou na sala.

-Até lá, você fará tudo que eu estou dizendo.

Eu ia explodir.

Eu ia matar meu pai.

Eu ia fazer a maior besteira da minha vida: estava com vontade de me matar.

Não. Seria uma das minhas maiores besteiras.

Mas tudo que pude fazer foi falar.

-O que o senhor quer que eu faça, então?

Meu pai sorriu satisfeito.

-Você vai se casar com Maria. Esqueça essa tal de Suzannah.

Não.

Não.

Tudo. Menos esquecer Suzannah. Eu jamais faria uma coisa dessas.

Olhei para meu pai. Raiva. Ódio. Fúria.

Falei demonstrando a minha revolta.

-Eu não vou me casar com Maria.

Meu pai se inclinou em minha direção.

-Vai sim. Estou fazendo o que é melhor para você, Hector.

Se fosse o melhor, deixaria-me ir com Suzannah. Por que ela é a mulher que eu amo.

-Não é o melhor. – falei com o mesmo tom de revolta.

Discutir com meu pai seria em vão. Mas eu tentaria até o meu último suspiro. A maior besteira que eu já tinha feito era deixar meu pai cuidar da minha vida por mim.

-Hector. Você acha que sabe mesmo, o que é melhor para você?

Dane-se o respeito.

-Quer saber? – levantei da cadeira. Hesitei antes de falar. Eu sabia que iria me danar – Eu só não acho como eu sei. Eu já sou adulto e já vivi bastante para aprender. Se o senhor acha que eu estou mentindo sobre a história de ser fantasma, certo. Não preciso que o senhor acredite em tudo que eu diga. Eu quero viver. Isso que o senhor quer para mim não é vida. É tortura. Eu quero só voltar ao século XXI e viver feliz com Suzannah. Quero me casar com ela, ter minha família, ser médico, ser dono de mim mesmo. Não depender de ninguém para fazer as coisas. Isso é ridículo. Eu vi toda a história se desenrolar diante os meus olhos. E graças a Suzannah, eu estou aqui. E tudo mais o que posso dizer ao senhor é que eu não vou me casar com Maria.

Desabafei.

E me danei bonito.

Dios. Como eu sou idiota.

-Hector. – ele estava irreconhecível – Já falei com o pai de Maria e ele concordou. Você tem uma semana para acabar tudo com ela e se casar com Maria.

Quero morrer.

Meu pai se levantou e andou até porta, com um sorriso triunfante. Eu estava acabado. Arrasado.

Não tinha condições de fazer mais nada.

Quer saber?

Me odeio.

Me odeio por ter explodido com meu pai.

Me odeio por ter feito Suzannah concordar em fazer essa viajem.

Me odeio por ter que casar com Maria.

Me odeio por saber que teria de terminar tudo com Suzannah.

Me odeio por saber que não posso fugir sem ela.

Levantei da cadeira. Respirei fundo. Não teria como almoçar depois dessa discussão. Não teria como eu chegar ali na sala e ver o rosto de Suzannah, sorrindo. Sem saber da coisa terrível que teria que fazer com ela. Eu ia desabar. Levaria ela para fora de casa o mais rápido o possível e extravasaria a minha raiva em alguma coisa.

P.O.V. SUZANNAH  (Ponto de Vista Suzannah)

Jesse saiu da sala. Ele estava com uma cara horrível. Não sei exatamente o que aconteceu ali naquela sala. Mas não parecia que era bom. Levantei e fui falar com Jesse. O senhor de Silva me olhou torto. Legal. Ele estava me odiando mais ainda. Como se fosse possível...

-Jesse... – perguntei quando senhor de Silva tinha saído – Tudo bem?

Ele estava aparentemente, abduzido. Porque ele simplesmente estava com um olhar vazio. Alguma coisa muito errada havia acontecido ali.

-Jesse! – falei balançando Jesse – Terra para Jesse. Está vivo?

Ele olhou para mim, mas parecia que ele estava olhando para um fantasma. Ele olhava para mim. Nos meus olhos, mas parecia que não estava me enxergando. Prestei atenção nos olhos de Jesse. Estavam úmidos. Ele ia chorar. Mas por quê?

Depois de me olhar, ele desviou o olhar triste, que parou no chão.

-Suzannah... – ele voltou a olhar para mim – Vamos almoçar na estalagem.

É. Alguma coisa muito errada havia acontecido ali.

-Ok. Mas o que houve?

-Falamos disso depois. Chegando na estalagem. – ele passou a mão no cabelo. Eu conhecia esse gesto. Ele estava confuso.

Jesse me pegou pelo braço e me levou até a porta.

-Adeus, mãe! Garotas... – Jesse estava se despedindo. Era alguma coisa séria mesmo.

-Jesse... – Mercedes veio correndo – Aonde vais?

-Falo com vocês outra hora. Preciso ir. – falou dando as costas e abrindo a porta mais rápido do que você ouse dizer "supersônico".

Caminhamos até a charrete. Quero dizer, eu fui praticamente arrastada. Depois que Jesse me soltou, teve um ataque histérico de raiva. Ataque mesmo. Ele começou a dar socos no ar, chutar um homem-invisível e berrar palavras – que deveriam ser insultos – em espanhol. Nunca tinha visto Jesse assim. Era uma cena desoladora. O caos havia se instalado para Jesse.

-Jesse? O que é isso?

Jesse não me escutou. Eu achei melhor ficar longe. Depois do seu ataque, Jesse entrou na charrete e saímos da fazenda. Após alguns minutos de silêncio absoluto, com apenas o som dos cavalos, Olhei para Jesse e vi que ele estava chorando. Mas silenciosamente. As lágrimas corriam pelo rosto de Jesse, com um olhar vazio, sem tirar os olhos da estrada.

-O que há com você, Jesse? – perguntei com a voz estrangulada. Eu sentia alguma coisa querendo sair de dentro de mim. Claro, ia chorar também.

-Meu pai. – ele estava virado na raiva absoluta – Ele quer que eu me case com Maria, Suzannah. – olhou para mim. Ainda rolavam lágrimas pelo rosto perfeito de Jesse.

-Seu pai? – fiquei completamente confusa. Mas depois as coisas começaram a ficar claras para mim.

-Ele não dá a mínima para o que eu penso. O que eu sinto. Ele quer que eu me case com aquela vaca só para ter mais terras. Aposto que depois de ontem a noite, Maria deve ter voltado lá e dito alguma coisa a ele.

"Aquela vaca"? Jesse não estava nada bem. Eu quase nunca tinha visto Jesse xingar pessoas assim. Talvez em espanhol, mas eu não entendia.

Concordei com a minha cabeça. Abracei Jesse e ficamos em silêncio pelo resto do caminho.


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