Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 4
Capítulo 4




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Sentamos na mesa de jantar. A mesa era farta, Jesse e eu estávamos sentados ao lado do Sr. de Silva. Jesse estava contando como nós tínhamos nos conhecido. Foi estranho. Todos ouviam, entendiam e lidavam naturalmente com a história de Jesse e eu sermos mediadores. Sim, depois fiquei sabendo que as irmãs de Jesse e a mãe dele também tinham esse "dom" – como padre Dominic costuma chamar -. O Sr. de Silva entendia tudo perfeitamente sobre a história de deslocamento. Mas, parecia que ele não tinha gostado muito de mim. Não sei por que, mas eu achei que ele não tinha ido muito com a minha cara. Acho que ele preferia a tal da Maria de Silva – ai que ódio -. Mas não. Ele iria mudar a idéia sobre mim. E seria para melhor.

Terminamos a janta e nos sentamos nos imensos sofás da sala de estar. Falei aflita para Jesse, o lembrando que deveríamos fingir que iríamos para "casa".

-Jesse! – falei baixinho – Temos que "ir para casa".

-Sim... - falou ele triste.

Alguém bateu a porta. Nos entreolhamos e Sarah abriu a porta. Todos olhavam apreensivos para Sarah. Sarah sorriu educadamente e disse.

-A senhorita Maria de Silva.

Droga.

Maria de Silva. A prima psicopata de Jesse. A conheci antes como fantasma. Ela havia ameaçado a mim de morte se eu não mandasse parar com uma escavação nos fundos da minha casa. Ela era a ex-namorada de Jesse, que casaria por dinheiro, para unir as terras e se tornarem a família com a maior quantidade de terras. Mas não foi bem isso que aconteceu. Jesse deu – ou ia dar – um pé no traseiro de Maria de Silva, dizendo que não estava mais apaixonado e que não se casaria com ela de jeito nenhum. Mas não foi bem assim que a história terminou. Maria de Silva estava apaixonada por um cara chamado Félix Diego. E, quando ela ficou sabendo que Jesse viria até a cidade para acabar o casamento com ela, ela mandou o sujo Félix Diego matar Jesse – no meu quarto -, enterrar o corpo dele no quintal, coisas assim. Mas isso foi há 150 anos atrás.

Mas, recentemente, Félix Diego morreu quando foi matar Jesse. Na verdade, ele ia se casar com Maria de Silva e ambos teriam 11 filhos tão imprestáveis quanto os seus pais. Mas, um psicopata do século XXI, Paul Slater, loucamente apaixonado por mim, louco de ciúmes de Jesse, resolve usar o deslocamento temporal para voltar ao passado e impedir Félix Diego de matar Jesse. Para eu nunca conhecer Jesse e me apaixonar por ele – ai, que nojo. Sério. Eu me mataria. Qualquer coisa menos Slater -. Mas eu voltei junto com Paul, para impedir Paul de impedir Félix Diego de não matar Jesse. E no meio dessa loucura toda, Félix Diego morreu queimado no galpão que existia atrás da minha casa há 150 anos.

Ou seja, Maria de Silva não tinha ninguém para se casar. Ficou encalhada, solteirona, para titia. Porque eu estava com Jesse no século XXI, e Félix Diego era pó.

Mas agora ela voltou, e vai tentar fazer alguma loucura contra mim e Jesse. Talvez tente usar a faca dela de novo.

Olhei aflita para Jesse. Ele me abraçou.

-Vai ficar tudo bem, mi hermosa. – falou baixinho no meu ouvido – Ela não vai tentar fazer nada contra você.

Não gostava disso. Não, a sensação de ouvir Jesse falar aquelas palavras no meu ouvido era a melhor coisa do mundo. Mas o problema era que ele já tinha feito uma promessa como essa antes e eu acabei sendo exorcizada para salvar ele. Tudo por amor.

Abracei Jesse. Nem olhei para a porta. De repente, a minha ficha caiu.

Tudo que ela tinha tentado fazer contra mim foi no século XXI. Ela ainda não morreu. Ela não se lembra de nada que ela tentou fazer contra mim. Porque estávamos no século XIX.

Mas não seria isso que iria me acalmar.

-Maria. – o Senhor de Silva falou – Não são horas de fazer visitas.

Maria ficou parada na frente da porta, pasma com o que via. Jesse. Estava ali. Claro. A minha outra ficha caiu agora. Ela ia se casar com ele. Mas ele "morreu" no meio do caminho. Mas ela sabia que ele não tinha exatamente "morrido". Ela tentaria sim alguma coisa contra mim.

Ela não falou nada, apenas ficou olhando para mim e para Jesse. Depois de se "recuperar" do choque, ela pediu perdão ao Sr. de Silva.

-Me perdoe, tio. – falou completamente confusa. Eu podia ver na cara dela, ela pensava "Como? Como ele sobreviveu? Como ele está aqui? Quem é essa aí que está abraçada com ele? Quem ela pensa que é? Jesse é meu noivo! Ela vai ver só." – Fico contente em ver que Jesse está vivo. – falou friamente – Olá, Jesse.

Jesse olhou para ela e disse um oi sem graça.

-Oi.

-E quem é a sua "amiga"? – falou ela com cara de nojo.

-Não é amiga! É a namorada de Jesse! – exclamou Josefina. Isso! Droga! Porque não dizia também que nós tínhamos vindo do futuro? Que contasse tudo de uma vez. Dane-se!

-Namorada? - perguntou com uma voz esganiçada – Pensei que eu fosse a sua noiva, Hector.

-Você foi. – falou Jesse sem olhar nos olhos dela – Mas, que tipo de noiva manda o amante matar o noivo na véspera do "casamento" que nunca iria acontecer?

Jesse. Esse é o nome do meu herói.

Maria ficou totalmente sem ação. Todos olharam para Jesse. Ele não tinha contado essa parte da história.

-Jesse, - perguntou a Senhora de Silva – O que você está falando?

-Vocês ouviram – falei – Eu vi tudo. Eu estava junto quando tentaram matar Jesse.

Droga. Era melhor eu ter ficado quieta. Agora todo mundo havia notado a minha presença.

Essa entraria para a lista das burradas de Suze Simon.

Maria me fuzilou com o olhar. Eu abracei o braço de Jesse com mais força. Ele passou a mão nos meus cabelos.

-Garota, - falou Maria de Silva naquela voz enjoada – eu conheço você?

-Suzannah Simon. O prazer é todo seu. – falei sem um pingo de boa educação.

-Escute aqui, Suzannah – Maria chegou mais perto de mim. Afundei no sofá -. Não sei de onde você acha que pode falar nesse tom comigo...

-Quer que eu fale nesse tom? – imitei perfeitamente a voz dela. Mercedes deu uma risadinha, que foi abruptamente interrompida por um olhar torto de Maria.

-Escute aqui, garota...

-Suzannah. – interrompi com a minha voz em um tom totalmente irritante.

-Dane-se. Falo com você do jeito que eu quiser.

-Não na minha casa. - falou Sr. de Silva se levantando e abrindo a porta da frente -. Se você veio até aqui para fazer uma visita fora de hora e, discutir com a minha visita, faça o favor de se retirar.

Wow! Valeu, Senhor de Silva!

Mas espere aí... Ele me chamou de visita. Droga. Ele ainda não tinha mudado a opinião sobre mim.

Jesse ficou de pé, e apontou a porta para Maria com um sorriso sarcástico nos lábios.

-Você vai se ver comigo, garota. – falou Maria em um tom ameaçador. Me arrepiei. Sério.

E saiu sem olhar para trás. Me levantei e abracei Jesse.

-Vamos? –perguntei.

-Vamos...

Na minha última viagem no tempo com Paul, eu havia descoberto que o tempo parava enquanto você estava em outro tempo, então sugeri ao Jesse que nós ficássemos na estalagem da "minha casa" até que nós terminássemos a visita. Por que não tinha sentido em fazer dezenas de viagens no tempo quando você pode fazer só uma, não é mesmo?

Jesse então me disse que poderíamos ir para a estalagem na charrete dele, e então eu descobri o porquê ele gostava tanto daquele carro – a Mercedes grafite com os vidros levemente fume -, a charrete era exatamente no mesmo tom de grafite, até os cavalos eram grafite! Será que tinha cinto de segurança? Será que existiam cintos de segurança em 1850?

Acho que não...

O impressionante é que lembrava mesmo o símbolo da Mercedes gravado nos cavalos. As coisas eram realmente muito estranhas em 1850... Será que a família de Jesse não foi a inventora da Mercedes? Até faz sentido... A irmã dele se chamava Mercedes...

Estranho...

Entramos na charrete. Será que o Jesse sabia mesmo dirigir uma coisa estranha dessas? Ele poderia me ensinar... Pegamos a estrada – de terra, com bastante poeira. Coitado do meu vestido... Ele era branco com café. Agora ele é Café-com-café. - em direção a minha casa, quero dizer, a estalagem.

Chegando lá, Jesse bateu na porta da estalagem e a mesma mulher louca de vestido balão que havia me expulsado da casa menos de um mês atrás abriu a porta. Ela me olhou e gritou:

-Ah! Você denovo?Já te disse para não por os pés aqui! – e então, ela ergueu uma vassoura, muito assustadora, devo dizer. A vassoura era de palha, tipo as que as bruxas naquelas histórias que os adultos contam para as crianças usam. Eu não duvidaria que ela fosse uma bruxa.

Me escondi atrás do Jesse. Ele ficou imóvel e perguntou assustado.

-Vocês já se conhecem? – Jesse usou o seu usual tom de voz confuso.

-Você é aquela dama da noite que esteve aqui um mês atrás! – disse a senhora O'Neill. Mais do que nunca ela parecia prestes a me dar uma vassourada.

-Que história é essa de dama da noite? Suzannah, do que ela está falando? – Jesse já estava começando a passar de confuso para enraivecido. Acho que ele também iria me dar umas vassouradas. Sorte minha que só tinha uma vassoura.

-Eu posso explicar... – falei saindo de trás dele – Lembra daquela mulher, que eu tinha te dito que me expulsou? É ela.

Jesse me olhou indiferente.

-Ela? – e ergueu uma das suas sobrancelhas, fazendo descaso.

Fiquei olhando para Jesse. Incapaz de fazer qualquer coisa.

-É. – não tinha como eu não dar uma resposta mais idiota que essa. É, espera. Tinha sim. A minha próxima resposta – Ela.

Jesse revirou os olhos. Depois começou a encarar senhora O'Neill. Ele não conseguia parar de a encarar. Até que a luz surgiu para o nosso amigo Jesse, e ele pediu dois quartos para uma noite. A senhora O'Neill não parava de me encarar, com a vassoura na mão. Até que ela foi andando devagar para dentro de casa, baixando a vassoura lentamente sem tirar os olhos de mim. Pegou as duas chaves e entregou para Jesse e continuou me encarando. Só que dessa vez, ela estava sem a vassoura.

Me senti um pouco mais segura com isso.

Peguei uma chave com Jesse e entrei no quarto que a senhora O'Neill me indicou. Abri e me joguei na cama. Estava exausta. Jesse ficaria no quarto da frente, o que seria o meu quarto daqui uns 150 anos. O que eu estava era o quarto de Mestre, mas era bem mais diferente agora, quero dizer, limpo. Deitei e apaguei.

Acordei com o som de umas batidas na porta. Era cedo demais. Para começar, o sol nem tinha aparecido ainda. Eu deveria ter dormido umas 6 horas. Levantei com o corpo dolorido e fui abrir a porta. Era Jesse. Quem mais poderia ser? Senhora O'Neill e sua vassoura? Não. Ela deve estar voando a essa hora.

-Jesse? – falei segurando um bocejo do tamanho da Rússia – O que foi?

Jesse estava sorrindo. Apesar de ser uma bela paisagem a essa hora da manhã, eu odiava acordar com pessoas sorridentes, parecendo guias de turismo. Mesmo essa pessoa sorridente sendo Jesse e tendo os dentes perfeitamente alinhados e brancos.

-Bom dia, hermosa. – falou Jesse feliz – Dormiu bem?

-Eu ainda estou dormindo. – falei um pouco grosseira. Ah, qual é! Eu estava morta com essa parada de deslocamento.

-Oh, desculpe... Mas eu vim te chamar para tomar café da manhã. – falou passando a mão nos cabelos, parecendo constrangido. Será que a minha saia balão estava levantada e eu não tinha percebido? Não. Só estava amassada.

Intrigante. O que as pessoas deveriam tomar de café da manhã em 1850? Não deveriam existir sucrilhos ainda. E nem Mc Donald's... Meu Deus! Como eu vou sobreviver? Eles nem tem energia elétrica!

-Tá. – não falei que iria me trocar, porque eu só tinha uma roupa. Voltei em busca de alguma coisa para pentear os cabelos. Nada. Não tinha nem espelho no quarto. Passei as mãos nos cabelos e tive uma boa idéia: fazer uma trança! Comecei a fazer enquanto andava atrás de Jesse no corredor. Ele parecia que tinha dormido de pé. Pois as suas roupas estavam perfeitamente intactas.

Descemos as escadas e fui tentando ajeitar o meu lindo vestido café-com-café. Jesse parou e falou para mim.

-Deixa disso, Suzannah. Você fica linda de qualquer jeito.

Quer coisa mais linda – e melosa – para se ouvir de manhã? Eu deveria estar horrível mesmo para Jesse elogiar assim. Coitado. Eu o conhecia bem e sabia que ele estava fazendo isso para me deixar melhor. Dei um sorriso amigável. Não. Não seria bom eu beijar Jesse. Afinal, não haviam escovas de dentes e cremes dentais na estalagem da senhora O'Neill. E duvido que até mesmo na "Pharmácia central de Carmel", ou qualquer que seja o nome da farmácia daquela época. Se houvessem farmácias. Eu não sei. Eu nunca fui de prestar atenção nas aulas de história antes de conhecer Jesse. Já deveriam ter passado essa época.

Chegamos na sala onde estavam as mesas com café da manhã. Bom, um "bom" café da manhã em 1850 requisitava frutas, pães e bolos caseiros, café, leite de vaca – tragédia! Não existia Nescau! -, e outros pratos caseiros de família, como rabanadas, cucas e coisas do tipo que agente come na casa da vovó.

Olhei para a sala em busca da vassoura da senhora O'Neill. Não estava ali. Me senti aliviada. Sentei a mesa ao lado de Jesse e nos servimos.

-A que horas nós vamos voltar a sua casa? – perguntei.

-Eu não sei. – falou Jesse tomando uma xícara de café com açúcar. Novidades, pessoal! Havia açúcar em 1850 - Eu tinha pensado em te levar ao centro de Carmel. Para você conhecer como ele é em 1850...

Uau! Ótima idéia, Jesse. Só deveria existir um armazém e a delegacia. Empolgante...

-Parece ser legal... – falei para ele mordendo um pedaço de cuca de banana.

É. Não tínhamos muitas coisas para se falar de manhã. Olhei para a porta e vi a senhora O'Neill me encarando. Cara, ela estava mesmo vidrada nessa história de "dama da noite". Qual é! Eu nem estava usando calças e a minha jaqueta de motoqueiro. A sua cabeça não assimilava tão bem esse fato: de que Jesse estaria namorando uma "dama da noite". E se ela fosse fofoqueira? Vai saber. O que as pessoas de 1850 têm de melhor para fazer? E se ela contasse para alguém e chegasse aos ouvidos de Senhor de Silva? Eu estaria frita.

Quando terminamos de tomar café, Jesse agradeceu a senhora O'Neill pela hospitalidade. Gentileza da sua parte, Jesse. Só se ela tivesse sido "hospitaleira" com você. Não comigo.

Fomos pegar a "Mercedes 1850" e fomos ao "centro de Carmel". Muito empolgante. Pelo menos eu havia me livrado de levar umas vassouradas da senhora O'Neill. Mas e estrada – de terra – não seria bem o que eu chamaria de "empolgante". Deveriam ser umas 7 horas da manhã. Estava aquela névoa matinal tradicional de Carmel. Só que ela me parecia mais densa. É, efeito aquecimento global. Se todas as pessoas usassem aquelas charretes legais, tipo a do Jesse, não haveria esse "probleminha".

Jesse estava com um ar meio chateado. Ou seria preocupado? Resolvi animar Jesse. Já que ele nunca fala. Velho hábito fantasma.

-O que foi, Jesse?

Jesse desviou o olhar da estrada e se cruzou com o meu. Aqueles olhos castanhos escuros líquidos...

-Ah... – Jesse olhou de volta para a estrada – Estava me lembrando de ontem à noite. Depois do jantar.

Ah, que legal. Ele estava pensando na Maria. Que legal.

-O que houve com ontem à noite depois do jantar? – a melhor coisa que nós podemos fazer quando não entendemos alguma coisa é se fazer de lingüiça. Ou seja, tonto.

-A visita da Maria... – Jesse me olhou novamente – Eu fiquei preocupado, Suzannah. Eu senti que ela foi convicta com aquela maldita idéia de te matar.

Oh, ele estava pensando nela, mas era por preocupação. Na verdade, ele estava preocupado comigo.

-Ah, Jesse. – falei pondo a minha mão nos seus ombros largos – Não precisa se preocupar. Se ela tentar me atacar com aquela faca... – falei tentando alegrar Jesse. Mas não tive muito sucesso.

-Suzannah. – Jesse falou sério – Maria de Silva não é brincadeira. Eu me preocupo com você. Tenho medo de te perder. Você sabe que podemos esperar tudo de Maria.

Que lindo!

-Eu também tenho medo de te perder, Jesse. – falei e beijei ele. Na bochecha. Ele estava concentrado "controlando" a charrete-Mercedes.

Alguns minutos se passaram. Eu fiquei olhando a paisagem. O sol nascer. Depois de esses minutos passarem, Jesse parou a charrete e falou.

-Bem vinda ao centro de Carmel em 1850!

Não era exatamente como eu imaginava. Ok, estava vazia, até porque ninguém vai ao centro ás 7 horas da manhã, só quem trabalha. Mas o centro até que era bem movimentado. Vários armazéns, uma igreja, a delegacia, uma "pharmacia" – existiam! Que milagre! - e algumas lojinhas que eu ainda não sabia exatamente o que vendiam. Tomara que vendessem roupas. Eu precisava de roupas novas para 1850.

Esperamos sentados nos bancos de uma "praça" no meio do centro. Sentados, e namorando, lógico! Não havia mais ninguém ali. Mas sobre a praça... Eu acho que ela servia para os cidadãos amarrarem os cavalos. Porque aquilo fedia. Abriram todas as lojas e já tinham vários compradores no centro. Começamos a xeretar as lojas. Tinha de tudo um pouco, – só não existiam lojas de eletrônicos – até mesmo a loja de roupas!

-Jesse! – falei tentando me controlar. Eu teria um ataque histérico. Fazia tempo que eu não via roupas diferentes as que eu estava vestindo – Podemos comprar?

Jesse me olhou como se eu fosse anormal. Claro. Ele nunca tinha me visto desse jeito.

-Claro. – falou um pouco assustado – Mas vamos ver se temos dinheiro antes.

Ah, sim. Dinheiro.

Fomos às lojas. Como todo o bom homem, Jesse fez questão de pesquisar os preços. Já que não haviam muitas opções, demoramos uns 30 minutos. Claro. Vimos tudo que tinha direito. Higiene, roupas... Menos as roupas íntimas, essas Jesse não viu – ele viu as dele e eu as minhas -. Eram ridiculamente imensas. Eu não tinha certeza que elas ficariam firmes em mim, mas a moça me garantiu. Assim como eu, Jesse também viu as suas roupas. Foi tão legal. Mesmo estando no século XIX.

Saímos dali quase ás 10 horas. O sol já estava bem forte. Entramos na Mercedes retro do Jesse e fomos para a estalagem novamente. Precisaríamos dos quartos por mais tempo. Jesse estava realmente a fim de ficarmos ali por umas duas semanas. Mas eu não tinha certeza se iria agüentar.

Chegamos à estalagem. Jesse parecia bem mais animado. Quando batemos á porta, a senhora O'Neill, como de hábito, atendeu a porta com a sua vassoura em punho.

Quando ela me viu novamente, ela resmungou alguma coisa.

-Senhora O'Neill, - falou Jesse segurando as nossas malas – queremos ficar mais tempo aqui. A sua hospitalidade é agradabilíssima.

Ah, claro... Só se fosse para ele...

A senhora O'Neill sorriu para Jesse. Depois deu uma olhada para as malas. Ela deve ter ficado pensando qual era a minha. Para ver o que tinha dentro, talvez...

Ficamos nos mesmos quartos. Eu peguei as coisas que seriam necessárias para tomar banho, mas eu tinha esquecido de um pequeno detalhe: não havia banheiro, nem corrente elétrica para aquecer a água. Legal. Ia tomar banho de bacia. E a senhora O'Neill não iria aquecer a água para mim.

Saí no corredor e dei de cara com a própria senhora O'Neill na frente da minha porta.

-Senhora O'Neill? - falei confusa, tentando esconder o meu espanto – Tudo bem com a senhora? - Senhora O'Neill parecia bem constrangida.

-Oh, moça, – ela não sabia o meu nome. Ela deveria pensar que não seria de grande importância saber o nome de uma "dama da noite" – eu estava me lembrando... – agora ela não se parecia tanto com uma bruxa. É. Ela estava sem a vassoura – Se a senhorita estiver interessada em se banhar, eu poderia lhe informar onde há um bom lago. Garanto também que não haverá nenhum homem sem vergonha lhe espiando. Mas isso não deve lhe importar...

Ok, ela estava sendo legal, me oferecendo um lugar para tomar banho – o que era ótimo -, mas ela ainda não tinha abandonado a maldita idéia de "dama da noite".

-Ah, sim, senhora O'Neill. – falei meio constrangida. Pela primeira vez ela estava tentando ser legal comigo – Gostaria de saber mesmo onde fica.

-Ah, venha comigo, moça. – falou esboçando um sorriso – Eu irei lavar algumas roupas.

Legal, ela estava se oferecendo como companhia. Segui ela e fomos a pé mesmo. Não me importei de avisar Jesse por que ele sabia que eu estava louca por um banho.

Chegando lá, a senhora O'Neill me mostrou um lugar para trocar de roupa. Eu fui ali e tirei a roupa. Era estranho. Eu nunca tinha ido tomar banho em um lago. Entrei enrolada em uma toalha branca felpuda e a deixei em cima de uma pedra.

Me agachei no lago. Quando percebi uma sombra se aproximar por trás de mim.


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