Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 2
Capítulo 2




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Fiquei surpresa. Afinal, Jesse não apoiava nem um pouco a minha idéia de voltar ao passado, mas mesmo sendo para impedir Paul de impedir Félix Diego de matar Jesse. E agora ele queria se arriscar.

-Para que? Jesse, você não está pensando em voltar no passado, não é?

-Claro que não – Jesse parecia se sentir culpado por alguma coisa.

-Então por que você quer saber? Para voltar lá e ficar? – sabia que eu estava muito na defensiva. Mas não tinha como não ser, esse assunto não me agrada muito.

-Você sabe que eu jamais iria sozinho, eu odiaria a idéia de viver sem você. – falou em um tom chateado.

-Mas tudo tem um motivo. Por qual razão você se arriscaria e voltaria ao passado? Sabe que você poderia causar um grande choque na sua família. Eles pensam que você está desaparecido, lembra?

-Eu sei - Jesse parecia desapontado. Mas mesmo assim, ele prosseguiu firme com a sua idéia –, mas eu gostaria de rever a minha família, apresentar você a eles e contar a eles o que eu queria ser, hm, você sabe...

Fiquei com pena de Jesse. As suas intenções eram boas, mas as circunstâncias não eram exatamente favoráveis. Mas mesmo assim, prossegui.

-Jesse, você sabe que o Dr. Slaski falou que era extremamente perigoso. E quando eu e Paul viajamos ao passado, foi muito arriscado – senti que, se eu continuasse a falar desse jeito, eu ira chorar. -. E eu não quero perder você...

-Ah – percebi que Jesse tinha ficado incomodado quando toquei no nome de Paul. Ele ainda não tinha assimilado bem o fato de ele ter me enviado rosas vermelhas -, eu sabia que você iria mencionar Paul – a sobrancelha de Jesse estava levantada, e deixava bem à vista a cicatriz -. E você não vai me perder, porque dessa vez, você vai junto.

"Jesse está louco, só pode!" pensei. Mas pelo jeito que Jesse falava, não parecia que estava louco. Nem um pouco. Mas tentei mudar a sua idéia a qualquer custo. Eu amo as minhas células cerebrais e não queria perdê-las, nem Jesse poderia perder as suas. Ele ainda não começou a fazer a faculdade de medicina.

-Jesse. Você sabe sobre as células cerebrais – ok, eu estava apelando -, e não pode perdê-las. Você vai ser médico, Jesse. Você vai precisar delas.

Nada iria mudar a idéia de Jesse. Nada mesmo. Ele só balançou a cabeça e passou a mão nos seus cabelos, o típico gesto que ele sempre faz quando está bravo. O silêncio entre nós dois não é nada agradável. Me lembrei dos livros de padre Dom., era um bom assunto para evitar o silêncio eminente.

-Padre Dominic pediu que eu entregasse isso á você. – empurrei a pilha de livros para Jesse. Ele me olhou e pegou os livros e perguntou.

-Então, Suzannah, vai me explicar sobre o deslocamento temporal?

Não. Qualquer coisa menos isso.

-Jesse, é perigoso demais. Além de causar um choque muito forte á sua família, estamos correndo risco.

-Mi hermosa – Jesse passou a mão nos meus cabelos -, eu sei que nós corremos esse risco. Mas é que eu sinto falta...

A frase ficou no ar. Olhei para Jesse. Os seus olhos ameaçavam começar a lagrimejar a qualquer momento. Ele me olhou e esperou que eu completasse a frase.

Eu sei que deve ser duro para ele viver sem a sua família. Eu vejo que ele sofre quando ele vai lá na casa dos Ackerman e vê todos felizes e reunidos. Enquanto isso, ele deve passar por uma terrível sessão nostalgia de 150 anos atrás. Todas as famílias que ele já deve ter visto, unidas e felizes na hora do jantar. E agora, ele faz todas as suas refeições sozinho. Ele deve se lembrar da sua última refeição com toda a família unida, feliz e falando – eu sei lá... – sobre a fazenda...

Decidi que eu deveria completar a frase antes que Jesse começasse a chorar.

-... Da sua família. – hesitei um pouco antes de falar "família". Tinha medo de fazer Jesse começar a chorar.

Ele só balançou a cabeça.

-Jesse... – me levantei e sentei do seu lado para abraçá-lo. Dessa vez, quem começou a chorar fui eu. Me lembrei da última vez que jantei com toda a minha família unida. Papai, mamãe e eu. Naquele momento, eu senti um pouco do que Jesse estava sentindo. Mas nada se comparava 10 anos á 150. E então, percebi o que era certo a fazer.

-Eu vou com você – falei em meio os meus soluços. Olhando para Jesse, notei uma lágrima rolar pela sua bochecha enquanto me olhava. Era o que eu menos queria: chorar em um lugar badalado pelos meus colegas, fazer Jesse chorar e me fazer prometer uma coisa que eu não sabia se seria capaz de cumprir -. E-Eu juro. Me desculpe. – falei secando as minhas lágrimas. Depois, Jesse me segurou como se fosse uma criança pequena abraçando a sua mãe com medo de uma cena de um filme de terror. Abrecei ele e sequei as suas lágrimas. Por uma parte, eu entedia o que ele estava sentindo.

-Obrigado – falou se recuperando do momento de fraqueza que o atingiu minutos antes. Na verdade, eu não me importava que ele se abraçasse em mim e chorasse. Embora fosse difícil segurar as lágrimas enquanto ele fez isso -. Me desculpe. Não deveria ter chorado.

Essa última frase "não deveria ter chorado" me soava como uma criança. Nunca tinha visto Jesse chorar, muito menos se comportar daquele jeito. Mas eu acho que esse negócio de família meche muito com ele.

-O que é isso, Jesse – respondi -. Não me incomoda. Venha, vamos lá para casa que eu te explico melhor essa coisa de deslocamento temporal – Levantei e estendi a mão para Jesse -. Venha.

Pela primeira vez, notei um ar malicioso no olhar de Jesse. Eu nunca tinha o visto fazer uma cara como aquela. Eu podia ver a malícia que se passava nos seus pensamentos depois de dizer aquela frase. Não pude evitar a minha ruborização repentina, como naquela hora que padre D. havia perguntado a mim se eu havia dormido na casa de Jesse. Olhei para Jesse seriamente e falei.

-Pára. Nós vamos para minha casa para eu te explicar a parada do deslocamento. Não para fazer qualquer outra coisa que você está pensando. – falei, mesmo sabendo que, para Jesse, tudo que acontece do pescoço para baixo fica para depois do casamento. Mas eu acho que estava convivendo demais com Adam e Cee Cee.

-Eu não falei nada. – disse Jesse fazendo uma cara inocente ao olhar para mim.

Droga. Odiava quando ele me olhava desse jeito. Mas era bom.

Jesse se levantou, pegou os livros e a minha mochila – que ele fazia questão de levar sempre que saiamos – e pagamos a conta. Ao entrar no carro, Jesse me surpreendeu com uma pergunta.

-Suzannah, eu sei um pouco sobre o deslocamento temporal. Mas uma coisa que eu não sei se entendi bem... É necessário ter algum objeto que nos leve para o lugar desejado?

Era verdade.

E deveríamos estar no local desejado ao fazer o deslocamento. Ou seja, deveríamos encontrar a casa de Jesse. Jesse deve ter percebido a minha cara de preocupação e perguntou.

-Está tudo bem, hermosa?

-Jesse... – respondi debilmente – Devemos além de ter o objeto que nos leve a época, devemos estar no local.

-Quer dizer – falou Jesse pausadamente -, que devemos estar no lugar que foi a minha casa? Se quisermos estar lá?

Concordei com a cabeça. E sabia que iria dar um trabalhão. Entrei no carro no banco do carona, Jesse entrou e largou as coisas no banco de trás.

Jesse verbalizou – como ele sempre faz – o que eu quis dizer.

-Isso vai dar muito trabalho.

Olhei para Jesse. Esperava que ele finalmente dissesse como ele fazia para "ler os meus pensamentos". Mas ao invés de perguntar a ele, respondi balançando a cabeça.

-Mas, Jesse. Onde você morava? Quero dizer, a sua casa era aonde?

Jesse ligou o carro e fomos para a minha casa. Ele não me respondeu. Pelo contrário, me fez uma pergunta.

-E em quanto tempo é seguro fazer um desses deslocamentos? – olhei para ele fiquei sem reação. Não. A pergunta não havia me chocado. Mas era porque eu não sabia a resposta. Infelizmente, me lembrei de que teria de perguntar isso ao Dr. Slaski. E para perguntar ao , eu deveria voltar para a casa de Paul. Droga. Por que eu

Não tinha pedido o telefone para o enfermeiro?

-Eu não sei. – falei para Jesse. Estávamos virando a esquina para minha casa. O lugar que Jesse havia ficado assombrando por 150 anos. Jesse notou que uma expressão de preocupação havia tomado conta do meu rosto.

-O que foi, hermosa? – falou pacientemente. Não parecia com o mesmo que havia me abraçado no Cluch Café e chorado silenciosamente por poucos segundos.

-Nada, Jesse – falei tentando ser bem delicada.-. Eu sei que o tempo para enquanto nós voltamos ao passado... Mas... – hesitei, mas por pouco tempo – Onde era a sua casa?

Jesse me olhou cansado. Parecia que não dava a mínima importância para o que eu tinha dito. Será que Paul não ameaçava mais Jesse? Não. Eles se odeiam além da morte. Jesse me olhava esperando eu sair do carro e abrir o portão para entrarmos no pátio.

-Suzannah, por favor. Pode abrir o portão? – olhei para ele e falei.

-Se você me falar depois...

-Tá, ótimo. Eu falo. Pode abrir? – Jesse ás veses parecia ser um pouco grosseiro. Mas sem querer.

Abri o portão e Jesse fez sinal para eu entrar no carro. Entrei e esperei a resposta.

-A minha fazenda – disse -, fica bem ao sul de Carmel. Ou ao menos ficava.

Ficava. Jesse estava insinuando que a sua casa pode ter sido demolida? E se fosse verdade? Mas eu até achava tentador, simplesmente por que seria muito melhor aparecer no portão da fazenda do que surgir do nada no meio da sala de jantar, com toda a família reunida.

Descemos do carro. Entrei na casa e mais uma vez – como de costume -, ninguém veio me cumprimentar. Menos Max, que sempre vem balançando o rabo. Belo cão de guarda. Andy notou a nossa presença e parou de lavar a louça para vir cumprimentar Jesse.

-Jesse! – falou Andy numa voz amigável – Que bom te ver aqui! Tudo bem com você?

Ótimo. Andy sequer tinha notado a minha presença.

-Sr. Ackerman – cumprimentou Jesse respeitavelmente – Muito bem, e você?

-Ótimo. – agora sim, Andy estava olhando para mim – E você, Suze? Como foi a aula?

-Boa. – falei retribuindo o momento que Andy me ignorou – Nós vamos... Ah... Eu vou falar com Jesse em particular, certo, Andy? – falei tentando ser o mais natural possível e sem insinuar nada.

-Tudo bem. – falou Andy. Subimos as escadas e encontramos Brad saindo da sua toca obscura e fedorenta. Eu realmente, queria matar ele, mas deixaria isso para depois.

-Nossa! – falou Brad com uma voz insuportável – Usem camisinha, certo, Jesse?

Meu Deus. Eu juro que mato Brad ainda hoje. Espere só Jesse voltar para casa. Fuzilei Brad com o olhar. Nem me arrisquei a olhar para Jesse. Brad iria se ver comigo depois.

Entramos no quarto e percebi que a expressão de Jesse era assustada. Talvez, fosse a primeira vez que ele escutasse a palavra "camisinha" com outro sentido. Tentei não ruborizar.

-Então – falei largando a mochila no chão -. Vamos falar sobre o deslocamento.

Jesse me olhou com vontade de fazer uma pergunta. Eu sabia qual pergunta era. Mas não ousaria responder sem ter um ataque de vergonha.

-Certo. – falou sentando no seu lugar favorito: o banco da janela! – Me explique tudo o que sabe sobre o deslocamento.

Comecei a falar. Como se clicassem no botão "exibir informações". Não parava mais. Quando finalmente terminei, Jesse explodiu a rir.

-Tá legal – falei chateada com o comportamento de Jesse. Será que o fato do ter virado humano havia mexido na capacidade mental de Jesse? – Do que está rindo?

Parar de rir naquele momento, para Jesse, seria impossível. Parecia que ele tinha escutado "a piada do século". Quando se recuperou, me olhou secando as lágrimas de tanto rir.

-Desculpe, Suzannah. Mas é quase impossível entender o que você fala assim. Você fala muito rápido!

Sim, eu sabia. Ele já havia me dito isso quando era fantasma. Mas é uma coisa que eu não posso controlar. Simplesmente as coisas vão saindo como bolhas. E as veses eu ate me arrependo de falar tanta asneira assim.

-Tá legal – comecei a achar que eu tinha certeza sobre a capacidade mental de Jesse ter diminuído quando ele virou humano -. Mas você entendeu, pelo menos?

-Sim. – falou indicando para eu sentar do seu lado no banco – Mas parece meio difícil fazer.

-Não muito – disse tentando parecer otimista -. Só precisamos ter alguma coisa da sua casa da época que queremos voltar e estar no lugar desejado.

Sim. Isso era difícil. Mas se ele estivesse realmente disposto a fazer.

-Eu continuo pensando que isso é complicado.

-Ai, tá bom. – Jesse estava sendo realista demais - É difícil sim. Mas não impossível. E você tem alguma coisa da sua casa da época que devemos voltar?

Jesse ficou um minuto em silêncio. A resposta certamente seria não.

-Eu... Tenho uma chave – falou Jesse, como se descobrisse a cura para o câncer -. Acho que é a chave do galpão. Serve?

-Claro – respondi. Mas era estranho um cara carregar a chave do galpão quando fosse viajar, e, misteriosamente, morresse -. Qualquer coisa que seja da época que possa nos levar até lá.

-Eu vou trazer amanhã. Mas mesmo assim devemos estar no lugar da casa, não é mesmo?

-Jesse... – falei tentando me posicionar – Você não acha melhor estarmos em um lugar próximo a sua casa, ao invés de estarmos na sua casa?

-É mesmo. Seria melhor sim. Senão, eles levarão um choque muito grande, não é mesmo?

-Sim. – finalmente tinha feito Jesse entender uma das minhas preocupações -. Mas um problema é: devemos estar perto do local que era a sua casa para podermos nos transportar.

Ficamos em silêncio. Realmente. Seria difícil convencer mamãe me deixar viajar com Jesse.

-Eu dou um jeito – falou Jesse em um tom totalmente confiante. Ele me olhou com um ar de suspense. Eu gostaria de ler os pensamentos de Jesse de vez enquando...

-Jesse – falei preocupada -, no que você está pensando?

-Não se preocupe, hermosa. – Jesse estava com um olhar fixado ao longe. Por um momento senti medo. Mas, com Jesse, eu não temia nada, Ele é o meu porto seguro - Eu tenho uma ótima idéia...


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