Possible love escrita por Sion Neblina


Capítulo 7
Além da carapaça


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores,
Não deu pra postar ontem e peço desculpa, mas hoje fiz um esforço. Obrigada a todos pela paciência. Obrigada aos que mandaram MP solicitando a continuação da história.
Depois de muita demora, um capítulo novo. Esse capítulo é a introdução para o romance de fato, espero que gostem.
Não foi revisado, perdoem os erros que encontrarem pelo texto (tempo zero).
Beijos a todos e boa leitura!



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Além da carapaça

Capítulo 7


Máscara da Morte apertou o corpo magro com força, num carinho desmedido que fez Shun ofegar e corar. O cavaleiro de bronze se deu conta do gesto impensado, mas quando tentou fugir, o italiano apertou mais forte o abraço. Ele estava com saudade daquele garoto, não podia negar. Durante todo o tempo da viagem pensou nele, pensou nas tardes passadas juntos, pensou no sorriso e nas palavras sempre tão gentis. Era estranho; o que sentia por Shun era estranho e levava a si uma sensação de vício, como se de repente, ele não fosse mais ele mesmo. Mas ainda assim, era uma sensação quente e boa, boa como o conforto da cama macia em uma noite fria de inverno.

Havia sido uma missão complicada. Sombras perdidas do Hades que vagavam pela terra estavam cercando Jamiel, atraídas pelo cosmo de Mu e em busca de vingança. Como em todas as guerras, nesta também havia aqueles que não se conformavam com a paz. Foi o caso daqueles espectros rebeldes que se recusavam a cumprir a trégua. Há muitos anos que eles não sentiam nenhum sinal de ameaça; fora necessário que Áries, cavaleiro com poderoso poder telecinético, localizasse os espectros e que ele e Virgem os mandassem de volta ao Hades para que recebessem as devidas punições do senhor do submundo.

Talvez, Mu conseguisse dar cabo daquela missão sozinho, sua presença e do cavaleiro de virgem, apesar de tornar o trabalho muito mais fácil, não era tão indispensável. Ele gostaria de saber o que Athena queria com aquilo?

— Andrômeda, o que faz a essa hora no santuário?

A voz de Shaka interrompeu o abraço, e Máscara da morte finalmente relaxou os braços e deixou que o menino se afastasse.

Shun, com o rosto mais corado que uma pimenta, mirou o mestre do irmão.

— Já estava voltando a Rodório, eu... eu tenho que ir agora — ele gaguejou e sorriu sem jeito. — Que bom que voltaram e que está tudo bem.

O cavaleiro de bronze começou a descer as escadas sob o olhar intrigado dos dois cavaleiros de ouro. Depois de alguns segundos, Shaka pareceu ignorá-lo e continuou a subida para o seu templo. Máscara da morte fez o mesmo, estava cansado; sim, até mesmo cavaleiros se cansam em viagens longas. Adentrou o templo que continuava igual. Mirou a urna da armadura que permanecia intocada há muito tempo. Tencionou se aproximar dela, mas não o fez. Teve muito tempo para pensar em sua vida, mais tempo do que queria e pensar em sua vida era doloroso.

Uma missão foi capaz de fazê-lo questionar tantas coisas e até mesmo seu modo de pensar. Estranhamente, como nunca aconteceu antes, estava feliz por voltar ao santuário, por rever as ruínas da Grécia e sentia o peito ainda mais leve com aquele abraço sincero recebido de um garoto! Um reles cavaleiro de bronze, como diria Afrodite. Afrodite! Sentira o cosmo dele, sabia que ele estava de volta e que com certeza estava observando tudo com seus belos e letais olhos azuis. O que planejava o pisciano?

Com um suspiro cansado, Máscara da Morte resolveu dormir. Em Rodório, Shun tentava fazer o mesmo em sua cama, mas não conseguia. Foram muitas coisas para apenas uma noite.

000***000

Quando Shaka entrou em seu templo, calmo e silencioso como sempre, deixou a armadura no centro do salão e retirou as sapatilhas orientais que usava, seguindo para o quarto. Percebia a presença de alguém, mas seu cosmo estava tão sereno e sutil que era difícil identificar. Rumou para seu quarto e qual não foi sua surpresa ao encontrar sua cama, estranhamente, ocupada.

Uma luminária acesa deixava que ele visse o homem que dormia de forma pesada em seus lençóis. Franziu as sobrancelhas; o que ele fazia ali? Ah, sim, pedira para que ele cuidasse das coisas, mas isso não significava cuidar da sua cama também.

De qualquer forma, não queria despertá-lo. O garoto parecia cansado, e ele também estava cansado demais para uma cena que no mínimo seria constrangedora.

Foi para o banheiro, onde tomou um banho demorado e depois, vestindo-se num pijama, foi para o quarto ao lado, deitando-se na cama e fechando os olhos, caindo em um sono pesado e sem sonhos.

Quando Ikki acordou no dia seguinte, tomou um susto tão grande que quase caiu da cama. Havia treinado muito no dia anterior com Shura um dos cavaleiros mais habilidosos do santuário e estava exausto, então resolveu tomar banho no templo do mestre e... a cama dele parecia tão terrivelmente confortável que acabou não resistindo e dormindo ali mesmo. Agora, nunca em seu mais impossível sonho, imaginaria que seria surpreendido por Shaka. O mestre estava parado à porta do quarto, com os olhos fechados e os braços cruzados diante dele. O rosto do indiano era inexpressivo, mas ele sabia que o mais velho esperava por uma explicação.

Fênix sentiu um nó no estômago e com certeza seu rosto estava da cor de um pimentão. Ergueu-se lentamente procurando em seu acervo mental alguma desculpa.

— Bom dia, Ikki — Shaka foi quem falou primeiro. — Posso saber por que dormiu aqui em meu templo?

O japonês engoliu em seco, mas não recuou.

— Bom dia, mestre. Eu ... eu estava muito cansado e acabei adormecendo. Sinto muito, deveria ter voltado para Rodório.

Um leve curvar de lábios num meio sorriso irônico foi a reposta de Shaka.

— Então você saiu do banheiro e tropeçou em minha cama, devo supor?

Ikki se ergueu e encarou o mais velho firme. Por mais estranho que fosse, sua voz foi calma ao falar:

— Ontem treinei mais do que o recomendado e acabei caindo no sono aqui mesmo. Não queria incomodá-lo, mas se minha presença em sua cama foi tão desconfortável, o senhor deveria ter me acordado que eu iria dormir em outro lugar.

A resposta pegou o indiano de surpresa e ele franziu as sobrancelhas numa expressão visivelmente contrariada.

— Pois da próxima vez que se sentir cansado, deite-se no mármore frio do templo e não em minha cama. Custou-me muito não jogá-lo ao chão — falou Shaka, mas não de forma ríspida, apenas desdenhosa, começando a sair de onde estava em direção ao jardim. — Nosso treinamento começará em uma hora, esteja pronto.

Ikki não respondeu, apenas saiu. Também estava irritado por ter dormido na cama de Shaka e mais ainda por precisar engolir seu orgulho e não mandar o mestre para os diabos! Aquele não seria um dia bom, tinha certeza!

000***000

A manhã movimentada do santuário decorria ainda mais frenética. As aulas e treinos foram suspensos para que todos os cavaleiros, servos e aspirantes se preparassem para as festividades. Assim, Shun e Marin passavam a manhã cuidando do ensaio dos pequeninos, da prova das fantasias, dos cânticos; e nesse período o jovem cavaleiro de bronze até esquecia dos seus medos e do seu sofrimento. E naquela manhã, Shun se pegou pensando que há muito tempo não pensava em Hyoga e que ao pensar não doía mais como antes. Parecia que sua ferida finalmente começava a cicatrizar.

Estava de frente à escola, mirando o horizonte ensolarado da manhã quando percebeu Ikki ao seu lado.

— Como estão às coisas hoje, irmão? — indagou já sabendo que o humor do mais velho era péssimo. Conseguia saber disso apenas ao sentir seu cosmo alterado.

— Normais — respondeu Fênix seco.

— Seu mestre voltou não foi? — sondou com um meio sorriso, ainda fitando o horizonte, pois percebia que Ikki sempre ficava desconfortável ao tratar sobre sua relação com o cavaleiro de virgem.

— Seu aluno também — ele respondeu somente, e Shun suspirou.

— Sabe, Ikki. Às vezes, negar é pior.

— Negar o quê, Shun? — indagou o mais velho ainda mais desconfortável.

— Os sentimentos — ele virou-se e encarou o irmão. — Eu tentei negar tanto o quanto sofria para não fazer os outros sofrerem, mas não adiantou de nada. Eu via seu sofrimento, o sofrimento da Saori e de todos que me amavam e sofria mais ainda com isso.

Ikki engoliu em seco e desviou o olhar para o horizonte claro. Não gostava de falar dos sentimentos dos outros e muito menos dos seus, porque nunca foi muito bom em lidar com eles.

— Entendo, mas não sei por que chegamos nessa conversa... — resmungou desconfortável.

— Não é nada demais, só achei que deveria lhe dizer isso; dizer que agora estou bem e que você não precisa mais se preocupar comigo. Deve viver sua vida, irmão, sem culpas ou preocupações. Você já sofreu tanto.

O cavaleiro de fênix não conseguiu evitar um suspirar amargo. Culpa! Ah, essa era a palavra que o definia desde sempre. Quando criança se sentia culpado pela morte da mãe, por condenar ele e a Shun a viver naquele orfanato maldito, mesmo não tendo culpa nenhuma disso. Mais tarde culpa pela morte de Esmeralda, culpa por ter sido dominado pelo mal e ter ferido inclusive a pessoa que mais amava, seu irmão. Tanta culpa... Será que um dia conseguiria não se sentir culpado?

— Eu estou bem, Shun. Não sei por que acredita no contrário — respondeu de forma vazia.

— Não, Ikki, você não está. Vejo o quanto se controla e esconde seus sentimentos. Vejo que por dentro você está chorando sempre. O pior de tudo isso, irmão, é que você sempre escolheu sofrer sozinho. Sei que muitas vezes você, assim como todos, me julga fraco por minhas lágrimas, mas saiba que são elas que evitam que a amargura que sinto envenene minha alma e acabe me matando. Eu não tenho medo de chorar, Ikki. Você também não deveria ter.

Mais que uma angústia, uma dor lacerante cortou o peito do cavaleiro mais velho e ele fechou os olhos por alguns segundos para que ela não o tombasse. Shun levou a mão ao ombro do irmão o apertando com carinho.

— Ikki, compreenda que sentimentos não fazem de nós fracos, pelo contrário, eles nos dão força para continuar. Se não fosse o amor que sinto por você e todos nossos amigos, eu... talvez eu não conseguisse depois de tudo.

O mais velho dos cavaleiros de bronze moveu levemente a cabeça numa concordância muda e se afastou da mão do irmão.

— Eu preciso ir, tenho uma reunião com o Shura sobre a segurança durante as festividades — disse, sua voz saindo ainda mais grave pela tentativa falha de conter a tempestade íntima que as palavras do irmão lhe causavam. — Nos vemos à noite, podemos ver um filme.

Shun sabia o que se passava com ele, conhecia-o muito bem e por isso, apenas sorriu e deixou que ele prosseguisse.

— Nos vemos à noite, irmão!

— Sim — falou o cavaleiro de fênix enquanto se afastava com seus passos sempre firmes e resolutos.

O mais jovem voltou então para perto dos seus alunos e resolveu aproveitar a tranqüilidade das horas que passava com as crianças.

000***000

O dia transcorreu com tranqüilidade. Nenhum acontecimento estranho, discussões ou intriga tiraram a paz da deusa e do Mestre. Saga estava satisfeito, embora ocupadíssimo, com o andamento dos preparativos para as festividades. Athena recebia os convidados ilustres, seus deuses irmãos, Poseidon, Apolo, Ártemis e a primeira grande homenageada: Afrodite.

Saori era a mais cortês e solicita anfitriã, enquanto Saga ficava com todo o trabalho organizacional. Para sorte do mestre, ele possuía competentes auxiliares: Aiolia e Shura cuidavam da segurança, Shaka e Camus da organização do evento e os demais davam suporte nisso tudo.

Shun terminou o ensaio e recolheu seus livros para se retirar da escola. As crianças estavam muito alegres e distribuíam abraços e beijos o tempo inteiro nele e em Marin o que o deixava profundamente realizado. Há muito tempo não se sentia tão bem, tão feliz. Sim, estava feliz!

Sorriu com esses pensamentos enquanto descia a escadaria que levava a escola. Logo chegaria à grande arena onde os aspirantes treinavam incessantemente para os duelos de exibição nas festividades. Faltavam apenas dois dias.

Desceu os degraus da arena e seguiu pela trilha que o levaria as 12 casas; foi quando escutou alguém chamá-lo.

— Andrômeda!

Uma voz fanhosa e desagradável o interpelou. Virou-se e viu o cavaleiro de prata Jamian de corvo vindo em sua direção.

— Olá, Jamian — Shun cumprimentou o companheiro de arma que sorriu com seus dentes tortos e falhados. Estranhou a abordagem, já que em todo o tempo que esteve ali, eles mal trocaram duas palavras nas reuniões com o mestre.

— Tudo bem, garoto? — Jamian perguntou coçando os cabelos violeta.

— Tudo sim — respondeu Shun franzindo as sobrancelhas. — Algum problema?

O corvo se aproximou mais, falando como se fosse fazer uma confidência:

— Soube que você é professor de grego, é verdade? — indagou Jamian.

— Não, não sou. Eu só estou ajudando o cavaleiro de câncer, não sou professor de nada. — Respondeu confuso.

— Sério? Que pena. Eh, eu soube que o cavaleiro de câncer voltou. Ouvi dizer que ele anda com um péssimo humor por causa da briga com Peixes.

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— Como assim? — Shun abriu mais os olhos, verdadeiramente curioso. Não sabia que Máscara da Morte e Afrodite tinham brigado.

— Você não sabe? — riu o cavaleiro de prata. — Ao que parece, eles estão irreconciliáveis. Parece que foi algo sério. A culpa deve ter sido daquele carcamano. Eu nunca entendi como um cavaleiro como Afrodite podia ser amigo de um grosseirão como ele.

Shun sentiu-se confuso e examinou a expressão zombeteira do corvo.

— Por que está me dizendo isso?

Jamian deixou escapar um riso nervoso.

— Oras, porque gosto de você, garoto! — falou. — Porque o acho legal, porque o acho bonito... E tenho medo de que acabe se machucando com aquele cara. Ele não é companhia para você, Andrômeda.

Shun franziu a testa e deu um passo para trás, quando Jamian ameaçou tocar seu ombro.

— Você é desconfiado hein? — riu O corvo. — Bem, aviso dado. Se eu fosse você, não perdia tempo com aquele lá, primeiro, porque ele é burro e não vai aprender nada. Você poderia dar aulas de grego pra mim, o que acha?

Shun examinou o rosto do rapaz com uma expressão fechada e incomodada.

— Desculpe, eu não tenho tempo — respondeu. — Tenho que ir — falou se afastando em direção às doze casas sem olhar para trás. Havia algo nervoso dentro dele com aquelas palavras, algo que ele não sabia muito bem o que era.

Jamian sorriu quando percebeu que de alguma forma suas palavras causaram a reação esperada no cavaleiro de bronze.

Shun chegou ao templo de câncer e encontrou Máscara da Morte no salão principal debruçado sobre alguns livros.

— Andrômeda — ele sorriu ao ver Shun que sorriu de volta.

— Olá, cavaleiro, vejo que sentiu falta dos livros — disse o menor se aproximando. Máscara da morte estava sentado no chão, e Shun fez o mesmo, se aproximando dele.

— Sim! Em Jamir, Áries possui uma grande biblioteca, mas eu não entendo nada do que está escrito nos livros dele!

— Claro que não! Devem estar em tibetano!

— Provável — riu despreocupado o cavaleiro mais velho.

— Como foi a missão? — interessou-se Shun enquanto examinava o livro que ele lia.

— Tediosa! Adversários fracos e patéticos. Virgem e eu os mandamos facilmente para o inferno!

— Então você está bem, que ótimo! — Shun deu de ombros. — Vamos continuar de onde paramos?

Máscara da morte se ergueu e aproximou-se de Shun.

— Não poderemos ter aulas hoje, piccoli. Athena pediu para que eu fizesse uma ronda no santuário e auxiliasse o cavaleiro de leão no que ele precisasse. — ele declarou um pouco sem jeito, fazendo Shun sorrir. Câncer acabou sorrindo também e percebendo, assustado, que gostava mais do que deveria do sorriso daquele menino.

— Eu... eu fico muito feliz, Máscara da morte! — falou Shun empolgado. — Tenho certeza que não irá se arrepender.

— Io não disse que vou à festa, piccoli, eu só disse que ajudarei com o que Athena precisar! — resmungou sem jeito, coçando os cabelos repicados.

— Ah, eu tenho certeza que quando começar a se envolver com o evento, mudará de opinião! — volveu Shun feliz. — Por que não começa me ajudando com o ensaio das crianças? Claro que se Aiolia o procurar, você poderá sair sem problema.

— Io? Crianças? Não! — rebateu o cavaleiro de ouro com um olhar tão apavorado que fez o mais novo rir.

— Não acredito que o poderoso cavaleiro de câncer está com receio de me ajudar com 15 criancinhas indefesas!

— Io non gosto de criança, piccoli, só isso! — tornou o italiano fingindo-se de bravo.

— Porque não as conhece! Venha! — Shun o pegou pela mão, deixando o cavaleiro mais velho surpreso e... sem jeito.

Era verdade. Ele não conhecia crianças, mas a lembranças delas no Yomotsu sempre o atormentava. Já havia matado crianças, era verdade. Quando devastava vilas rebeldes a mando de Ares, ou mesmo quando guerreava sem se importar com quem estivesse ao redor, fatalmente alguma daquelas vidas inocentes era ceifada. Ele nunca se importou, mas..., também nunca conseguiu dormir em paz.

— Máscara da morte? — Shun o chamou dos seus pensamentos, continuando com sua mão sobre a dele sem se importar.

— Sim, eu vou — respondeu Câncer. — Espere um pouco... — desvencilhou-se da mão do mais novo e entrou em sua casa, voltando minutos depois com o traje militar de treinamento; as sapatilhas trançadas, ombreiras e peitoril.

— Você não vai treinar! — riu Shun — Ou está com medo das criancinhas?

— Não vou treinar, mas ainda sou um cavaleiro de ouro e é bom que aqueles pivetes saibam disso! — falou numa careta que fez Shun rir.

— Tudo bem, vamos então!

O garoto saiu na frente. Câncer ainda o observou por alguns segundos antes de ir atrás dele.

000****000

A tarde quente pedia uma bebida refrescante e era isso que Afrodite fazia. Tomava um drinque tranquilamente numa mesa da taverna que ficava nos arredores de Rodório. Era um lugar freqüentado por cavaleiros de prata, guardas e muito raramente, algum cavaleiro de ouro como ele. Não vestia sua armadura, traje desnecessário numa tarde tão quente, então, sua beleza estonteante ficava ainda mais evidenciada na toga curta, azul clara como seus cabelos. Mas ninguém no local seria capaz de dirigir qualquer gracejo ao belo cavaleiro; a fama de Afrodite corria o mundo como um dos mais letais e cruéis defensores de Athena.

— E então? O que ele disse? — o sueco perguntou após provar da sua limonada suíça. Estava quente, mas era dia e ele não costumava consumir bebida alcoólica durante o dia.

— Falei com ele muito rapidamente — disse Jamian se recostando na mesa de maneira jocosa. — Só plantei a sementinha da desconfiança. Disse que Câncer é violento e desagradável, que ele deveria ter cuidado com ele.

Os olhos azul piscina de Afrodite examinaram o cavaleiro de prata por um tempo e depois ele voltou a consumir sua bebida.

— E ele?

— Não pareceu ficar assustado.

— Você deveria levá-lo até a mim e não fazer com que ele tema Câncer. O que está tramando Jamian? — indagou o cavaleiro de peixes.

— Eu não seria tolo de jogar contra você, Afrodite. Se quer o moleque longe de Câncer, o terá, mas... Por que quer isso?

O sueco sorriu de maneira perigosa.

— Você sempre fez servicinhos para mim de boca calada, Corvo. Continue assim e nossa relação continuará satisfatória para ambos. Mas apenas para matar sua curiosidade deselegante, eu estou interessado no garoto.

Jamian abriu os lábios, até demais, em surpresa.

— Você? Interessado no Andrômeda?

— Sim. Ele é lindo. Claro que você notou, então não tente brincar com ele. Eu quero apenas que ele fique longe de Câncer, por que... Não confio em meu amigo, artrópode, só por isso — sorriu de maneira perigosa. — Agora adeus, Jamian.

O cavaleiro de prata ergueu-se e se dirigiu ao balcão da taverna resmungando. Afrodite terminou sua limonada e então resolveu voltar para o santuário, mas mirou o dia bonito e quente. Sim, estava muito quente, um clima que provocava desejos violentos. Mirou na direção do bairro cerâmico e mordeu os lábios formosos. Talvez...

000****000

As sombras do por do sol já se insinuavam sobre o mar quando a fila de pequeninos atravessou a areia cantando. Shun e Marin observavam-nos satisfeitos, de pé, com sorrisos felizes nos lábios, enquanto Máscara da morte os observava sério, sentado numa pedra.

O cavaleiro de bronze mirou o de ouro de soslaio. Tinha sido uma grande surpresa para as crianças vê-lo ali. Quando Shun dissera que era um cavaleiro de ouro, elas ficaram tão excitadas que quase esqueceram os versos da canção que deveriam cantar durante o cortejo da deusa do amor. Cercaram Câncer, o bombardeando de perguntas.

“Você é mesmo um cavaleiro de ouro?”

“Você consegue correr na velocidade da luz?”

“Você é mesmo tão forte?”

As perguntas dos pequeninos deixavam o italiano tonto, mas no fundo estava sendo prazeroso entrar em contato com aquela realidade diversa. Diariamente, conviva com medo e desprezo, então, ver-se tão “comemorado” por aqueles meninos era tão assustador quanto divertido.

Os garotinhos seguiam cantando e simulando que atiravam pétalas de rosa de um cesto imaginário, tendo à frente, Marin que ensaiava a coreografia e atrás da fila, Shun que também cantava, enquanto percorria a praia em círculos.

Os olhos do cavaleiro de bronze encontraram o olhar violáceo do cavaleiro de ouro, mas ele continuou a cantar, mesmo que não conseguisse tirar os olhos dele. Máscara da morte sorriu inconscientemente com o canto dos lábios, e Marin olhou de um para o outro percebendo o clima de cumplicidade e ... amizade, era o mínimo que ela poderia achar, que havia entre eles. Aquilo era tão insólito! Shun e Máscara da morte eram opostos, eram como uma brisa morna de primavera e uma tempestade.

O ensaio terminou, e a amazona retornou para o santuário com os pequenos, deixando Shun e Câncer sozinhos naquela praia.

— Não foi tão ruim, confessa! — riu o menor se sentando ao lado do mais velho.

— Não sei como você tolera essas pestinhas! Ma como falam, caspita! – reclamou, fazendo Shun rir.

— Eles são divertidos. Adoro crianças!

Non mi! – resmungou Câncer.

— Porque você não aprendeu a conviver com elas — volveu o menor dando um suave soco no ombro do outro e depois baixando o olhar para os próprios pés que brincavam com a areia. — Máscara da Morte...

— Sim, piccoli?

— Ontem... Eu jantei com o Afrodite.

— Jantou? Como assim, jantou? Eu disse pra ficar longe dele, que ele é perigoso! — tornou o italiano preocupado.

— Não aconteceu nada! — adiantou-se a explicar o menor — Acho que você tem uma imagem ruim dele, o que é chato, porque ele é seu amigo.

— Já não somos amigos e com certeza ele o está usando para me atingir, aquele canalha! — rebateu Máscara da Morte entre dentes.

— Não foi isso... ele... ele foi muito agradável! — Shun arrependeu-se de contar o ocorrido na noite passada ao italiano. Ele estava parecendo até com seu irmão superprotetor.

— Como uma serpente que seduz para depois dar o bote, não seja ingênuo!

— Eu não sou!

— Claro que é! — replicou Câncer irritado.

Shun cruzou os braços emburrado. — Você deveria dar uma chance a ele. Sei que está sofrendo... que sente falta do... do seu amigo...

Io? — Máscara da morte riu incrédulo — Io non sinto falta de ninguém, bambino! Deve estar me confundido com seus amigos de bronze pateticamente emocionais e...

— Você é canceriano, é sensível. Não adianta usar suas pinças para me enganar — riu Shun sem se incomodar com a raiva do cavaleiro de ouro. — Eu consigo enxergá-lo além da carapaça!

O italiano ficou um tempo sem conseguir articular uma resposta. Ficou com cara de bobo, mirando o rosto sereno do jovem à sua frente. Depois de alguns minutos piscou como alguém que acorda de um transe e se pôs imediatamente de pé.

— Sabe, piccoli, você fala muita besteira! — regougou e saiu andando em direção as 12 casas.

Shun sorriu e ficou parado, observando o homem que se afastava. Em seu coração havia a paz, aquela paz que sentimos quando fazemos uma boa ação.

Máscara da morte chegou ao seu templo, mas antes de entrar lançou um olhar para a extensa escadaria. Pensou em ir até peixes. Talvez, o jovem Andrômeda tivesse razão.

Sorriu, balançando a cabeça incrédulo. Estava recebendo lições de um bambino de 18 anos! Era o que lhe faltava!

Entrou em sua casa e pediu que Acaio fosse até a vila e comprasse um ramalhete de rosas vermelhas. Já que pretendia fazer as pazes com o sueco, que começasse o agradando um pouco e mesmo que Afrodite tivesse um jardim gigantesco coberto por rosas vermelhas, ele, vaidoso como era, com certeza gostaria de um presente.

— Compre as flores, aproveite e vá a Rodório e diga a Andrômeda que eu o estou convidando para jantar comigo hoje — completou as instruções.

— Sim, senhor. — falou o rapazinho e saiu. Câncer então, tomou um banho e vestiu-se numa calça jeans e numa camiseta folgada. Estava quente e ele agradecia por Saga ter abolido a necessidade das roupas militares o tempo todo.

Acaio voltou horas depois com as flores. Tudo estava perfeito; faria as pazes com Afrodite e depois retornaria, jantaria com Andrômeda, com quem conversaria e o deixaria em Rodório tarde da noite. Ao flagra-se com tais pensamentos, ruborizou sozinho, pensando que estava sendo ridículo ao dedicar tanta atenção àquele menino.

Então, o cavaleiro de câncer encheu-se de coragem e subiu as escadas em direção ao templo de peixes. Encontrou alguns cavaleiros pelo caminho, mas seguiu adiante, sem encará-los, mas com o queixo erguido. Com certeza, os outros santos se perguntavam para onde ele iria com aquelas flores, mas não se incomodou; pouco ligava para o que os outros pensassem.

Chegou a décima segunda casa e parou no meio do salão esperando que o dono saísse do seu dormitório. Afrodite apareceu minutos depois, após sentir o cosmo do defensor do quarto templo.

O olhar malicioso e sarcástico encarou o italiano e os lábios sorriram com desdém.

— Não me lembro de tê-lo chamado aqui — disse Afrodite empinando ainda mais o já arrebitado nariz.

— Vamos parar com isso, caspita! Eu vim... eu vim em missão de paz, certo? — Máscara da morte disse brigando ferrenhamente com seu orgulho. — Trouxe isso pra você.

Ele estendeu o ramalhete o que fez o loiro franzir a testa, estranhando gesto tão cortês daquele bruto.

— Rosas? Você? — e começou a rir com ironia — Que surpresa! Isso já é influência do garoto? Fala a verdade.

— Eu comprei porque quis — resmungou entre dentes, sentindo-se minúsculo com toda aquela pose superior do loiro, sempre se sentia. — Mas se você não quiser, eu encontro a quem dar isso, não é nada de mais mesmo! — rebateu movendo os ombros, fingindo indiferença. — Só pensei que um fresco como você gostasse dessas coisas!

Afrodite pegou o buquê e aspirou seu perfume, ignorando a ofensa do outro. — Embora as minhas sejam mais opulentas e perfumadas, eu agradeço a gentileza — sorriu com charme. — Nunca é tarde para se começar a ter um mínimo de polimento, não? Venha, vamos jantar, meu servo preparou...

— Não Afrodite. Eu não vim jantar, vim apenas entregar as flores e dizer que o que aconteceu naquela noite... as coisas que disse...

— Vamos esquecer! — falou o sueco com sinceridade. — Também posso ter exagerado. Venha, vamos jantar como nos velhos tempos.

— Eu não posso. — O italiano disse um tento constrangido.

A resposta de Câncer fez Afrodite interromper a trajetória iniciada. Ele ficou de costas para o outro por um tempo e então se voltou lentamente, encarando os olhos violáceos do amigo.

— Como não pode? — sua voz fria como gelo denunciava ao italiano o grau de insatisfação do sueco.

— Eu tenho um convidado essa noite — o moreno disse satisfeito pela surpresa do amigo. — Fica para outra ocasião, Afrodite.

Depois de dizer isso, o italiano deu as costas ao loiro.

Era mais forte do que ele; a surpresa de Afrodite lhe causava um prazer sádico há muito esquecido. O amigo sempre se julgou tão superior a ele e agora estava ali, pedindo por sua presença e ele poderia apenas dizer um categórico não! Isso não tinha preço, por mais que gostasse verdadeiramente do sueco.

— Está me preterindo?! — a voz do loiro deixou escapar sua irritação, embora ele tentasse controlar qualquer demonstração de sentimentos.

Máscara da morte se virou e o encarou, dessa vez sem deboche, apenas com sobriedade e certa confusão.

— Você me preteriu à vida toda, Peixes, por que não posso fazer o mesmo? Isso não é uma disputa, eu só convidei alguém para jantar.

— É ele não é? O Shun? — sorriu o mais novo. — O convidou somente para competir comigo não é? Só porque jantamos ontem e você já deve saber.

— Não seja pretensioso. Eu convidei o bambino por que... porque somos amigos.

Os cílios longos de Afrodite piscaram incertos. Amigos? Desde quando Máscara da morte tinha amigos além dele? Aquilo estava ficando profundamente desagradável. Além disso, não podia conceber que Andrômeda fosse jantar com aquele ser grotesco e nem tenha, ao menos, o procurado naquele dia, mesmo depois de Afrodite ter deixado bastante claro seu interesse.

— Amigos? — Afrodite riu irônico. — Eu sou o único capaz de suportá-lo lembre-se disso! E você não pode me preterir porque eu sou Afrodite de Peixes, seu imbecil! — sorriu o pisciano se aproximando perigosamente do mais velho. — Não percebe que está se iludindo com esse menino? Ele sairá correndo assim que descobrir quem você é, Câncer: cruel, sem escrúpulos, apenas uma máquina de matar sem sentimentos ou consciência.

Máscara da morte riu alto e balançou a cabeça. — Eu não vim aqui para brigar com você, Afrodite. Como disse, vim em missão de paz. Agora, quanto a isso, você tem razão. Sou tudo isso, e somos iguais, amico mio!

— Sim, somos iguais — sussurrou Afrodite e seu hálito mentolado tocou o rosto do italiano que suspirou. — Por isso eu... por isso eu não aceito suas atitudes!

— Aceitar? O que quer dizer? — Máscara da morte estava realmente confuso. O que aquele sueco doidivanas estava pensando? que ele tinha um caso com Andrômeda?

Afrodite recuou, tanto no que diria como no movimento. — Vá embora! — ele disse, jogando o buquê no chão e caminhando para dentro da sua casa. Mas antes que concluísse seu caminho, a mão forte do outro cavaleiro de ouro o puxou e o jogou com violência contra a parede e de tal forma que ela rachou.

— Você não vai me deixar falando sozinho! — grunhiu Máscara da morte cheio de fúria. — Vai me explicar o que quis dizer e agora?!

Afrodite o encarou, os olhos azul piscina brilhando de cólera, mas seus lábios deixaram sair apenas um sorrisinho irônico.

— Eu quero dizer que você continua um bruto, idiota e ignorante e não importa o quanto o pobre Andrômeda tente poli-lo, sempre será isso! Um nada! Aqui no santuário ou em qualquer lugar do mundo!

A mão forte de Câncer apertou o queixo do cavaleiro de peixes, mas Afrodite continuou sorrindo.

Io non perderei meu tempo com você, Afrodite! Agora entendo tudo, tudo que está sentindo...

— Você não entende nada! — irritou-se o loiro, afastando a mão do outro.

— Entendo sim — sorriu Máscara da morte com maldade. — Você está com ciúmes e está com medo.

Peixes não respondeu, apenas ergueu a mão e um filete de luz apareceu; logo em seguida, o cavaleiro de câncer era arremessado até a entrada do templo.

— Não volte mais aqui — disse Afrodite calmamente, finalmente conseguindo entrar em sua morada.

Máscara da morte tossiu sangue e sentiu seu peito queimar. Não esperava pelo golpe e foi atingido em cheio. Era a segunda vez que o sueco o agredia, todavia, ele sabia que suas palavras conseguiram atingir ainda mais violentamente o amigo. Maldição! Não foi essa a sua intenção ao ir ali, queria fazer as pazes, voltar a ser amigo do pisciano, mas parecia que o mundo dos dois nunca mais voltaria a se encontrar.

Voltou pela escadaria se equilibrando como podia. Sentia o gosto do sangue na garganta, mas não iria para o hospital, ficara de jantar com Andrômeda. Desceu vagarosamente e quase tombou com Shura e Aiolia que vinham na direção oposta.

O cavaleiro de capricórnio segurou-o no ombro quando percebeu que Câncer estava ferido.

— O que aconteceu? — o líder da Krypteia perguntou preocupado. Ele, assim como Aiolia, líder da tropa, era o responsável por manter a ordem no santuário.

— Nada, sto bene... — resmungou tentando se desvencilhar dos braços do espanhol.

— Câncer, se aconteceu algo, se você foi ferido por alguém, é melhor contar logo — Aiolia se pronunciou, ele sabia que o clima entre a quarta e a décima segunda casa estava estranho.

Máscara da morte encarou os dois cavaleiros nos olhos. — Io disse que nada aconteceu! — repetiu enfático. Caso falasse a verdade, com certeza, Afrodite seria seriamente punido e sabendo da estima de Aiolia de Leão pelo sueco, a punição não seria branda.

— Se pensa que assim protegerá alguém está muito enganado — falou Aiolia erguendo a mão, emanando seu cosmo e levando-a ao tórax do defensor da quarta casa que imediatamente sentiu o alívio do ferimento. — O que precisamos aqui é disciplina e leis e não clubinhos privados de cavaleiros.

Dizendo isso, o grego voltou ao seu caminho, sendo seguido por Shura. Sentindo-se melhor Máscara da morte também voltou a sua casa.

O italiano chegou ao seu templo e encontrou Shun o esperando. O garoto sorriu quando o viu e ele retribuiu o sorriso com sinceridade, mas logo o cavaleiro de bronze franziu as sobrancelhas preocupado.

— Aconteceu alguma coisa?

— Non, Io... Eh, Acaio vai servir o jantar, venha — desconversou seguindo para o jardim. Não queria que Afrodite conseguisse estragar sua noite.

Shun o seguiu em silêncio e observou a mesa bem posta pelo jovem serviçal. O italiano pediu que ele se sentasse e eles começaram a comer, mas algo inquietava o cavaleiro mais novo, então ele se permitiu a pergunta.

— Por que me trouxe aqui?

Câncer ergueu os olhos para encará-lo.

— Não queria jantar comigo? — indagou de forma baixa e contida, sentindo um desconforto repentino no peito.

— Não, não é isso! — negou Shun com um sorriso complacente, corando um pouco. — É que eu... eu pensei que você fosse jantar com o Afrodite depois que fizessem as pazes. — O olhar do italiano nada dizia, e Shun se sentiu terrivelmente desconfortável naquele momento. — Ah, me desculpe, eu acho que...

— Não fizemos as pazes, piccoli — resmungou Máscara da morte e voltou a comer.

Shun mordeu o lábio inferior. Então aquele era o grande culpado do visível mau humor e embaraço do cavaleiro de câncer? Para o jovem cavaleiro de bronze ficava cada vez mais evidente que Máscara da morte amava Afrodite. As palavras de Jamian vieram imediatamente à sua mente e Shun se sentiu pequeno pensando que, naquele momento, ele não passada de um substituto para o cavaleiro de peixes.

— Eu... sinto muito — ele murmurou desviando o olhar. — O Afrodite não é tão ruim quanto ele tenta parecer. Acho que ele só precisa de alguém que confie nele e que o trate com o carinho e o respeito que ele merece. Acho que... que... era com ele que você deveria estar agora... — confessou o que martelava em sua mente.

Câncer entreabriu os lábios encarando Shun com surpresa, depois tornou-se ainda mais sisudo e pousou os talheres no prato.

— Talvez seja você a querer estar com ele agora, não piccoli?

— Eu?! — Shun surpreendeu-se.

— Já que anda jantando com ele, quem sabe daqui a um tempo, vocês não estejam tão íntimos que ele encontre em ti tudo que precisa para ser alguém melhor! — cuspiu o italiano irritado.

Shun ficou lívido por um tempo, sem saber o que responder.

— Eu não me interesso pelo Afrodite. Você ao contrário parece se importar muito com ele — murmurou baixando o olhar.

Câncer riu com ironia e raiva.

Io me importar com ele?! Ah, já me importei sim se quer sabe e muito! Mas hoje... — engoliu em seco e balançou a cabeça se erguendo da cadeira em seguida. — Scusa, io non... — suspirou tentando achar a melhor palavra, mas ela não vinha.

Shun resolveu o impasse se erguendo também, jogando o guardanapo sobre a mesa. — Não foi uma boa ideia eu vir aqui — ele disse baixo, caminhado até a saída. — Boa noite, Máscara da morte...

Mas Câncer não deixou que ele prosseguisse, segurou-o pelo braço, forçando Shun a encarar seu rosto perturbado.

Piccoli... Io... — sempre a procura da melhor palavra — Io só não quero que você se machuque... Mas se você gosta dele e quer...

— Eu não tenho nada com o Afrodite! — exasperou-se Shun libertando o braço. — Eu não tenho nada com ninguém e nunca terei porque... Se você quer mesmo saber... Eu ainda amo o Hyoga! Amo! — ao proferir essas palavras as lágrimas as acompanharam, e o cavaleiro de bronze baixou o olhar para o chão. — Por que você tinha que me lembrar dele? Por que tem tanto prazer em me provocar?! É pra provar que sou um fraco, não é? É pra me ver chorar e confirmar que sou merecedor de todo o desprezo que nutre por mim?

— Não é isso! Io...

— Eu quero ir embora, por favor... — murmurou o mais novo vencido.

— Shun...

O garoto ergueu os olhos, estranhando ser chamado pelo nome. Seus olhos se encontraram, mas o cavaleiro de câncer não sabia novamente o que dizer. Era incrível como se tornava inapto com as palavras em momentos como aquele. Shun também não estava disposto a ouvir, mas mesmo assim o italiano tentou.

Io sinto...

— Não, você não sente. — volveu o rapaz magoado. — Vamos terminar isso aqui, certo? Eu tentei enxergá-lo além da carapaça e ser seu amigo, mas acontece que você só sabe ferir com suas pinças e estou cansado... cansado de ser magoado por você. Boa noite!

Shun saiu pelo corredor que levava ao grande salão e Câncer ficou parado vendo-o partir. Sabia que deveria segui-lo, mas o que diria? Pediria desculpas mais uma vez?

Sentiu uma estranha e agonizante vontade de gritar, mas controlou-a esmurrando a mesa de mármore que foi feita em duas. Afrodite tinha razão, ele era um bruto e a única coisa que fazia era ferir Shun o tempo inteiro; o melhor para o garoto era mesmo manter-se afastado dele.

O cavaleiro de bronze voltou para Rodório depois de conseguir controlar seus sentimentos e encaixotá-los dentro de si. Não queria que Ikki sofresse novamente por sua causa. Embora, algo lhe dissesse que o irmão não conseguiria carregar mais nenhuma dor além das que já carregava.

Entrou na casa sorrindo, como acostumou-se a fazer para disfarçar a dor. Ikki sorriu para ele, mas não conversaram, logo Shun recolheu-se ao seu quarto, onde voltou a chorar como há semanas não fazia e no meio de tudo isso, ele percebeu com desespero que não chorava mais por Hyoga; o motivo de suas constantes lágrimas àquela noite era pensar que Máscara da morte amava Afrodite.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez perdoem os erros, o tempo está mesmo ingrato.
Obrigada a todos que leram, comentaram, recomendaram! A aceitação de vocês a esse par estranho me deixa muito, muito, muito feliz!
Superbeijos da Sion e até mais!!!