Possible love escrita por Sion Neblina


Capítulo 5
Constelações


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores,
Mais um capítulo. Não pedirei mais desculpa pela demora, porque a gente se desculpa por coisas das quais nos arrependemos e podemos mudar, e minha demora em atualizar não será algo que eu possa mudar, infelizmente, então peço apenas paciência e que não queiram me matar por causa dela XD!
Um agradecimento especial a MillaSnipe que me cutucou sobre essa história e muito me incentivou a postar (correndo) esse capítulo. Espero que gostem, nesse, as coisas começam a ficar mais doces entre Mask e Shun. Confiram!
NÃO BETADO, apenas corrigido rapidamente por mim. Perdoem possíveis erros gramáticos, sintáticos, mensagens subliminares ou acentos fantasmas.
Sion Neblina



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Constelações

Capítulo 5


Shun piscou várias vezes, aturdido sem expressar reação nenhuma, o que deixava Câncer ainda mais constrangido, parado à porta, estendendo uma caixa cuidadosamente forrada num papel de presente com motivos infantis.

Andrômeda, depois do susto, sorriu e pegou o pacote. — Obrigado... — disse encarando os olhos azuis do outro cavaleiro que, ao receber aquele olhar, acabou sorrindo também.



Por trás do ombro do irmão, Ikki não acreditava que era Câncer quem estava ali. O que ele queria àquela hora com Shun? Justo aquele homem perigoso e...?


Shun virou-se ao ver a movimentação nervosa de Fênix atrás de si. Mordeu os lábios, ansioso, e achou melhor resolver aquela situação. Ikki tinha um gênio terrível; Máscara da Morte era um psicopata..., melhor mantê-los afastados.


— Ah... irmão, eu... eu vou sair um pouquinho para falar com o cavaleiro de câncer...!


—VOCÊ O QUÊ?!


— Ikki, não grita — pediu Shun corando e falando ainda mais baixo. — Eu só vou à pracinha aqui perto, certo? Não posso conversar com ele com você por perto, você não deixaria, não é?


— Mas Shun...! — o mais velho estava confuso e indignado.


— Confie em mim, irmão e não me subestime, por Athena! — cochichou exasperado.


Ainda do lado de fora, Máscara da Morte começava a ficar irritado com aquele burburinho dentro da pequena casa. Que diabos estava acontecendo? Por que Andrômeda não saía logo?


Ele olhou novamente para dentro da casa e viu os irmãos gesticulando. Aquilo estava sendo constrangedor e ele começava a se arrepender de ter ido ali. Era melhor voltar, à velocidade da luz, para o santuário.


Shun finalmente apareceu e bateu a porta, tendo o embrulho ainda nas mãos. Sorriu sem jeito, e o italiano se perdeu um pouco nas suas feições delicadas, levemente coradas pela recente discussão com o cavaleiro de fênix.


— Desculpe meu irmão, ele... ele...


— Ele acha que eu não presto, como todos — riu de lado Máscara da morte deixando Shun sem jeito. O que o adolescente não sabia era que o próprio cavaleiro de câncer estava desconfortável naquela situação e..., estranhamente, insatisfeito pelo leve calor que mirar o rosto de Andrômeda lhe causava.


— Não, não é isso. Ikki só é meio protetor — coçou os cabelos o mais novo. —Vamos nos sentar ali, eu quero abrir meu presente!+


Máscara da Morte assentiu com um movimento de cabeça e seguiu Shun. Atravessaram a rua de pedra e chegaram a uma praça arborizada, pequena e limpa, no centro da vila. Shun se sentou num banco de madeira e começou a, cuidadosamente, desfazer o embrulho. Máscara da Morte continuou de pé, agora com as mãos nos bolsos da calça jeans.


Shun franziu as sobrancelhas quando viu o que tinha na caixa.


— Um carrinho de controle remoto? — Shun franziu uma sobrancelha totalmente confuso.


Máscara da Morte coçou a cabeça sem jeito. Não era com aquilo que crianças da idade dele brincavam? Ou ele ficou tempo demais preso naquele santuário e não sabia mais de nada?


— Hã... Você não tem mais idade para isso é isso que quer dizer? — perguntou mirando a expressão agora divertida do rapaz.


— É. Eu tenho 18 anos...


— Tudo isso? — ele arregalou os olhos. — Ma foi ontem que...


— Foi há cinco anos, Máscara da Morte — interrompeu Shun com um meio sorriso sincero. — Mas eu gostei do presente. Guardarei com carinho, muito obrigado.


— É um presente inútil e eu sou um estúpido! — recriminou-se ruborizando. Só podia ser um idiota ao não se lembrar que aquela criança que conheceu há cinco anos tinha crescido. Apesar de que... Olhando aqueles olhos enormes e aquele rosto delicado, não parecia que ele cresceu tanto assim.


— Por favor, não pense assim! — Shun se ergueu e aproximou-se rápido do cavaleiro de câncer. Tocar-lhe-ia o rosto, mas sua mão parou no ar antes que o fizesse. Sentiu o olhar surpreso do italiano sobre si e recuou um passo. — Sua gentileza já me alegrou muito, de verdade...


Gentileza? Máscara da morte estava cada vez mais confuso e incomodado com aquela conversa. Não entendia a alegria daquele menino com um presente que ele não utilizaria. Que estúpido!


O toque cálido da mão de Shun em seu braço o tirou de suas divagações e levou um arrepio prazeroso a sua espinha. Câncer se forçou a permanecer no lugar, embora sua vontade naquele momento fosse correr dali.


— Por que não se senta aqui? Vamos conversar — falou o cavaleiro mais jovem, voltando a se sentar no banco.


Máscara da Morte se sentou com receio. Na verdade, ele não era muito de conversar; talvez apenas com Afrodite, mas nunca era uma conversa realmente. Geralmente ouvia o sueco falar sem parar e desdenhar das suas opiniões e pensamentos, mas agora, aquele garoto estava ali o chamando para conversar... Por quê? Por que ele? Ele deveria ser como os outros, ignorá-lo ou odiá-lo...


— Não, Piccoli, eu tenho que voltar ao santuário, eu só vim trazer isso mesmo e acabou sendo um...


Shun se ergueu do banco e colocou o carrinho no chão, depois pegou o controle remoto e começou a movimentá-lo. — Legal, ele já vem com as pilhas!


Câncer ergueu uma sobrancelha. Sentia-se o homem errado no local errado e a cada segundo que passava essa sensação aumentava. O carrinho correu pela rua de pedra e Shun voltou a se sentar, vendo até onde ele poderia ir. Máscara da morte sem saber o motivo, se sentou ao seu lado e ficou observando o brinquedo ir e vir sem saber o que dizer.


— Não o culpo — Shun volveu despreocupado. — Todos pensam que sou mais jovem mesmo — deu de ombros —, mas eu gosto de carrinhos de controle remoto e posso brincar com os garotos da vila em meu dia de folga. Realmente gostei do presente, embora você não acredite.


— É, não acredito — mentiu. Na verdade, a forma que Shun falava deixava evidente que ele era incapaz de mentir. Havia tanta verdade nos olhos daquele menino que o deixava... incomodado. Sentia que não deveria estar perto dele, que sua presença era um erro.


— Como foi a infância no santuário, Máscara da Morte? Máscara da Morte não é seu nome de verdade, é?


Shun perguntava de maneira despreocupada, enquanto manobrava o carrinho, observando com atenção seus movimentos.


— Acho que igual a sua na Ilha de Andrômeda. Treinos, muitos machucados, dores e sangue — respondeu quase num resmungo.


— Mas você deveria ter algum amigo. Eu tinha a June, e o Albiore era um bom mestre.


— Eu não tive essa sorte — resmungou incomodado. Não gostava de relembrar a infância e ainda se perguntava o que estava fazendo ali, ouvindo aquele tipo de asneira.


— Deveria ter alguém.


— Tinha Afrodite — devolveu chocado com sua própria capacidade de ficar respondendo as asneiras daquela criança. Caspita! Deveria estar se tornando um frouxo chorão como a maioria dos cavaleiros de ouro se tornou depois da chegada da deusa.


— Afrodite — Shun repetiu incomodado. Na verdade, ele não gostava muito do sueco e não entendia muito bem o motivo, mas ele lhe dava mais calafrios que o próprio cavaleiro de câncer, se é que isso era possível.


— Você tem medo dele — Câncer deixou um sorriso perverso escapar dos seus lábios e Shun corou.


— Não é medo.


— E o que é então, Piccoli?


— Não sei, ele não me parece... confiável.


O italiano deixou sua risada ecoar pela rua deserta, fazendo Shun olhá-lo assustado. Ele encarou o garoto e ficou mirando-o sem nada dizer por um tempo, até que estendeu a mão e tocou-lhe uma mecha desalinhada dos cabelos.


— Você é uma graça...


Shun estremeceu com o singelo toque. Na verdade, estremeceu com o medo de levar um bom tabefe na cara. Não esperava por aquele carinho e acabou ruborizando e rindo nervoso com isso.


Por alguns segundos que pareceram horas, o verde dos olhos de Andrômeda mergulharam na tonalidade violeta dos olhos de Câncer e foi como se eles se fundissem.


— Vou embora! — falou Câncer retirando a mão do menor e se erguendo algo nervoso. — Cuide-se, bambino.


Shun ergueu-se de supetão, um tanto trêmulo.


— Certo! Obrigado! E boa noite... Máscara da Morte — a voz foi morrendo à medida que ele não via mais sinal do cavaleiro mais velho que com certeza usou a velocidade da luz para sumir pela noite escura.


O cavaleiro de bronze ficou um tempo parado com o olhar perdido. Não sabia o que pensar daquele homem. Então, pegou o brinquedo e voltou para casa, onde sabia que sofreria um interrogatório do irmão.


Como esperado, Ikki andava de um lado a outro com uma expressão nada amistosa. Shun fechou a porta atrás de si e ao ouvir o barulho, Fênix o encarou com seu olhar severo.


— Agora você poderia me dizer que merda está acontecendo entre você e o psicopata do cavaleiro de câncer?


O jeito direto e nada sutil do irmão fez o mais novo arregalar os olhos. Será que ele estava insinuando...? Não, ele não podia estar pensando em algo como... Não era possível?


— E-eu... eu só estou dando aulas a ele... irmão e... hoje... Olha o que ele me deu!


Shun estendeu o carrinho de controle-remoto e Ikki franziu as sobrancelhas ainda mais se possível.


— Que diabo é isso?


— Um presente. Ele me deu por que... foi grosseiro comigo hoje, acho que no fundo, ele não é tão mau quanto parece...


O cavaleiro de fênix massageou as têmporas confuso, mas não disse nada durante muito tempo, quando falou foi apenas para mandar o irmão dormir.


— Boa noite, niisan! — falou Shun indo com seu presente para o quarto.


O mais velho dentre os cavaleiros de bronze deixou-se cair no sofá.


“Bem, se aquele babaca tem algum interesse no Shun, com certeza, não é amoroso e isso me deixa mais tranqüilo. Ninguém daria um carrinho de controle-remoto a alguém que está tentando seduzir”.


Mais despreocupado, Ikki resolveu dormir também.



Quando voltou ao santuário, Máscara da Morte encontrou alguém em seu templo. O cavaleiro de peixes estava recostado em uma das pilastras principais com os braços cruzados atrás da cabeça.


Ele vestia uma curta toga de um ombro só que deixava evidentes os músculos definidos do peito e dos braços, além das coxas bem proporcionadas. Um belo corpo masculino que era um contraste com o rosto andrógino.


— E então? Andrômeda gostou do presente? — indagou com um sorriso de lado.


Câncer entrou no templo e olhou atravessado para o colega. Havia alguns archotes acesso no templo principal — apesar de ter luz elétrica no interior das casas, os salões dos templos mantinham-se à moda antiga. — que davam ao rosto do pisciano uma expressão sombria.


— Não sei por que ainda confio em você — resmungou Máscara da morte. — Você sabia que aquele presente não era adequado!


Afrodite começou a rir.


— Deve ter sido engraçado, você entregando um brinquedo a um homem de 18 anos.


— Não, não foi engraçado — Câncer mirou seriamente o amigo. — Afinal o que você quer?


O santo de Peixes saiu de sua posição relaxada e caminhou até o italiano.


— Que você deixe de ser idiota. Não é possível que não tenha reparado ainda em Andrômeda. O santuário inteiro já reparou.


— Já disse que isso não me interessa e para mim, ele é mesmo uma criança, cáspita! Por que está insistindo nessa história?


Máscara da morte estava confuso. Não entendia a insistência de Afrodite naquele assunto. Mesmo porque, era a primeira vez que o sueco parecia se interessar por sua vida pessoal e seus envolvimentos.


— Estou tentando ajudar, só isso.


Foi a vez de Câncer gargalhar sarcástico.


Mama mia, Afrodite, poderia dizer algo mais convincente. Você não ajuda ninguém a não ser você mesmo!


— Ingrato — acusou o loiro, mas sua voz não demonstrava nada mais que indiferença.


O italiano bufou.


— Escuta uma coisa, Peixes, se fosse você, não tentaria bancar o engraçadinho com Andrômeda. Aquele irmão dele é bastante nervoso e isso não acabaria bem pra você.


— Nossa, tremi inteiro agora — sorriu Afrodite com desdém. — O que você acha que eu pretendo fazer com o pobre rapaz? Não seja estúpido, eu não me arriscaria a fazer algo... Contra as regras do santuário.


Câncer sentiu o sangue gelar nas veias. A forma calma e maliciosa que Afrodite falava faria gelar o sangue do mais letal dos deuses. Ele conhecia o grau de sadismo do belo protetor da última casa. Juntos, poderia dizer que eles mataram mais homens que todos os outros cavaleiros de Athena somados. Fora de combate, o belo sueco não era muito diferente do que era combatendo, continuava arrogante, perigoso, sádico e mortal, e se ele estava tão interessado em Shun de Andrômeda, não podia ter boas intenções.


— O que você fará com ele? — indagou Câncer já vencido e convencido de que não poderia evitar caso o pisciano tentasse algo e... Por que evitaria?


Coçou os cabelos confuso e suas ações e reações eram percebidas por Afrodite como a batida incessante do coração de um peixe por um perigoso tubarão.


— Bem, eu não disse que farei nada a ele... Ainda — o sueco replicou com calma, sua voz suave como se cantasse uma canção de ninar — Mas diga-me, carcamano, ele gostou do presente? — provocou.


— Vai à merda! Só espero que seja lá o que for fazer, não se meta em confusão! — replicou o defensor do quarto templo, antes de desaparecer na penumbra.


Afrodite mordeu o lábio inferior e sorriu com prazer e maldade.


“Okay, meu amigo, mas com quem você está preocupado? Comigo ou com o garoto?”.


Resolveu subir as escadas e tentar dormir, enquanto pensamentos e planos martelavam-lhe a mente; pensamentos e planos deliciosos.



...


Na tarde do dia seguinte, após almoçar com o irmão, Shun caminhou a passos lentos em direção a casa de câncer. Ainda estava confuso com a forma que o italiano o tratava, mas precisava continuar as aulas, afinal, fora um pedido de Saori.


“Bem, ele parece pensar que tenho seis anos”, riu de leve com seus pensamentos e iniciou a subida, mas estancou ao encontrar três cavaleiros de ouro no caminho.


Não era tão corriqueiro quanto achou que seria, encontrar os cavaleiros dourados no santuário. Tirando Aiolia, líder da tropa e que por isso estava sempre fiscalizando tudo que acontecia ali, ele raramente via os demais. Ou estavam em missões ou reclusos em suas casas. Alguns apareciam na arena de vez em quando para treinamentos, mas não era constante que os encontrasse.


— Olá, Shun — a voz suave de Mu de Áries falou e o defensor do primeiro templo deixou um sorriso suave enfeitar seu rosto.


— Oi, Mu — respondeu Andrômeda sorrindo também — Aldebaran, Aiolia — cumprimentou os outros.


Aiolia sorriu para ele.


— Mais um dia de sua árdua missão, não é? Coragem rapaz.


Shun não entendeu e moveu os ombros, mas sorriu, continuando seu percurso. Contudo, estancou no primeiro degrau da escada ao escutar o comentário seguinte do cavaleiro de leão.


— Não entendo o que Athena deseja com isso. Não demora muito a câncer fazer das suas, e a vítima pode ser essa criança.


— Acho que está exagerando, Aiolia — falou Mu com seu tom calmo e suave.


— Exagerando? Ah, Mu, você sabe tudo que aquele homem fez! — continuou o Leão visivelmente irritado.


— Acho que todos têm o direito de errar e se arrepender por seu erro — argumentou Áries.


— Eu concordo com o Mu — falou Aldebaran. — Máscara da morte não é tão ruim. Assim como a deusa, eu acredito no coração dele.


— Vocês estão sendo tolos e sentimentais e isso pode nos custar muito um dia. Não esqueçam o que ele fez no passado, inclusive as atrocidades que cometeu contra pessoas inocentes, até contra crianças!


— Aiolia, ele se arrependeu — falou Mu com paciência.


Leão deixou escapar uma risadinha sarcástica.

— Deveria avisar isso à armadura de câncer, não acha?


Shun não ficou para ouvir o resto da conversa, embora às palavras do Leão tenham o deixado curioso — ouvir a conversa dos outros era feio e o jovem cavaleiro de bronze era realmente muito certinho para isso —. Terminou de subir às escadas e chegou à casa de câncer. Dessa vez, não hesitou em atravessar o portão principal e entrar na parte privada do templo, encontrando seu morador largado no sofá.


— Oi — falou com um sorriso, mas isso não fez mudar a expressão taciturna do homem.


— Não quero aulas hoje, bambino, pode voltar.


Shun ergueu uma sobrancelha.


— Aconteceu alguma coisa?


— Isso não é da sua conta, criança, agora sai!


— Não precisa ser grosseiro, estou saindo — falou Shun e deu-lhe as costas, mas foi parado por uma grande e pesada mão em seu ombro o puxando para trás.


O susto foi tão grande que ele deixou os livros caírem.


— Por Athena, não faça isso! — irritou-se o cavaleiro mais novo, enquanto o outro ria com o susto que ele levou.


— Você se assusta fácil demais — falou câncer. — Não quero estudar, estou sem saco, mas você pode ficar, tem alguma coisa pra fazer agora?


— Não — respondeu shun com sinceridade.


— Então vamos fazer algo diferente!, algo digno de cavaleiros! Vamos treinar!


Andrômeda estranhou a novidade, mas não reclamou, andava precisando realmente se exercitar. Havia o treino com os aspirantes, mas era algo muito leve. Não havia como se exercitar de verdade, contra crianças de sete anos.


Com a concordância do mais jovem, eles seguiram para as colinas ao redor do santuário. Era um local tanto afastado, uma cordilheira alta e de difícil acesso, mas que para dois cavaleiros foi uma subida fácil e rápida.


— Por que não treina na arena? — Indagou Shun curioso.


— Por que não para de fazer perguntas? — volveu Máscara da Morte, mas sem irritação.


O adolescente fez um movimento com os ombros. Deveria estar louco por aceitar aquilo, pensava agora. Se Câncer resolvesse matá-lo ali, estava ferrado.


Por outro lado, assim que chegaram àquele local isolado, o jovem cavaleiro de bronze sentiu a brisa morna de o verão beijar-lhe o rosto de forma prazerosa. Shun sorriu com prazer, fechando os olhos e deixando-se beijar por seu frescor. Quando voltou a abri-los, deparou-se com a linda imagem do mar Egeu aos pés da montanha.


— Aqui é lindo! — exclamou maravilhado e olhou Câncer nos olhos. — Um lugar como esse não deve ser usado para batalhas ou treinamentos.


O cavaleiro mais velho ergueu uma sobrancelha.


— Como non? — indagou frustrado.


Shun manteve o sorriso e se sentou numa pedra e chamou Câncer para que ele fizesse o mesmo. Um tanto hesitante, o cavaleiro mais velho aceitou se sentar ao seu lado e respirou fundo sentindo também a calmaria do silêncio e da brisa.


— Você vem sempre aqui? Eu nunca tinha vindo aqui antes — observou Shun mirando as águas tranqüilas.


— Sim, venho, desde a infância, mas é a primeira vez que alguém vem comigo — respondeu o italiano depois de respirar fundo.


O mais jovem sorriu. — Fico feliz que você tenha dividido isso aqui comigo.


Câncer deu de ombros — É um lugar como outro qualquer. — Disse fazendo pouco caso. — O silêncio é bom pra treinar o cosmo, só isso.


— Todos nós precisamos de um momento de silêncio, um momento só nosso — volveu o adolescente com um pouco de melancolia.


— Ainda sente muito a falta dele non?


Aquela pergunta pegou Shun de surpresa. Ele olhou para o italiano que o encarava sério, sem aquele costumeiro deboche no olhar.


— Por que a surpresa? Todos sabem que você está no santuário porque o Cisne resolveu ir embora para a Sibéria — Máscara da Morte comentou, voltando a olhar o mar. — Pelo visto ainda não o esqueceu.


— Isso não diz respeito a ninguém — murmurou Shun encolhendo os ombros, sentindo-se estranhamente acuado.


— Não diz mesmo, foi só uma pergunta, você responde se quiser — resmungou Câncer e eles caíram num silêncio pesado e assim ficaram por um longo tempo.


— Você já amou alguém, Máscara da Morte?


A pergunta direta foi para o cavaleiro de câncer como uma navalha na carne. Ele franziu as sobrancelhas e permaneceu em silêncio, analisando-a. Ele, amar alguém? De onde aquele garoto tirou isso? Será que não se lembrava de quem ele era ou aquilo seria uma vingança pela indagação que havia lhe lançado anteriormente?


— Você acha que alguém que coleciona as cabeças dos seus inimigos é capaz de amar? — replicou perturbado, mas tentando manter a voz fria e debochada.


— Deve haver uma explicação para isso — disse Shun movendo as pedras do solo com o pé. — Deve ser horrível andar entre vivos e mortos o tempo inteiro, e eu penso que para dominar uma técnica poderosa como essa, você deve ter treinado desde a infância, indo e vindo do Yomotsu*, vendo zumbis o tempo inteiro. Isso deve ser horrível para uma criança. Talvez, decorar sua casa com as cabeças dos inimigos fosse uma forma de fugir do medo que você sentia dos mortos ou provar para si mesmo que você não tinha medo.


Máscara da morte olhava o menino com espanto. Sentia-se algo nervoso e estranho, e um leve tremor transpassou seu corpo.


— Um cavaleiro de bronze metido a psicólogo! — riu com ironia tentando não demonstrar o quão perto da verdade Shun estava.


Sim, durante um tempo teve medo do Yomotsu, isso era normal para uma criança de sete anos, melhor, aquilo era um pesadelo. Mas depois se acostumou e não sentia mais medo. Gostava de colecionar as cabeças dos inimigos como espório de guerra, mostra do seu poder e crueldade, gostava de provocar terror. Aquilo não era um trauma, que ridículo!


— Estou só tentando entender — Shun deu de ombros. — E você não me respondeu se já amou alguém.


— Não há o que responder, isso é absurdo! — resmungou nervoso.


— Por quê? — os olhos esmeraldinos se voltaram para ele, e o cavaleiro de ouro sentiu-se estranhamente acuado.


Perché... Ora, caspita! Io não seria capaz de amar! Não tenho sentimentos, piccoli!


Shun o mirou de soslaio com um meio sorriso nos lábios.


— Claro que tem.


— Não me arriscaria a ficar igual a ti, chorando pelos cantos por alguém que não me quer — falou ácido numa atitude desesperada de defesa.


Shun baixou o olhar, derrotado.


— Talvez você tenha razão. Sou mesmo um idiota... — a última frase foi dita de forma baixa e melancólica.


Câncer não entendeu o motivo, mas se sentiu estranhamente mal com o comentário que fez e uma vontade incontrolável de abraçar Shun, mas apenas tocou-lhe o ombro.


Io não... eu... — tentou dizer algo, mas não achou as palavras. — Olha, já que não vamos treinar é melhor voltarmos e termos as maledetto aulas!


O cavaleiro de ouro ergueu-se, mas Andrômeda permaneceu no mesmo lugar. Máscara da morte o olhou intrigado.


— Eu vou ficar mais um pouco — o mais jovem sorriu sem nenhuma mágoa e aquilo tocou profundamente em Câncer.


“Depois do que disse, depois da forma que quis magoá-lo, ele ainda é capaz de não me odiar?”, indagou-se confuso.


Seu coração se apertou e ele voltou a encarar o rosto adorável do garoto que mirava o mar de forma melancólica e sonhadora.


Não soube o que o moveu, mas voltou a se aproximar dele e sentou-se ao seu lado. Não podia deixá-lo ali sozinho.


— Talvez seja bom ficar mais uma tarde sem fazer nada, amanhã o inferno das aulas recomeça non?


Andrômeda o encarou e o cavaleiro de câncer sorriu, sendo correspondido. Shun assentiu com a cabeça, e eles passaram uma tarde agradável e, embora muitas vezes Máscara da Morte se exasperasse com algum comentário do garoto, não podia negar que se sentiu bem no tempo em que passaram juntos. Shun era mesmo educadinho, bonzinho e por isso chatinho demais — achava Câncer — , mas era um rapaz inteligente e sensível que muitas vezes fazia observações profundas sobre sua vida. Observações que ele nunca perceberia não fossem pelas palavras do garoto. Perguntava-se como alguém tão jovem poderia entender tanto da vida e ser, apesar disso, tão puro e ingênuo.


Percebia em Shun, um coração tão humilde e tão doce, que sua ternura pelos outros e a pouca importância que dava a si mesmo e ao seu sofrimento conciliava-se em seu olhar com um sorriso que, contrariamente ao que se vê geralmente, só era irônico consigo mesmo.


Muitas vezes, Câncer se pegava mirando os olhos dele, mas não como alguém que presta absoluta atenção ao outro. Não. Ele apenas mirava aqueles olhos transparentes em que não havia nenhum resquício de maldade, malícia ou ressentimento, apesar de todo o sofrimento que ainda vivia, e ficava preso a ele como num sortilégio estranho e inexplicável. Até que o garoto ruborizava sem jeito, e ele se apercebia que seu olhar violáceo parecia querer lhe devorar a alma. Então desviava seus orbes daquele verde espectral e voltava a prestar atenção ao mar.


Quando o sol se pôs, eles deitaram-se na pouca grama que havia ali para mirar o céu estrelado, além de Star Hill. Podiam ver muitas constelações, mas não comentavam, miravam cada estrela em silêncio.


Máscara da morte estava gostando daquela calmaria. Sentia-se estranho, é verdade, mas era uma estranheza prazerosa, algo inédito e quente. Parecia que pela primeira vez, possuía um amigo, alguém que se esforçava para entendê-lo e isso tanto o emocionava profundamente, quanto o assustava de forma devastadora.


Já estava bastante escuro quando Shun se lembrou que Ikki deveria estar esperando por ele e preocupado. Deu um pulo se pondo de pé, havia se esquecido completamente do irmão.


— Eu tenho que ir, o Ikki... — começou a dizer nervoso. Sabia que receberia um sermão daqueles!


Máscara da morte ergueu-se sem nenhuma pressa e o acompanhou, descendo à encosta, enquanto Shun executava passos nervosos.


— Eu tenho que ir — disse o cavaleiro mais jovem mirando os olhos do mais velho. — Foi bom passar a tarde com você!


Máscara da morte deixou um leve sorriso de canto escapar dos seus lábios e tocou-lhe o rosto suavemente. Andrômeda teve um pequeno sobressalto e corou, afastando-se em seguida, fazendo o cavaleiro de ouro retirar a mão constrangido.


— Até amanhã, piccoli.


— Até! — falou e saiu correndo, sentindo o rosto quente.


Quase se chocou com Ikki que já cortava a via que levava à encosta, local onde sentia o cosmo do irmão.


— Shun, onde você se enfiou a tarde inteira? — indagou irritado.


— Eu... eu...


“Ai, conto ou não? Se eu disser que estava com o cavaleiro de Câncer em local tão afastado o Ikki vai surtar”, pensava Shun. Não gostava de mentir, mas não estava muito disposto a ouvir um sermão naquele momento.


— Eu estava andando, pensando na vida, irmão, me distrair, desculpe, vamos pra casa! — falou de vez já puxando o braço do mais velho para que se afastassem o máximo do local onde estava Máscara da Morte.


Fênix deixou-se arrastar mirando o menor de maneira séria. Obviamente que ele sabia onde e com quem Shun estava, mas deixaria para ver até onde o mais novo iria com aquela mentira. Não estava gostando nem um pouco daquela súbita amizade e menos ainda de saber que Shun começaria a mentir para ele.


Fingiu que acreditou na história do irmão, mas antes de deixar aquelas colinas lançou um olhar para trás. Shun sorriu, apenas se agarrou ao seu e seguindo com ele em direção a Rodório.



Máscara da Morte voltou a passos lentos para seu templo. Pensando nos últimos acontecimentos. Sentia-se estranho e quase não se reconhecia devido ao carinho que, embora não quisesse admitir, passara a sentir pelo cavaleiro de bronze. Gostava da sua companhia, sentia-se estranhamente... Vivo!, ao lado de Shun.


Câncer observava as estrelas no céu quando sentiu a presença de Afrodite. O pisciano se aproximava lentamente vestido em uma toga grega de um ombro só que o deixava com uma aparência sedutora enquanto o vento brincava com seus cabelos.

— Não consegue dormir, Caranguejo? Senti seu cosmo inquieto lá da casa de Peixes, o que está acontecendo?


O mais velho sorriu de lado.

— Preocupado comigo, Peixes? Devo mesmo acreditar nisso? — ironizou.


— Acredite no que você quiser — volveu Afrodite com desdém, embora no fundo o magoasse o fato de o amigo pensar que não possuía nenhuma importância para ele.


Máscara da morte suspirou e se apoiou na mureta da varanda.


— Você nunca teve a sensação de que alguma coisa estava faltando desde que voltou à vida? — indagou o italiano sem encará-lo, ainda mirando as estrelas.


Os olhos do pisciano o encararam curiosos.


— Faltando? Acho que esperava um pouco mais de liberdade e ação, só isso.


— Não, não é isso.


— E o que é?


— Pensei que nosso arrependimento fosse nos trazer um pouco de paz, mas não sinto paz, não sinto nada além de um profundo vazio...


Afrodite se ergueu do banco onde havia se sentado.


— Não gosto de falar dessas coisas! Converse sobre suas carências absurdas com outro e não comigo, Caranguejo! Estou farto desse sentimentalismo patético que tem demonstrado nos últimos tempos.


Tencionou partir, mas a mão do canceriano em seu braço o deteve.


— Não gosta que as pessoas enxerguem o que de fato há em sua alma. Vive correndo, se escondendo, fazendo-se de autossuficiente, mas eu sei exatamente o que sente, Peixes!


O pisciano se libertou com um tranco.


— Solte-me, você não sabe nada de mim! Não tente bancar o engraçadinho comigo, Carcamano! Pode não sobreviver para se arrepender!


— Não tenho medo de você e claro que sei!, sei mais de você que qualquer pessoa nesse mundo. — Câncer sorriu felino — Sei que se sente tão mal quanto eu com esse seu jeito narcisista, sei que seu coração sofre com os olhares de desprezo que também recebe dos demais! Não tente se fazer de superior comigo, Peixinho, não funciona! Sei que você está em carne viva por dentro!


— O que um ogro como você pode saber de mim?! — Riu Afrodite tentando disfarçar o nervosismo — Não somos iguais, Máscara da Morte, não somos! Eu sou belo, sou culto, refinado! Sou o que você nunca será, entendeu?!


— E ainda assim ele não te quer...


Afrodite entreabriu os lábios e empalideceu mortalmente como se houvesse levado o mais fatal dos golpes. Câncer riu com crueldade, satisfeito por finalmente ter atingido o arrogante amigo.


— Acha mesmo que nunca reparei na forma que você o olha? Em como você praticamente se oferece a ele?, ofereceu-se a ele a vida toda?


— Cala essa boca, seu carcamano imbecil! — falou Afrodite nervoso, terrivelmente perturbado.


O italiano riu mais alto.


— Ah, rosa mia, acha que não sei o motivo de nunca ter cedido a mim e nem a ninguém? O motivo de se manter casto até hoje?


— Isso nada tem a ver com ninguém! Não há ser sobre a terra, homem ou mulher, que seja digno de me tocar, só isso! — Explodiu Afrodite no limite da irritação. — Não vou me rebaixar me esfregando pelos cantos como os outros fazem! Olhe-me!, estou muito acima de todos vocês!


— Até mesmo do grande mestre? — a voz de Câncer saiu arrastada, provocativa e cruel.


O sueco encarou o amigo com olhos de um demônio e elevou o cosmo, empurrando Máscara da Morte que voou longe se batendo em uma parede, quase a derrubando.


— Nunca mais faça insinuações a meu respeito, carcamano fraco e imbecil! — Ameaçou peixes e deixou a casa do amigo ainda ouvindo o riso psicótico do italiano que limpava um filete de sangue que escapou de sua garganta com o impacto.


— Eu sei, Peixes, sei exatamente quem você é! Não se esqueça, somos da mesma laia! — Ria sem parar, mas quando o amigo saiu, deixou-se cair naquele canto do templo e socou o chão arrancando os pedaços do mármore.


“Dane-se!” Resmungou e resolveu ir para o seu quarto, sentindo a alma lavada finalmente por dar àquele arrogante o que ele merecia.


Sorriu satisfeito, disposto a dormir em paz.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Bem, eu realmente me surpreendia quando lia fics em que o Afrodite era desprezado pelo Máscara da Morte. Sério, levando em conta a personalidade narcisista do cavaleiro de peixes, eu sempre achei que seria mais fácil ele desprezar o caranguejo e foi isso que fiz aqui. Espero que nem todos estranhem isso^^.
Alexia-Black, marciabs, Song HaMi, RakBlack, CiçaDF, MadameDark, ddkcarolina, Keronekoi, cici, Gabummon, Anjodastrevas, Sarah, guima, Hanajima, KitsuneKiki, Chakal_Maldito, Álefe, Mefram Maru, MillaSnape.
A TODOS VOCÊS O MEU MAIS SINCERO OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS SEMPRE ENTUSIASMADOS.
Beijos da Sion e até a próxima!
Postado em 12/07/2012