Possible love escrita por Sion Neblina


Capítulo 15
O reencontro


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores, tudo bem?

Como sempre, eu demoro para atualizar essa fanfic, me desculpem! Bem, agora ela entra em reta final e eu espero atualizar mais rápido. Obrigada a todos que continuam por aqui, mesmo com todo esse atraso.

Beijos no coração de todos. Obrigada A TODOS que me deixaram os 300 comentários até aqui e as 7 RECOMENDAÇÕES. Isso enche meu coração de orgulho! MUITO OBRIGADA!

Boa leitura!

Sion Neblina



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O reencontro

Capítulo 15

—Já faz 10 dias que ele está assim. Isso não é arriscado? — Aiolia perguntava a Saga, de frente ao grande jardim da casa de virgem, mirando Shaka que meditava entre as duas imensas árvores.

— Não se preocupe. Shaka pode ficar dessa forma por meses se assim for necessário. O cosmo o protegerá e evitará que seu desgaste físico seja excessivo. Claro que se ele passar muito tempo dessa forma enfraquecerá, mas isso levará muito tempo. — Explicou o grande mestre. — Ele está seguro aqui, Aiolia, não precisa da sua proteção.

— Eu sei que não. Mas a casa de virgem precisa da proteção dele.

— Ela está protegida, não se preocupe.

Aiolia assentiu com a cabeça, e os dois continuaram subindo as escadas, tratando das questões referentes à segurança do santuário, alguns desentendimentos entre guardas, coisas corriqueiras.

Chegaram à sala de reuniões do décimo terceiro templo, encontrando Marin, Shura e Saori conversando, enquanto os aguardavam.

— Saga, Marin trouxe as excertas das panateneias para que examine — A deusa disse, indicando que todos deveriam se sentar, depois que os dois prestaram-lhe reverência.

As panateneias, Sim, claro — Saga disse, pegando os papéis. — A data está próxima, precisamos fazer a convocação de todos os cavaleiros e organizar os eventos.

— Já estão todos organizados, mestre — Marin falou, entregando um novo envelope ao patriarca do santuário. — O manto já está sendo cosido e as competições já foram organizadas.

— Ótimo. Aiolia, os aspirantes estão prontos para as competições?

— Sim, mestre, cada tutor já está orientando seu pupilo e as arenas já estão sendo reformadas e pintadas. Teremos uma festa muito bonita.

— Ótimo. Todos já foram informados?

— Sim, telegramas, e-mails e cartas para aqueles em lugares mais remotos, minha deusa — Explicou Marin.

— Lerei tudo com atenção e verei se há algo a acrescentar ou discutir. — Saga disse, pegando a pasta. — Dohko e Shion já chegaram?

— Estão a caminho — disse Shura. — Devem estar aqui antes do meio dia, já que da ilha dos curandeiros até aqui é uma viagem rápida e tranquila.

Saori assentiu com a cabeça. Depois das guerras, foi naquele lugar selvagem e desabitado que Shion e Dohko resolveram se instalar. Dohko continuava sendo o cavaleiro de libra e estaria a postos se necessário e Shion agora era o supremo conselheiro do santuário, mas ambos decidiram não viver sob as pedras sagradas dos templos de Athena. Mais de 200 anos de vida militar foram suficientes para eles, agora queriam levar uma vida tranquila. Estavam velhos, embora ainda mantivessem aparências relativamente jovens, pouco mais velhos que os demais santos de ouro, mesmo que o peso dos anos pós-guerra tenha sido mais intenso neles que nos demais, ainda assim, a idade estava nos olhos e não na pele.

Athena havia visitado a ilha e podia dizer que os dois cavaleiros transformaram o lugar devastado numa vila de paz e harmonia, tranquila e simpática.

Os conselheiros eram aguardados para a última reunião sobre as panateneias, grande evento em que se reuniriam as 88 armaduras protetoras da deusa no santuário.

Ainda teria tempo até que todos os cavaleiros se reunissem, coisa de 30 dias. Os preparativos avançavam, mas os treinamentos e obrigações permaneciam os mesmos. Por isso, quando deixou a escola naquela tarde, Shun resolveu ir para a arena, treinar seus garotos, enquanto via crianças maiores sendo orientadas por cavaleiros de prata e apenas dois cavaleiros de ouro, Camus de Aquário e Milo de Escorpião. Geralmente eles não treinavam seus discípulos ali, preferiam a grande arena no centro do santuário, mas devido às reformas, a pequena arena, mais próxima ao monte, estava cheia naquele dia.

Treinou os meninos por aproximadamente duas horas e quando estava se retirando da arena viu Mu de Áries e Aldebaran de Touro conversando tranquilamente, enquanto apontavam para algum lugar depois das ruínas, como se fizessem algum plano. Shun parou para observá-los um pouco. Eles não se tocavam, conversavam como se fossem meros colegas de fardas, mas os olhos... Os olhos deles diziam tudo que era necessário. Com certeza a vida que escolhera, será que realmente escolheram?, não comportava sinais públicos de intimidade, ainda mais quando se ostentavam as reluzentes armaduras de ouro, como naquele momento em que passeavam pelas ruas do santuário, e que deveriam demonstrar o poderio bélico de Athena e a santidade dos seus mais graduados guardiões.

Santos — pensou Shun. — Santos que matam.

Seguiu para a casa de câncer. Queria um banho e preferia ir para a casa do namorado que para um dos vestiários dos aspirantes. Era um cavaleiro, às vezes precisava se lembrar que havia um vestiário próprio para aqueles que envergavam armaduras sagradas, mas, ainda assim, era melhor ir para a casa do namorado.

Havia se passado 10 dias desde que Ikki partira do santuário e embora sentisse saudades, Shun sabia que o irmão estava bem. Para ele, ainda eram confusas algumas palavras e atitudes, mas não sabia muito bem o que pensar. Assim como Mu e Aldebaran, ele e Ângelo mantinham uma conduta discreta em relação ao namoro, desde o ocorrido na casa de virgem, casa essa que já estava devidamente restaurada. As coisas seguiam em paz no santuário, exceto pela eminência de mais uma festividade.

Chegou à casa de câncer e não encontrou seu guardião. Já tinha algumas roupas ali. Depois que Ikki foi embora, passava mais tempo no santuário que em Rodório. Não gostava de dormir sozinho, nunca gostou, nem mesmo na infância. Durante seu treinamento na Ilha de Andrômeda, acostumou-se a dormir com os colegas aspirantes a cavaleiro, talvez estivesse acostumado demais àquela vida.

Banhou-se e vestiu-se com uma roupa civil, uma bermuda leve azul clara e uma camisa marrom, calçando chinelos e deitando-se na cama do namorado. Dali, no máximo iria a Rodório, e não precisava manter a rigidez militar.

“Onde será que ele foi?” Pensou e se sentiu sonolento, acabou cochilando ali e quando abriu os olhos o templo já estava escuro e havia movimento no salão. Esperou, sentindo o cosmo do cavaleiro de câncer se aproximar. Geralmente ele não saía naquele horário, mas talvez houvesse alguma reunião com o grande mestre da qual não tivesse conhecimento.

Máscara da morte chegou ao quarto e mirou o jovem deitado em sua cama. Ele vestia uma roupa de treinamento e parecia suado, o que levou Shun a mirá-lo, confuso.

— Onde esteve? — perguntou, curioso.

— Treinando, Piccoli. Vou tomar um banho, venho já — Câncer disse, indo para o banheiro.

Shun sorriu. Àquela hora, os criados já deveriam estar preparando o jantar. Pensou em chamar o cavaleiro para comer na vila, mas estava muito cansado e ele também deveria estar.

Quando Ângelo saiu do banheiro, molhado e com cheiro de sabonete, envolvido em uma toalha pela cintura, Shun desviou o olhar, meio sem jeito. O canceriano não tinha vergonha alguma em se despir na frente dele, era verdade, mas o cavaleiro de bronze sempre achava que estava invadindo o espaço do outro. Eram namorados, mas ainda não eram amantes, na verdade nem sabia os motivos de ambos para manter o namoro naquele patamar depois de meses juntos. A verdade era que não tocavam no assunto. Os motivos? Shun não sabia, mas não teve coragem de abordar tal questão. Ambos eram reticentes quanto à carícias mais ousadas, sempre paravam quando o corpo clamava por mais. Shun achava melhor assim e pensava que Ângelo deveria pensar o mesmo. Todavia, aquilo estava se tornando cada vez mais difícil, ainda mais quando o outro não tinha o cuidado adequado e se mostrava como agora, completamente nu, o corpo forte molhado, deixando cada músculo evidente. Estava ficando difícil controlar a vontade. Eram homens adultos, não eram? O que os impediam?

Shun pigarreou e lambeu os lábios seco, levantando da cama.

— Vou ver se o jantar está pronto — disse, deixando o quarto.

Câncer terminou de se vestir. Também estava pensativo. Passara a tarde treinando nos arredores do santuário porque estava inquieto. Athena e o Grande mestre ainda não tinham lhe dado nenhuma resposta sobre o assunto que trataram e já tinha muito tempo. O que será que eles pensavam? A falta de uma posição da parte deles o deixava incerto sobre como agir e a proximidade das panateneias o deixava ainda mais ansioso.

Vestiu-se apenas com uma bermuda, estava quente como sempre, e calçou chinelos, indo para o jardim, local onde geralmente ele e Shun jantavam. Aproximou-se do seu garoto e o beijou de leve nos lábios, coisa que ainda não tinha feito, tão distraído estava com todos aqueles pensamentos, desde que chegou.

— Onde você treinou? — Andrômeda indagou, enquanto abria o vinho.

— Na colina. Estava me sentindo enferrujado, então para não cortar as cabeças de aspirantes, resolvi destruir pedras — Câncer falou com um sorriso, enquanto os servia da vitela ao molho, acompanhada por arroz e salada verde.

— Que horror, Ângelo! — Shun reclamou, rindo — Não fale isso nem de brincadeira! Detesto me lembrar disso!

Ambos riram por um tempo e conversaram sobre outras tantas coisas; quando o jantar terminou, foram para a sala, ver TV e namorar. Todavia, ambos sentiam a preocupação do outro e foi Shun quem resolveu quebrar aquele clima reticente.

— Angie, está me escondendo algo? — indagou. Estava deitado na perna do mais velho, que acarinhava seus cabelos.

— Não seria bem esconder... — Câncer respondeu e suspirou — Já tem algum tempo, piccoli, conversei com a deusa e o grande mestre sobre nós...

— Você fez o quê? — Shun tencionou erguer-se, mas o outro o impediu, mantendo-o no mesmo lugar, exatamente como estava, sem precisar impor muita força. Andrômeda voltou a relaxar com um suspiro. — E o que eles disseram?

— Nada. Nada até agora e é isso que tem me intrigado.

As panateneias estão próximas, talvez eles apenas não queiram pensar sobre isso no momento — Falou o mais novo. — Mas por que contou?

— Não temos nada a esconder, piccoli. Não gosto de viver me escondendo como se fosse um criminoso, pra mim chega. Athena e Saga são os únicos a quem devemos satisfações. Eles tinham de saber.

— Tudo bem. Não estava pensando mesmo em namorar escondido — o mais novo sorriu. — Só acho estranho ter de comunicar essas coisas, como a um pai e uma mãe. Será que Mu e Aldebaran também comunicaram?

— Não me importa o que aqueles dois fizeram. O que me importa somos nós dois — ele falou e se inclinou, beijando os lábios do namorado de leve.

O templo estava à meia luz. Apenas os archotes dos corredores, acesos, deixando um clima romântico no ar, que aliado ao cheiro adocicado do vinho e do incenso trazia algumas gotas de luxúria à pequena sala, onde eles estavam. Shun enlaçou o pescoço do namorado, aprofundando o beijo, mas logo voltaram a se separar. O cavaleiro de bronze ergueu-se e encheu mais duas taças de vinhos e voltou a se sentar, agora no tapete, entre as pernas do cavaleiro de ouro, que bebeu suavemente da grande taça que lhe foi entregue. O italiano acariciou levemente a pele branca da cintura delgada do japonês, fazendo arrepios de prazer percorrerem a espinha de Shun.

— Ângelo... — o mais novo riu — faz cócegas. — Explicou, pigarreando em seguida, meio sem jeito.

O italiano riu também. — Sua pele é tão suave, bambino, tão gostosa de tocar — elogiou e beijou o ombro do namorado.

— Hum... Que bom que gosta... — Shun disse, virando-se para encará-lo. — Sabe, eu estive pensando uma coisa...

O mais velho inclinou o corpo para trás para observá-lo melhor: — O quê?

— Por que acha que Shaka nos protegeu? Estou confuso com as atitudes dele até hoje. Em início ele estava disposto a me matar, mas não fez, e sei que não foi por bondade, e depois ele mentiu por nós?

Câncer suspirou e voltou a recostar-se no sofá. Shun sabia perfeitamente como quebrar um clima romântico. Por que diabos ele gostava tanto de pensar na vida dos outros? Que fossem para o yomotsu Mu, Aldebaran, Shaka e todo santuário! Gostaria de ter uma noite sozinho com seu namorado, sem precisar conversar sobre todas as pessoas do mundo.

— Não diria que mentiu... — Máscara da morte tentou argumentar, mantendo a delicadeza, apesar da frustração.

— Como não? Ele aniquilou os argumentos do Shura, fez tudo aquilo e depois... Agora ele está meditando há 10 dias, ao menos é o que ouvi falar. O que será que passa pela cabeça daquele homem, ele é louco?

— Esqueça o pequeno Buda, Piccoli. Você seria incapaz de compreendê-lo, talvez ninguém seja capaz de entender Shaka de virgem.

— Mas ele é mestre do meu irmão. Tenho medo que Ikki retorne e tudo se repita. A personalidade de Shaka me assusta, ele é meio... psicótico!

Ângelo riu de leve. Era irônico escutar aquilo de alguém que namorava um psicopata decepador de cabeças como ele. Shun era tão ingênuo que era quase inacreditável.

— Para início de conversa, ele não fez aquilo por nós. — Sentenciou.

— Como não? — Shun virou o rosto para encará-lo novamente.

— Ora, não.

— Por favor, me explique, Ângelo.

O italiano soltou um muxoxo; Shun era puro demais, será que ele era o único que ainda não havia percebido a perturbação no até então imperturbável discípulo de Buda? Ou será que apenas ele, apenas ele, que era sensível demais às oscilações sentimentais do santuário, fora capaz de perceber que havia algo de errado naquele ambiente tão repleto de calma e paz que era a casa de virgem?

— Ele estava protegendo seu irmão. — Confessou, embora achasse que não devesse.

— Como assim? — O mais novo piscou sem entender, e o mais velho achou melhor desviar o assunto.

— Ele é discípulo dele, não é? Vamos deixá-los em paz, piccoli.— Pediu e puxou o mais novo para si, tomando-lhe os lábios, disposto a calar aquela conversa desconfortável.

Shun sorriu, virando-se, ficando de frente para o namorado. Afastou-se um pouco e se sentou no colo dele, montando eu seu quadril. Os cabelos fartos e castanhos caíram por seu rosto levemente ruborizado com a vergonha do seu ato, que até então foi o de maior ousadia entre os dois. O italiano apenas o observava, maravilhado, achando-o ainda mais lindo naquele momento e com uma certeza estranha de que aquela joia era sua.

— Sim, vamos pensar apenas em nós dois agora — Shun murmurou e sorriu para depois beijar levemente os lábios do namorado, enlaçando seu pescoço.

O leve roçar das pélvis fez acender uma chama negra no corpo do italiano, e ele levou as mãos à cintura do outro como se procurasse conter-se.

Piccoli... — murmurou, excitado.

— Hum?... — Shun ergueu os olhos para os dele, que estavam escuros e brilhantes.

Non abuse assim de mio controle...

Shun riu de leve, o rosto ficando ainda mais corado; apesar de tudo, era muito tímido e tinha dificuldade de olhar nos olhos em momentos como aquele.

— Eu quero, Angie... — disse, não sabendo onde encontrou toda aquela ousadia; mas disse e beijou novamente os lábios do italiano.

O mais velho ofegou quando a língua quente do mais novo procurou a sua. Deuses! Shun queria acabar com sua sanidade.

— Ma-... Piccoli... — ainda protestou, e o afastou delicadamente. Seus olhos encararam o olhar confuso de Shun. — Ainda não... — Ele disse e ouviu o garoto pigarrear.

— Não? — Shun interrogou sem jeito, afastando-se levemente dele, mas Máscara da morte o deteve, segurando sua cintura.

Io o quero, Dio santo, como quero! — falou quase num sussurro dolorido. — Ma... É que... Io preciso de um tempo para... me preparar para isso... Quero que seja... especial, capire? Há coisas sobre mim que ainda não sabe, bambino...

— Então me conte... — pediu, voltando a encarar o mais velho.

— Ainda não é o momento. Confie em mim. — Câncer sorriu e afagou o rosto macio do rapaz.

Shun pigarreou novamente, lambendo os lábios e prendendo os cabelos atrás das orelhas, sem jeito. Estava excitado e queria muito fazer amor com Ângelo, mas se ele achava que não era a hora, aceitaria aquilo. Ângelo deveria estar certo; ele era mais velho, mais experiente, deveria estar certo.

— Tudo bem — disse, erguendo-se e pondo a taça sobre a mesinha. Sorriu, sem jeito, mas não realmente ofendido. — Acho melhor voltar pra Rodório hoje e já está tarde.

— Não, piccoli, não! — Máscara da morte também levantou-se sem jeito. – Quero que fique, quero que fique como tem ficado todos esses dias. Tua presença me alegra, eu gosto de você aqui.

Shun estava constrangido naquele momento e as palavras de Ângelo não ajudavam muito. Sentia-se estranho, rejeitado e errado ao mesmo tempo. Era um homem afinal, eles eram homens. Não entendia aquela necessidade do namorado de “esperar”, esperar o quê? Mas não ficaria questionando e nem insistindo naquele assunto. Tentava compreender ou ao menos aceitar.

— Tudo bem, eu fico. — Sorriu levemente, voltando a se sentar.

Máscara da morte o envolveu pelos ombros e beijou-lhe o rosto. Shun não entendia, mas Ângelo não esperava mesmo que ele entendesse. Na verdade, durante todo aquele tempo de namoro, imaginava como seria o sexo entre eles, pois embora o garoto já tivesse 18 anos, olhando-o... Ele parecia ter 15! E o canceriano sentia-se meio estranho com aquilo. Não era grego para achar pederastia algo comum. Sabia que alguns mestres ainda hoje iniciavam seus discípulos sexualmente no santuário, inclusive havia boatos sobre alguns cavaleiros de ouro, mas ele nunca achou aquilo normal. Primeiro, pela simples questão de serem meninos, segundo por serem crianças. Era estranho, pois ele matava crianças, coisas que outros cavaleiros não faziam, mas era incapaz de violar uma criança. Não, isso ele não aceitava muito bem em sua moral deturpada. Não entendia como alguns aceitavam. Quando começou a namorar Shun, sempre se sentiu incomodado quanto a isso, mas achou melhor não pensar muito a respeito. Agora, contudo, a tensão sexual entre ambos crescia e ele não queria magoar seu garoto, o rejeitando. Precisa arrumar sua mente para isso.

— Shun — começou, desconfortável, reticente —, acho melhor pensarmos nisso depois que tivermos uma resposta do Grande mestre, não?

O mais novo estava mirando as próprias mãos naquele momento, confuso demais para pensar naquilo.

— Você não me deseja? — indagou, depois de um tempo mudo.

Ângelo riu numa mistura de sarcasmo e incredulidade.

— Como poderia não desejá-lo, bambino?

— Então eu não entendo...

— Nem eu entendo — resmungou Máscara da morte, puxando-o mais para si e beijando-lhe os cabelos, depois o segurando pelo queixo e mirando os olhos verdes do garoto. — Eu o desejo há muito tempo, piccoli, mas isso não vai tirar de mim a sensação de que estou abusando da sua bondade e inocência se não fizer a coisa da maneira certa.

— E qual é a maneira certa? — Shun o encarou com mais firmeza.

— Não sei. Ainda estou tentando saber. — Sorriu e acarinhou o queixo delicado do cavaleiro de bronze. — Mas descobrirei.

— Vou esperar então — Shun sorriu e eles voltaram a se beijar. O clima ficando mais leve. Terminaram a noite dormindo abraçados como já faziam há vários dias.

Kanon estava sentado na escadaria lateral da casa de gêmeos. Fumava um cigarro. Há muito tempo não fumava, desde a adolescência para ser exato, mas naquela noite uma ansiedade estranha o tomou e ele se viu solicitando a um servo que fosse até a vila e lhe trouxesse um maço. O garoto o olhou com estranheza, vícios não eram fraquezas admitidas aos santos de ouro e ele sabia, mas não objetou, indo rapidamente à vila e voltando com a encomenda do seu senhor.

Agora o cavaleiro de gêmeos fumava, retirando disso um prazer que já não conhecia. Acalmou-se, embora uma tênue linha de angústia se insinuasse dentro dele. A noite no santuário era silenciosa, quebrada apenas pelos sons dos animais noturnos e eventualmente pela conversa de alguns guardas que patrulhavam as imediações.

— Cosmos tristes sempre acabam com meu sono.

A voz grave, mas divertida, o surpreendeu. Estava tão concentrado em outras coisas que não percebeu a aproximação do cavaleiro ou simplesmente o outro cavaleiro o ocultou. Ainda assim, Kanon praguejou, não podia se distrair, um cavaleiro nunca poderia estar desprevenido.

— Relaxe, todos nós estamos meio enferrujados com esse período de paz — Aldebaran disse, sentando-se dois degraus abaixo do que Kanon estava. — Tem mais um aí?

— Você fuma? — surpreendeu-se o geminiano. Nunca imaginou que o todo certinho cavaleiro de touro fumasse escondido.

— Ei, não espalhe — repreendeu o gigante e pegou o cigarro e o isqueiro, acendendo e tragando com um suspiro de prazer. — Porra, quanto tempo não faço isso... desde...

— Os treinamentos — ele e Kanon falaram juntos e riram com isso.

— Por que está acordado a essa hora, Touro? — indagou Kanon com um sorrisinho matreiro nos lábios, sorriso de quem sabia muito bem a resposta.

Aldebaran coçou os longos cabelos negros e riu de leve.

— Mu está trabalhando na forja e quis lhe fazer companhia, mas ele me botou pra correr, não gosta de conversa quando está trabalhando.

O cavaleiro de gêmeos riu mais abertamente.

— Ele está certo, você fala demais. Mas por que Áries está trabalhando a essa hora?

— Algumas armaduras estão avariadas e devem estar em perfeito estado para as panateneias. Seria grande ofensa à deusa, cavaleiros com armaduras trincadas e amassadas.

— Mas ainda temos quase 30 dias...

— Esquece que as armaduras são vivas? Não é tão fácil consertá-las, ele precisa fazer tudo com lentidão e cuidado.

— Dizem que o que chamamos de vida nas armaduras são pequenas porções de cosmos que são depositadas nela toda vez que um combatente as usa. Talvez não sejam realmente vivas...

— Hum... Então me explique a armadura de fênix, como ela renasce das cinzas?

Kanon mordeu os lábios por um tempo e depois voltou a tragar o cigarro.

— Você me pegou. — disse e ambos riram.

— Mas e você, Kanon de Gêmeos, o que faz aqui? Parece esperar alguém também? — as palavras foram ditas pelo guardião da segunda casa como ditas por alguém que já sabia a resposta também.

— Sim, estava. Mas ele não vem. Não com você aqui. — Foi sincero. — Diga-me, Touro, como é amar um cavaleiro?

O gigante voltou a passar os dedos pela trança que prendia os cabelos escuros.

— Pensei que já soubesse, já que ama um.

O mais velho riu, meio incomodado.

— Quis dizer, ser correspondido.

— Por que acha que não é?

— Não sou — Kanon respondeu descrente.

Aldebaran suspirou, voltando a fumar em silêncio por um tempo. Ele era um homem silencioso, observador e crítico. Há muito tempo observava os romances que se formavam no santuário, sem opinar ou comentar sobre eles. Desde muito cedo, contrariando seu tamanho, que muitos tomavam por estupidez infelizmente, ele aprendeu a ser discreto e analítico. Era uma qualidade que lhe garantiu a sobrevivência naquele lugar caótico do passado. Naquela época, a ordem era extremamente espartana e apenas os fortes foram sagrados cavaleiros. Muitos acharam que ele, por não ser do tipo de guerreiro feroz, cheio de ódio, não conseguiria a armadura, mas estavam enganados, embora o brasileiro tenha sido um dos últimos a vestir o uniforme dourado, acabou subjugando muitos favoritos.

Naquela época, Áries, virgem, capricórnio, leão, sagitário e gêmeos já tinham seus cavaleiros. Lembrava-se do último torneio, quando os cinco, meninos ainda, assistiam, segurando seus elmos dourados, vestidos no esplendor do ouro, que na verdade era oricalco e pó de estrelas, e suas capas brancas, que lhes conferiam o título de santos. Nem se moviam, 13,14,15 anos, e pareciam soldados de mármore, enquanto ele sangrava na arena pela oportunidade de fazer parte daquele grupo solene.

Afrodite ganhara a armadura antes dele, sem derramar uma gota do seu sangue, matou seu adversário em menos de um minuto. Máscara da morte fez questão de arrancar a cabeça do seu, fazendo seu cosmos explodir e quase devastar toda a arena. Somente ele, Aldebaran, e Camus de aquário não mataram seus adversários naquele dia. Milo de Escorpião, campeão em 15 segundos, deixou seu oponente, um garoto da África, chamado Laio, com um cosmo tão poderoso quanto agressivo, tão gravemente ferido, que ele morreu de choque pelas dores causadas pela agulha escarlate dias depois.

E durante todos aqueles combates cruéis, os seis nem sequer piscaram, Shaka já estava de olhos fechados, obviamente e ao indiano nem sequer foi permitido que lutasse por uma armadura. Quando ele chegou ao santuário, aos quatro anos e com um cosmo tão aterrador que fez tremer o grande mestre, segundo diziam, ele apenas informou que era o novo cavaleiro de virgem, predestinado a defender a deusa. Ao menos era o que diziam. Mu, como herdeiro de Shion, também ganhou seu posto pelo notório cosmo, Aiolia, Aioros, Shura e Saga treinaram um ciclo antes dele.

Naquela época, Aldebaran já sabia de Kanon. Já o percebia e sentia seu cosmos por mais que ele vivesse oculto. Nunca falou com ele ou fez questão de confrontá-lo. Se ele queria manter-se oculto, não seria ele a se meter naquilo. Somente depois da batalha contra Poseidon, a história do irmão gêmeo de Saga voltou ao santuário, e algum tempo depois, ele vestia a armadura de ouro, sagrando-se cavaleiro, sem nenhuma luta. O coração daquele homem, no entanto, sempre foi uma incógnita. Ao menos até a noite dos proscritos.

— Se não disser o que sente nunca saberá. — Ele disse, finalizando o cigarro e apagando a sobra no degrau.

— Algumas coisas precisam ser sentidas e não ditas, Touro.

— Idiotice! — riu Aldebaran, erguendo-se. — As pessoas não são obrigadas a ler nossas pensamentos.

Kanon riu de leve. O que aquele chifrudo sabia sobre ele e Afrodite? Nada! Não sabia quantas vezes deixara claro o que sentia pelo loiro arrogante da última casa zodiacal.

— Olha, você não sabe do que está falando — irritou-se o geminiano, erguendo-se.

— Não? — o taurino riu. — Por que não vai até Peixes? Acho que acostumou-se à condição de vítima desprezada, Kanon de gêmeos. Está na hora de ocupar o seu verdadeiro lugar no mundo. Boa noite.

O cavaleiro de touro se retirou e Kanon ficou ali parado, pensando em suas palavras. Medo. Era verdade. Sentia medo, medo de dar mais um passo e sair ainda mais ferido. Medo de falar dos seus sentimentos, de transformar a dúvida numa desagradável certeza.

Apagou o cigarro e voltou ao seu templo, era melhor dormir.

Nos dias que se seguiram, o santuário movimentou-se completamente para a grande festa. Tendas foram armadas e as arenas pintadas e adornadas. Os aspirantes poliram suas armaduras simplórias e ganharam túnicas novas, as 12 casas zodiacais foram inspecionadas para que se soubessem se seria necessário algum reparo. Reuniões e reuniões se seguiram entre a tropa. Tudo para que nada desse errado naquele momento.

Numa dessas reuniões, Athena exibiu sua lista de convidados, o que deixou alguns em choque, mas já era de se esperar que os deuses da alianças fossem chamados. Contudo, os cavaleiros de outro esperavam que nem todos comparecessem. A rivalidade ainda existia, embora a paz já estivesse selada há algum tempo.

Depois de muitas discussões e objeções dos guerreiros, decidiu-se que a tropa ficaria a postos para qualquer eventual problemas, afinal não era todo dia que espectros de Hades estariam livres para transitar pelo santuário.

Depois que os cavaleiros se retiraram, Saori voltou-se para Saga, que demonstrava certo cansaço, não físico, mas mental naquele momento.

— Precisamos discutir aquela situação, Mestre — ela disse, torcendo as mãos. — Câncer espera uma resposta.

Saga mirou a adolescente por um tempo e depois riu de leve.

— O que acha de um decreto?

— Um decreto?

— Sim, Athena. Por muitos anos a ordem militar foi rígida no santuário e as coisas foram feitas nas sombras. Sei que a intenção dos primeiros patriarcas foram justas, mas já não vivemos nos tempos ancestrais, mudamos e o mundo mudou. Todos os nossos guerreiros sabem o seu dever e é certo que ter direito a amar sem precisar esconder-se é algo que eles mereçam. Além do mais, essa proibição nunca os impediu.

— Sim! Eu concordo e acho justo! — Saori sorriu, animada. — Façamos o decreto então.

Alguns dias depois, foi lido no grande coliseu o decreto que abolia a ordem expressa de afastamento entre os cavaleiros. O decreto contudo advertia cautela e parcimônia nas relações, não dizendo claramente qual o tipo de relações, entre os santos.

Máscara da morte imediatamente entendeu que aquilo era uma espécie de resposta e ficou mais tranquilo para deixar que sua relação com Andrômeda ficasse mais evidente. De fato, nos dias que se seguiram, as conversas no santuário ficaram muito mais leves, os cavaleiros sorriam uns para os outros e muitos demonstravam afetos incompreensíveis, coisa que nem a mais atenta das pessoas poderia imaginar. Entretanto, o decoro, a ordem e a postura militar não se alteraram com a nova liberdade. Antes de tudo, aqueles homens e mulheres sabiam que serviam a uma causa e eram dignos dela. Porém, nos dias que se seguiram, Athena e o Grande mestre viram-se diante de pedidos inusitados e, divertidos, aprovavam todos aqueles que iam até eles solicitar a bênção para seus relacionamentos.

O líder da tropa e a Epístata dos Prítanes foram além, solicitaram a permissão para se unirem em casamento, logo após o festival da deusa. A permissão foi concedida.

A semana destinada ao grande festim finalmente chegou e os guardiões das 88 constelações chegavam ao santuário. As aulas na escola foram suspensas, pois Marin tinha obrigações maiores e Shun também, organizando os aspirantes que fariam parte dos jogos.

Escolheu sete garotos que já demonstrava bastante habilidade em combate e cosmos relevantes. Naquele momento, ele inspecionava as vestimentas deles e lhes dava conselhos sobre os combates que se iniciariam no dia seguinte.

— Vocês não devem se distrair por nenhum motivo e não ouçam as provocações do adversário. São capazes e fortes, com certeza vocês... — interrompeu-se ao sentir aquele cosmo familiar. Seu coração disparou no peito, pois o cosmo se tornava cada vez mais forte à medida que os segundos avançavam, até que ele finalmente se voltou, encontrando o cavaleiro ao qual ele pertencia.

O homem desceu os degraus em direção a Andrômeda com o mesmo passo tranquilo e firme que ele já conhecia.

Shun ergueu os olhos para encará-lo, sentindo-se tremer por dentro, mas permanecendo firme, ou melhor, aparentando firmeza. Deveria esperar por aquilo, deveria, mas não estava preparado. Não estava preparado porque simplesmente há muito tempo não pensava nele.

— Shun, que bom vê-lo.

A voz era a mesma, talvez um pouco mais grave e continuava fria.

— Hyoga... — seus lábios proferiram, e ele não soube dizer o quanto de mágoa saiu junto com aquele simples nome.

Continua...


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

BEIJOS A TODOS OS LINDOS QUE LERAM E DEIXARAM ALGUMA DEMONSTRAÇÃO DE CARINHO!

ATÉ MAIS!

SION NEBLINA