Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 9
Uma carga pesada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/182818/chapter/9

– Magali, acorda! Ai, Carlito, ela não quer acordar!


Ele coçou a cabeça, preocupado. O que tinha dado em sua filha? Os livros espalhados pelo quarto indicaram que ela tinha estudado até tarde. Seria isso? Talvez ele devesse ter sido um pouco mais flexível com ela na noite anterior...
Os gatos observavam tudo dentro do seu cesto. Mingau ficou até tarde esperando sua dona chegar e só ficou sossegado quando ela finalmente chegou, embora carregada pelo homem gato. Ela estava exausta, mal falava e foi com muita dificuldade que conseguiu tirar as roupas para colocar uma camisola e cair na cama. Do jeito que deitou, ela ficou até o amanhecer.


– Eu acho que a gente devia chamar um médico. Ela está pálida demais.
– Também acho. Vou agora ligar para o dr. Luis.
O médico era amigo da família e não se importou em ir até a casa deles para fazer um pequeno exame. Se ele percebesse algo errado, seria preciso levá-la para o hospital.


***


– Que coisa, parece que ela se esforçou demais!
– Você devia ter avisado a ela para ir devagar nas primeiras vezes. Isso pode consumir muita energia.
– E por que eu, seu gato preguiçoso? Não foi você quem ficou impaciente para falar com ela?
– E por que eu tenho sempre que pensar em tudo?
– Bah, agora já era. O jeito vai ser descansar bastante. Com o tempo ela se acostuma.
– Isso é verdade, só que existe um jeito mais rápido e eficiente para fazer isso.
– Ah, sim! Que coisa... por que ela não pensou nisso?
– Porque ela ainda não sabe, sua cabeça de vento! Céus!
– Ain, não precisa ficar nervosinho. Cruzes!

Melyn voltou a olhar para a moça que estava desacordada em sua cama, sendo examinada pelo médico. Ele sabia que aquilo era apenas exaustão. Com um bom descanso e uma alimentação reforçada, ela ia ficar bem.

***


– Você não pôde falar com ela?
– Não deu. A D. Lina falou que a Magali estava passando mal e não ia poder vir para a escola hoje. Nossa, eu to muito preocupada!
– Ô Mônica, o que está acontecendo com a Magali? Vocês duas andam de segredinhos pra lá e pra cá e a gente fica aqui sem saber nada? - Cebola protestou fechando a cara, sendo apoiado pelo Cascão.
– Eu também quero saber.
– A gente ia contar para vocês dois hoje, só que agora eu não sei se devo... é algo dela, não meu... e pra ser sincera, eu nem saberia contar direito. É meio confuso de explicar, acho que só ela vai saber falar o que aconteceu.


O Cascão estava sentado no encosto do banco do pátio, com os pés apoiados no assento e de onde estava pôde ver o Quim andando no pátio tranquilamente.


– Aê gente, olha o Quim lá. Será que ele sabe que a Magá não veio hoje?
– Humpt! Ele mal deve saber se ela tá viva ou morta! - Mônica falou torcendo o nariz .
– Ah, fala assim não. Ele sempre foi doido com ela. Ô Quim, dá um chego aê véi!


Foi preciso eles que eles chamassem algumas vezes até serem ouvidos pelo rapaz. O que eles queriam? Talvez lhe encher a paciência com aquela conversa de não estar dando atenção suficiente para a Magali. Era bem provável que ela tivesse reclamado de algo com ela e aquilo o irritou um pouco. Ele estava muito ocupado, precisava cuidar da sua carreira e ela só pensava em si mesma e em suas necessidades?


– E aí, gente... - ele cumprimentou sem interesse.
– Você por acaso ficou sabendo que a Magali não veio hoje? Parece que ela ficou doente e mal consegue sair da cama. - Cebola explicou tentando despertar algum interesse em Quim. Quem sabe assim ele não se preocupava mais em lhe dar atenção?
– Sério? O que ela tem?
– A mãe dela não soube dizer. Só falou que ela nem conseguia levantar da cama, estava muito fraca, pálida e mal podia falar direito.
– Ah, sei.


Os três ficaram esperando que ele demonstrasse alguma preocupação ou pelo menos dissesse que ia visitá-la depois da aula. Nada. Aquilo era mesmo preocupante. Em outros tempos, ele estaria arrancando os cabelos de preocupação e jamais deixaria de passar na casa dela depois da aula, certamente levando uma grande cesta cheia de frutas, doces, pães, bolos e vários outros quitutes que ela gostava.


Mônica não agüentou aquilo.


– Escuta, por que você não passa lá na casa dela hoje à tarde? Ela vai ficar muito feliz.
– Hum... se der, eu telefono para ela.


Aquilo foi demais para o seu pavio curto.


– Ô cabeção, eu falei em passar na casa dela, não telefonar! Por acaso não ouviu que a Magali tá doente?
– Eu ouvi sim, mas pelo visto não é nada grave, senão ela estaria no hospital. Eu estou muito ocupado e não sei se vou ter tempo de ir a casa dela.


Cebola e Cascão tiveram trabalho para impedi-la de socar o nariz do rapaz, que recuou um pouco para evitar as suas investidas.


– Ah, gente, qualé? Ela nem está morrendo, está? Acho que não. Se querem saber, nem duvido nada de tudo isso ser só manha para chamar a atenção. Eu não tenho tempo para isso, tá legal? Minha vida não gira ao redor dela.


Ela soltou-se dos dois e agarrou Quim pela gola da camisa, erguendo-o um pouco do chão.


– Manha? Você acha mesmo que tudo isso é manha? Como você tem coragem de falar isso da Magali? Ela nunca fez esse tipo de coisa, seu grosso, estúpido, ignorante!
– Ei, Mônica, calma! Não vale a pena! Cebola falou tentando afastá-la dele.
– É isso aí, deixa esse mané pra lá! De tarde a gente passa na casa da Magali. Se ele prefere ficar trancado na cozinha do pai dele queimando rosca, deixa quieto.


Se a Monica não estivesse por perto, Quim teria dado um soco na cara do Cascão por causa daquele comentário de mau gosto. Será que eles não podiam entender que ele tinha coisas importantes para fazer? Se a Magali não tinha nada de grave, por que ele deveria largar tudo o que estava fazendo e correr feito louco só para ficar paparicando uma garota manhosa?


– Escutem aqui uma coisa...
– Não vamos escutar nada. Se você não quer dar nenhum apoio para a Magali, então não temos nada para conversar. Melhor vazar daqui antes que a gente resolva deixar a Mônica te dar uns sopapos!


Cebola parecia falar sério e por isso Quim desistiu de tentar argumentar com eles. Claro, ninguém ia tentar enxergar o seu lado. Todos eram amigos dela desde crianças, nada mais natural que ficassem do lado dela, não dele. Paciência. Ele não ia se desgastar com isso. Havia coisas mais importantes em que pensar.


– Ah, vocês deviam ter deixado eu dar murro nesse grosso!
– Deixa para lá, não ia resolver nada mesmo.
– Credo, o que deu nele? Nem eu sou tão desligado assim. - se a Cascuda ficasse doente, ele nunca deixaria de visitá-la.
– Vocês tem razão, ele não vale a pena. Depois da aula a gente vai ver a Magá. Vamos mostrar para esse idiota que ela tem bons amigos com quem contar.


***


A noticia da moça humana que era capaz de curar aquela doença se espalhou como cheiro de peixe fresco e em pouco tempo todos queriam conhecê-la. Ao ver a quantidade de pessoas que ainda precisavam de ajuda, Felicius não pode deixar de ficar preocupado. Na noite anterior, Magali tinha ficado totalmente esgotada a ponto de o guarda precisar carregá-la de volta para casa, tamanha sua exaustão.


Ele poderia facilmente ter providenciado um bom quarto ali mesmo no palácio, mas ela insistiu em ser levada de volta para casa. Se seus pais acordassem de manhã e não a vissem em seu quarto, ia ser uma confusão enorme. Por isso ele ordenou que o guarda a levasse de volta, em segurança, e que fosse gentil ao levá-la. Nada de carregá-la no ombro como se fosse um saco de ração.


"Só espero que ela esteja bem... nossa, ela se esforçou demais ontem!"


Ao ver que era capaz de curar aquela doença, ela começou a tratar as pessoas, uma atrás da outra e em no espaço de duas horas tinha curado toda uma enfermaria, que devia ter pelo menos umas trinta pessoas. Não era a toa que ela tinha ficado cansada daquele jeito. E considerando a quantidade de pessoas que ainda estavam doentes, ainda tinha muito o que fazer e aquilo o preocupava. Ele queria muito ajudar seu povo, mas não estava disposto a sacrificá-la por causa disso. Não, com certeza devia haver outra alternativa.


"A biblioteca! Por que não pensei nisso antes?" havia uma grande biblioteca no palácio e ali em algum lugar deveria haver algo sobre a entidade Wyn e os poderes que os olhos de gato forneciam aos humanos. Seu povo era muito organizado e valorizavam o conhecimento, sempre registrando tudo em livros e os guardando cuidadosamente na grande biblioteca do palácio. "Nada de perder tempo! Mas antes..." ele resolveu tomar uma providência especial. Era preciso também cuidar dela.


***


– Filho, não vais ver a tua gaja?
– Nós temos muitas encomendas para hoje.
– Ora, pois! Deixa isso comigo, não é tanta coisa assim.
– Er... mais de tarde eu vou fazer uma visita para ela. Agora os amigos dela devem estar lá. - ele não sentia vontade de encontrar os amigos da Magali depois daquela discussão. Ia ser muito constrangedor.


Engraçado... antes, Magali era praticamente o centro de sua vida e ele fazia tudo o que podia para agradá-la. O que teria mudado? Não que ele tivesse deixado de gostar dela. Não, ele ainda gostava dela. Do contrário, teria terminado tudo. Ele só não entedia por que já não tinha por ela o mesmo interesse e dedicação de antes. De certa forma, era compreensível ela se sentir deixada de lado, já que estava acostumada a receber sua atenção o tempo todo.


Quem sabe não fosse melhor terminar tudo? Não, talvez não. Ele tinha medo de se arrepender depois. Magali era uma moça bonita, meiga, carinhosa e que o aceitava como ele era e também adorava comer seus quitutes. Onde ele ia arrumar outra namorada como ela? Por outro lado, não seria melhor dar a ela um pouco mais de atenção? Ele não sabia e por fim achou melhor dar um tempo e ficar afastado para colocar as idéias no lugar. Seria melhor assim.


***


– Você se sente melhor?
– Sim, um pouco. Nossa, eu fiquei um caco!
– Também pudera! Você exagerou demais! Devia ter ido mais devagar na primeira vez.
– Pode ser, Mingau, mas eu não agüentei ver aquelas pessoas sofrendo. Quando terminava um, via que outro também precisava de ajuda e não conseguia parar.
– É... e aquele reizinho de meia tigela também não fez nenhuma questão de te pedir para parar, né?
– Não fale assim, ele só estava preocupado com seu povo. E o Felicius ficou comigo o tempo inteiro e até me deu algo para comer, apesar de eu não gostar muito de ração de gato.


Foi difícil para ela engolir aquela refeição. Aquilo podia ser gostoso para os gatos, não para os humanos. Para falar a verdade, era até pior do que a ração que ela dava para os seus gatos, que ela já tinha provado um pouco antes.


Quando o médico a examinou, chegou à conclusão de que era cansaço e talvez deficiência alimentar. Ele só recomendou repouso, uma alimentação reforçada e algumas vitaminas, nada mais. Pensando nisso, sua mãe fez um almoço reforçado para a filha, que comeu tudo mais para agradá-la do que por estar fome.


Ela voltou seus olhos para a grande cesta que estava sobre a mesa de centro da sala. Depois do almoço, sua mãe precisou sair para fazer algumas compras e aproveitando-se disso, um guarda enviado por Felício lhe trouxe aquela cesta e ela não pode deixar de ficar com pena dele. Andar durante o dia era mais difícil e ele ainda teve que carregar aquela cesta enorme! Para retribuir a gentileza, ela curou o guarda da gripe ao perceber que ele estava ficando doente.


– Se não for abusar muito, eu tenho um filho que também está doente...
– Você pode trazê-lo aqui essa noite?
– Sim, sem problemas.
– Então traga-o aqui depois das dez horas que eu dou um jeito.


Ele foi embora feliz da vida. Todo aquele trabalho tinha valido a pena.


– Hum... parece que tem coisa boa aí! - Aveia falou cheirando o conteúdo da cesta.
– Nossa, quanta coisa! Parece que o Felício quer que eu coma muito bem!


Dentro da cesta havia frutas, três grandes garrafas de leite e também carne, muita carne. Dois belos salmões que pareciam ter sido pescados naquele dia, um grande pedaço de carne de boi, certamente era filé mignon. Nossa! Carne de primeiríssima! Também tinha fígado, que ela sabia ser rico em ferro e bom para combater a anemia e também alguns cortes de frango. Será que aquilo tudo ia caber no freezer? E como ela ia explicar para sua mãe a origem daquele presente inusitado?


Ela não pode deixar de ficar curiosa. Comer carne e tomar leite era de se esperar, mas será que os gatos comiam frutas ou o Felicius andou pesquisando algo sobre a alimentação humana só para lhe fazer aquela cesta?


– Que coisa... e o Quim nem deu notícia! Ah, deixa pra lá. Eu tenho quem se importe comigo.


Ela estava certa. Havia pessoas que se importavam e isso ficou evidente quando a campainha tocou e ao atender, ela deu de cara com seus melhores amigos.


– Como você está?
– O que aconteceu? Nossa, você tá pálida!
– Tem se alimentado direito?
Todos faziam perguntas ao mesmo tempo e foi preciso que ela pedisse para eles se acalmarem um pouco.
– Calma, gente, tá tudo bem! Eu me sinto melhor agora.
– Bom, a gente trouxe umas coisas para você, mas parece que alguém passou na nossa frente... Mônica falou vendo uma grande cesta sobre a mesa de centro da sala. Será que o Quim finalmente tomou vergonha na cara e resolveu fazer uma visita para a namorada?
– Caraca, olha que cestão... peraí! O Quim te mandou isso??? - Cascão perguntou segurando um grande peixe pelo rabo.
– Ué! Que tipo de presente é esse? - Cebola também perguntou ao ver que ali tinha outros tipos de carnes, leite e frutas. Tudo bem, fazia sentido mandar frutas, mas pelo que ele sabia, Quim trabalhava em uma padaria, não num açougue.


Magali mordeu os lábios, tentando pensar em uma forma de explicar aos amigos o que tinha acontecido na noite anterior. A Mônica ia dar um tremendo piti por causa disso e ela ainda tinha que explicar sobre os poderes que tinha ganhado da entidade Wyn... céus! Como ela ia começar?


– Olha, gente, acho que a história vai ser bem comprida...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor De Gato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.