Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 3
Eu acho que vi um gatinho...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/182818/chapter/3

De manhã cedo, no Colégio do Limoeiro, o pátio estava repleto de alunos que jogavam conversa fora enquanto não soava o sinal para a primeira aula. Fofocas, risos, alguns gritos, gracejos e muita conversa alta.


– Ô cabeção, que história é essa de mestre do jogo? Você sabe que quem venceu o vídeo-game fui eu!

– Venceu nada, eu acumulei muito mais vidas.

– E eu desvendei mais enigmas!

– Grande coisa, quem teve mais ação foi meu personagem!


Cascão e Cebola debatiam acaloradamente quem teria vencido o jogo.


– Ai, ninguém merece esses dois, viu? – Mônica balançou a cabeça, acompanhando a discussão dos amigos. Como eles podiam dar tanta importância a algo tão bobo como um videogame? Hilário mesmo era eles falarem dos personagens como se fossem pessoas de carne e osso.

– Bem, dizem que as meninas amadurecem mais cedo. Acho que é verdade. Ah, deixa eles, Mô. Um dia eles crescem.

– Aham.

– Vamos que a primeira aula vai começar.

– Primeira aula? Ah, tá. É aula do professor Rubens, né?

– Hã... não é por isso não, acontece que vai ter matéria nova, é uma aula muito importante e... – ela tentou se justificar, com o rosto vermelho. Era meio difícil admitir que ela apenas gostava de ficar admirando o professor bonitão.

– Ih, deixa disso. Melhor mesmo a gente ir. Ficar aqui ouvindo esses dois crianções brigando por causa de um joguinho também não vai dar em nada.


Foi engraçado ver a amiga quase dando pulinhos de alegria ao saber que em pouco tempo ia poder assistir sua aula preferida, com seu professor preferido. Ele até que era mesmo bonitão, mas não o suficiente para fazê-la ficar babando durante uma aula inteira.


Não muito longe dali, escondido atrás de um pequeno muro, algo espreitava.


– Que foi, Maga?

– Ah, é aquele gato ali...

– Heim? Que gato? Tem gato nenhum ali não.

– Ué, ele fugiu...

– Deve ter sido sua imaginação. – nos últimos tempos, Magali parecia estar vendo gatos por toda parte, o que de certa forma a preocupava um pouco. Parece que aquela aventura no Reino dos Gatos andou mexendo com a cabeça dela.


***


– O DNA é formado de ácido desoxirribonucléico. As fitas de DNA são longos polímeros formados por milhões de nucleotídeos ligados uns aos outros. Individualmente, os nucleotídeos são bastante simples, consistindo de três partes distintas...

Quem a visse, pensaria que ela estava muito concentrada na aula, mas toda sua atenção estava voltada para o professor. Que culpa ela tinha de ele ser tão bonitão? E daí que as amigas faziam piadinhas, dizendo que ela pagava pau para o professor Rubens? Olhar não arrancava pedaço.


Quando o professor virou para o quadro, alguém lhe deu um pequeno tapa na cabeça. Não doeu, apenas lhe deu um susto.


– Ei, presta atenção na aula, não no professor!

– Ai, Mô, eu estou prestando atenção na aula sim!

– Sei... – ela falou dando uma risadinha.

– Eu não quero ninguém tricotando na sala de aula! – o professor chamou a atenção sem desviar os olhos do que estava escrevendo no quadro e imediatamente as duas ficaram em silencio.


Já que o professor estava de costas para a turma, ela se distraia olhando para os lados. A Carmen estava mais preocupada com suas madeixas do que com a aula. Denise olhava suas mensagens no celular, tomando cuidado para não ser pega com a boca na botija. Com certeza ela devia estar ansiosa por alguma nova fofoca. Cebola conversava bem baixo com o Cascão, tomando cuidado para não chamarem a atenção do professor.


Foi quando um vulto na janela lhe chamou a atenção. Foi muito rápido. Que estranho... quando ela olhava para a frente, parecia ver algo na janela pelo canto do olho. Mas quando ela tentava olhar melhor, o vulto sumia? O professor voltou-se para a turma novamente e ela procurou se concentrar na aula. A ultima coisa que ela queria era levar uma bronca dele por ficar olhando para a janela.


***


– Parece que a visão dela está se desenvolvendo. Ela quase me viu.

– Curioso... mesmo antes de eu lhe dar o dom, ela já está começando a ver coisas que os humanos não vêem. Muito revelador.

– Por que você quer que eu siga essa menina por aí? Parece que ela está começando a ficar assustada de tanto ver vultos por aí.

– Então vê se melhora essa cara! Aposto que sua carranca está assustando a pobrezinha!

– Ei! As gatinhas sempre falam que eu sou um gato charmoso e elegante, não me vem com essa não! – o gato rosnou arrepiando os pelos mesmo sabendo que aquilo não a assustava. Ela só ria, mostrando suas presas de gato.

– Tá, deixa disso. Eu só estava brincando. Continue seguindo a moça e observe. Precisamos ficar de olho nela daqui em diante.

– Você é quem sabe...


***


– Credo, Maria, você vai comer só isso? – Cascuda perguntou olhando para o lanche da amiga, que era apenas um sanduíche de pão de forma light com umas folhinhas de alface e um copo de suco com adoçante. Um faquir indiano com certeza comia mais do que aquilo.

– Para mim está ótimo, obrigada. Eu não sei como vocês conseguem comer essas coisas hiper-calóricas!

– Ih, não exagera, criatura! Minha comida nem é tão calórica assim.

– Deixa quieto, Mô. Para ela, qualquer coisa que passe de 5 calorias já é hipercalórico. – todas deram uma risada, apesar da carranca de Maria. Manter o corpo magro e bonito exigia alguns sacrifícios que ela não se importava em fazer. Sempre valia a pena.

– Ué, Magali... o Quim não te trouxe seu lanche de novo? – Marina quis saber ao notar que a amiga tinha pego o próprio lanche sozinha. Aquilo estava se repetindo há mais de um mês.

– É que o Quim anda muito ocupado, sabe... ele quer seguir a carreira de chefe de cozinha e precisa estudar muito. – ela tentou justificar. – então eu não posso ficar esperando que ele deixe tudo de lado para fazer as coisas para mim, né...


Mônica levantou uma sobrancelha, mas não disse nada. A Magali ainda não tinha se dado conta de que seu namorado estava andando meio estranho ultimamente. Sempre adiando os encontros ou chegando atrasado, sempre arrumando desculpas para não ficar com ela... ultimamente ele parecia estar gostando mais de encher pastéis, fazer bolos ou confeitar tortas do que de ficar com ela. Ainda assim, ela preferiu não falar nada. Talvez fosse só uma fase.


– Meninas, vocês não sabem do babado que está rolando! – uma voz espalhafatosa chamou a atenção delas. Era Denise, a revista de fofocas ambulante que sempre tinha algo novo na ponta da língua.


Embora tentassem resistir, as meninas sempre deixavam cair em tentação e ouviam suas fofocas. Não era somente o que ela falava e sim a maneira como falava que despertava a curiosidade de todas.


“Hum? O que aquele gato faz aqui?” Magali tinha percebido um gato amarelo que andava tranquilamente entre as pessoas. Coitado, se alguém o visse, ia ser aquele fuá! Ela deu uma desculpa qualquer e levantou-se para tentar pegar o gato e tirá-lo dali antes que alguém mais o visse.


À medida que ela tentava se aproximar, o bichano foi se afastando até sair do refeitório. Será que aquele pessoal tinha ficado cego? Por que ninguém mais percebia a presença do gato?


Ele virou uma curva no corredor e ela correu ao seu encalço. No entanto, o corredor estava vazio. Onde o gato tinha ido parar? Um arrepio de medo percorreu sua espinha. O corredor era comprido, todas as salas estavam com as portas fechadas e não havia saída ali. Nenhuma janela para escapar, nenhum vaso de plantas onde ele pudesse se esconder, nada! Teria sido só sua imaginação? Não... aquele gato era real demais. Antes eram apenas vultos, depois um gato de verdade, peludo, com grandes olhos verdes... era como qualquer gato comum.


– Magali? O que houve? Você saiu tão de repente e não voltou.

– O que houve? É... ali no corredor...


Mônica deu uma olhada no corredor, tentando ver se tinha algo estranho ali. Não, tudo parecia normal.


– Não tem nada aqui.

– Exato!

– Como?

– Não tem nada ali, mas devia ter um gato. Um gato correu para lá, mas sumiu.

– Peraí, eu não to entendendo nada!

– O gato, Mô! Aquele gato amarelo que eu tinha visto no refeitório.

– Que gato amarelo? Tá viajando, mulher? Você acha que se tivesse um gato lá no refeitório, ninguém teria notado?

– Mas tinha, só que ninguém notou.

– Anda, vamos voltar para a sala que o sinal já vai bater.

– Você não acredita em mim?

– Bem... de certa forma eu acredito. – era obvio que Magali andava vendo coisas e realmente acreditasse que tinha gatos andando pela escola. Apesar de não ser mentira, ela sabia que eram apenas alucinações da amiga. Mais tarde e com calma, ela tentaria convencê-la a conversar mais abertamente sobre isso, talvez desabafar.


As duas foram até a sala de aula e Magali tentou esquecer o assunto. Talvez fosse mesmo fruto da sua imaginação.


***


– Nossa, a menina conseguiu me ver!

– Sim, totalmente.

– Só não sei se foi boa idéia me fazer desaparecer. Viu como ela ficou assustada?

– Ora, também não é para tanto. Ela também precisará se acostumar com essas coisas já que farão parte da vida dela. Vem, vamos embora. Eu também não quero que ela comece a achar que ficou maluca. Ela já está pronta para receber seu novo dom e eu não vejo por que esperar.


Os dois atravessaram a parede e desapareceram gradualmente a medida em que subiam para o céu azul daquela manhã. Se aquela moça soubesse o quanto sua vida ia mudar...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!