Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 24
E então... surgem novos pontos de vista




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– Quer dizer que você e o Gatonildo estão namorando? Demorou, heim!
– Como assim demorou?
– Ah, fala sério! Não é de hoje que ele fica te olhando com olho de peixe morto. Fico feliz que pelo menos VOCÊ tenha conseguido definir sua situação, já que ainda existem CERTAS pessoas lerdas que só vendo!
– Heim? O que você quer dizer com isso? – Cebola perguntou desviando os olhos do seu hambúrguer com batatas fritas.
– Não disse? Uma lerdeza de dar pena.

O Cascão se limitou a dar uma risada. Seu amigo podia ser bem lento às vezes. Cebola continuou sem entender nada e voltou a comer. Por que as garotas sempre usavam uma linguagem estranha e difícil de entender? Pareciam até espiões conversando através de códigos.

Magali ainda suspirava lembrando dos bons momentos que eles passaram juntos. Eles até tinham beijado de língua, coisa que ela nunca tinha experimentado antes! Quim nunca a beijou daquela forma e ela não se lembra de, uma única vez, ter sentido a língua dele. Até que era bom, mas não despertavam nem de longe as mesmas sensações que ela sentiu quando estava com Felicius. Pena que tenha durado tão pouco graças à ordem do seu pai de estar em casa antes das oito.

Antes de irem embora, Felicius quis levá-la para a presença de seu pai e anunciar o namoro deles. Ela tremia de medo, achando que o rei fosse ter um ataque de fúria e ordenar que ela fosse jogada as feras. Para sua surpresa, ele deu sua benção e desejou felicidades. Até pareceu que ele já estava esperando por isso. Que coisa! Pelo visto, todo mundo sabia do interesse de Felicius, menos ela!

– Menina, fala aí! É verdade que você acabou de colocar a fila pra andar? Vai, conta tudo pra titia Denise, não regula!
– O que? Você já está sabendo?
– Seria uma vergonha nacional se eu ainda não soubesse! Escuta, por acaso você emprestaria o seu namorado só por um instantinho?
– Ficou doida? Namorado não se empresta!
– A louca! Não é para isso não! É que a Cacá e eu estamos tentando convencer o Franja a fazer uma máquina de clonagem, sabe... e acho que o seu bofe é um espécime perfeito para fazermos uns testes.

Magali acabou levando na brincadeira apesar de no fundo, Denise estar falando sério. Que inveja! Como ela conseguiu descolar um rapaz tão lindo enquanto ela e Carmen ainda estavam sozinhas apesar dos seus melhores esforços? Era muito difícil conseguir alguém considerando que pelo menos uns quatro rapazes da turma, além do Cebola, estavam de olho na Mônica.

Depois de falar mais do que papagaio na chuva no ouvido dos quatro, Denise foi embora louca para postar aquelas fofocas em seu blog e Mônica não pode deixar de torcer para que Quim acabasse lendo e descobrindo que a Magali já tinha colocado outro em seu lugar. Ele ia morrer de raiva com certeza!

***

“Interessante... eu não sabia de nada disso!” ele pensou enquanto ia devorando um livro que Magali tinha lhe dado de presente. Era uma grande enciclopédia sobre gatos, uma das mais completas que tinha. Havia lindas figuras, descrições das principais raças de gatos e o mais interessante: a história completa deles com a humanidade. Desde que eles tinham começado a namorar, ele começou a se esforçar para conhecer mais os humanos e sua relação com os gatos e assim melhorar o relacionamento deles.

“Então quer dizer que os humanos conhecem os gatos há 9500 anos? É muito tempo!”

Ele mal pode acreditar ao ler sobre a fascinação que os antigos egípcios tinham pelos gatos.

“Interessante... ‘Registros encontrados no Egito, como gravuras, pinturas e estátuas de gatos, indicam que, nessa época, os gatos eram venerados e considerados animais sagrados.’ Esse povo deve ter sido fantástico!”

Ele continuou lendo, encantado.

‘Na verdade, o amor dos egípcios por esse animal era tão intenso que quem matasse um gato era punido da mesma forma e, em caso de morte natural do animal, seus donos deveriam usar trajes de luto’ Sério? Eu nunca ia imaginar uma coisa dessas!”

Lendo aquele livro, ele viu que outras civilizações também adoravam os gatos e durante séculos eles foram considerados até criaturas divinas. Por que nunca ninguém lhe falou sobre isso?

Ele leu também que somente no período da historia humana conhecido como Idade Média é que começou o preconceito e a perseguição contra os gatos, especialmente os gatos pretos. Fazendo as contas, ele descobriu que foi mais ou menos nessa época que o povo gato começou a ter algum contato com os humanos. Até então eles viviam totalmente isolados. Então era isso... seu povo teve os primeiros contatos com os humanos durante uma época ruim e com isso acabaram generalizando. Será que alguém em seu reino conhecia toda a história? Talvez não.

Seu pai precisava ler aquilo, com certeza. E se possível, as outras pessoas do seu reino também. Muito do que eles pensavam sobre os humanos era mais preconceito do que realidade e se seu pai visse como a relação entre eles e os gatos era especial, certamente acabaria mudando de opinião.

***

– Uma civilização que idolatrava gatos? Nunca ouvi falar.
– Isso porque nosso contato com os humanos é muito recente comparado com toda a história da humanidade com os gatos.
– Entendo...

Fidélius ia lendo o livro e olhando as belas fotos de gatos. Ele também não imaginava que os humanos tinham tanta adoração pelos felinos.

– E essa instituição que você visitou... como chama mesmo?
– Ame um Gatinho.
– Isso. Existem mesmo pessoas que acolhem e ajudam os gatos de rua? Se você não tivesse me mostrado as fotos, eu jamais iria acreditar!
– Pois pode acreditar, meu pai. E há pessoas assim em grande quantidade por todo o mundo. Os humanos não são aqueles monstros que nós pensamos que eles fossem!

Estava difícil para ele digerir tanta informação. Nunca lhe disseram que os humanos tinham um lado bom também. Ele só havia aprendido sobre o lado ruim.

– Todo povo tem seu lado bom e ruim, meu pai. Nós também somos assim.
– Nós? Claro que não!
– O senhor sabe que nem todos os gatos do nosso povo são bons. Por acaso ignora as caçadas cruéis que muitos promovem?
– É diferente, nós caçamos para comer.
– E não podemos simplesmente matar o animal sem torturá-lo por horas a fio?
– ... – ele não soube como argumentar. Por mais que detestasse admitir, seu filho estava certo. Também havia muita coisa errada em seu reino.
– Talvez seja por isso que temos tanta raiva dos humanos. Porque através deles também vemos nossos defeitos.

Felicius explicou um pouco sobre o que tinha aprendido da psicologia humana, deixando seu pai estupefato. Como seu filho tinha ficado tão sábio e inteligente? Se ambos não estivessem sozinhos, se houvesse outras pessoas por perto, ele não teria aceitado nada daquilo. No entanto, só havia ele e o filho na sala. Não havia para onde fugir.

– Confesso que tudo isso é confuso demais para um rei velho como eu...
– É confuso para mim também. Mas eu aprendi com os humanos que é normal ficar confuso, ter duvidas, medo, inseguranças... é normal cometer erros e falhas. É assim que eles aprendem. Quem não erra, não aprende nada.
– E o que mais você aprendeu com os humanos? – ele perguntou interessado.
– Ao contrário de nós, eles não acham que chegaram ao auge. Para eles, isso significa que há um longo caminho a percorrer e que podem melhorar indefinidamente. Não há limites, não há restrições. E acredite em mim, meu pai: quando eles realmente querem algo, quando se esforçam de verdade, conseguem verdadeiros milagres com os quais nós nem sonharíamos.
– Parece que você os admira, afinal de contas. Não estaria se iludindo demais com eles?
– Não. Eu ainda sei que existem humanos ruins, pessoas cruéis capazes de ferir e machucar qualquer ser vivo. Não sou bobo de pensar que todos são bons e perfeitos. No entanto, eu aprendi que não é sábio generalizar e julgar uma espécie inteira só por causa dos atos de alguns.
– Você será um bom rei o nosso povo, disso eu não tenho duvidas. – ele falou, inchado de orgulho pelo filho. Era por isso que ele não podia deixar que seu irmão vencesse os grandes desafios. Seu povo merecia um rei bom, sábio e justo, não um tirano cruel e sanguinário.
– Obrigado, meu pai.
– Ainda assim, eu não consigo esquecer das crueldades que os humanos vem cometendo com os gatos ao longo dos anos.
– Agora o senhor sabe que a historia não tem um único lado. Eu prefiro ver o lado bom, embora não ignore o lado ruim. E quer saber, pai?
– O que?
– Eles erraram sim e estão fazendo o que podem para consertar. O que NÓS fizemos?
– Nós?
– Sim. Gatos são a nossa espécie, nossos irmãos e mesmo assim nunca fizemos nada para melhorar a situação deles! Os humanos, por outro lado, mostraram se importar com os gatos e com todos os outros animais. Há até pessoas que dão a vida por outras espécies! O senhor sabia que existem até leis a favor dos animais? No nosso reino não existe nada disso! Se alguém do nosso povo cometer algum tipo de crueldade com um animal, não acontecerá nada!

O rei ficou sem fala. Aquilo nunca tinha ocorrido antes e de certa forma ele ficou até envergonhado. Como eles podiam ser um povo magnânimo e civilizado se não eram capazes de fazer nada contra quem cometesse abusos contra seres indefesos? Pelo menos nesse ponto, os humanos estavam um passo a frente.

– Tem razão, meu filho. Nesse ponto você tem toda razão. É preciso fazer algo para acabar com esse tipo de coisa no nosso reino também. E também precisamos fazer nossa parte para ajudar os gatos abandonados. Não podemos deixar que os humanos levem todo o crédito, podemos? Claro que não!
– Não, não podemos. – ele falou, risonho. Seu pai não tinha jeito.
– Seja sincero, você aprendeu tudo isso graças a Magali, não foi?
– Sim. Se não fosse por ela, ainda estaria com a cabeça fechada e limitada. Ela me fez enxergar coisas que eu nunca tinha visto antes. Acho até que fomos injustos ao querer transformar os humanos em gatos.
– Tem certeza? Você foi muito maltratado por eles!
– O problema é que entre os humanos que foram capturados, havia muitas pessoas boas, inclusive uma moça que trabalha nessa instituição que acolhe os gatos de rua.
– Sério? Tem certeza? Impossível, eu jamais teria ordenado que capturassem uma pessoa que ajuda os gatos!
– Mas ela foi capturada, juntamente com outras pessoas de bom coração e que jamais fariam mal a nenhum gato ou qualquer outro animal. Não vê, meu pai? Nós quase punimos pessoas injustamente!
– Não tínhamos como saber!
– Exato. Por isso mesmo não deveríamos ter feito aquilo. Como podemos falar em respeito para com outras espécies se não soubemos respeitar a espécie deles? Não dar a alguém chance de defesa é um grande desrespeito sim!
– Céus... é muita coisa para a minha cabeça... escuta, por que você não vai sair um pouco? Vá ver a Magali, os amigos, faça qualquer coisa. Eu preciso de um tempo para refletir sobre tudo isso.
– E os meus estudos?
– Deixe para depois. Isso pode esperar. Acho que você irá aprender mais indo ao mundo dos humanos.
– Obrigado, eu farei isso!

Depois que o filho saiu, Fidélius ficou pensando em tudo o que foi conversado. Havia muita coisa que ele não conhecia e sequer imaginava.
Ele também tinha outra razão para pedir que Felicius saísse um pouco. Era preciso supervisionar os preparativos para os grandes desafios e não era possível fazer isso com Felicius por perto. Seu filho não podia saber de nada. Não por enquanto. Só depois que tudo estivesse pronto.


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