Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 19
Festival cultural




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O grande pátio da escola estava enfeitado com faixas e balões, por causa do grande festival cultural que a direção estava organizando para permitir diversas manifestações dos alunos. Havia dança, malabarismo, música e vários outros tipos de shows para quem quisesse mostrar seus talentos.

– Ué, cadê a Magali? Não podemos começar o show sem ela!
– Ela disse que foi buscar um amigo, sei lá. Não deu pra entender direito. E manera nas baterias, DC!
– Eu preciso treinar, ué! Vai ser demais! Ah, antes que eu me esqueça, você tá uma gatinha hoje e...
– Caham! Eu estou interrompendo alguma coisa? – Cebola apareceu de repente, olhando DC com a cara mais feia do mundo.
– Claro que tá, seu Mané!

Mônica os deixou discutindo e foi verificar se Magali já tinha chegado. Nada ainda. Que coisa!

– Para onde ela foi, afinal?

***

– Interessante... tem mesmo certeza de que ele falou isso?
– Sim, alteza. Eu ouvi o humano dizer claramente que se vencer esse concurso, terá que ir embora para longe e por isso irá terminar com a moça.

Felicius voltou a olhar para o folheto que o espião tinha conseguido do quarto do balofo. Pelo que ele entendeu, era um concurso de “bolos”. O que era mesmo um bolo? Talvez fossem aquelas coisas que apareciam nas fotos do folheto. A aparência era bem bonita, então ele imaginou que o gosto fosse bom. Os humanos pareciam ter uma relação muito curiosa com a comida. Magali era um bom exemplo disso.

– Fora isso, você ouviu algo mais?
– Apenas que ele tem estudado muito e algumas vezes ele falou com o pai que não podia encontrar com a namorada, estava muito focado em sua carreira e que de alguma forma, ela estava atrapalhando.
– Humpt! Ele não quer dar atenção a ela, mas também não quer terminar tudo de uma vez! Bom, acho que eu posso dar uma ajudinha nisso. Seus serviços foram de grande valia, espião. Está dispensado.

O homem gato fez uma reverencia e retirou-se da sala, deixando o príncipe com seus pensamentos.

– Que ironia... se eu quiser tirar esse idiota do meu caminho, terei que ajudá-lo! Ah, céus! Tudo bem, eu não estou fazendo isso por ele e sim por ela.

O concurso estava marcado para ser dentro de quatro dias, até lá ele ia dar um jeito de pensar em alguma coisa para garantir que seu rival vencesse e com isso fosse embora para bem longe dela. Isso ia ter que ficar para depois, já que ele tinha um compromisso importante para aquela tarde.
Ele olhou seu dedo, onde tinha um bonito anel de prata que ela tinha lhe dado. Tinha servido muito bem e ele ficou todo derretido quando ela lhe deu aquele presente.

– Agora preciso me apressar, não posso deixá-la esperando.

Magali tinha ido visitá-lo quando o espião chegou. Como não queria esperar para saber das novidades, ele pediu que ela esperasse só por alguns minutos, já que a conversa ia ser rápida.

– Me desculpe, espero não tê-la feito esperar muito.
– Tudo bem, tem problema não. Está pronto?
– Totalmente pronto!
– E o seu pai?
– Gastou uma hora inteira fazendo recomendações, mas no fim acabou aceitando.

***

– Ufa, até que enfim ela chegou... peraí, quem é aquele cara com ela?

Todos olharam e ficaram tão pasmos quanto a Mônica. Aquela era mesmo a Magali, mas quem estava com ela? Ninguém conhecia.

– Quem é ele?
– Ué, Mônica, você não conhece? Ela não te falou?
– Não, nadinha!

Magali se aproximou dos amigos com um sorriso maroto e achando graça do espanto deles. Com ela estava um rapaz alto, cabelos castanho claro com mechas escuras e expressivos olhos azuis. Ele era muito bonito, charmoso, atraente e parecia ter um corpo atlético e bem feito. As moças ao redor já tinham notado a presença dele. Um gato novo no pedaço!

– Oi, pessoal, demorei?
– Ô Magali... é...

Todos olharam para o recém chegado sem entender nada e esperando por uma explicação.

– Ué, não se lembram dele? Vocês já o conhecem.
– Conhecemos?

Outro silencio enquanto os outros tentavam lembrar de onde tinham visto aquele rapaz. Tinha algo de muito diferente nele...

– É o Felicius, gente! - Ela falou, entre risadas. – e aí, agora se lembram?
– Cuméquié?
– Saudações a todos. – o príncipe cumprimentou, um tanto formal.
– Esse aí é o Gatonildo?
– Cacilda!
– Caraca! Engraçado... eu acho que você tinha... tipo assim... um pouco mais de pelo na última vez que te vi... – o Cascão falou olhando bem para o rosto de Felicius.
– O Ângelo me ajudou a fazer um artefato para dar forma humana a ele.
– Ahhhh bom! Agora tá explicado!
– Magali me trouxe para assistir ao festival do seu colégio e confesso que estou muito curioso. É verdade que vocês vão cantar?
– É sim. – Cebola respondeu, se sentindo um pouco mais a vontade perto do príncipe, que demonstrou vir em paz. – nós temos uma banda e vamos tocar na abertura do festival. Vai ser daqui a pouco, vocês chegaram na hora.

Apesar do susto inicial, aos poucos eles foram se acostumando com a presença de Felicius e acabaram esquecendo do incidente do Reino dos Gatos. Ele era muito curioso, se interessou por tudo o que eles faziam e acompanhou com entusiasmo o último ensaio que eles precisavam fazer antes de iniciar a apresentação.

– Nossa, eu não sabia que você tinha uma voz tão bonita!
– Ah, que é isso... – ela ficou com o rosto vermelho.

Todos trocaram olhares maliciosos ao ver como o príncipe se derretia todo diante dela. Que coisa! Se o Quim não ficasse esperto, ia acabar sendo passado para trás com certeza!

***

– Olá, pessoal! Começa agora o primeiro festival cultural do Colégio Limoeiro! Hoje nós teremos vários tipos de atrações e a primeira delas é a banda TMJ!

A platéia gritava, batia palmas e até Felicius se deixou levar pela empolgação. A música começou com DC na bateria e ele logo foi acompanhado pelos outros, com Mônica no vocal e Magali na segunda voz.  A empolgação era geral e Felicius mal conseguia desviar os olhos dela. Para o show, Magali escolheu um chapéu com orelhas de gato e uma jaqueta com um tecido imitando pele na gola e nas mangas. Ela estava mesmo parecendo uma gatinha!

Quando o show da banda acabou, houve muitos aplausos, especialmente de Felicius. Aquele festival humano parecia ter tudo para ser muito divertido e ele mal podia esperar para ver as outras atrações.

***

– Vamos lá, todo mundo sorrindo! Vocês arrasaram, galera! Ficou tudooo! – seu blog ia bombar com aquelas fotos e vídeos.

Outros membros da turma também vieram cumprimentá-los e dar os parabéns e Magali resolveu aproveitar a ocasião para apresentar Felicius, ainda que ela não pretendesse revelar a identidade dele naquele dia.

– Gente, bota a chapa pra esquentar que tá vindo aí um filezão de primeira! – Denise falou assim que viu Magali chegando com Felicius. - Menina, onde foi que você arrumou esse gatão? Me fala que eu vou pegar um pra mim!

Todos deram risada e Felicius acabou rindo também, apesar do susto inicial com o jeito espalhafatoso de Denise. Carmen também não conseguia tirar os olhos dele. Que droga, por que ela não conseguia descolar um desses?

***

– Está gostando do festival?
– Nossa, estou adorando! Vocês sabem mesmo se divertir!
– E você ainda não viu nada. Tem muita coisa para acontecer hoje.
– Mal posso esperar. Só queria perguntar uma coisa... por acaso você falou para os outros que eu sou do reino dos gatos?
– Não, por que?
– Então como aquela sua amiga que usa os cabelos amarrados dos lados sabia que eu sou um gato?
– Heim? Ela não sabe!
– Mas ela me chamou de gatão...
– Ah, isso? Ela te chamou assim porque achou você bonito.
– Você quer dizer que entre vocês, ser chamado de gato é um elogio? Juro que dessa eu não sabia! – ele falou agradavelmente surpreso.
– É sim. Gato, gata, gatinha, gatona e derivados significa que a pessoa é bonita e charmosa.

Aquilo o deixou um pouco confuso. Como pode ser possível um povo maltratar tanto os gatos e ao mesmo tempo usar essa palavra como elogio? Ele não teve tempo para pensar muito porque ela pegou em seu braço e o levou para ver um jogo que tinha lhe chamado a atenção.

Era um Dance Revolution, aquele jogo onde a pessoa tinha que dançar pisando no lugar certo. E ela adorava aquele jogo, mas Quim sempre achou aquilo bobo e infantil.

– Como se joga isso? Vou mostrar. Aonde acender, você pisa, entende? Tudo acompanhando o ritmo da musica. Olha só!

Ela dançou uma rodada e ele logo entendeu o sentido do jogo, que para ele pareceu um teste interessante de reflexo e agilidade.

– Agora você.

Felicius resolveu experimentar e acabou gostando do jogo. Para ele era muito fácil acompanhar as luzes, já que ele tinha reflexos mais rápidos do que os humanos. Todos acompanhavam e aplaudiam, impressionados com sua agilidade.

– Nossa, até parece que você jogou isso a vida inteira! Demais!
– Bem, ter reflexos de gato ajuda bastante. Nossa, essa agitação até me deu sede! Onde eu posso beber água?
– Beber água? Ah, não! Aqui tem muita coisa boa para beber. Vem!

Ela o levou até uma barraca e pediu dois sucos e dois sanduíches naturais.

– Eu adoro esse sanduíche, super saudável. O seu tem patê de atum, espero que goste.

Era a primeira vez que ele provava comida humana. Apesar do receio, a curiosidade foi mais forte e o sanduíche estava mesmo muito bom. O suco era de laranja.

– Vocês tomam o sumo das frutas? Interessante! Dá para fazer isso com qualquer fruta?
– Dá sim. O de melancia fica ótimo, pena que não tinha hoje. Dá para fazer suco de abacaxi, maçã, pêssego... é refrescante e saudável.
– Ô Magá, por que tá dando essas coisas pro Felicius? O cara tem que comer comida de verdade!
– Isso parece comestível para mim...
– Tá, é comestível, mas comida boa mesmo é isso aqui! – o Cascão exibiu para ele um enorme cachorro-quente repleto de batata palha, catchup e mostarda. – Um dogão de primeira!
– “Dogão”?
– Cachorro quente, mané!
– Vocês comem cachorro!!!???

Os dois dobraram de rir com a cara de espanto que ele fez.

– Claro que não! Pelo menos não nesse país. – Cebola explicou após conseguir controlar o riso. – é só maneira de falar, não tem cachorro aqui não. Vem, vamos provar um que esse troço aí não dá para encher o bucho de ninguém!

Apesar dos protestos de Magali, eles o arrastaram para outra barraca e lhe providenciaram um cachorro quente tamanho família, com tudo o que tinha direito e uma lata de coca-cola.

– Hum... é bom!
– Num falei? Dá um bom gole aí, tá geladinho.

Ele provou do refrigerante e segundos depois soltou um grande arroto, sendo aplaudido pelos rapazes.

– Saúde!
– Eita! Esse foi dos bons!
– Olha só o meu!

Magali acompanhava tudo, um tanto aflita.

– Que foi, Magá? Os meninos não estão se dando bem com o Felicius?
– Estão sim, bem demais! Estão até ensinando um monte de besteira pra ele! – ela apontou para o Jeremias que mordeu um grande pedaço de hambúrguer e depois espremeu um tubo de mostarda e outro de catchup em sua boca, sendo em seguida imitado por Felicius.
– Hahaha! Se o rei gato vê um troço desses é capaz de enfartar! Por que não tira uma foto e mostra para ele depois?
– Tá doida?

Não foi fácil para o rei aceitar a forma humana de Felicius. Na primeira vez que eles apareceram diante de Fidélius, ele quase teve um ataque e só depois de chamar os guardas várias vezes é que ele se deu conta de que estava diante do próprio filho. O que ele ia pensar se visse Felicius agindo daquela forma?

– Ah, relaxa! Deixa o Gatonildo se divertir um pouco! O coitado passa o dia inteiro ocupado com deveres de príncipe e quase não deve ter chance nenhuma para relaxar.
– Isso é verdade... só que depois eu vou precisar explicar para ele que não dá para levar esses garotos á sério. Já pensou se ele solta um arroto num jantar fino?

Mônica voltou a dar outra risada, imaginando a cena.

***

Eles estavam em frente à casa de Magali. Felicius preferiu deixá-la ali, em segurança e voltar sozinho ao reino dos gatos. Podia ser perigoso uma jovem como ela andar sozinha por aí.

– Nossa, eu nunca me diverti tanto!
– Bom que você gostou. E o que achou dos meus amigos?
– São incríveis. Agora eu sei por que você lutou tanto por eles e fico feliz que tenha vencido.

Ela sorriu, satisfeita. Aquilo poderia ser um início de aproximação entre humanos e gatos. Sua esperança era que Felicius pudesse conhecer melhor os humanos e desfazer a impressão ruim com a qual ele tinha ficado. E também seria muito bom se todos os amigos dela também fossem amigos dele.

– Uma pena eu ter que voltar, mas você sabe como meu pai é. Eu não quero que ele mande um exército atrás de mim. Isso me faria passar a maior vergonha.
– Os pais são assim mesmo, sejam gatos ou humanos. Nem te falo dos micos que o meu já me fez passar.

Eles riram juntos. Gatos e humanos não eram tão diferentes assim afinal de contas.

– Obrigado pelo anel e por esse dia incrível.
– De nada. Espero que você não se incomode por ser um dos meus anéis. É que eu não tinha outro na hora.
– Imagina! Isso só o tornou mais especial para mim.
– Er... então tá... – seu rosto ficou todo vermelho novamente.

Após tomar coragem, ele segurou sua mão docemente, deixando o rosto dela ainda mais vermelho e fazendo seu corpo tremer um pouco. Ele tinha as mãos quentes.

– Magali, por acaso eu posso lhe dar...
– Oi, filha, não vai me apresentar seu amigo?
– Pai?

Carlito apareceu na porta, de repente, olhando atentamente o rapaz que estava com a sua filha. Era preciso estar sempre atento.

Ela superou o susto inicial e se apressou em apresentar o rapaz ao seu pai.

– Esse é o Felicius.
– Muito prazer, senhor – o rapaz o cumprimentou educadamente, deixando homem surpreso. Ainda existiam jovens com boa educação?
– Prazer, rapaz. Você é novo por aqui? Eu nunca tinha visto você antes. – Carlito mal chegou perto dele e começou uma crise de espirros.
– Digamos que sim...
– Escuta, por acaso você tem gatos em casa?
– Hã... mais ou menos...
– Vixe!

Aquilo a deixou preocupada. Apesar da aparência humana, Felicius ainda era um gato e seu pai era alérgico. Haveria alguma forma de curar isso usando magia felina? Afinal, se tinha a ver com gatos...

Com o pai de Magali marcando em cima, Felicius não teve outra escolha a não ser se despedir e ir embora. Pelo menos ele tinha conseguido causar boa impressão em seu futuro sogro, já que o homem foi relaxando ao ver que ele era um rapaz educado. Uma pena o homem ser alérgico a gatos, mas isso não o incomodou. Ninguém podia ser culpado por ter uma alergia. Passava das seis horas da tarde e ele resolveu se apressar antes que seu pai mandasse um exército para resgatá-lo.

Quando chegasse, ele ia tomar um bom chá para dar um jeito naquela azia (ele havia comido muitas coisas diferentes) para que seu pai não confundisse aquilo com um envenenamento. Magali tinha razão. Os pais eram todos iguais.


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