Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 17
Declarada a guerra




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– Basta! Não quero mais ouvir explicações e justificativas! Agora não há mais nenhuma desculpa para você recusar o desafio!

Fidélius soltou um rosnado e eriçou os pelos. Como aquele atrevido tinha a audácia de lhe confrontar e fazer exigências?

– Eu já lhe disse que isso quem decide sou eu! Caso não tenha notado, eu ainda sou o rei por aqui e minha palavra é lei!
– Existe uma lei que até você deve seguir e não pode ser ignorada. Por acaso está disposto a iniciar uma guerra civil em nosso reino?
– Você seria mesmo capaz de abalar a paz e a ordem só para satisfazer suas ambições?
– Se isso significar dar ao nosso reino um rei melhor e mais forte, sim! Eu tenho meus direitos e não pretendo abrir mão deles!

Aquela situação estava ficando delicada. Teigr tinha vários aliados e seguidores, logo não estava sozinho e se ele quisesse, poderia iniciar uma rebelião que acabaria em uma guerra civil. Os grandes desafios eram uma forma de resolver aquela questão sem derramamento de sangue.

– E então? Pretende continuar ignorando a lei e correndo o risco de deflagrar uma guerra no nosso reino?
– Diferente de você, eu jamais seria capaz de tal coisa.
– Então aceite os desafios! Você não tem escolha!

Ambos ficaram rosnando um para o outro durante um tempo. O que tinha dado em seu irmão para ter se apressado tanto? Se ele ao menos pudesse esperar por alguns anos, Felicius estaria pronto para enfrentá-lo. O rapaz era um lutador nato, muito forte, rápido e habilidoso. No entanto, ainda havia um longo caminho até torná-lo um guerreiro de verdade. Ele ainda não estava pronto para uma luta e aquele cretino do Teigr sabia disso.

Se os desafios terminassem empatados e uma luta fosse necessária, ele acabaria vencendo de qualquer maneira enfrentando pai ou o filho.

Teigr esperava a resposta com os olhos brilhando de maldade e Fidélius viu que não havia mais escapatória. Se negasse, uma guerra seria declarada na mesma hora. E aquilo não ia ser nada fácil porque ele sabia que o irmão estava se preparando para aquilo ao longo dos anos. Bem, ele também estava se preparando, lógico, e não estava em desvantagem. Aquela luta não ia ser tão desigual assim.

– Que assim seja. O desafio está aceito. No entanto, você sabe tanto quanto eu que terá de esperar pelo dia da grande primavera. Não queira que a data seja adiantada. Se eu tenho que seguir a lei, você também tem.
– Sei disso. – aquilo não o agradava nem um pouco, mas pelo menos o desafio tinha sido aceito e não havia mais como voltar atrás. – estarei esperando ansiosamente por esse dia!
– E mais uma coisa: nenhuma palavra sobre esse assunto para o meu filho, entendeu?
– Que pena, ele seria excelente opção para o terceiro desafio... – ele falou cinicamente. Não fazia diferença nenhuma para ele se Felicius participasse ou não dos desafios.
– Essa é a minha decisão e quero que seja obedecida. É uma ordem! Se você desobedecer a minha ordem e falar algo para meu filho, eu o prendo por traição.
– Está certo, está certo. De qualquer forma eu não ganharia nada mesmo, então para mim tanto faz.

Quando a reunião foi encerrada, ele retirou-se triunfante da sala do trono. Seu plano estava começando a dar certo.

“Céus... que calamidade... se meus campeões não forem capazes de vencer, eu não sei o que irá acontecer... mandarei intensificar seu treinamento, não tenho outra alternativa.” Sem nada para fazer, ele resolveu ir ver Felicius. Seus treinadores lhe disseram que o rapaz estava progredindo muito nos desafios e ele queria ver como ele estava indo. Pelo menos aquilo poderia esfriar um pouco sua cabeça.

***

O tronco estava repleto de profundos arranhões e mesmo assim ele não estava satisfeito. Era preciso se fortalecer mais.

“Droga, eu não consigo pensar em nada!” uma patada contra o tronco. “Que diabos, como eu faço para tirar o balofo do meu caminho?”

Ele tinha chegado à conclusão de que Magali não o amava realmente, só não conseguia terminar o namoro por medo, apego e por causa da historia que tiveram juntos. Estava muito difícil para ela abrir mão de tudo isso e começar do zero com outra pessoa. Isso ele entendia bem. O problema era que esse apego dela ao passado só estava agravando seu sofrimento.

Quando ele era criança, machucou uma das mãos com os espinhos de uma planta venenosa. O ferimento ficou feio, doía e estava infeccionado. Mesmo assim ele se recusava a fazer o tratamento porque era doloroso demais. Em sua mente de criança, ele achava melhor deixar o ferimento se curar sozinho do que se submeter ao tratamento. O que ele não sabia era que isso levaria vários e vários meses, ao passo que com o tratamento a cura viria em poucos dias. Por fim, foi preciso que seu pai o obrigasse a fazer o tratamento. Houve muito choro e protesto de sua parte, mas quando o ferimento cicatrizou, ele acabou agradecendo ao pai por ter colocado fim aquele sofrimento.

Com Magali era a mesma coisa, em sua opinião. Se o balofo continuasse tratando-a daquela forma, ela acabaria rompendo o namoro, mas só depois de muito tempo e sofrimento. E ainda havia o risco de ficar várias cicatrizes emocionais. Então por que não acabar com tudo de uma vez para que ela pudesse se curar mais depressa? Era isso que ele pretendia fazer.

Se ela não conseguia romper o namoro, então era preciso fazer com que o sujeito fizesse isso.

“Ele já devia ter feito isso! Por que não fez? Que covarde! Prefere tratá-la dessa forma do que terminar tudo!” outra patada foi desferida, arrancando uma lasca enorme da madeira. Como fazê-lo terminar com ela? Talvez um plano? Alguma intriga? Não, isso tinha que ser feito de maneira que não fosse muito traumática para ela. O objetivo era que ele apenas terminasse, mas Felicius não queria que ele brigasse com ela ou coisa parecida.

Nenhuma idéia surgia e ele deu uma patada tão forte que partiu o tronco ao meio. Ah, se ele pudesse fazer a mesma coisa com o gorducho! Não, ele não podia. Magali sofreria demais e ainda poderia acabar guardando em seu coração a imagem de namorado perfeito que ele tinha no passado. Péssima idéia!

– Estou impressionado! Vejo que tem progredido muito!
– Meu pai! Eu não percebi que o senhor estava aí.
– Tudo bem, eu só queria assistir um pouco para ver o seu desempenho e vejo que progrediu bastante. Somente guerreiros mais avançados conseguem partir um tronco de madeira desse jeito!
– Obrigado. Eu tenho me esforçado muito.
– Teria sido impressão minha ou havia muita raiva naquele ultimo golpe?

O rapaz ficou sem jeito. Será que ficou tão evidente assim?

– Parece que alguma coisa o está incomodando. Diz respeito à Magali?

Felicius não pode deixar de notar que o rei estava se referindo a Magali pelo nome ao invés de apenas “humana”. Aquilo era bom sinal.

– Mais menos. Não diz respeito a ela diretamente e sim ao namorado dela.
– Ah, sim... o tal “balofo”. Parece que está difícil fazer com que ela termine esse namoro, não é?
– Sim, meu pai.
– Pobre menina... está se apegando muito ao passado e não percebe que está causando muito sofrimento a si mesma.
– Pai... então o senhor percebeu...
– Sim, claro. Ela não ama o namorado, se é isso que lhe aflige.
– Como o senhor sabe?
– Ora, eu não sou mais nenhum gatinho, certo? Se ela o amasse, gastaria o tempo livre com ele, não com você.
– Ainda assim ela não termina com ele.
– Então tome as rédeas da situação, ora! Se você quer a garota, então lute por ela! Por acaso você pensa que foi fácil conquistar sua mãe? Claro que não! Eu tive que tirar muitos concorrentes do caminho antes de ter alguma chance com ela!
– Sério? – ele se interessou. Era raro ter esse tipo de conversa com seu pai.
– Muito sério. Também pudera, ela era a gata mais bonita do reino! – ele suspirou lembrando com saudade da sua esposa. Uma linda gata com belos olhos azuis e o pelo amarelo, tão macio, tão sedoso e que balançava graciosamente quando ela saltava. Como não amar alguém assim?
– Como vocês se conheceram?
– Na escola de treinamento militar. Ela era ótima. Ágil, atlética, rápida... eu, por outro lado, era o mais lento e fracote da turma. Você sabe que eu nunca levei jeito para ser guerreiro.
– E como você fez para conquistá-la então?
– Usei a cabeça, ora essa! Bolei vários planos e esquemas para ir afastando os pretendentes um a um. Quando o caminho ficou livre, então eu pude me aproximar dela e conquistá-la com minha inteligência. Deu muito trabalho, levou quase dois anos, mas valeu à pena.
– Nossa! Por que o senhor se apaixonou por ela? Não acho que tenha sido só a beleza.
– Quando cheguei a escola militar, os outros alunos me perseguiam e eram rudes comigo por causa do meu físico magricela. Ela foi a única a ser gentil comigo e até me defendia dos valentões.
– Igual à Magali fez comigo!
– Tenho que admitir que sim. De certa forma, as historias são parecidas.
– Então o senhor acha que eu devo bolar um plano para afastar o namorado dela?
– Sim. Um bom rei tem que ser bom estrategista, usar de inteligência e astúcia. Não conte somente com sua força física.
– Bolar um plano... sim, isso me ocorreu. O problema é que eu não sei por onde começar.
– Em uma guerra, conhecimento é tudo. Devemos saber quem é o inimigo, seus pontos fortes e fracos. Toda informação pode ser valiosa. E bem... de certa forma, isso é uma guerra, não?
– Hum... conhecer o inimigo... meu pai, por acaso o senhor permitiria que eu enviasse um dos nossos espiões para vigiar o gorducho?
– Claro! Fique a vontade. Envie o espião, faça com que ele vigie o humano por alguns dias e preste atenção a tudo o que ele fizer e falar. Então use isso para traçar uma estratégia.
– Obrigado, meu pai. Obrigado! Eu só não entendo uma coisa... por que está me ajudando nisso? Pensei que não gostasse da Magali.
– É uma boa humana, com alma nobre e sentimentos puros. E também tem os olhos de gato, o que prova mais ainda o seu valor. Não vou mentir, no fundo preferia que você escolhesse uma boa gata. Apesar disso, se você a escolher e quiser ficar com ela, eu darei a minha benção.
– Pai...
– Pois bem. Agora continue o treinamento. Como futuro rei, você precisa estar forte para governar nosso povo.
– Pode deixar!

Fidelius resolveu sair dali antes que acabasse ficando muito sentimental. Ele ainda precisava manter a compostura. Diante dos acontecimentos, talvez fosse melhor que seu filho ficasse com Magali. Se o pior acontecesse e os desafios fossem perdidos, pelo menos ele ia ter alguém com quem contar caso precisasse fugir para o mundo dos humanos. E depois de conhecer bem, ela até que era uma mocinha doce e encantadora.


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