Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
O inicio do fim




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– Oi, seu Quinzão. O Quim está?
– Como vai, Magali? Ele está na cozinha a preparar algumas encomendas. Tu podes ir até lá.

“Boa gaja... se esse idiota não tomar cuidado, irá perdê-la.” Ele pensou quando ela se foi. Apesar de não ter sido lá muito a favor do namoro deles no inicio, com o tempo ele acabou cedendo aos encantos dela. Seu filho dificilmente ia encontrar moça tão boa.

– Oi, meu linduxo! O que está fazendo?
– Oi Magali.

A recepção dele foi como um balde de água fria em seu ânimo. Seco, frio e sem nenhuma emoção. Um fiscal da vigilância sanitária teria sido recebido de maneira muito mais calorosa. Ainda assim, ela tentou contornar a situação.

– Sabe, eu estava pensando se a gente poderia...
– Seja lá o que for, não vai dar. Eu vou participar de um concurso de confeitaria e preciso estar muito bem preparado.

Outro balde de água fria. Tudo bem, bola para frente.

– Um concurso de confeiteiros? Que demais! Será que vai ter muito concorrente? Quando vai ser? Ah, se der, eu vou querer ir. É aberto ao público?

Ele se esforçou para manter a paciência. Que estranho... normalmente ele teria ficado feliz com a empolgação dela.

– O concurso será na semana que vem e não, não é aberto ao público.
– Ahhhh... que pena... será que eles não precisam de mais um jurado? – ela ainda tentou brincar um pouco para ver se conseguia quebrar aquele gelo. O problema era que ela não estava preparada para um iceberg.
– Magali, não me leve a mal, mas eu preciso me concentrar. Esse concurso é muito importante para mim e se eu vencer, vou conseguir muita publicidade para essa padaria.
– Eu tô atrapalhando? Mas a gente quase não se vê mais! O que tá acontecendo?
– Já disse que preciso investir mais em minha carreira e...

Havia algumas lagrimas correndo nos olhos dela. Que situação desagradável! Só faltava ela começar a chorar feito criança na sua frente. Normalmente ele teria ficado de coração partido ao vê-la chorar, mas daquela vez era diferente. Aquelas lagrimas não lhe despertavam nenhuma emoção.

– É melhor você ir agora. Não é boa hora para a gente conversar. Depois eu te procuro.
– Quim...

Querendo acabar logo com aquilo, ele a pegou pelo braço e a levou para fora da padaria tentando ser o mais delicado possível. Apesar do estado dela, Quim somente a levou até a calçada e entrou de volta para a padaria sem falar mais nada, nem ao menos se despedir com um beijinho. Para ela só restou enxugar as lágrimas e ir embora.

***

– Filho, essa eu não entendi. Por que dispensaste tua namorada?
– Porque a gente precisa se concentrar para o concurso, pai.
– E tu precisavas ter sido grosso com ela, ópá?
– Eu não fui grosso.
– Não fostes? Tu praticamente expulsaste a gaja da minha padaria, onde já se viu?
– Olha, pai, depois eu me entendo com ela, tá bom?
– Tomes cuidado ou irás perdê-la. Tu pensas que ela estará sempre disponível para ti e um dia podes perceber que estás enganado!

Ele não deu importância ao que o pai disse. De qualquer forma, havia mesmo uma possibilidade de aquele namoro estar com os dias contados. Se tudo corresse como ele estava planejando, sua vida ia dar uma grande guinada e não haveria mais espaço para namorar com ninguém.

***

– Ele fez o quê????

Magali teve que afastar o fone do ouvido para que a voz raivosa da Mônica não estourasse seus tímpanos.

– Esse cachorro sem vergonha me paga! Eu pego, esgano e...
– Deixa para lá, Mô!
– Deixa para lá? Como você pode deixar isso para lá? Magali, esse cara te colocou para fora da padaria e você quer deixar para lá? Ah, se fosse comigo!

Ela jamais deixaria uma grosseria dessas passar batido, de jeito nenhum! Se fosse com ela, Quim teria levado um chute há muito tempo, no sentido figurado e literal!

– Eu não quero mais me aborrecer com isso. Está na hora de eu ir para o reino dos gatos e acho que isso vai me ajudar a esquecer um pouco. Você vai passar aqui?
– Vou sim, pode deixar. Mas tem certeza? Você não está muito legal hoje...
– Só estou aborrecida e não posso deixar que isso me afete. Além do mais...
– Além do mais...
– Ah, deixa para lá. Eu já estou me sentindo melhor. Estou te esperando, tá?
– Peraí... – o telefone ficou mudo, deixando-a sem entender nada. Do que Magali estava falando afinal de contas?

Nem ela mesma sabia. Engraçado... ao pensar que em breve estaria no Reino dos Gatos, de alguma forma ela se acalmou um pouco. Talvez ajudar as pessoas lhe fizesse sentir-se tão útil que ela acabava esquecendo dos problemas. É... devia ser isso.

Ou não?

***
– Então a epidemia já está sob controle. Muito bom saber disso. Agora Fidélius não terá como continuar se esquivando. O desafio terá que ser aceito!
– Quando o senhor pretende falar com ele, Lord Teigr?
– O mais breve possível. É impressionante como aquele gatuno escapa de mim como um rato, mas isso não irá durar para sempre. E falando em ratos... por acaso a humana já chegou?
– Não, senhor. Creio que chegará dentro de meia hora, mais ou menos.
– Ah, sim. Pobre criatura... ela mal sabe o que a espera. Quando eu me tornar rei, ela terá que me entregar os olhos de gato querendo ou não. Por enquanto, vamos deixar que ela se divirta um pouco por aqui.

***

– O remédio foi distribuído por todo o reino e até os casos mais graves já estão sob controle. É apenas questão de tempo até essa epidemia ser erradicada. Creio que lhe devo agradecimentos, Magali.
– Não precisa agradecer, majestade. Fico feliz por ter ajudado.

Fidélius apenas deu um sorriso discreto. Engraçado... depois de um tempo, ele até que estava começando a achar que aquela humana era bem simpática, bondosa e meiga. Ele ainda tinha algumas restrições com aquele relacionamento, mas aquilo já não lhe causava tanta aversão quanto antes.

Como tudo estava indo bem e não havia mais ninguém precisando de cuidados imediatos, Felicius resolveu aproveitar para passar um tempo a sós com ela. Quando ela chegou, seu olhar estava muito mais triste e ele tinha certeza de que ela havia chorado. Com certeza tudo culpa daquele balofo.

– Ele fez mesmo isso? – ele perguntou incrédulo depois que Magali lhe contou o que tinha acontecido entre ela e Quim.
– Sim... eu não entendo, ele nunca foi assim!
– Bem, agora ele é. Magali, por que você aceita isso? Está mais do que claro que ele não te ama mais. Por que insiste?
– Eu não sei... realmente não sei! Ele nunca foi assim. Antes, Quim era excelente namorado e fazia tudo por mim. Não entendo por que mudou.
– Acho que não vale à pena se torturar com isso. Seja lá por qual motivo, a realidade é que ele mudou e não está lhe tratando como você merece.
– Ainda assim...
– Talvez você esteja apenas vivendo no passado, se apegando a como ele era antes. Olha, ele não é mais a pessoa que era. Seu namorado mudou.
– Tenho certeza de que deve ser passageiro. Ou então eu devo ter feito algo errado, sei lá. Acho que eu não dava muita importância ao namoro, às vezes o deixava de lado para ficar com os amigos ou com a Mônica e o coitadinho deve ter se sentido rejeitado. Tem que ter algum motivo!
– E por que ele não tentou conversar com você como uma pessoa civilizada?
– Eu não sei...
– Se você fosse tão importante assim para ele, tenho certeza de que esse sujeito teria dado um jeito de tentar conversar com você para acertar as coisas. Por que ao invés disso, ele sempre te rejeita e coloca em segundo plano... ah, Magali... por favor...

As lagrimas começaram a descer do rosto dela e seu corpo tremia. Isso fez com que ele parasse de falar na hora. Talvez tivesse sido muito duro. Ela podia ser forte, mas ainda era uma gatinha. Sua gatinha.

– Você tem razão em tudo o que falou, mas eu não sei o que fazer.
– Me desculpe, devo ter sido severo demais! Por favor, não chore... ele não merece suas lágrimas. – o rapaz falou tentando enxugar as lágrimas que descia do rosto dela.
– Eu sei que devia fazer alguma coisa, sei que isso não pode continuar assim, sei que eu não mereço ser tratada dessa forma, sei disso tudo! Mas Felicius... eu...
– Magali...
– Eu não estou forte, não ainda! Dói demais e eu não estou forte para acabar com tudo agora!

Ela voltou a chorar e ele a envolveu carinhosamente, fazendo com que ela pousasse a cabeça em seu ombro para desabafar. Magali foi deixando as lagrimas correm livremente. Por que aquilo estava acontecendo? Por que Quim estava jogando no lixo toda a historia que eles tiveram juntos? Será que ele não tinha nenhuma consideração por tudo de bom que eles tinham vivido? Por acaso ele teria esquecido do sentimento que os unia? Talvez não houvesse mais nenhum sentimento da parte dele. E talvez, nem da parte dela. Ainda assim era muito doloroso abrir mão de algo com o qual ela estava tão acostumada.

Era um namoro estável, seguro, com um namorado que lhe tratava bem e fazia tudo por ela. Com ele, ela sempre se sentia segura e protegida. O que fazer se ele a deixasse? Não, ela ainda não estava forte o suficiente para deixá-lo ir.

Felicius deixou que ela chorasse a vontade enquanto a envolvia em seus braços. Era bom mesmo que ela chorasse bastante, colocasse tudo para fora e assim não sobrar mais nenhuma lagrima para chorar por causa daquele gorducho asqueroso.

Estava na hora de entrar em ação. Ficar sem fazer nada só ia prolongar o sofrimento dela e ele não podia aceitar isso.

“Magali... não se preocupe. Se você ainda não está forte, então eu serei forte por nós dois!” ele pensou enquanto a apertava mais um pouco para junto de si.



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